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30 setembro 2020

A distorção da Bíblia em favor da politicalha nos templos religiosos

Por Weliano Pires

Tenho visto muitos evangélicos que, na tentativa de defender o uso inadequado dos templos religiosos para fazerem campanhas políticas, distorcem a Bíblia, usando os casos de José do Egito, Daniel, Zorobabel, Neemias, José de Arimatéia, etc., como exemplos da participação de servos de Deus na política. 

Eu não pretendo com este texto, criticar a participação de evangélicos na política. Isso é legítimo. Em uma democracia, todo cidadão tem o direito de votar e ser votado, desde que atenda aos requisitos da legislação. Eu até acho importante que tenhamos cristãos na política. Eu mesmo, embora não seja político e nem pretenda ser, sempre me manifesto politicamente, defendendo aquilo que eu acredito e criticando aquilo que eu penso que está errado. 

Estes homens, de fato, exerceram cargos importantes nos governos dos países em que viveram. Mas, será que eles eram políticos ou usaram a influência religiosa, para obterem cargos políticos? Vejamos:

José, filho de Jacó, foi governador do Egito, nomeado por Faraó, após interpretar os sonhos do rei, que ficou impressionado com a sua sabedoria. Foi uma espécie de primeiro ministro do rei do Egito. O país passou por sete anos de fartura e logo a seguir, sete anos de fome. A sua competência como administrador, usando a sabedoria dada por Deus e a revelação de acontecimentos futuros, foram fundamentais para salvar o Egito e outras nações da fome, inclusive o seu próprio povo que vivia na terra de Canaã e ele trouxe para perto de si, no Egito. 

Daniel foi um dos três príncipes do governo de Dario, o medo, na Babilônia. Era uma espécie de primeiro ministro. Daniel era muito respeitado na Babilônia, pela sua integridade e sabedoria. O próprio rei Dario tinha-o em grande estima.

Zorobabel, foi enviado pelo Rei Ciro da Pérsia, para reconstruir o templo de Jerusalém e ele governou o seu povo, no período da reconstrução do templo, após setenta anos de cativeiro.

Neemias foi copeiro do Rei da Pérsia. Após receber os relatos da miséria em que se encontrava o seu povo, ele ficou muito triste e o rei perguntou-lhe a razão da sua tristeza. Após ele explicar, o rei perguntou-lhe o que poderia fazer por ele. Neemias pediu autorização para ir a Jerusalém reconstruir os muros da cidade. Durante alguns anos, ele foi o governador daquela província, nomeado pelo rei da Pérsia e liderou a reconstrução da cidade.

José de Arimatéia, o homem que pediu o corpo de Jesus para sepultá-lo e forneceu o próprio sepulcro, era um senador, não no sentido de pertencer ao senado romano. Ele fazia parte do Sinédrio, que era uma espécie de parlamento religioso de Israel, nos dias de Jesus, que julgava de acordo com a lei mosaica. 

José, Daniel, Zorobabel e Neemias não foram eleitos ou escolhidos pelo povo, para exercerem um cargo político. Eles não tinham a intenção de serem governantes e foram escolhidos pelos seus respectivos reis, para seres administradores, ou funcionários do alto escalão do governo. É como se o Presidente da República chamasse um de nós para ser ministro de estado.

É importante destacar que as formas de governo, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, eram diferentes da nossa. No Antigo Testamento havia a teocracia e depois a monarquia. No Novo Testamento havia a ditadura do império romano e em Israel havia governadores de províncias, nomeados pelo Imperador romano. Hoje, nós temos a democracia e o estado laico. Portanto, não podemos comparar. 

Não há nenhum problema em o crente participar da política partidária, agindo de forma decente e honesta. O problema está na mistura da política com a Igreja e na prática criminosa de usar os templos e a influência da Igreja para a manipulação dos votos dos fiéis. Esta mistura nunca deu certo. Prejudica a Igreja e a democracia. 

Diga não às campanhas políticas nos templos! 


Weliano Pires é presbítero da Assembléia de Deus, Ministério do Belém em São Carlos- SP.

06 setembro 2020

AS RELAÇÕES ENTRE A IGREJA E A POLÍTICA


Nos últimos anos, tem havido uma proximidade muito grande entre as Igrejas, principalmente as pentecostais e neopentecostais, e a política partidária. Há uma mistura crescente entre pastores e políticos. Muitas Igrejas têm, inclusive, lançado os seus próprios candidatos. Alguns pastores, aproveitam-se da sua condição de líder de uma Igreja, para se tornarem políticos ou impor um candidato à comunidade religiosa que lideram.

Este fenômeno tem levantado discussões nos meios teológicos, acadêmicos e jurídicos. Qual deve ser o papel da Igreja na política? Alguns acham que a Igreja deve ser antipolítica, ou seja, deve ser absolutamente contrária à política. Outros acham que a Igreja deve se envolver nas questões políticas, exercendo o seu papel profético de denunciar as injustiças e cobrar os governantes, de forma imparcial. Mas, há aqueles que entendem que a Igreja deve militar politicamente, lançando candidatos e fazendo campanha política.

1. O QUE É POLÍTICA?

Quando falamos de política, muitas pessoas se sentem enojadas, pois, imediatamente a associam aos políticos corruptos e mentirosos. Mas, isso não é política.

A palavra política deriva do vocábulo grego “politikos”, que originalmente significava aquilo que está relacionado ao cidadão ou ao estado. Politikos, por sua vez, deriva-se grego “polites” (cidadão) e “polis” (cidade).

A política está presente em todas as relações: na família, na escola, no condomínio, no bairro, na  cidade, no estado e no país e no mundo. Todas as ações que envolvem o coletivo em nossa vida são decididas através da política. Logo, não devemos demonizar a política, nem tampouco ignorá-la.

2. DIFERENÇA ENTRE POLÍTICA E POLITICAGEM.

A demonização da política ou a aversão que boa parte da população sente pela política, certamente acontece por causa da confusão que se faz, entre política e politicagem. Conforme vimos no ponto anterior, a política é algo necessário à vida em sociedade. A política é a arte de negociar honestamente, visando o interesse comum.

A politicagem, por sua vez, é a deturpação da política. Consiste em acordos espúrios, barganhas, corrupção, compra e venda de votos, nepotismo, enriquecimento ilícito, favorecimentos, etc.

3. A RELAÇÃO ENTRE IGREJA E POLÍTICA NA HISTÓRIA.

A relação entre as religiões e a política varia de uma para outra e de acordo com a época. Em muitas nações antigas, o rei era visto como um enviado dos deuses e em outros, o rei se considerava um deus. Sendo assim, não podiam ser contestados e, em alguns casos, exigiam adoração.

Em outras religiões, como no Judaísmo antigo e no Islamismo pratica-se a teocracia (governo de Deus). Nestes casos, os líderes religiosos são também os líderes políticos, que governam com base nas leis religiosas.

No Cristianismo, inicialmente, havia separação total entre a Igreja e o estado. Jesus disse: “Dai a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus.” (Mateus 22.17). Os apóstolos também seguiram na mesma direção, respeitando as autoridades e seguindo as leis, desde que estas não contrariassem a Palavra de Deus. Onde houvesse incompatibilidade, como no caso da exigência da adoração ao imperador romano, eles desobedeciam ao estado e obedeciam a Deus. Muitos foram presos, torturados e mortos por causa disso.

Posteriormente, com a adesão do Imperador Constantino, o Cristianismo, se tornou a religião oficial do Império Romano e aconteceu a mistura entre Igreja e estado, a ponto de os papéis se confundirem. A Igreja se metia em questões do estado e vice-versa. Isso trouxe muitos problemas para ambos.

Com o advento da Reforma protestante, aconteceu o inverso. Novamente, veio a separação entre Igreja e estado e o conceito de estado laico, como temos hoje nas nações democráticas. Entretanto, muitos confundem estado laico com estado ateu e não é a mesma coisa. O estado é laico, mas, o povo tem religião e deve ter o direito de praticá-la, da forma que entender, sob a proteção do estado.

4. OS PROBLEMAS DA MISTURA ENTRE IGREJA E POLÍTICA.

Conforme demonstrado, a política em si, não é algo ruim e é necessária à vida em sociedade. Sob este prisma, eu não vejo problema em um cristão participar da vida política do seu país e lutar pelo bem comum. Entretanto, vejo muitos problemas na participação da Igreja, como entidade religiosa sem fins lucrativos, como protagonista da política partidária. Entre estes problemas, eu destaco pelo menos três:

a. Crime eleitoral. Muitos não sabem, mas, é crime eleitoral fazer campanha política nos templos e espaços religiosos. Isto, porque torna a campanha desleal, para com aqueles que não dispõem do mesmo espaço. Sendo assim, é crime eleitoral fazer campanha política em templos, escolas, sindicatos, associações e concessões públicas como rádio e TV (exceto nos programas eleitorais). Portanto, uma Igreja que usa o seu espaço para promover um candidato está cometendo crime.

b. Associação da Igreja aos atos do candidato. Quando apoiamos um candidato, não sabemos o que ele irá praticar após eleito. Muitas vezes, não conhecemos nem o seu passado direito. No caso da Igreja, se ela apóia oficialmente um candidato e depois ele se envolve em escândalos, o nome da Igreja, inevitavelmente, será envolvido. Temos vários casos de políticos que receberam apoio das Igrejas e depois foram acusados de corrupção ou presos. Os exemplos mais conhecidos são do ex-bispo da Universal, Carlos Rodrigues, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha e do ex-deputado e ex-candidato a presidente, Pr. Everaldo. 

c. Problemas para a pregação do Evangelho. Quando um pastor ou uma Igreja apóia oficialmente um candidato, inevitavelmente, encontrará na Igreja, pessoas que são adversárias daquele candidato. Isso acaba trazendo desgastes entre a Igreja e os adversários do tal candidato. Eu, particularmente, já vi muitos problemas desse tipo, com a imposição de candidatos aos fiéis. Um pastor que apóia um candidato ou partido no templo, terá dificuldade para pregar o Evangelho e perde a autoridade sobre os que não apóiam o tal candidato. 

CONCLUSÃO

Diante do exposto, concluo dizendo que a política é importante para a vida em sociedade e não deve ser demonizada ou ignorada. A Igreja deve manter o seu papel profético de denunciar as injustiças e a maldade e combater a maldade. Mas, deve fazer isso de forma imparcial e nunca como militante partidária.

Nós vivemos em uma democracia e todos são livres para escolher em quem votar. Por isso, não pode haver concorrência desleal, compra de votos, troca de voto por favores, ou imposição de líderes religiosos para que os membros de uma religião votem em seus candidatos.

Eu cresci na Assembléia de Deus e sou obreiro desta Igreja há alguns anos. Como cidadão, sempre votei e faço campanha gratuita para os candidatos que eu apóio. Mas, jamais levei um candidato à Igreja que faço parte, ou fiz campanha em templos. Acho isso abominável. Templos são locais construídos com o dinheiro dos fiéis, para abrigar as atividades religiosas da Igreja. É um lugar para adoração a Deus.

Quer fazer política? Faça-o como cidadão e não imponha os seus candidatos a ninguém. Se você é um líder da Igreja e acha que deve entrar para a política, afaste-se das suas funções eclesiásticas e dedique-se à política partidária.

Pb. Weliano Pires


VENCENDO OS DIAS MAUS

(Comentário do 3º tópico da Lição 04: Como se conduzir na caminhada)  Ev. WELIANO PIRES No terceiro tópico, veremos alguns conselhos do apó...