29 outubro 2025

A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE E IMORTALIDADE

(Comentário do 2º tópico da Lição 05: A Alma – A natureza imaterial do ser humano)

Ev. WELIANO PIRES

Neste segundo tópico, trataremos da natureza da alma, destacando sua imaterialidade e imortalidade. Inicialmente, com base em Mateus 10.28, analisaremos a distinção entre a substância material e a imaterial do ser humano. Em seguida, abordaremos a imaterialidade da alma e a responsabilidade pessoal de cada indivíduo, em contraposição às concepções antropológicas — antigas e modernas — que negam a responsabilidade moral do homem. Por fim, discutiremos as correntes teológicas influenciadas pelo marxismo, como a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral, que reduzem o Evangelho a questões socioeconômicas e ignoram a necessidade do arrependimento.

1. Distinção de substâncias

O texto de Mateus 10.28 apresenta fundamentos para compreendermos a natureza imaterial da alma:

“E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10.28, ARA).

A primeira verdade que este versículo ensina é a distinção entre a parte material e a imaterial do ser humano — o corpo, como elemento material, e a alma e o espírito, como elementos imateriais. Embora alma e espírito não sejam exatamente a mesma coisa, são inseparáveis, e a Escritura utiliza ambos os termos de forma intercambiável para designar a dimensão espiritual do homem.

Em Eclesiastes 12.7 lemos:

“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.”

Neste texto, quando o autor menciona que o “espírito volta a Deus”, a referência inclui também a alma, pois ambos são inseparáveis. Não é apenas o espírito que retorna a Deus, conforme afirmam alguns grupos heterodoxos¹.

De forma semelhante, em Apocalipse 6.9:

“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram.”

Quando João declara que “viu as almas dos que foram mortos”, entende-se que o espírito também estava presente, uma vez que ambos constituem a parte imaterial e indissociável do ser humano, mesmo após a morte do corpo.

A segunda verdade presente em Mateus 10.28 é que a parte imaterial do ser humano é imortal e não pode ser destruída pelo homem. O máximo que o ser humano pode fazer é matar o corpo; contudo, este será reunido à alma e ao espírito na ressurreição, seja do justo — para a vida eterna —, seja do ímpio — para a condenação eterna².

Por fim, Jesus ensina que os ímpios serão lançados no lago de fogo em sua totalidade — espírito, alma e corpo. Os aniquilacionistas³ afirmam que os ímpios deixarão de existir, mas o termo grego usado por Jesus, apollymi, traduzido por “perecer”, não indica aniquilação, e sim ruína ou destruição contínua. A palavra resulta da junção de apo (“separação”) e ollymi (“ruína, destruição, morte”), significando “separar para a destruição”. Assim, o sentido transmitido por Cristo é o de sofrimento eterno, conforme 2 Tessalonicenses 1.9:

“Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição (aiōnios ollymi), ante a face do Senhor e a glória do seu poder.”

2. Imaterialidade e responsabilidade pessoal

Ao dizer que Deus pode “fazer perecer no inferno [gr. gehenna] tanto a alma como o corpo”, Jesus refuta várias concepções materialistas, antigas e modernas, sobre a natureza humana.

No Livro de apoio, o comentarista apresentou algumas dessas concepções antropológicas materialistas. Segundo um esboço do teólogo Norman Geisler⁴, as principais visões antropológicas podem ser resumidas da seguinte forma:

  • Materialismo antropológico: o ser humano possui apenas corpo, inexistindo alma imaterial;
  • Epifenomenalismo antropológico: a alma é um produto ou reflexo do corpo, semelhante a uma sombra;
  • Idealismo antropológico: apenas a mente existe, e o corpo é mera ilusão;
  • Monismo antropológico: alma e corpo são duas faces de uma mesma substância, como o interior e o exterior de um mesmo objeto.

Jesus, porém, reafirma que o homem é composto por duas substâncias distintas — uma material e outra espiritual —, dotado de liberdade moral, pecaminosidade, e destinado à ressurreição.

Além das concepções filosóficas, há ideologias materialistas que negam a existência da alma e a vida após a morte. O marxismo, elaborado por Karl Marx e Friedrich Engels, é uma das mais influentes. Segundo sua filosofia, o ser humano é produto das estruturas socioeconômicas, e não um ser moralmente responsável. A partir dessa visão, o pecado é reinterpretado como opressão social, e não como rebelião contra Deus.

Contudo, qualquer ideologia que prometa resolver os problemas humanos por meio de reformas políticas ou econômicas incorre no mesmo erro. Somente Jesus Cristo pode resolver o problema do pecado. Sua promessa não é reformar este mundo, mas salvar os que nele creem para viverem com Ele eternamente no novo céu e nova terra (Ap 21.1–7).

3. Materialismo e teologia

A influência materialista também alcançou a teologia. Alguns pensadores marxistas tentaram conciliar a Bíblia com o socialismo, originando o chamado Evangelho Social, que interpreta as Escrituras à luz da filosofia marxista, reduzindo o Evangelho à mera redistribuição de riqueza e à luta contra desigualdades.

Desse movimento surgiu, na Igreja Católica da América Latina, a Teologia da Libertação, que defende que a libertação trazida por Cristo é primordialmente econômica e social. Segundo essa corrente, Jesus não veio libertar do pecado, mas livrar os pobres da opressão dos ricos. Por isso, muitos de seus adeptos passaram a justificar invasões de terras, militância política e até ações violentas em nome da “revolução cristã”.

No meio protestante, surgiu uma vertente semelhante: a Teologia da Missão Integral (TMI), cujo principal expoente foi o pastor equatoriano René Padilla (1932–2021). Em sua obra O Reino de Deus e a Igreja (1984), Padilla propõe que Jesus não veio apenas salvar a alma, mas transformar toda a sociedade.

No Brasil, teólogos e pastores como Caio Fábio, Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz, Ricardo Gondim, entre outros, difundiram essa perspectiva. Alguns deles aderiram posteriormente à teologia liberal e ao teísmo aberto. Ed René Kivitz chegou a afirmar que a Bíblia precisa ser “ressignificada” e “atualizada”, enquanto Ricardo Gondim declarou publicamente seu rompimento com o movimento evangélico, pedindo perdão à comunidade homossexual por críticas feitas anteriormente.

A distinção entre corpo e alma é uma verdade revelada nas Escrituras e confirmada pela experiência espiritual do ser humano. A alma é imaterial, imortal e responsável moralmente diante de Deus. Qualquer doutrina ou ideologia que negue essa realidade — seja filosófica, política ou teológica — afasta-se da verdade do Evangelho.
Somente em Cristo encontramos a verdadeira libertação: não a libertação socioeconômica, mas a redenção do pecado e a vida eterna.

Notas

  1. Cf. Hebreus 4.12: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz... e apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”, onde alma e espírito são distinguidos, mas não separados.
  2. Cf. João 5.28–29; Daniel 12.2.
  3. Doutrina que afirma a destruição total dos ímpios após o juízo final, negando o castigo eterno.
  4. GEISLER, Norman L. Teologia Sistemática: Antropologia, Hamartiologia, Soteriologia. São Paulo: Vida, 2004.

Referências

  • ARA = Almeida Revista e Atualizada.
  • GEISLER, Norman L. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida, 2004.
  • PADILLA, René. O Reino de Deus e a Igreja. Buenos Aires: Kairós, 1984.
  • BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.

 

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