17 outubro 2025

DO ABATIMENTO À GLORIFICAÇÃO

(Comentário do 3º tópico da Lição 03: O corpo e as consequências dos pecado)

Ev. WELIANO PIRES


No terceiro tópico, falaremos da trajetória do corpo humano, do abatimento à glorificação. Inicialmente, trataremos da realidade das enfermidades, que passaram a fazer parte da vida humana depois do pecado original. Na sequência, falaremos do enfado e canseira, que são naturais no processo de envelhecimento do corpo humano, mesmo que não seja acometido por doenças. Por fim, falaremos da glorificação do corpo, que será a transformação do nosso corpo corruptível e mortal, em um corpo glorioso e imortal, semelhante ao do Nosso Senhor Jesus Cristo. 


1. A realidade das enfermidades. Com a entrada do pecado no mundo, o corpo humano, que era perfeito e imortal, tornou-se mortal. Isto não significa apenas que o corpo irá morrer um dia, mas que ele se tornou corruptível, sujeito a todo tipo de doenças, ao envelhecimento e, finalmente, à morte. Desde o processo de fecundação, o ser humano já corre risco de ter deformidades ou mesmo morrer. Durante a gestação também vários fatores podem atingir a saúde do feto, inclusive o aborto espontâneo. 


Após o nascimento, o recém nascido continua sujeito a vários tipos de doenças e a acidentes, que podem deixá-lo com sequelas e até causar a sua morte. Durante a infância, devido à inocência da criança e ao descuido dos pais, há vários fatores de risco, como acidentes, choques elétricos, afogamentos e ingestão de produtos tóxicos, moedas, medicamentos, objetos perfurantes, etc., que podem causar lesões sérias e até a morte da criança. Enfim, há muitas ocorrências de mortalidade infantil. 


Passada a fase da inocência na infância, vem as fases da adolescência e juventude, onde o ser humano sabe dos riscos, mas é afoito e gosta de viver perigosamente. Nessa fase da vida, muitos experimentam bebidas, cigarros, drogas, bailes, sexo ilícito, direção perigosa, brigas e outras coisa, que podem levar o jovem a muitas doenças e até à morte prematura. Eu mesmo, perdi muitos amigos e parentes nestas circunstâncias, durante a minha juventude. Alguns não se envolvem nestas coisas, mas acabam sendo vítimas da irresponsabilidade de outros. 


Na fase adulta, mesmo tendo consciência dos riscos a que o corpo está exposto e com um pouco mais de maturidade, não estamos isentos de ter problemas de saúde, riscos de acidentes, ser vítima da violência e até morrer por falência dos nossos órgãos. Mesmo tomando todos os cuidados possíveis, não estamos livres, pois o nosso corpo é vulnerável e mortal. Ao contrário das falácias da teologia da prosperidade, o cristão não está imune às doenças. E se adoecer, não significa que está em pecado, ou que não tem fé para ser curado. 


2. Enfado e canseira. O casal Adão e Eva após pecarem e as primeiras gerações depois deles viviam em média novecentos anos. A longevidade foi diminuindo aos poucos. Adão, por exemplo, viveu 930 anos. O homem que mais durou foi Matusalém, que viveu 969 anos. Estas pessoas, com 300 anos, ainda eram consideradas jovens e geravam filhos. Com a multiplicação da maldade humana, Deus resolveu diminuir o tempo da vida humana: “Então disse o Senhor: “Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.” (Gn 6.3). 


Após o dilúvio, a crosta terrestre passou por grandes modificações e as condições de vida no planeta também foram alteradas. Após o dilúvio, a longevidade humana despencou. Noé, que era pré-diluviano, viveu 950 anos, sendo 350 deles, após o dilúvio. Sem, filho de Noé, que também era pré-diluviano, viveu 600 anos. A partir daí, os seus descendentes viveram bem menos. Terá, o pai de Abraão, viveu 205 anos. Abraão viveu 175 anos e Isaque, seu filho, 180 anos. Depois deles, Jacó viveu 147 anos, José 110 anos, Moisés 120 anos e Josué 110 anos. Não há nenhum relato na Bíblia de que alguém tenha alcançado mais de 120 anos, depois de Moisés. 


No Salmo 90.10, Moisés escreveu: “Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando”. Com o passar dos anos, a expectativa de vida diminuiu muito na antiguidade, devido às guerras, condições precárias de trabalho e alimentação e à inexistência da medicina como conhecemos atualmente. Nos tempos do Novo Testamento, não temos os registros do tempo de vida das pessoas. Mas, segundo a história, a expectativa de vida no império romano era em torno de 30 anos, com muitas privações e sofrimentos. 


Com o avanço da medicina, principalmente, a partir do Século XIX, e o avanço da tecnologia, que possibilitou a produção de equipamentos e de medicamentos, muitas doenças passaram a ter prevenção e cura. Entretanto, outras doenças surgem e matam milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente nos países mais pobres. Mesmo com todos os avanços da ciência e tecnologia, o corpo humano continua tendo dores, enfado e canseira, após os 70 anos, em muitos casos, até antes disso. 


3. O corpo glorificado. O pecado trouxe todas estas consequências que falamos até aqui sobre o corpo humano. Entretanto, logo após o pecado do primeiro casal, Deus anunciou o seu plano de Salvação e prometeu que da descendência da mulher viria o Salvador, que iria ferir a cabeça da serpente (Gn 3.15). Esta promessa prosseguiu por todo o Antigo Testamento, com a formação da nação de Israel e as promessas referentes à vinda do Messias. Nesta promessa de salvação está incluída a redenção completa do corpo humano, que foi reafirmada com mais detalhes no Novo Testamento (Rm 8.23).


O Senhor Jesus prometeu aos seus discípulos que voltaria e os levaria para junto dele (Jo 14.1-3). A maior esperança da Igreja é o retorno do Senhor para buscá-la. Nós não somos deste mundo e vivemos como peregrinos aqui, a caminho do nosso eterno lar. Entretanto, este corpo mortal, corrompido pelo pecado não pode ver a Deus. Por isso, passaremos pelo processo de glorificação do nosso corpo e receberemos um corpo imortal e incorruptível.


O apóstolo Paulo explicou aos Coríntios que, na ocasião do arrebatamento da Igreja, os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois, os que estiverem vivos naquele momento serão transformados e receberão também um corpo glorificado: “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade”. (1 Co 15.52,53). 


Se estivermos vivos ou mortos quando o Senhor vier nos buscar, receberemos um corpo glorificado e incorruptível, semelhante ao corpo ressurreto do Senhor Jesus. Este novo corpo, revestido de incorruptibilidade e imortalidade, não estará mais sujeito às dores, doenças, cansaço, envelhecimento e morte (Ap 21.3) O último inimigo a ser vencido pelo nosso corpo é a morte. A glorificação do nosso corpo é a última etapa da nossa salvação. Ora vem, Senhor Jesus! 

16 outubro 2025

A RESPONSABILIDADE HUMANA

(Comentário do 2º tópico da Lição 03: O corpo e as consequências do pecado).

Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico, trataremos da questão da responsabilidade humana após a Queda do homem. Inicialmente, falaremos a respeito do livre arbítrio no uso do nosso corpo, para o bem ou para o mal. Na sequência, falaremos da potencialização do sofrimento, decorrente da prática das obras da carne. 


1. Corpo e livre-arbítrio. Aqui, o comentarista abordou a questão do livre-arbítrio do ser humano em relação ao corpo. Somos livres para escolher o que fazer com o nosso corpo, mas seremos responsabilizados diante de Deus pelas nossas escolhas. Conforme falamos no tópico anterior, o ser humano vivia em um estado de perfeição e pureza no Jardim do Éden. Após desobedecer à ordem de Deus, o primeiro casal passou não apenas a ter conhecimento da existência do mal, mas a sua natureza foi totalmente corrompida e, como tal, inclina-se para o mal. 


Esta corrupção passou a toda a sua posteridade, ou seja, a forma foi corrompida e todos nós já nascemos com a natureza corrompida: "Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram." (Rm 5.12. A teologia chama isso de depravação total, ou seja, o ser humano nasce totalmente corrompido pelo pecado, sem nenhuma condição de ir a Deus por seus próprios esforços. Qualquer doutrina que nega isso é uma heresia. 


Para entender a questão do livre-arbítrio, é importante conhecer um pouco sobre as correntes teológicas, em relação ao pecado original. Sem falar daqueles que negam a existência do pecado de modo geral, há pelo menos cinco pontos de vista diferentes em relação ao pecado: Pelagianismo, Semipelagianismo, Calvinismo, Hiper-calvinismo e Arminianismo. O Pelagianismo, o Semipelagianismo e o Hiper-calvinismo são considerados heresias. O Calvinismo e o Arminianismo são apenas divergências teológicas no meio evangélico e há pontos sensíveis dos dois lados.


O Pelagianismo é o ensino de Pelágio, um monge britânico, que viveu entre 360 e 420 d.C. Pelágio negava a doutrina do pecado original e ensinava que o pecado de Adão e Eva atingiu apenas a eles próprios e que o ser humano não herda a natureza pecaminosa. Pelágio cria que o pecado é uma escolha pessoal e que cada ser humano decide praticar ou evitar o pecado. Segundo ele, a única coisa que Adão transferiu aos seus descendentes foi o mau exemplo. Os seus descendentes pecam por livre escolha e não por terem uma natureza corrompida pelo pecado. 


Depois da condenação do Pelagianismo, um monge chamado João Cassiano,  que viveu entre 360 e 465 d.C., tentou conciliar os ensinos de Pelágio com os de Agostinho e formulou um meio termo, que ficou conhecido como Semipelagianismo. Diferente de Pelágio, o Semipelagianismo não negava o pecado original, porém ensinava que este não corrompeu totalmente o ser humano. Segundo este ensino, o homem poderia usar o seu livre-arbítrio e iniciar o processo de salvação sozinho. A Bíblia, no entanto, ensina que todos pecaram e estão mortos em seus delitos e pecados (Rm 3.23; Ef 2.1). Não há, portanto, a possibilidade do ser humano corrompido pelo pecado, buscar a Deus por seus próprios esforços. 


O Calvinismo recebeu este nome por ter sido propagado por João Calvino, um dos principais líderes do Movimento da Reforma Protestante. Os calvinistas negam a existência do livre-arbítrio e ensinam que o ser humano após a Queda não tem mais a capacidade de escolha. Segundo dizem, é Deus quem escolhe uns para a salvação e outros para a perdição. Segundo esta corrente teológica, os eleitos para a salvação serão salvos sem que haja a possibilidade de recusarem. Da mesma forma, os escolhidos para a perdição já nascem com esta sentença e nada poderá mudar isso, pois isso é um decreto de Deus. 


O hiper-calvinismo, também chamado de calvinismo extremado. Para os hiper-calvinistas, tudo o que acontece no Universo, seja bom ou de mau, foi determinado por Deus. Por exemplo, se uma criança foi abusada e assassinada, é porque Deus quis que isso acontecesse. Esta posição vai muito além do ensino de João Calvino e chega ao cúmulo de dizer que Deus é o autor do pecado e que o Satanás é um agente a serviço de Deus. O hiper-calvinismo também não ora pelos perdidos e não evangeliza, pois entende que tudo já está decretado por Deus e não há mais nada a ser feito pela Igreja. 


A posição mais equilibrada neste aspecto é o Arminianismo, que é o ensino do teólogo holandês Jacob Armínio (em latim, Jacobus Arminius). O Arminianismo crê que a natureza de todos os seres humanos foi corrompida pelo pecado, mas, acredita que, apesar do homem não ter a capacidade de dar o primeiro passo para a salvação, ele não perdeu o livre-arbítrio e pode escolher entre aceitar ou recusar a Graça de Deus. A teologia arminiana ensina que o homem estava morto em seus pecados, mas Deus concedeu a Sua “Graça preveniente”, que convence, chama, ilumina e capacita o homem a decidir se quer ou não ser salvo (Mc 16.16; Jo 6.47). Entretanto, Deus concedeu ao homem a livre escolha. 


Esta também é a posição defendida pela Assembleia de Deus, conforme consta em nossa Declaração de Fé


“A corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição — corpo, alma e espírito, conforme lemos em Isaías: “Toda a cabeça está enferma, e todo o coração, fraco. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã” (1.5,6). Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto, emoção, vontade, consciência, razão e liberdade. Portanto, o homem por si mesmo não consegue voltar-se para Deus sem o auxílio da graça divina. Apesar de tudo, a imagem de Deus no homem não foi aniquilada; foi, no entanto, desfigurada a tal ponto que a sua restauração só é possível em Cristo”.


“É por meio da graça que Deus capacita o ser humano para que ele responda com fé ao chamado do evangelho: “Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça” (Rm 11.6). Todavia, os seres humanos, influenciados pela graça que habilita a livre escolha, são livres para escolher: “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7.17). Deus proveu a salvação para todas as pessoas, mas essa salvação aplica-se somente àquelas que creem: “isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem” (Rm 3.22). Nesse sentido, não há conflito entre a soberania de Deus e a liberdade humana.


2. A potencialização do sofrimento. Como consequência do pecado original, os sofrimentos, as dores, o envelhecimento e a morte física passaram a fazer parte da realidade do corpo humano, conforme vimos no tópico anterior. Além das consequências naturais da Queda, os sofrimentos do corpo humano podem ser potencializados através dos pecados cometidos ao longo da sua vida. Falando sobre a destruição de Jerusalém e conclamando o povo ao arrependimento, o profeta Jeremias disse: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados”. (Lm 3.39). 


De modo geral, o pecado traz consequências para o espírito, a alma e o corpo do ser humano. Para esta aula, no entanto, vamos nos ater às consequências dos pecados no corpo, decorrentes das obras da carne, especificamente aquelas que atingem o corpo humano. Na relação de pecados que o apóstolo Paulo chamou de obras da carne em Gálatas 5.19-21, há alguns deles que são praticados contra o próprio corpo humano e, certamente, provocam nele sofrimento e destruição.


a) Os pecados sexuais. Neste grupo, Paulo mencionou a prostituição (Gr. porneia), que é um termo genérico que abrange a imoralidade sexual de modo geral; o pecado da impureza, que são os desejos impuros pela sexualidade ilícita; e a lascívia, que é a exibição do corpo, com o objetivo de atrair o desejo sexual de outras pessoas. Estas práticas, além de contrariar a vontade de Deus para o corpo humano, trazem sérias consequências para o próprio corpo, como as chamadas doenças venéreas, gravidez indesejada e problemas de saúde aos demais membros da família.  


b) Glutonaria (Gr. komos). Diz respeito às orgias e festas com comidas e bebidas, de modo extravagante e desenfreado. Refere-se também à falta de moderação em várias coisas da vida, inclusive coisas que são lícitas, como a alimentação e a sexualidade dentro do casamento. Estes exageros trazem consequências gravíssimas ao corpo humano como diabetes, infarto, obesidade, AVC, etc.


c) Bebedice (Gr. methe). Seguindo a mesma idéia da glutonaria, Paulo mencionou a bebedice em referência ao descontrole das faculdades físicas e mentais, causados pelo uso de bebidas embriagantes. Isso vale também para o uso de drogas e até medicamentos sem prescrição médica, com o objetivo de alterar as condições físicas e mentais do corpo humano. As bebidas alcoólicas, tabagismo e drogas têm levado muitas pessoas à morte precoce, principalmente a juventude. O cristão deve fugir destas coisas, pois desagradam a Deus e destroem o corpo humano.


Referências:

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembléias de Deus no Brasil. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 201, p. 58, 64..


15 outubro 2025

DA PERFEIÇÃO À MORTE

(Comentário do 1º tópico da Lição 03: O corpo e as consequências do pecado)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos da trajetória do ser humano, do estado de perfeição à morte. Inicialmente, falaremos da certificação divina de qualidade das coisas criadas, inclusive o corpo humano: “e eis que era tudo muito bom” (Gn 1.31). Na sequência, veremos que pecado trouxe dor e sofrimento ao corpo humano, cujo caminho natural será  o envelhecimento e a morte. Por fim, falaremos da fase da velhice, com destaque para o transtorno da gerontofobia, que é o medo de envelhecer. 


1. A certificação divina. Deus é absolutamente perfeito e infalível em sua natureza (Dt 18.13; 2Sm 22.31). Sendo assim, Ele criou todas as coisas perfeitas e boas. O Universo foi planejado e criado por Deus na mais absoluta perfeição. Não havia desastres naturais, como terremotos, maremotos, furações, inundações ou erupções vulcânicas. Os animais eram todos herbívoros e, portanto, não haviam predadores. Os vegetais também eram todos benéficos e não haviam ervas daninhas. As águas eram puras e cristalinas, pois não havia nenhuma espécie de contaminação. 

Neste contexto de perfeição e harmonia entre os seres criados, Deus criou o homem e a mulher absolutamente perfeitos, para viverem eternamente. O corpo humano foi criado com células, tecidos e órgãos absolutamente saudáveis e incorruptíveis. Não havia infecções, inflamações, dores, deficiências, cansaço, nem morte. Tudo o que pudermos imaginar que acontece de ruim no corpo humano, não existia nos corpos de Adão e Eva, quando viviam no Jardim do Éden. 

Conforme Deus criava as coisas, Ele dava a sua certificação de qualidade. A expressão que descreve esta certificação de Deus era: “E viu Deus que era bom”. O termo hebraico, traduzido por bom é “tôwb” que significa algo bom, agradável, amável e que só traz benefícios. Esta expressão aparece sete vezes no primeiro capítulo de Gênesis (Gn 1.4,10, 12, 18, 21, 25 e 31). Na última vez, após criar o homem, o texto bíblico diz: “E viu Deus tudo o quanto havia feito e eis que era muito bom” (Gn 1.31).


2. Pecado e dor. O estado de perfeição e bem-estar em que o primeiro casal vivia provinha da perfeita comunhão que havia entre o ser humano e o Seu Criador. Para manter esta vida plena, a condição exigida era a obediência à ordem expressa de Deus para não comerem do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Deus deixou bem claro, que no dia em que comessem daquele fruto, certamente morreriam. Entretanto, eles preferiram dar ouvidos ao inimigo e desobedeceram à ordem de Deus.

A partir do momento em que o primeiro casal desobedeceu a Deus, imediatamente a comunhão entre eles e Deus foi interrompida, pois Deus é absolutamente santo e não pode compactuar com o pecado. Eles perceberam que estavam nus e procuraram folhas de figueira para se cobrirem. A voz de Deus ecoou pelo jardim e eles tentaram se esconder. Mas, ninguém se esconde da presença de Deus, pois Ele é Onipresente, ou seja, está presente em todos os lugares ao mesmo tempo.

A primeira morte que eles experimentaram foi a morte espiritual, que é a separação de Deus. Depois disso, veio também a morte moral, que é a perda da integridade dos seus valores. Por fim, a morte física, que ocorreu gradativamente. Eles não morreram fisicamente naquele momento, mas os seus corpos perderam a imortalidade e deixaram de ser imunes às doenças. Com isso, os seus corpos passaram a se degenerar e entraram em um processo natural de envelhecimento, que culminou na morte física. O primeiro ser humano a morrer foi Abel, filho do primeiro casal, que foi assassinado pelo seu irmão Caim. 

Deus determinou a sentença a Adão, como representante do gênero humano, por causa do pecado que cometera. A terra passou a ser maldita por causa dele e iria produzir ervas daninhas e espinhos. Viriam sobre ele e os seus descendentes, as dores provocadas por fatores espirituais, emocionais e físicos. O trabalho, que antes era prazeroso, passaria a ser cansativo e enfadonho (Gn 3.7-19). A mulher também recebeu a sentença de que teria dores na gestação dos seus filhos. Por fim, receberam a sentença da morte física: “...até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás”. (Gn 3.19b).

Depois que o homem pecou, a morte física passou a ser uma realidade inevitável. O corpo  humano, que antes era perfeito, imune às doenças e imortal, tornou-se mortal e passou a se degenerar até, finalmente, morrer. Quando o ser humano nasce, ele começa a morrer. É como se ligasse um cronômetro com contagem regressiva: O ser humano nasce, cresce, envelhece e, finalmente, morre. Em cada fase da vida, há riscos de várias doenças no nosso corpo e, consequentemente, o risco de morrer. Por mais que cuidemos do nosso corpo, não há como evitar o envelhecimento e a morte. 


3. Velhice, autenticidade e gratidão. Aqui, o comentarista fala do envelhecimento na sociedade atual e de um transtorno, que tem marcado a nossa geração, chamado gerontofobia. Esta palavra deriva do termo grego “gérontos”, que significa literalmente “velho”, e “phobos”, que significa medo excessivo ou pavor.. Gerontofobia, portanto, é o medo excessivo de envelhecer, que causa ansiedade e leva a pessoa a adotar costumes e comportamentos incompatíveis com a própria idade, a fim de parecer jovem. Não se trata apenas de ser uma pessoa jovial, mas do afastamento de qualquer coisa que tenha relação com a velhice e até à discriminação contra pessoas idosas. 

Na Bíblia, a velhice é apresentada de forma natural e até honrosa: “Diante dos cabelos brancos te levantarás, e honrarás a face do ancião; e temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor”. (Lv 19.32); “Com os idosos está a sabedoria, e na longevidade o entendimento.” (Jó 12.12). O capítulo 12 de Eclesiastes fala da velhice, de forma poética, descrevendo a sua situação degradante, apontando as dificuldades que o idoso enfrenta, em comparação à juventude, como a falta de visão, de dentes, de audição e finalmente a morte. Isso não é um desdém com esta fase da vida, mas uma visão terrena da vida, considerando apenas o aspecto material (debaixo do sol). Esta é a perspectiva de todo o livro de Eclesiastes em relação à vida humana. 

Esta cultura permanece até hoje entre os povos orientais. Entre os judeus, muçulmanos, chineses e japoneses, os idosos são respeitados e tidos como pessoas sábias e dignas de respeito. Lamentavelmente, em nossa cultura ocidental os idosos passaram a ser vistos como um peso. Muitos pais idosos são abandonados à própria sorte pelos próprios filhos. Alguns são até agredidos fisicamente. Foi preciso criar o Estatuto do Idoso, para proteger as pessoas idosas de maus tratos e do abandono por parte da família.

A sociedade ocidental procura a qualquer custo, renegar a velhice, como se fosse algo desprezível. A começar por evitar a nomenclatura “velho” ou “idoso”, que foi substituída por “terceira idade” e até por “melhor idade”. Há pessoas que têm pavor até de serem chamados de senhor e senhora, por pensarem que isso significa pessoa com mais idade. Na verdade, são apenas pronomes de tratamento respeitosos, principalmente, para se referir a pessoas casadas ou que tenham funções mais elevadas em uma empresa. 

Precisamos encarar a velhice com gratidão a Deus pelos anos vividos e viver a vida de forma agradável nessa fase. O ideal é que os jovens se preparem para a velhice em todos os aspectos: físico, financeiro, familiar e espiritual. Se a pessoa fizer extravagâncias na juventude e não morrer ainda jovem, sofrerá as consequências dos seus atos na velhice. A fase da velhice não precisa ser chata, enfadonha e inútil. Os idosos podem voltar a estudar, fazer cursos, praticar esportes, passear e trabalhar para o Senhor, respeitando os seus limites, é claro. O corpo humano é como uma máquina, se parar totalmente, enferruja e trava tudo. Portanto, na velhice, o ideal é se manter ativo. 

14 outubro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 3: O CORPO E AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO

TEXTO ÁUREO:
“No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás.” (Gn 3.19).

VERDADE PRÁTICA:
“O pecado do primeiro Adão afetou o homem no corpo, na alma e no espírito. Mas a Redenção em Cristo, o último Adão, tem o poder de restaurá-lo plenam
ente”.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Gênesis 3.17-19; Eclesiastes 12.1-7.

OBJETIVOS DA LIÇÃO:
I) Analisar como o ser humano foi criado em perfeição, e de que forma o pecado trouxe sofrimento;
II) Explicar que, apesar das consequências do pecado, o ser humano continua responsável por suas escolhas; 
III) Refletir sobre as limitações físicas e as enfermidades como realidade pós-queda, mantendo a esperança na glorificação do corpo.

PALAVRA-CHAVE: PECADO 

Na Bíblia, há várias palavras hebraicas e gregas, para se referir ao pecado. O termo hebraico “chata’th” e o seu correspondente grego “hamartia”, significam “errar o alvo”, Literalmente é uma referência a um atirador que atira uma flecha e erra o seu alvo. O alvo de todo ser humano é atingir a obediência total a Deus. Se ele falha nessa obediência, “erra o alvo” e, portanto, comete pecado. Há também a palavra hebraica “avon” e o seu correspondente grego “adíkia”, que significam “falta de integridade”. Outro termo hebraico para se referir ao pecado é “pesha”. O seu correspondente grego é “parábasis”. São usados para se referir à rebeldia ou à completa rejeição e insubordinação contra a autoridade de Deus. Por fim, temos a palavra hebraica “resha” e a sua correspondente grega “anomia”, que significam ilegalidade, ou “fuga culposa da lei”. O pecado entrou no mundo através da desobediência do primeiro casal e corrompeu totalmente a natureza humana.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, dando continuidade ao estudo do corpo humano, estudaremos sobre as consequências do pecado no corpo humano. Deus criou o corpo humano perfeito em todos os aspectos, deu-lhe o espírito e o homem foi feito alma vivente. O Criador plantou um maravilhoso Jardim no Éden e colocou ali o primeiro homem (Gn 2.7,8). Depois formou a mulher para viver com o homem naquele jardim. Ali, eles viviam na inocência e em uma felicidade plena, desfrutando da presença do Criador e da comunhão com Ele. Deus fez brotar neste jardim, várias espécies de árvores que produziam frutos bons, tudo o que o ser humano precisava para viver bem. 

No centro do Jardim, Deus colocou duas árvores: a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.9). A primeira permitia ao homem viver eternamente. A segunda, o homem foi expressamente proibido por Deus de comer do seu fruto, pois no dia em que comesse, certamente morreria. A mulher, porém,deu ouvidos à voz do inimigo, personificado na serpente, e desobedeceu à ordem de Deus. Em seguida, deu o fruto ao seu marido e ele também comeu. 

A partir desta desobediência do primeiro casal, a comunhão do homem com Deus foi rompida e o primeiro casal foi expulso do Jardim. Esta desobediência trouxe várias consequências negativas para o corpo, alma e espírito do ser humano. Nesta lição trataremos apenas das consequências do pecado no corpo. Posteriormente, falaremos dos efeitos deletérios do pecado na alma e no espírito, nas lições relacionadas a eles. A partir do advento do pecado, o corpo humano, criado por Deus na mais absoluta perfeição, passou a conviver com as doenças, o envelhecimento e a morte física.

TÓPICOS DA LIÇÃO 

I. DA PERFEIÇÃO À MORTE

No primeiro tópico, falaremos da trajetória do ser humano, do estado de perfeição à morte. Inicialmente, falaremos da certificação divina de qualidade das coisas criadas, inclusive o corpo humano: “e eis que era tudo muito bom” (Gn 1.31). Na sequência, veremos que pecado trouxe dor e sofrimento ao corpo humano, cujo caminho natural será o envelhecimento e a morte. Por fim, falaremos da fase da velhice, com destaque para o transtorno da gerontofobia, que é o medo de envelhecer. 

II. A RESPONSABILIDADE HUMANA

No segundo tópico, trataremos da questão da responsabilidade humana após a Queda do homem. Inicialmente, falaremos a respeito do livre arbítrio no uso do nosso corpo, para o bem ou para o mal. Na sequência, falaremos da potencialização do sofrimento, decorrente da prática das obras da carne. 

III. DO ABATIMENTO À GLORIFICAÇÃO

No terceiro tópico, falaremos da trajetória do corpo humano, do abatimento à glorificação. Inicialmente, trataremos da realidade das enfermidades, que passaram a fazer parte da vida humana depois do pecado original. Na sequência, falaremos do enfado e canseira, que são naturais no processo de envelhecimento do corpo humano, mesmo que não seja acometido por doenças. Por fim, falaremos da glorificação do corpo, que será a transformação do nosso corpo corruptível e mortal, em um corpo glorioso e imortal, semelhante ao do Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Bons estudos!

Ev. WELIANO PIRES 

13 outubro 2025

O CORPO E AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO

(SUBSÍDIOS DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO/CPAD)

A partir do relato de Gênesis, podemos entender que a Queda do homem trouxe muitos problemas para a humanidade. Os mais grave dentre eles é a morte do corpo. Desde quando criou o ser humano, o propósito de Deus era que o homem vivesse eternamente e desfrutasse das bênçãos disponíveis na criação. Por isso, o instituiu no jardim do Éden, um lugar próspero e de plena paz. Ali, Adão, juntamente com sua esposa Eva, tinha todos os recursos à disposição (Gn 2.7,16,17). O sofrimento, as aflições e as doenças tanto físicas quanto emocionais não faziam parte do propósito divino para a vida humana neste mundo. Mas, a natureza humana declinou em razão do pecado e a morte entrou neste mundo (Rm 5.12). Por essa razão, os males desta vida imperam sobre o corpo e o levam a uma morte lenta e angustiante.

A principal consequência do pecado na vida humana é a morte. A respeito desse assunto, na obra Teologia do Novo Testamento (CPAD), Roy B. Zuck discorre que o apóstolo “Paulo usa a palavra ‘morte’ em relação à morte física e espiritual ao descrever que ‘o salário do pecado é a morte’ (Rm 6.23). A morte espiritual é a condição de separação de Deus: ‘A inclinação da carne é a morte’ (Rm 8.6). Se a condição atual dos não-cristãos não mudar, a vida deles terminará em morte eterna, a separação final da presença de Deus. A vida controlada pelo pecado leva à morte (6.16). Todas as pessoas, por serem filhas de Adão, começam a vida sob o domínio da morte (5.14). Até mesmo os cristãos lutam com a mortalidade, a separação da alma e espírito do corpo na morte física. Conforme declara Paulo, há a expectativa de que, um dia, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, a morte será derrotada (1Co 15.54). Todavia, até lá, ‘nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo’ (Rm 8.23)”. (2008, pp.288,289).

Há, porém, nos Evangelhos, uma nova esperança trazida à vida daqueles que aceitam a fé em Jesus como Salvador e Senhor. A Palavra de Deus nos revela quem crê no Filho de Deus passa da morte para a vida (Jo 5.24), a saber, aqueles que creem em Seu sacrifício na cruz do Calvário como ato que remove a culpa dos pecados e oferece o perdão divino. Desde então, podemos experimentar uma nova natureza espiritual capaz de obedecer a Deus e manter-se em comunhão plena com Ele (1Jo 5.4,5). O grande desafio agora é a mortificação das obras da carne contaminada pelo pecado. O apóstolo Paulo ensina que, pelo Espírito, mortificamos a natureza pecaminosa e produzimos as virtudes do Fruto do Espírito (Gl 5.16).

11 outubro 2025

O equívoco da chamada Teologia da retribuição

“Pense bem: será que algum inocente já chegou a perecer? E onde os retos foram destruídos? (Jó 4.7 NAA).

por WELIANO PIRES

Estas palavras fazem parte do primeiro discurso de Elifaz, o temanita, um dos três “amigos” de Jó que vieram visitá-lo, depois que ele perdeu os seus dez filhos, todo o seu patrimônio e até a própria saúde. O texto da Versão Almeida Revista e Corrigida traduziu este texto assim: “Lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos?”. A palavra "jamais" usada neste texto pela versão Almeida Revista e Corrigida traz certa confusão, pois, está em desacordo com o contexto dos discursos de Elifaz. Por isso, eu entendo que a tradução da Nova Almeida Atualizada (NAA), está mais contextualizada.

Quem era Elifaz? A Bíblia fala de duas pessoas com este nome, cujo significado é “Deus é forte” ou “Deus é a sua força”. A primeira citação do nome Elifaz, refere-se ao filho de Esaú com Ada, uma de suas mulheres (Gn 36.4,10, 11-16). Este foi o pai dos edomitas. O segundo personagem chamado Elifaz é o amigo de Jó, chamado de “o temanita”. Evidentemente, não se trata da mesma pessoa, pois, Jó viveu na época dos patriarcas, próximo à época de Abraão, que era o avô de Esaú. Logo, não deve ter sido contemporâneo  de um filho de Esaú, que era bisneto de Abraão. Temã, a terra de Elifaz, pertencia ao território tribal dos edomitas. Temã era um neto de Esaú, que dera o seu nome a uma região da Iduméia do Sul, que era famosa pela sabedoria. 

Em seu primeiro discurso, nos capítulos 4 e 5, Elifaz defende a chamada teologia da retribuição, segundo a qual, todo sofrimento é uma punição ao pecador e, portanto, os justos não sofrem. O cerne desta teologia é a chamada lei da causa e do efeito. A teoria de Elifaz se assemelha à doutrina do carma das religiões orientais, presente também no Espiritismo. Segundo estas religiões, o ser humano sofre, para pagar os seus erros em “vidas passadas”. Na teologia retributiva não há espaço para a Graça de Deus, pois, todos devem pagar pelos próprios erros, inevitavelmente. 

Recentemente, eu vi a história de um jovem de vinte e quatro anos, que foi capturado por uma facção criminosa na Bahia e, depois de ser julgado numa espécie de tribunal do crime, foi morto impiedosamente. Os assassinos ainda cortaram o seu corpo em pedaços e o colocaram em um saco plástico. A família, que era evangélica, passou vários dias aflita com o seu desaparecimento, até que finalmente o corpo foi encontrado já em estado de decomposição. O rapaz tinha problemas de saúde, era evangélico e não cometeu crime algum para ser morto daquela forma brutal. 

Na minha cidade natal, há alguns anos, ocorreu também um assassinato brutal que chocou a população. Uma idosa, com mais de oitenta anos, foi esfaqueada e morta por um usuário de drogas, sobrinho do marido dela. Eu conheci esta senhora e também os pais dela e irmãos, desde  a minha infância. Era amiga dos meus pais desde a juventude. Sempre foi uma pessoa de bem, que não fazia mal a ninguém. Durante a sua infância, juventude e até à velhice ela foi uma católica praticante. Mas, quando aconteceu esta tragédia, ela já era evangélica a alguns anos. A sua filha, genro e alguns netos e sobrinhos também são evangélicos. Como vamos dizer que este assassinato cruel foi “uma retribuição” pelos seus pecados? Seria uma afronta à memória dela, à família e a todos que a conheceram. 

Infelizmente, esse tipo de discurso da teologia retributiva tem sido pregado até mesmo em Igrejas evangélicas, por pessoas que desconhecem a Palavra de Deus. Há pessoas que pregam que se alguém está sofrendo é porque está em pecado e Deus “está pesando a mão”. Sejamos sinceros: Quantas pessoas nós conhecemos, que são justas e sofrem horrores injustamente? e quantas pessoas que cometem tantas maldades e vivem tranquilamente neste mundo? Ora, se o sofrimento fosse punição pelos pecados cometidos, Jesus, então, teria sido o pior dos pecadores, pois Ele sofreu agonia, afrontas, torturas e foi morto de forma cruel.

Embora a lei da semeadura e da colheita esteja na Bíblia, isso não é uma regra geral. O apóstolo Paulo disse que “Tudo o que homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). O ser humano, realmente, colhe aquilo que planta, mas, não apenas isso. Nós sofremos também os efeitos deletérios da entrada do pecado no mundo. Sendo assim, somos atingidos pelas consequências das ações de outras pessoas e do inimigo das nossas almas. Além disso, somos submetidos às provações de Deus. Elifaz tem razão quando diz que “...os que lavram iniquidade e semeiam o mal colhem isso mesmo”. (Jó 4.7b). Porém, ele erra quando diz que somente os pecadores sofrem, ou que todos os que sofrem é porque pecaram.

O caso de Jó não se enquadrava na teoria de Elifaz de que somente os pecadores perecem. Jó era um homem justo, temente a Deus e que se desviava do mal, conforme o próprio Deus havia testemunhado dele. Mesmo assim, ele sofreu uma série de perdas e estava em profundo sofrimento. Jó apelou para Deus, desejando abrir um canal de diálogo com o Todo Poderoso, para que Ele ouvisse as suas queixas. Esta é, sem dúvidas, a melhor atitude a ser tomada, quando passamos por sofrimentos, sendo incompreendidos e acusados injustamente. Deus é o nosso juiz e sabe perfeitamente quem somos, o que fazemos e o que fazem contra nós.

Não podemos nos esquecer em meio às lutas, sofrimentos e dificuldades, Deus está conosco. Ele não nos trata segundo os nossos pecados, pois conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó. Deus é longânimo, misericordioso, compassivo e bom. Precisamos tomar cuidado ao avaliarmos as causas dos sofrimentos. Nem sempre o sofrimento na vida de uma pessoa é uma punição ou consequência de pecado. Pode ser uma provação para nos ensinar e nos fazer amadurecer espiritualmente. Precisamos olhar para o sofrimento do ponto de vista da eternidade, pois se esperarmos em Cristo somente nesta vida, seremos os mais miseráveis de todos os seres humanos. 

Weliano Pires é bacharel em teologia, articulista, blogueiro evangélico, professor da Escola Bíblica Dominical e evangelista da Assembléia de Deus, Ministério do Belém em São Carlos-SP. 

10 outubro 2025

O CORPO E A COLETIVIDADE

(Comentário do 3º tópico da Lição 02: O corpo - A maravilhosa criação de Deus).

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, falaremos sobre o corpo humano e a coletividade. Discorreremos sobre a prática relacional, pois não fomos criados para viver isolados socialmente. Na sequência, falaremos da prática congregacional, destacando o papel do corpo no culto ao Senhor. Por último, falaremos do uso exagerado dos recursos tecnológicos nos cultos. 


1. A prática relacional. Depois que criou Adão, o próprio Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele.”  (Gn 2.18). Aqui, Deus fez o relacionamento conjugal, mas Ele planejou também outros relacionamentos para o ser humano, como pais e filhos, amigos e irmãos (biológicos ou de fé). Muitas pessoas dizem que “é melhor viver só do que mal acompanhado”. De fato, é ruim viver em más companhias, mas viver sozinho também não é bom. É horrível viver sozinho, sem ter com quem conversar, ouvir opiniões e conselhos, ou mesmo pedir socorro. 


Eu conheci um homem que morava sozinho em sua casa. Tinha irmãos e amigos que moravam na mesma rua, mas vivia sozinho em sua casa. A casa dele permaneceu fechada por uns três dias e ninguém sabia se ele havia saído, pois ele não dava satisfações a ninguém e não tinha bom relacionamento com os irmãos. De repente, sentiram um mau cheiro vindo da casa dele. Bateram à porta e ninguém respondeu. Quando arrombaram a porta, ele estava morto e o seu corpo já se encontrava em estado avançado de putrefação. 


O ambiente virtual tem a sua importância na correria do mundo moderno e traz muitas facilidades. Um grande benefício proporcionado pelas redes sociais é nos aproximar de pessoas conhecidas que moram distantes de nós, ou até pessoas desconhecidas, com as quais, dificilmente seria possível nos relacionar pessoalmente, devido à distância ou mesmo por não ter vínculo familiar, a ponto de frequentar as suas casas. 


Eu, por exemplo, já encontrei parentes e amigos de infância que moram longe, com os quais eu não tinha contato há mais de 30 anos e moram em outros estados. Dificilmente eu os encontraria pessoalmente. Os meus pais e a maioria dos meus parentes vivem no estado de Pernambuco e eu me comunico com eles a qualquer momento, pelas redes sociais. Também já me comuniquei com autoridades, pastores, escritores, jornalistas, advogados e pessoas famosas de várias partes do Brasil e até do exterior. Pessoalmente, ou mesmo por telefone, isso seria praticamente impossível. 


Por outro lado, o ambiente virtual tem afastado aqueles que estão perto de nós. As pessoas estão cada vez mais isoladas fisicamente. Muitas vezes tem milhares de seguidores e amigos virtuais, mas em suas próprias casas vivem na solidão. Quando chegam em um ambiente, antes de cumprimentar as pessoas direito, já estão procurando a senha do wi-fi. Precisamos voltar a conversar pessoalmente com as pessoas que nos cercam, sorrir e abraçar mais. Esta recomendação é dirigida principalmente a mim, que sou bastante ativo no ambiente virtual, principalmente por necessidade familiar e ministerial. 


2. A prática congregacional. Em toda a Bíblia, vemos as pessoas se reunindo pessoalmente para adorar a Deus. No Antigo Testamento, Deus ordenou que Moisés providenciasse uma tenda móvel, chamada Tabernáculo, onde seriam oferecidos os sacrifícios a Deus. Quando Israel já estava na terra prometida, o Tabernáculo ficou em um lugar fixo e todo o Israel comparecia ao local para trazer os seus sacrifícios e ofertas a Deus. Davi desejou construir uma casa para Deus, mas Deus não permitiu e disse que traria paz ao reinado do seu filho Salomão e ele construiria o templo. Davi comprou o terreno e arrecadou o material para a construção. Salomão edificou o templo e o povo de Israel se reunia ali para adorar a Deus e trazer as suas ofertas e sacrifícios. 


No Novo Testamento não há mais a necessidade de sacrifícios, porque Cristo já se ofereceu por nós. O templo de Deus na Nova Aliança somos nós, pois o Espírito Santo habita em nosso coração. Isso, porém, não nos isenta da necessidade de nos reunirmos para adorar a Deus. O escritor da Epístola aos Hebreus recomendou: “E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e ás boas obras, Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia.” (Hb 10.24,25).


Há um movimento nocivo na atualidade, denominado de “Movimento dos Desigrejados”. Este movimento tem crescido bastante, principalmente após a pandemia, São pessoas que se dizem cristãs, mas não estão ligadas a nenhuma Igreja. Procuram desqualificar a Igreja local e negam a sua necessidade. São contrários à Igreja como organização, alegando que a Igreja Primitiva se reunia nas casas e não era institucionalizada. Criticam também as construções de templos, as contribuições à Igreja e a existência de pastores.


De fato, a Igreja nos primeiros séculos não possuía templos, pois vivia sob intensa perseguição tanto dos judeus quanto do Império romano. Também não era uma pessoa jurídica, porque naquela época não existiam instituições formais como hoje. Entretanto, isso não significa que não era uma organização. A Igreja tinha a sua liderança formada por apóstolos, profetas, evangelistas, presbíteros, diáconos, pastores e mestres (Ef 4.11; At 6.1-6; At 14.23). Tinha o seu código doutrinário (At 2.42-47) e disciplinar (1 Pe 3.5,6; 2 Ts 3.6). Atualmente, uma Igreja para funcionar precisa ter CNPJ e alvará de funcionamento. Para isso, precisa ter o seu estatuto e os responsáveis pela administração da Igreja.


3. Tecnologia e culto. O nosso corpo deve não apenas estar presente no culto com os nossos irmãos, mas deve participar ativa e reverentemente do culto. Quando adentramos ao ambiente de culto a Deus, seja no templo ou em nossa própria casa, aquele momento é exclusivo ao Senhor. Não podemos, portanto, nos distrair com outras coisas alheias ao culto, como conversas paralelas, risos, brincadeiras e outras coisas irreverentes, pois além de ser um desrespeito a Deus, tira a atenção de outras pessoas. 


Assim como acontece em nossas relações pessoais e profissionais, os recursos tecnológicos podem trazer muitos benefícios à Igreja, inclusive nos cultos. As telas com o texto bíblico e hinos, os slides nas aulas e palestras, as transmissões dos cultos e a divulgação dos trabalhos da Igreja são ferramentas muito importantes. 


Muitas vezes, eu estou impossibilitado de ir aos cultos da nossa Igreja e assisto cultos online. Assisto também algumas transmissões de reuniões de obreiros e Escolas Bíblicas da nossa Igreja Sede no Belenzinho. Isso é uma benção, principalmente para pessoas que estão doentes e idosos que não conseguem ir aos cultos presencialmente. 


Entretanto, é preciso haver moderação para não tirar a atenção das pessoas nos cultos e não concentrar o culto no homem. Infelizmente, em muitos cultos, as pessoas não cultuam a Deus e não sentem a sua presença. Ficam o tempo todo filmando, tirando fotos e postando nas redes sociais. Há pregadores e cantores que fazem questão que isso seja feito, para usar os recortes depois e aumentar a sua popularidade. Precisamos voltar a cultuar a Deus com reverência. 

DO ABATIMENTO À GLORIFICAÇÃO

(Comentário do 3º tópico da Lição 03: O corpo e as consequências dos pecado) Ev. WELIANO PIRES No terceiro tópico, falaremos da trajetória...