15 outubro 2025

DA PERFEIÇÃO À MORTE

(Comentário do 1º tópico da Lição 03: O corpo e as consequências do pecado)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos da trajetória do ser humano, do estado de perfeição à morte. Inicialmente, falaremos da certificação divina de qualidade das coisas criadas, inclusive o corpo humano: “e eis que era tudo muito bom” (Gn 1.31). Na sequência, veremos que pecado trouxe dor e sofrimento ao corpo humano, cujo caminho natural será  o envelhecimento e a morte. Por fim, falaremos da fase da velhice, com destaque para o transtorno da gerontofobia, que é o medo de envelhecer. 


1. A certificação divina. Deus é absolutamente perfeito e infalível em sua natureza (Dt 18.13; 2Sm 22.31). Sendo assim, Ele criou todas as coisas perfeitas e boas. O Universo foi planejado e criado por Deus na mais absoluta perfeição. Não havia desastres naturais, como terremotos, maremotos, furações, inundações ou erupções vulcânicas. Os animais eram todos herbívoros e, portanto, não haviam predadores. Os vegetais também eram todos benéficos e não haviam ervas daninhas. As águas eram puras e cristalinas, pois não havia nenhuma espécie de contaminação. 

Neste contexto de perfeição e harmonia entre os seres criados, Deus criou o homem e a mulher absolutamente perfeitos, para viverem eternamente. O corpo humano foi criado com células, tecidos e órgãos absolutamente saudáveis e incorruptíveis. Não havia infecções, inflamações, dores, deficiências, cansaço, nem morte. Tudo o que pudermos imaginar que acontece de ruim no corpo humano, não existia nos corpos de Adão e Eva, quando viviam no Jardim do Éden. 

Conforme Deus criava as coisas, Ele dava a sua certificação de qualidade. A expressão que descreve esta certificação de Deus era: “E viu Deus que era bom”. O termo hebraico, traduzido por bom é “tôwb” que significa algo bom, agradável, amável e que só traz benefícios. Esta expressão aparece sete vezes no primeiro capítulo de Gênesis (Gn 1.4,10, 12, 18, 21, 25 e 31). Na última vez, após criar o homem, o texto bíblico diz: “E viu Deus tudo o quanto havia feito e eis que era muito bom” (Gn 1.31).


2. Pecado e dor. O estado de perfeição e bem-estar em que o primeiro casal vivia provinha da perfeita comunhão que havia entre o ser humano e o Seu Criador. Para manter esta vida plena, a condição exigida era a obediência à ordem expressa de Deus para não comerem do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Deus deixou bem claro, que no dia em que comessem daquele fruto, certamente morreriam. Entretanto, eles preferiram dar ouvidos ao inimigo e desobedeceram à ordem de Deus.

A partir do momento em que o primeiro casal desobedeceu a Deus, imediatamente a comunhão entre eles e Deus foi interrompida, pois Deus é absolutamente santo e não pode compactuar com o pecado. Eles perceberam que estavam nus e procuraram folhas de figueira para se cobrirem. A voz de Deus ecoou pelo jardim e eles tentaram se esconder. Mas, ninguém se esconde da presença de Deus, pois Ele é Onipresente, ou seja, está presente em todos os lugares ao mesmo tempo.

A primeira morte que eles experimentaram foi a morte espiritual, que é a separação de Deus. Depois disso, veio também a morte moral, que é a perda da integridade dos seus valores. Por fim, a morte física, que ocorreu gradativamente. Eles não morreram fisicamente naquele momento, mas os seus corpos perderam a imortalidade e deixaram de ser imunes às doenças. Com isso, os seus corpos passaram a se degenerar e entraram em um processo natural de envelhecimento, que culminou na morte física. O primeiro ser humano a morrer foi Abel, filho do primeiro casal, que foi assassinado pelo seu irmão Caim. 

Deus determinou a sentença a Adão, como representante do gênero humano, por causa do pecado que cometera. A terra passou a ser maldita por causa dele e iria produzir ervas daninhas e espinhos. Viriam sobre ele e os seus descendentes, as dores provocadas por fatores espirituais, emocionais e físicos. O trabalho, que antes era prazeroso, passaria a ser cansativo e enfadonho (Gn 3.7-19). A mulher também recebeu a sentença de que teria dores na gestação dos seus filhos. Por fim, receberam a sentença da morte física: “...até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás”. (Gn 3.19b).

Depois que o homem pecou, a morte física passou a ser uma realidade inevitável. O corpo  humano, que antes era perfeito, imune às doenças e imortal, tornou-se mortal e passou a se degenerar até, finalmente, morrer. Quando o ser humano nasce, ele começa a morrer. É como se ligasse um cronômetro com contagem regressiva: O ser humano nasce, cresce, envelhece e, finalmente, morre. Em cada fase da vida, há riscos de várias doenças no nosso corpo e, consequentemente, o risco de morrer. Por mais que cuidemos do nosso corpo, não há como evitar o envelhecimento e a morte. 


3. Velhice, autenticidade e gratidão. Aqui, o comentarista fala do envelhecimento na sociedade atual e de um transtorno, que tem marcado a nossa geração, chamado gerontofobia. Esta palavra deriva do termo grego “gérontos”, que significa literalmente “velho”, e “phobos”, que significa medo excessivo ou pavor.. Gerontofobia, portanto, é o medo excessivo de envelhecer, que causa ansiedade e leva a pessoa a adotar costumes e comportamentos incompatíveis com a própria idade, a fim de parecer jovem. Não se trata apenas de ser uma pessoa jovial, mas do afastamento de qualquer coisa que tenha relação com a velhice e até à discriminação contra pessoas idosas. 

Na Bíblia, a velhice é apresentada de forma natural e até honrosa: “Diante dos cabelos brancos te levantarás, e honrarás a face do ancião; e temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor”. (Lv 19.32); “Com os idosos está a sabedoria, e na longevidade o entendimento.” (Jó 12.12). O capítulo 12 de Eclesiastes fala da velhice, de forma poética, descrevendo a sua situação degradante, apontando as dificuldades que o idoso enfrenta, em comparação à juventude, como a falta de visão, de dentes, de audição e finalmente a morte. Isso não é um desdém com esta fase da vida, mas uma visão terrena da vida, considerando apenas o aspecto material (debaixo do sol). Esta é a perspectiva de todo o livro de Eclesiastes em relação à vida humana. 

Esta cultura permanece até hoje entre os povos orientais. Entre os judeus, muçulmanos, chineses e japoneses, os idosos são respeitados e tidos como pessoas sábias e dignas de respeito. Lamentavelmente, em nossa cultura ocidental os idosos passaram a ser vistos como um peso. Muitos pais idosos são abandonados à própria sorte pelos próprios filhos. Alguns são até agredidos fisicamente. Foi preciso criar o Estatuto do Idoso, para proteger as pessoas idosas de maus tratos e do abandono por parte da família.

A sociedade ocidental procura a qualquer custo, renegar a velhice, como se fosse algo desprezível. A começar por evitar a nomenclatura “velho” ou “idoso”, que foi substituída por “terceira idade” e até por “melhor idade”. Há pessoas que têm pavor até de serem chamados de senhor e senhora, por pensarem que isso significa pessoa com mais idade. Na verdade, são apenas pronomes de tratamento respeitosos, principalmente, para se referir a pessoas casadas ou que tenham funções mais elevadas em uma empresa. 

Precisamos encarar a velhice com gratidão a Deus pelos anos vividos e viver a vida de forma agradável nessa fase. O ideal é que os jovens se preparem para a velhice em todos os aspectos: físico, financeiro, familiar e espiritual. Se a pessoa fizer extravagâncias na juventude e não morrer ainda jovem, sofrerá as consequências dos seus atos na velhice. A fase da velhice não precisa ser chata, enfadonha e inútil. Os idosos podem voltar a estudar, fazer cursos, praticar esportes, passear e trabalhar para o Senhor, respeitando os seus limites, é claro. O corpo humano é como uma máquina, se parar totalmente, enferruja e trava tudo. Portanto, na velhice, o ideal é se manter ativo. 

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