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10 junho 2022

E SE FÔSSEMOS JULGADOS PELA SEVERIDADE DE DEUS


(Comentário do 3º tópico da Lição 11)


Há um grande equívoco, mesmo entre alguns evangélicos, de pensarem que há diferença entre o Deus do Antigo Testamento e o do Novo Testamento. Muitas pessoas pensam que o Deus do Antigo Testamento era severo e vingativo e que o Deus do Novo Testamento é amoroso e tolerante. Talvez este pensamento seja reflexo dos ensinamentos de Marcião, um heresiarca do Século II. Marcião era natural de Sinope, uma cidade famosa cidade comercial grega, que ficava ao Sul do Mar Negro. Por volta do ano 139 d.C., tornou-se membro da Igreja de Roma e ofereceu dinheiro à igreja. As suas doutrinas, no entanto, contrariavam o cristianismo ortodoxo e em 144 d.C., ele foi afastado da comunhão e o seu dinheiro foi devolvido. Sendo rico e culto, ele tentou criar uma igreja rival e espalhar a sua doutrina por diversas partes. 


Por rejeitar o Deus do Antigo Testamento, Marcião escreveu a sua própria versão do Novo Testamento, composto apenas pelo Evangelho de Lucas e dez epístolas paulinas, excluindo também as epístolas pastorais. Marcião ensinou muitas heresias e em sua concepção, o Antigo Testamento foi feito por Demiurgo, uma espécie de deus “justo e iracundo”, que submeteu o seu povo a uma lei muito severa. Ora, isso é uma grande falácia, pois um dos principais atributos de Deus é a sua imutabilidade. Deus não muda em seu Ser, atributos, propósitos e promessas. No Salmo 90.2 assim está escrito: “Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus.” No Novo Testamento, o escritor da Epístola aos Hebreus, assim se referiu a Cristo: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.”  (Hb 13.8). 


1- Deus é severo? O Antigo Testamento nos mostra que Deus é bom (Sl 25.8), compassivo (Sl 86.15), misericordioso (Sl 103.8), piedoso, amoroso e benigno (Sl 145.8). Por outro lado, Deus é justo e não castiga o justo junto com o ímpio pecador (Gn 18.23). Mesmo sendo justo e santo, Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez 33.11). Deus perdoa ao pecador que se arrepende e se humilha, mesmo sendo perversos e cruéis como Acabe e Manassés (1Rs 21.29; 2 Cr 33.11-13). Falando sobre o endurecimento e a incredulidade de Israel, o apóstolo Paulo escreveu que devemos considerar “a bondade e a severidade de Deus” (Rm 11.22). Deus é bom, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, pois Ele não muda. Da mesma forma, Ele é severo contra o pecado. Deus é bom e busca salvar a todos os pecadores. Mas é severo contra aqueles que insistem em permanecer no pecado. 


Na Epístola aos Hebreus lemos: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.31); e: “O nosso Deus é fogo consumidor.” (Hb.12.29). O apóstolo Pedro, falando sobre os falsos mestres, citou vários exemplos de pecadores que não arrependeram e falou que Deus livrou os justos e puniu os ímpios: “Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar os injustos para o dia do juízo, para serem castigados.” (2 Pe 2.9). Judas, em sua epístola, faz a mesma coisa e alerta os cristãos, citando os casos de rebeliões dos anjos, de Sodoma e Gomorra, dos egípcios que não creram, de Coré, Balaão e outros. 


2- Como Deus nos julga? Antes de destruir as cidades de Sodoma e Gomorra, Deus teve uma conversa com Abraão e anunciou que iria destruí-las. Abraão intercedeu por aquelas cidades e questionou se Deus iria destruir o justo junto com o ímpio e se não faria justiça, o Juiz de toda a terra. (Gn 18.23-25). Deus argumentou com Abraão que se houvesse até 10 justos. Vemos neste relato que Deus é o Supremo Juiz da humanidade e que é extremamente justo em seus julgamentos. Em vários textos bíblicos, lemos que Deus julga com retidão, justiça e equidade (Sl 9.8; Sl 72.2; Sl 96.10; Sl 98.9). 


Deus é o Criador, o Sustentador e o Juiz do Universo. Ele criou todas as coisas e estabeleceu as suas leis morais para serem cumpridas. Se as suas leis forem violadas, os infratores serão julgados e punidos. Deus também também não julga ninguém por um pecado se não houver a Lei que condene o tal pecado. “Porque a lei opera a ira; porque onde não há lei também não há transgressão.” (Rm 4.15)


Os julgamentos de Deus não se baseiam em aparências e Ele não faz acepção de pessoas. Deus também é Verdadeiro e jamais se deixa subornar ou manipular. Ele conhece e vê todas as coisas. Por isso, julga corretamente não apenas as ações, mas, também as omissões e intenções das pessoas. Deus é absolutamente santo e não julga segundo os padrões humanos. Mesmo sendo Deus justo em seus julgamentos contra o pecador impenitente, Ele é também amoroso e misericordioso. Por isso, Ele justifica o pecador arrependido, mediante a fé em Cristo. 


3 - O exemplo da justiça de Deus na vida de Davi. Nós gostamos de Davi, pelas vitórias que ele obteve, pela sua humildade e bondade para com o próximo e pelos belos Salmos que ele escreveu. Davi foi injustamente perseguido por Saul e não revidava. Teve a oportunidade de executá-lo enquanto ele dormia, mas, não o fez, dizendo que não estenderia a sua mão contra o ungido do Senhor (1 Sm 24.1-6). O próprio Deus declarou que Davi era um homem segundo o coração de Deus (Sl At 13.22).


Ser um homem segundo o coração de Deus, no entanto, não significa que ele era perfeito ou que não tenha cometido erros. Davi foi um homem que amava a Deus, estava sempre disposto a perdoar e buscava a reconciliação com os inimigos e com Deus. Entretanto, Davi cometeu dois pecados gravíssimos, que pela Lei deveriam ser punidos com a morte: Um adultério e um homicídio. Ao pecar contra o Senhor e contra o seu fiel soldado, Davi experimentou a justiça divina.


Deus amava Davi e deu testemunho dele. Também o perdoou, quando ele confessou o seu pecado e se arrependeu. Mas, não o isentou da punição pelos pecados cometidos, embora não aplicou a pena merecida, que seria a morte. Deus agiu com misericórdia para com Davi, não aplicando o que ele merecia. Mas, agiu com severidade, punindo-o pelo seu pecado, principalmente para discipliná-lo e servir de exemplo. Vejamos a sentença que Deus deu a Davi: “Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para que te seja por mulher. Assim diz o Senhor : Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei ao teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol.” (2 Sm 12.10-12).


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 214-216.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pág. 797.

POHL, Adolf. Comentário Esperança: Romanos. Editora Evangélica Esperança. 1 Ed. 1999.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pag. 390.


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Pb. Weliano Pires



07 junho 2022

NÃO DEVEMOS JULGAR O OUTRO


(Comentário do 1º tópico da Lição 11)

No capítulo 7 do Evangelho segundo Mateus, Jesus inicia esta parte do Sermão do Monte dizendo: “Não julgueis,para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados,e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.” (Mt 7.1,2). Os escribas e fariseus tinham por hábito julgar os outros, de forma dura, apontando as falhas e os defeitos dos outros, além daquilo que a própria Lei exigia. Isso era feito de forma maldosa, severa e sem qualquer resquício de misericórdia. 


Foi neste contexto que Jesus disse para não julgar. Esta passagem tem servido de subterfúgios para aqueles que querem viver no erro e não serem criticados. Os hereges também usam esse texto, para que as suas falsas doutrinas não sejam contestadas. Mas, será que Jesus proibiu qualquer tipo de julgamento? O crente não pode, então emitir a sua opinião ou parecer sobre nenhum tema, ou sobre condutas reprováveis e anti bíblicas? É sobre isso que trataremos neste tópico.


1- Aprendendo a se relacionar com os outros. Jesus resumiu os mandamentos da Lei em apenas dois: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento; E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt 22.37,39). Em outro texto, o Senhor Jesus disse aos seus discípulos: "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13.35). Isso demonstra que o Cristianismo é relacionamento com Deus e com o próximo.  


Não é fácil ter um bom relacionamento com as pessoas ao nosso redor. Isto porque as pessoas são diferentes, têm opiniões e culturas diferentes e não gostam de ser contrariadas. Enquanto concordamos com aquilo que as pessoas pensam, falam e fazem, somos bem vindos entre elas. Mas basta contrariar o senso comum, que logo viram a sua artilharia em nossa direção. Com Jesus não foi diferente. Os mestres da lei e as autoridades religiosas o odiavam, porque Ele pregava a Verdade e desmascarava a hipocrisia deles. 


A Igreja do Senhor é formada por pessoas que vieram de diferentes crenças, culturas e classes sociais. Não é de se esperar que um grupo assim seja totalmente homogêneo. Naturalmente, há divergências e temperamentos diferentes. Jesus não espera que sejamos perfeitos, pois Ele sabe perfeitamente que somos humanos, falíveis e limitados. Entretanto, a Palavra de Deus nos recomenda em vários textos que devemos viver em união e amar-nos uns aos outros como a nós mesmos e como Cristo nos amou. (Sl 133.1; Mt 22.39; Jo 15.12). 


O ser humano é, por natureza, um ser social. Não fomos criados para viver isolados. O próprio Deus, quando criou o primeiro homem disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). O ser humano tem a necessidade de se comunicar, se relacionar e compartilhar a sua vida com os outros. Entretanto, isso não é tarefa fácil, devido à natureza humana caída, que se tornou pecaminosa e egoísta. A regra áurea  ensinada por Jesus para termos um bom relacionamento é: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mt 7.12). 


Se seguirmos este princípio, tratando os outros da forma que gostaríamos de ser tratados e nunca fazendo aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem, temos boas chances de nos relacionarmos bem. Claro que há pessoas anti sociais, que por mais que façamos o bem, não conseguiremos ter paz com elas. Nesse sentido, o apóstolo Paulo nos recomenda: “Se possível, no que depender de vocês, vivam em paz com todas as pessoas.” (Rm 12.18). 


Muitas vezes, para haver paz é preciso haver distanciamento, como aconteceu com Abrão e Ló. (Gn 13.8,9). O cristão também não pode sacrificar a sua comunhão com Deus e a Verdade, em nome da paz. Sobre isso, Lutero disse: “A paz se for possível; a verdade a qualquer preço”. Isto significa que a verdade bíblica é inegociável, mesmo que seja em nome da paz. 


2- Ninguém deve ser julgado? Muitas pessoas, ao serem criticadas por um determinado comportamento ou ensino contrário às Escrituras, costumam se defender com o argumento de que Jesus disse para não julgar. Mas, que tipo de julgamento, Jesus estava proibindo? Se lermos os versículos seguintes, entenderemos. Neles, Jesus fala de alguém com uma trave no próprio olho, querendo tirar um cisco no olho do seu próximo. O que Jesus condenou foi a atitude de um hipócrita, que julga os outros, sem olhar para os próprios erros e se põe a vasculhar a vida dos outros, procurando erros, para lhes pronunciar sentença de condenação. 


Jesus não está condenando qualquer tipo de julgamento, como os dos magistrados, das autoridades da Igreja, o julgamento de falsos ensinos, de falsos profetas, ou de práticas manifestamente contrárias à Palavra de Deus. Ele mesmo alertou os seus discípulos em vários textos para serem cautelosos e prudentes, pois eles estavam indo como ovelhas para o meio de lobos. Os apóstolos também fizeram vários alertas à Igreja em relação aos falsos ensinos, aos falsos mestres, aos falsos apóstolos, etc. 


Não devemos ficar procurando erros em nossos irmãos, para lhes pronunciar sentenças, como se fôssemos juízes. Também não devemos julgar as intenções dos corações, pelas aparências, pois, não somos oniscientes como Deus, para conhecer o coração de outra pessoa. Entretanto, não podemos deixar de exercer o julgamento de atitudes, ensinos e profecias que contrariam a Palavra de Deus. A Bíblia nos recomenda a ser cautelosos e examinar (julgar) tudo e reter o bem.


3- O julgamento defendido por Jesus. Segundo o dicionário bíblico VINE, a palavra 'julgar' vem do grego 'krino' e significa separar, selecionar, escolher. Significa, portanto, determinar um erro e pronunciar sentença. A própria Bíblia nos manda julgar, em vários textos:

a) Julgar os que estão vivendo em práticas pecaminosas e não querem deixar o pecado: "Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo." (1 Co 5.12,13); 


b) Devemos julgar aquilo que é pregado, se está de acordo com as Escrituras: "Examinai tudo. Retende o bem." (1 Ts 5.21); "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema." (Gl 1.8); 

c) Devemos julgar tendo como base a justiça de Deus, não a nossa: "Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça." (Jo 7.24); 

d) Devemos julgar a origem das manifestações espirituais na Igreja: "Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, porém, avaliai com cuidado se os espíritos procedem de Deus, porquanto muitos falsos profetas têm saído pelo mundo." (1 Jo 4.1)

e) Devemos julgar as profecias: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co 14.29).

f) Devemos julgar litígios de irmãos na Igreja, para evitar que a causa seja levada à justiça: "Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas?” (1 Co 5.1-5); Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja? Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?" 

g) Devemos julgar os falsos mestres e falsos profetas: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores." (Mt 7:15). Seria impossível acautelar-nos e conhecer esses lobos disfarçados, sem julgá-los. 



REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 203-207.

CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 2479.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 2. pág. 389.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 676-677.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 236.

BARCLAY, William. Comentário Bíblico Mateus. pág. 282-284.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 530.

ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.59,60


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Pb. Weliano Pires


13 abril 2022

JESUS CUMPRIU TODA A LEI


(Comentário do 1º tópico da Lição 3: JESUS, O DISCÍPULO E A LEI)

Há uma longa discussão, desde os tempos de Jesus, sobre a relação dos discípulos de Jesus com a Lei Mosaica. Nesta questão, há dois extremos que o cristão deve evitar em relação à Lei: o antinomismo e o legalismo. O antinomismo procede da junção de duas palavras gregas, “anti”, que significa "contra", e “nomos”, que significa lei. Portanto, antinomismo significa literalmente “contra a lei.” Segundo os antinomistas, Cristo aboliu completamente o Antigo Testamento e o cristão está desobrigado de obedecer quaisquer princípios morais da lei. Confundem a liberdade cristã com a libertinagem. 

No outro extremo está o legalismo que cria regras para que o ser humano seja aceito por Deus, mediante o cumprimento delas. Normalmente, os legalistas se tornam soberbos e se acham merecedores das bênçãos de Deus, em virtude dos seus esforços, sacrifícios e méritos no cumprimento da lei e de doutrinas de homens. Em uma linguagem mais popular, no antinomismo nada é pecado. Já no legalismo, tudo é pecado.


1- Um compromisso com o passado. Jesus não veio a este mundo como um revolucionário a fim desconstruir aquilo que os antepassados construíram e estabelecer uma nova sociedade. Também não veio como anarquista, que contesta as leis e instituições existentes e quer viver fazendo o que bem entender. O próprio Jesus afirmou que não veio ab-rogar (anular ou abolir) a lei, mas veio cumpri-la. (Mt 5.17). 

A lei foi dada por Deus a Israel e era a Palavra de Deus. O Salmo 119 mostra a excelência da Lei do Senhor. Sendo Jesus o Filho de Deus, jamais iria se opor ou criticar a Lei que veio do próprio Deus. O que ele contestou foram interpretações equivocadas e legalistas dos mestres da Lei. Jesus nos ensina aqui a importância de respeitarmos a história e o legado de nossos antepassados, mantendo aquilo que eles fizeram de bom e corrigindo aquilo que erraram. Quem não valoriza a própria história está sujeito a repetir os mesmos erros do passado. Fica aqui um alerta aos cristãos mais jovens: respeitem o legado dos nossos pioneiros e procurem aprender com aquilo que eles nos deixaram. 


2- Jesus não veio destruir a Lei ou os profetas (Mt 5.17). A palavra Lei, “Torah” em hebraico aparece no Antigo Testamento como “instrução, ensino, lei, decreto, código legal, norma”. Esta palavra vem de um raiz, que significa “instruir ou ensinar”. A Torah incluía não apenas as leis religiosas de Israel, mas também as civis e penais. A Lei não se resume ao Livro de Levítico, como muitos imaginam. Ela é formada pelos cinco primeiros do Antigo Testamento, que nós chamamos de "Pentateuco", palavra de origem grega que significa "cinco vasos", uma referência aos estojos egípcios, onde eram guardados os rolos das Escrituras. 

Já a palavra profetas (heb. Nebiim) deriva da palavra Nabi (Profeta) com o plural (im). Esta parte do cânon judaico é formada de dois subgrupos: profetas anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e profetas posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e o livro dos doze, que contém os textos dos doze profetas menores da nossa Bíblia: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. Portanto, expressão "a Lei e os Profetas", a usada por Jesus se refere a todo o conteúdo do Antigo Testamento. 

Os opositores de Jesus constantemente o acusavam de violar a Lei e as tradições dos anciãos. Aliás esta foi a principal acusação das autoridades judaicas para condená-lo à morte. Porém, os romanos não condenavam ninguém à morte por questões religiosas. Então, eles inventaram a acusação de que Jesus se declarava rei, o que configurava uma conspiração contra o imperador romano (Jo 18.33). 

Há várias interpretações sobre o cumprimento da Lei, que são heréticas e outras absurdas. Alguns dizem que Jesus era apenas um rabino judeu, que apenas deu continuidade à Lei e a explicou. Segundo esta interpretação, o Cristianismo seria obra de Paulo. Outros, interpretam erroneamente 1.17 e dizem que Jesus aboliu completamente a Lei e introduziu a Graça. O pior deles foi um herege do segundo século, chamado Marcion de Sinope, que reescreveu o Novo Testamento, eliminando todas as referências ao Antigo Testamento. Marcion cria que existiam dois deuses: um Deus iracundo e cruel, que era o Deus do Antigo Testamento; e o Deus mais alto, que seria o Deus do Novo Testamento. Com esse pensamento, ele rejeitava completamente o Antigo Testamento. Esta heresia ficou conhecida como "Marcionismo". Os discípulos dele chegaram ao cúmulo de modificar as palavras de Jesus nessa parte do Sermão do Monte e assim escreveram: Eu vim, não para cumprir a lei e os profetas, mas para aboli-los!”. Ora, Jesus disse exatamente o contrário disso! 


3 - Jesus cumpriu e aperfeiçoou a lei (Mt 5.17). A palavra grega "pleroô, traduzida por "cumprir" neste texto significa "encher" ou completar. Isso indica que Jesus veio completar a lei, não abolir. Portanto, quando Jesus disse que veio "cumprir a Lei", isso vai muito além de obediência aos preceitos que a Lei estabelece. Nesta perspectiva, Jesus completou e aperfeiçoou a Lei. Ele é cumprimento das profecias referentes ao Messias. Jesus representa também a concretização das coisas que eram apenas símbolos, sombras e figuras no Antigo Pacto. Os sacrifícios de animais, por exemplo, apontavam para o sacrifício perfeito de Cristo no Calvário. Portanto, todos os rituais e cerimônias da Antiga Aliança que apontavam para Cristo, não são mais necessários na Nova Aliança, conforme nos mostra a Epístola aos Hebreus, nos capítulos 9 e 10.


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 53-56.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora Cultura Cristã. pág. 85.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pág. 33-34.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 193-194.


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Pb. Weliano Pires


04 abril 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 2: SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO.

REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA

Na lição passada tivemos uma lição introdutória sobre o assunto do trimestre, com o tema O Sermão do Monte: O caráter do Reino de Deus. Iniciamos a lição falando sobre a designação de Sermão do Monte e os aspectos geográficos deste monte Jesus proferiu este discurso. 


No primeiro tópico, falamos de forma resumida sobre a estrutura do sermão do monte, que está dividido em cinco partes: 1) As Bem-Aventuranças (5.3-12); 2) Sal e luz (5.13-16); 3) Jesus é o cumprimento da Lei (Mt 5.17-48); 4) Os atos de justiça (Mt 6.1-18); 5) Declarações de sabedoria (Mt 6.19 — 7.27). Falamos também sobre os destinatários do Sermão do monte, que inicialmente eram os discípulos, mas, ele se aplica a todos os que nasceram de novo. 


No segundo tópico, falamos sobre as bem-aventuranças e o caráter do Reino de Deus. Vimos as definições das palavras “Asher” e “Makarios”, respectivamente hebraico e grego, que foram traduzidas por “bem-aventurados”. Falamos também sobre a definição e o caráter do Reino de Deus. Por último vims quem são os súditos do Reino de Deus, com base nas qualidades descritas por Jesus no Sermão do Monte. 


No terceiro e último tópico, vimos que somos bem-aventurados. Vimos que o salvo em Cristo vive um estado de plena satisfação e felicidade, não por seus próprios méritos e esforços, mas porque nasceu de novo e o seu caráter foi transformado pelo Espírito Santo.


LIÇÃO 2: SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO.


Na lição desta semana, dando continuidade ao estudo do Sermão do Monte, falaremos sobre as metáforas do Sal da Terra e Luz do mundo, usadas por Jesus. O sal nos tempos bíblicos era um ingrediente indispensável para o tempero e preservação dos alimentos. A luz, por sua vez, era fundamental para iluminar as trevas. Da mesma forma, os discípulos de Jesus devem exercer influência e fazer a diferença no meio em que vivem.


No primeiro tópico, falaremos sobre as funções do sal nos tempos bíblicos. Falaremos sobre a definição da palavra sal no grego bíblico. Depois falaremos sobre a importância do sal como tempero e na preservação dos alimentos. Por último falaremos da influência do cristão com o sal da terra.


No segundo tópico, falaremos sobre a luz que ilumina os ambientes que estão em trevas. Falaremos sobre o conceito físico e metafórico da luz. Há duas fontes de luz no universo: a luz primária, ou própria e a luz secundária ou refletida. A primeira pertence às estrelas e a segunda, aos planetas e satélites. Falaremos ainda neste tópico, sobre os discípulos de Jesus como a luz do mundo, que deve refletir nas trevas que é o mundo de pecado.


No terceiro e último tópico, falaremos sobre a influência dos cristãos no mundo como sal e como luz. Esta influência que Jesus ensina não significa ostentação e egocentrismo, como alguns imaginam, pregando o triunfalismo e a teologia da prosperidade. A influência cristã deve ser exercida através das virtudes do fruto do Espírito Santo, que são: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,  domínio próprio.


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Pb. Weliano Pires


VENCENDO OS DIAS MAUS

(Comentário do 3º tópico da Lição 04: Como se conduzir na caminhada)  Ev. WELIANO PIRES No terceiro tópico, veremos alguns conselhos do apó...