16 outubro 2025

A RESPONSABILIDADE HUMANA

(Comentário do 2º tópico da Lição 03: O corpo e as consequências do pecado).

Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico, trataremos da questão da responsabilidade humana após a Queda do homem. Inicialmente, falaremos a respeito do livre arbítrio no uso do nosso corpo, para o bem ou para o mal. Na sequência, falaremos da potencialização do sofrimento, decorrente da prática das obras da carne. 


1. Corpo e livre-arbítrio. Aqui, o comentarista abordou a questão do livre-arbítrio do ser humano em relação ao corpo. Somos livres para escolher o que fazer com o nosso corpo, mas seremos responsabilizados diante de Deus pelas nossas escolhas. Conforme falamos no tópico anterior, o ser humano vivia em um estado de perfeição e pureza no Jardim do Éden. Após desobedecer à ordem de Deus, o primeiro casal passou não apenas a ter conhecimento da existência do mal, mas a sua natureza foi totalmente corrompida e, como tal, inclina-se para o mal. 


Esta corrupção passou a toda a sua posteridade, ou seja, a forma foi corrompida e todos nós já nascemos com a natureza corrompida: "Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram." (Rm 5.12. A teologia chama isso de depravação total, ou seja, o ser humano nasce totalmente corrompido pelo pecado, sem nenhuma condição de ir a Deus por seus próprios esforços. Qualquer doutrina que nega isso é uma heresia. 


Para entender a questão do livre-arbítrio, é importante conhecer um pouco sobre as correntes teológicas, em relação ao pecado original. Sem falar daqueles que negam a existência do pecado de modo geral, há pelo menos cinco pontos de vista diferentes em relação ao pecado: Pelagianismo, Semipelagianismo, Calvinismo, Hiper-calvinismo e Arminianismo. O Pelagianismo, o Semipelagianismo e o Hiper-calvinismo são considerados heresias. O Calvinismo e o Arminianismo são apenas divergências teológicas no meio evangélico e há pontos sensíveis dos dois lados.


O Pelagianismo é o ensino de Pelágio, um monge britânico, que viveu entre 360 e 420 d.C. Pelágio negava a doutrina do pecado original e ensinava que o pecado de Adão e Eva atingiu apenas a eles próprios e que o ser humano não herda a natureza pecaminosa. Pelágio cria que o pecado é uma escolha pessoal e que cada ser humano decide praticar ou evitar o pecado. Segundo ele, a única coisa que Adão transferiu aos seus descendentes foi o mau exemplo. Os seus descendentes pecam por livre escolha e não por terem uma natureza corrompida pelo pecado. 


Depois da condenação do Pelagianismo, um monge chamado João Cassiano,  que viveu entre 360 e 465 d.C., tentou conciliar os ensinos de Pelágio com os de Agostinho e formulou um meio termo, que ficou conhecido como Semipelagianismo. Diferente de Pelágio, o Semipelagianismo não negava o pecado original, porém ensinava que este não corrompeu totalmente o ser humano. Segundo este ensino, o homem poderia usar o seu livre-arbítrio e iniciar o processo de salvação sozinho. A Bíblia, no entanto, ensina que todos pecaram e estão mortos em seus delitos e pecados (Rm 3.23; Ef 2.1). Não há, portanto, a possibilidade do ser humano corrompido pelo pecado, buscar a Deus por seus próprios esforços. 


O Calvinismo recebeu este nome por ter sido propagado por João Calvino, um dos principais líderes do Movimento da Reforma Protestante. Os calvinistas negam a existência do livre-arbítrio e ensinam que o ser humano após a Queda não tem mais a capacidade de escolha. Segundo dizem, é Deus quem escolhe uns para a salvação e outros para a perdição. Segundo esta corrente teológica, os eleitos para a salvação serão salvos sem que haja a possibilidade de recusarem. Da mesma forma, os escolhidos para a perdição já nascem com esta sentença e nada poderá mudar isso, pois isso é um decreto de Deus. 


O hiper-calvinismo, também chamado de calvinismo extremado. Para os hiper-calvinistas, tudo o que acontece no Universo, seja bom ou de mau, foi determinado por Deus. Por exemplo, se uma criança foi abusada e assassinada, é porque Deus quis que isso acontecesse. Esta posição vai muito além do ensino de João Calvino e chega ao cúmulo de dizer que Deus é o autor do pecado e que o Satanás é um agente a serviço de Deus. O hiper-calvinismo também não ora pelos perdidos e não evangeliza, pois entende que tudo já está decretado por Deus e não há mais nada a ser feito pela Igreja. 


A posição mais equilibrada neste aspecto é o Arminianismo, que é o ensino do teólogo holandês Jacob Armínio (em latim, Jacobus Arminius). O Arminianismo crê que a natureza de todos os seres humanos foi corrompida pelo pecado, mas, acredita que, apesar do homem não ter a capacidade de dar o primeiro passo para a salvação, ele não perdeu o livre-arbítrio e pode escolher entre aceitar ou recusar a Graça de Deus. A teologia arminiana ensina que o homem estava morto em seus pecados, mas Deus concedeu a Sua “Graça preveniente”, que convence, chama, ilumina e capacita o homem a decidir se quer ou não ser salvo (Mc 16.16; Jo 6.47). Entretanto, Deus concedeu ao homem a livre escolha. 


Esta também é a posição defendida pela Assembleia de Deus, conforme consta em nossa Declaração de Fé


“A corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição — corpo, alma e espírito, conforme lemos em Isaías: “Toda a cabeça está enferma, e todo o coração, fraco. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã” (1.5,6). Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto, emoção, vontade, consciência, razão e liberdade. Portanto, o homem por si mesmo não consegue voltar-se para Deus sem o auxílio da graça divina. Apesar de tudo, a imagem de Deus no homem não foi aniquilada; foi, no entanto, desfigurada a tal ponto que a sua restauração só é possível em Cristo”.


“É por meio da graça que Deus capacita o ser humano para que ele responda com fé ao chamado do evangelho: “Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça” (Rm 11.6). Todavia, os seres humanos, influenciados pela graça que habilita a livre escolha, são livres para escolher: “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7.17). Deus proveu a salvação para todas as pessoas, mas essa salvação aplica-se somente àquelas que creem: “isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem” (Rm 3.22). Nesse sentido, não há conflito entre a soberania de Deus e a liberdade humana.


2. A potencialização do sofrimento. Como consequência do pecado original, os sofrimentos, as dores, o envelhecimento e a morte física passaram a fazer parte da realidade do corpo humano, conforme vimos no tópico anterior. Além das consequências naturais da Queda, os sofrimentos do corpo humano podem ser potencializados através dos pecados cometidos ao longo da sua vida. Falando sobre a destruição de Jerusalém e conclamando o povo ao arrependimento, o profeta Jeremias disse: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados”. (Lm 3.39). 


De modo geral, o pecado traz consequências para o espírito, a alma e o corpo do ser humano. Para esta aula, no entanto, vamos nos ater às consequências dos pecados no corpo, decorrentes das obras da carne, especificamente aquelas que atingem o corpo humano. Na relação de pecados que o apóstolo Paulo chamou de obras da carne em Gálatas 5.19-21, há alguns deles que são praticados contra o próprio corpo humano e, certamente, provocam nele sofrimento e destruição.


a) Os pecados sexuais. Neste grupo, Paulo mencionou a prostituição (Gr. porneia), que é um termo genérico que abrange a imoralidade sexual de modo geral; o pecado da impureza, que são os desejos impuros pela sexualidade ilícita; e a lascívia, que é a exibição do corpo, com o objetivo de atrair o desejo sexual de outras pessoas. Estas práticas, além de contrariar a vontade de Deus para o corpo humano, trazem sérias consequências para o próprio corpo, como as chamadas doenças venéreas, gravidez indesejada e problemas de saúde aos demais membros da família.  


b) Glutonaria (Gr. komos). Diz respeito às orgias e festas com comidas e bebidas, de modo extravagante e desenfreado. Refere-se também à falta de moderação em várias coisas da vida, inclusive coisas que são lícitas, como a alimentação e a sexualidade dentro do casamento. Estes exageros trazem consequências gravíssimas ao corpo humano como diabetes, infarto, obesidade, AVC, etc.


c) Bebedice (Gr. methe). Seguindo a mesma idéia da glutonaria, Paulo mencionou a bebedice em referência ao descontrole das faculdades físicas e mentais, causados pelo uso de bebidas embriagantes. Isso vale também para o uso de drogas e até medicamentos sem prescrição médica, com o objetivo de alterar as condições físicas e mentais do corpo humano. As bebidas alcoólicas, tabagismo e drogas têm levado muitas pessoas à morte precoce, principalmente a juventude. O cristão deve fugir destas coisas, pois desagradam a Deus e destroem o corpo humano.


Referências:

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembléias de Deus no Brasil. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 201, p. 58, 64..


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