(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana)
Neste segundo tópico, temos também três tópicos que falam a respeito dos pecados que podem se enraizar no espírito. Trataremos também das raízes do pecado que está na parte imaterial do ser humano (alma e espírito), embora alguns se manifestem também através do corpo. Por fim, veremos como vencer a força do pecado.
1. Pecados do espírito.
Neste ponto, o comentarista separou os pecados e os catalogou em três categorias: pecados do corpo, pecados da alma e pecados do espírito. Eu penso que é complicado esse tipo de abordagem, pois seria uma espécie de separação do ser humano em três pessoas. Ora, o ser humano é um ser integral e os pecados o atingem por inteiro.
Nas referências mencionadas, o comentarista mencionou alguns pecados como sendo apenas do espírito, como o orgulho, a soberba, a vanglória, a arrogância e a inveja. A primeira referência menciona a “altivez de espírito”:
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda”. (Pv 16.18).
A Nova Versão Transformadora (NVT), que é uma versão mais dinâmica traduziu este texto assim:
“O orgulho precede a destruição; a arrogância precede a queda.”
Conforme falamos no tópico anterior, os termos ruach (espírito) e nephesh (alma) são usados no Antigo Testamento de forma intercalada para se referir ao espírito, à alma, à própria pessoa ou apenas à parte imaterial. Neste texto de Provérbios 16.18, a expressão altivez do espírito não se refere à origem da altivez e sim à soberba do ser interior (alma e espírito). Em Provérbios 16.17, por exemplo, a Bíblia diz que Deus abomina os “olhos altivos”. Isso não significa que a altivez é um pecado do corpo.
Muitos pecados citados nas outras referências, como sendo pecados do espírito, são pecados que envolvem os sentimentos, emoções e pensamentos, que nós já apresentamos que são faculdades da alma. Além disso, já vimos também que a linha que divide alma e espírito é muito tênue, ou seja, é praticamente imperceptível do ponto de vista humano, a divisão entre alma e espírito, a ponto de alguns os considerarem como a mesma coisa. A Bíblia, de fato, menciona que há distinção e separação entre alma e espírito, mas não explica onde e como acontece.
2. Raízes do pecado.
Se não é possível saber se este ou aquele pecado tem origem no espírito ou na alma, podemos afirmar que todos os pecados procedem do nosso ser interior, chamado na Bíblia de espírito, alma e coração. Jesus condenou duramente o legalismo e a hipocrisia dos líderes religiosos da sua época, que se preocupavam apenas com o exterior. Ele ensinou que não é o exterior que contamina o ser humano, mas o que sai do seu interior, pois é de lá que procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituições, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.
No Sermão do Monte, Jesus ensinou que o pecado não acontece apenas quando se materializa no corpo, como pensavam os escribas e fariseus. O Mestre esclareceu vários pontos da Lei e incluiu as intenções na lista de pecados. Por exemplo, Ele disse que a Lei condena o assassinato, mas acrescentou que qualquer que odiar o seu irmão já está implicado nesse pecado. Da mesma forma, a Lei condena o adultério, e Jesus ampliou o entendimento, afirmando que o pensamento impuro também configura esse pecado.
Isso significa que todos os pecados têm origem em nossa parte imaterial — alma e espírito —, embora nem todos se concretizem no corpo, por diversos motivos. Uma pessoa pode odiar alguém e desejar matá-lo, mas não cometer o ato por falta de coragem ou de meios. Perante as leis humanas, isso não é crime; porém, diante de Deus, já houve pecado. Da mesma forma, alguém pode alimentar desejos impuros por outra pessoa e não consumar o ato sexual porque a outra parte não correspondeu. A pessoa não praticou o ato físico, mas cometeu o pecado de adultério (se casada) ou de fornicação (se solteira).
O comentarista chama nossa atenção para a ordem em que o pecado ocorre: do interior para o exterior — ao contrário da criação, que se deu no sentido inverso. Se não atentarmos para isso, cairemos no equívoco do legalismo, que é a supervalorização das regras e atos exteriores em detrimento do interior. Isso é hipocrisia, e foi duramente condenado por Jesus.
3. Vencendo o pecado.
O pecado domina completamente o ser humano, tornando-o escravo e incapaz de libertar-se por suas próprias forças. Jesus afirmou: “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). Assim, o ser humano peca porque é pecador por natureza, e é pecador por natureza porque herdou a corrupção espiritual do primeiro pecado.
Ao longo da história, surgiram diversas heresias relacionadas ao pecado e à forma de obter perdão. Uma das primeiras foi o ensino da reencarnação, que interpreta a vida como um ciclo de punições e recompensas baseadas em supostas existências anteriores. Esse pensamento, porém, não se sustenta à luz das Escrituras, que afirmam categoricamente: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disto o juízo” (Hb 9.27).
Também surgiram doutrinas de autopunição, sacrifícios pessoais e oferendas humanas, presentes em diferentes religiões, como tentativas de “pagar” pelos pecados cometidos. Outras correntes defendem que o ser humano pode, por seus próprios méritos, abandonar o pecado.
Até mesmo dentro do Cristianismo apareceram desvios doutrinários. O Pelagianismo, por exemplo, negava a doutrina da universalidade do pecado, afirmando que a queda afetou apenas Adão e Eva. Depois, o Semipelagianismo admitiu a corrupção da natureza humana, mas insistiu que o ser humano possui capacidade natural para iniciar o processo de salvação e viver sem pecar.
Entretanto, a Palavra de Deus ensina que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23), e que somente por meio do sacrifício de Cristo o pecador pode alcançar perdão e reconciliação, mediante a fé (Jo 1.29; Ef 2.8-10).
Mesmo após ser justificado pela fé em Cristo, o ser humano continua enfrentando a realidade do pecado. Por essa razão, necessita do processo contínuo da santificação, realizado progressivamente pelo Espírito Santo na medida em que nos submetemos ao Seu governo. Como vimos anteriormente, as raízes do pecado estão no interior do ser humano; portanto, isolar-se do mundo ou adotar medidas extremas contra o corpo — como fizeram alguns monges na Idade Média — não elimina o pecado. No máximo, impede que ele se manifeste externamente, mas suas raízes permanecerão vivas no espírito e na alma.
A verdadeira vitória sobre o pecado não está em esforços humanos, mas na ação redentora de Cristo e na obra santificadora do Espírito Santo, que transforma o interior do crente e o capacita a viver em obediência à vontade de Deus.
Ev WELIANO PIRES
Nenhum comentário:
Postar um comentário