29 outubro 2025

ATRIBUTOS DA ALMA

(Comentário do 1º tópico da Lição 5: A alma — a natureza imaterial do ser humano).

Ev. Weliano Pires

No primeiro tópico, falaremos sobre os atributos da alma. Inicialmente, nos remeteremos ao texto de Gênesis, no período da criação. Deus criou o ser humano e deu-lhe a parte imaterial (alma e espírito), que o diferencia de todos os animais. Na sequência, veremos que a alma humana funciona entre o espírito, que se conecta com Deus, e o corpo, que se conecta com o mundo dos homens. Por último, falaremos das poesias dos Salmos, nas quais o salmista conversava com a própria alma, perguntando por que estava abatida e perturbada, em virtude de aflições espirituais e crises em sua comunhão com Deus.


1. De volta ao Gênesis

No texto de Gênesis 2.7, lemos o seguinte:

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”

A expressão “alma vivente” presente neste texto, em hebraico, é nephesh chayyah, e pode ser entendida como “pessoa vivente”. A mesma expressão aparece em Gênesis 1.20, referindo-se aos animais:

“E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente [heb. nephesh chayyah]; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.”

Com base no uso da mesma expressão para seres humanos e animais, alguns grupos heterodoxos ensinam que ambos são iguais, sendo a única diferença o fato de o ser humano ser racional. Segundo afirmam, a alma morre junto com o corpo e deixa de existir, e somente os justos ressuscitariam. Entretanto, não é isso que a Bíblia ensina. O ser humano é diferente do restante da criação, pois reflete a imagem do seu Criador.

Os demais seres vivos também foram criados por Deus, mas nenhum deles foi criado à imagem e semelhança de Deus. O Senhor ordenou que a terra e os mares produzissem seres vivos conforme as suas respectivas espécies (Gn 1.20–24). A partir dessa ordem divina, tudo no universo passou a existir. Entretanto, na criação do ser humano, houve uma deliberação divina: Deus o criou conforme a Sua imagem e semelhança.

A palavra imagem, em hebraico, é tselem, e significa imagem mental, moral e espiritual de Deus. Já o termo traduzido por semelhança é demuth, que significa semelhança ou similaridade. Não se refere, evidentemente, à imagem de Deus em sentido físico, pois Deus é Espírito e não possui corpo físico. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus porque o Criador compartilhou com ele alguns dos Seus atributos comunicáveis, que são as Suas características morais.

Na criação do homem, fica evidente a sua parte imaterial, que o diferencia de todos os animais. Deus concedeu ao ser humano capacidades específicas para discernir entre o certo e o errado, tomar decisões, lavrar o Jardim do Éden, dar nomes aos animais, administrar as coisas criadas por Deus e demonstrar afetividade para com sua companheira. Os animais não possuem essas características. Eles têm instintos — um conjunto de comportamentos inatos, voltados à sobrevivência da espécie.


2. Entre o espírito e o corpo

A alma humana é imaterial e faz do ser humano uma pessoa. As faculdades ou atributos da alma são: emoção (ou sentimento), razão (ou intelecto) e volição (ou vontade). É por meio da alma que amamos e odiamos, sentimos tristeza e alegria, remorso, empatia e antipatia, entre outros sentimentos. Da mesma forma, é através dela que pensamos, planejamos e calculamos nossos atos.

A alma também tem vontade — o poder de fazer ou deixar de fazer as coisas. Deus nos concedeu o livre-arbítrio para tomarmos decisões boas ou más. Entretanto, seremos responsabilizados por essas escolhas.

Conforme dito pelo comentarista, a alma está entre o espírito — que se conecta com Deus — e o corpo — que se conecta com o mundo material por meio dos cinco sentidos. Isso significa que, se o nosso espírito estiver ligado ao Espírito Santo, a nossa alma se alegrará nEle e refletirá o Seu fruto: amor, alegria, longanimidade, benignidade, bondade, paz, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

Quando essas virtudes do Espírito estão presentes em nossa alma, o nosso corpo também se torna puro e não se entrega às obras da carne.


3. A alma abatida

Neste subtópico, o comentarista mencionou que os afetos da alma em relação a Deus se manifestam nas poesias dos salmistas — nos Salmos 42, 43, 51 e 84. Neles, os salmistas expressam seu profundo anseio pela presença de Deus.

Digo os salmistas porque, diferente do que muitos imaginam, nem todos os Salmos foram escritos por Davi, embora a maioria seja de sua autoria. Um total de 73 salmos é atribuído a Davi pela tradição judaica.

O Salmo 42 foi escrito por uma família de levitas responsáveis pela música no templo, chamados de filhos de Coré (ou Corá, em versões mais recentes). Nesse salmo, o autor usa a figura de um cervo que brama por água no deserto, buscando desesperadamente uma fonte para sobreviver, a fim de ilustrar o anseio que sentia em sua alma pela presença de Deus. Não sabemos em que circunstância ele escreveu essas palavras, mas o contexto indica que estava longe do templo e sentia falta da adoração, assim como o cervo sentia falta da água.

O Salmo 43 é de autoria desconhecida, mas é possível que também seja dos filhos de Coré, pois repete o mesmo refrão do Salmo 42, onde o salmista questiona a própria alma a respeito do seu abatimento:

“Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face e Deus meu.” (Sl 43.5)

Este salmo é uma oração em que o salmista clama a Deus para que pleiteie sua causa e faça justiça contra uma nação ímpia.

O conhecidíssimo Salmo 51 é uma oração de Davi, confessando o seu pecado e implorando pelo perdão e restauração de Deus. No versículo 10, Davi usa, de forma intercalada, as palavras coração (heb. leb) e espírito (heb. ruach), para se referir ao ser interior (alma e espírito), que necessitava de perdão e renovação.

A alma de Davi também sentia falta da presença de Deus, a ponto de dizer:

“Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário.” (Sl 51.11–12)

O Salmo 84, também escrito pelos filhos de Coré, retrata a situação de alguém que não estava mais em Jerusalém e sentia saudades do templo e da adoração a Deus. No versículo 2, o salmista diz:

“A minha alma está desejosa e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.”

Novamente, vemos aqui a alma anelando pela presença de Deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ATRIBUTOS DA ALMA

(Comentário do 1º tópico da Lição 5: A alma — a natureza imaterial do ser humano). Ev. Weliano Pires No primeiro tópico, falaremos sobre ...