02 outubro 2025

A TRICOTOMIA HUMANA

(Comentário do 1º tópico da Lição 01: O homem - Corpo, Alma e Espírito)

Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico, falaremos da tricotomia humana. Inicialmente, apresentaremos o aspecto doutrinário e teológico do ser humano, mostrando do ponto de vista bíblico, quem ele é, como foi formado e o propósito da sua criação. Na sequência, mostraremos o fundamento bíblico da tríplice natureza humana, chamada na teologia de tricotomia. Por último, falaremos da combinação dos aspectos físico (corpo) e espiritual (alma e espírito) do ser humano, que o diferencia de todos os seres criados por Deus. 1. Doutrina e teologia. Neste tópico, eu peço aos irmãos mais experientes, que tenham um pouco de paciência, pois eu preciso explicar alguns conceitos básicos da teologia, que são familiares para aqueles que já tem um conhecimento teológico mais avançado. Mas, eu escrevo também para alunos e professores iniciantes, que não sabem ainda o significado de muitos termos usados nesta lição.

A palavra doutrina usada aqui, também está presente em outros ramos do conhecimento, como o Direito e a Filosofia. Esta palavra deriva do latim doctrina, que por sua vez traduz os termos gregos didaskalia e didachē, que significam instrução, ensinamento ou conjunto de ensinos de um sistema. Quando falamos de doutrina bíblica, referimo-nos ao conjunto de informações sobre um determinado tema, tendo como base a Bíblia Sagrada.

No caso da doutrina bíblica do ser humano, que é o nosso assunto aqui, o comentarista nos apresentou alguns textos bíblicos que nos mostram quem é o homem, como ele foi criado e qual o propósito da sua criação (Gn 1.26-29; 2.15; Sl 8.3-9; Ef 1.3-6). Estes textos bíblicos acima nos apresentam o ser humano como um ser criado por Deus do pó da terra, criado à imagem de Deus, conforme à sua semelhança, um ser racional, menor que os anjos e capaz de dominar sobre as coisas criadas. O objetivo dessa criação divina é que o ser humano fosse santo e irrepreensível diante de Deus, para louvor e glória da sua graça. 

Na teologia, a doutrina do homem é chamada de Antropologia bíblica, que é o estudo do ser humano, do ponto de vista bíblico. Conforme falamos na introdução ao estudo deste trimestre, a palavra antropologia vem de dois termos gregos “antropos” (ser humano) e “logia” (estudo ou tratado. Chamamos de Antropologia bíblica, porque existem outros tipos de Antropologia que estudam o ser humano em outros aspectos, como Antropologia biológica, cultural, linguística, filosófica, estruturalista, etc.

A disciplina da Antropologia bíblica está ligada à chamada Teologia Sistemática, que é ramo da Teologia que trata de organizar o conjunto das principais doutrinas bíblicas e apresentá-las de forma mais compreensível. Estas doutrinas estão interligadas, por isso, é importante sistematizá-las, pois não é possível compreendê-las individualmente, sem conhecer as demais. As matérias que compõem a Teologia Sistemática são: Doutrina da Bíblia, Doutrina de Deus, Doutrina de Cristo, Doutrina do Espírito Santo, Doutrina do homem, doutrina do pecado, Doutrina da Salvação, Doutrina dos Anjos, Doutrina da Igreja e Doutrina das últimas coisas. 


2. A tríplice natureza. A Bíblia mostra que o ser humano é formado por três partes: corpo, alma e espírito. Mas, é importante esclarecer que sobre a constituição do ser humano, há três pontos de vista: monismo ou unitarismo, dicotomismo e tricotomismo. O  primeiro é antibíblico deve ser rejeitado. Os dois não são heresias, pois têm base nas Escrituras e são interpretações diferentes. 

a) Monismo. Ensina que o ser humano é uma unidade, formada apenas da parte física. Creem que o ser humano é apenas um amontoado de células e que não há vida após a morte. É o que diz o velho ditado popular que diz “morreu, acabou”. Não há apoio nas Escrituras para esse tipo de pensamento. Há algumas seitas que, embora creiam na vida após a morte, acreditam na mortalidade da alma e na aniquilação dos ímpios. Os principais defensores destas duas heresias são os adventistas e as Testemunhas de Jeová. 

b) Dicotomismo. Ensina que o homem é formado por duas partes, sendo uma material (o corpo) e outra imaterial (alma ou espírito, que eles consideram que é a mesma coisa). De fato, em alguns textos, principalmente no Antigo Testamento, alma e espírito são usados de forma intercambiável e sinonímica, como se fossem a mesma coisa. Entretanto, há outros textos que mostram a distinção destas três partes. Nós respeitamos a posição dos dicotomistas e não os consideramos hereges, mas discordamos dessa interpretação. 

c) Tricotomismo. Ensina que o homem é formado por três partes: o corpo (que é a parte física) a alma (a parte emocional) e o espírito (que é a parte espiritual, capaz de se conectar a Deus). A alma e o espírito são distintos, porém inseparáveis, como veremos no próximo tópico. Esta é a posição oficial da Assembleia de Deus. Cremos que o ser humano é ser tricotômico, formado por espírito, alma e corpo (1Ts 5.23; Hb 4.12). O Senhor Jesus, quando se fez homem, recebeu um corpo (Hb 10.5), uma alma (Mt 26.38) e um espírito (Lc 23.46). Sobre isso, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil faz a seguinte afirmação: 


“Entendemos que o ser humano é constituído de três substâncias, uma física, corpo, e duas imateriais, alma e espírito. Exemplo dessa constituição nós temos no próprio Jesus. Essa doutrina é chamada tricotomia. Cristo é apresentado nas Escrituras com essas três características distintas e essenciais: “todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis [...]” (1 Ts 5.23); “[...] e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas” (Hb 4.12). Em 1 Coríntios 2.14-16; 3.1-4, o apóstolo Paulo mostra o homem “natural”, termo que literalmente quer dizer “pertencente à alma”, o homem carnal e o homem “espiritual”. Por essas passagens do Novo Testamento, a natureza humana consiste numa parte externa, o corpo ou a carne, chamada “homem exterior” e uma parte interna, denominada “homem interior”, composta do espírito e da alma.”


3. Físico e espiritual. Diferente dos anjos, que são seres apenas espirituais, e dos animais, que são seres apenas materiais, a Bíblia ensina claramente que Deus formou o homem do pó úmido da terra, soprou em suas narinas e deu-lhe o espírito. A partir daí, o homem tornou-se “alma vivente” (heb. nephesh chayim). A palavra alma (heb. nephesh), neste texto, não se refere à alma, no sentido da sede das emoções, sentimentos e vontades, mas ao sopro de Deus, que corresponde à parte imaterial do ser humano, formado por alma e espírito. 

Algumas versões da Bíblia traduzem a expressão nephesh chayim  por “ser vivente”. O comentarista menciona o fato do termo hebraico chayim, traduzido na versão Almeida Revista e Corrigida por “vivente”, estar no plural. No hebraico, o sufixo “im” indica plural. Aqui é um plural de intensidade, indicando uma unidade composta e não três vidas diferentes. Corpo, alma e espírito são três partes de uma mesma vida e não três vidas.

O ser humano é a coroa da criação de Deus. Os demais seres vivos também foram criados por Deus, mas nenhum deles foi criado à imagem e semelhança de Deus. Deus deu ordem para que a terra e os mares produzissem seres vivos, conforme as suas respectivas espécies (Gn 1.20-24). O Criador deu ordem e tudo no universo passou a existir. Mas para criar o ser humano, houve uma deliberação de Deus, que o criou conforme a sua imagem e semelhança.

Esta imagem, evidentemente, não é física, pois Deus é Espírito e não possui uma forma física. A palavra imagem no hebraico é ‘tselem’ e significa imagem mental, moral e espiritual de Deus. Isso significa que Deus deu ao homem, algumas das suas próprias características, ou atributos. Claro que não na mesma proporção, pois o homem não é um ser divino. Deus fez o ser humano um ser moralmente puro. Mas o pecado corrompeu-lhe a natureza e agora ele precisa ser restaurado pelo Espírito Santo.  


REFERÊNCIAS:


QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito: A restauração integral do ser humano para chegar à estatura completa de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, p.44.

BATISTA, Douglas. A Igreja de Cristo e o império do mal: Como viver neste mundo dominado pelo espírito da Babilônia. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD. págs. 72-84.

GONÇALVES, José. Os ataques contra a Igreja de Cristo. As sutilezas de Satanás neste dias que antecedem a volta de Jesus Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD. 1ª Ed. 2022.

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