(Comentário do 1º tópico da Lição 5: A alma — a natureza imaterial do ser humano).
Ev. Weliano Pires
No primeiro tópico,
falaremos sobre os atributos da alma. Inicialmente, nos remeteremos ao texto de
Gênesis, no período da criação. Deus criou o ser humano e deu-lhe a
parte imaterial (alma e espírito), que o diferencia de todos os animais. Na
sequência, veremos que a alma humana funciona entre o espírito, que se conecta
com Deus, e o corpo, que se conecta com o mundo dos homens. Por último,
falaremos das poesias dos Salmos, nas quais o salmista conversava com a
própria alma, perguntando por que estava abatida e perturbada, em virtude de
aflições espirituais e crises em sua comunhão com Deus.
1. De volta ao Gênesis
No texto de Gênesis
2.7, lemos o seguinte:
“E formou o Senhor Deus o
homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi
feito alma vivente.”
A expressão “alma
vivente” presente neste texto, em hebraico, é nephesh chayyah, e
pode ser entendida como “pessoa vivente”. A mesma expressão aparece em Gênesis
1.20, referindo-se aos animais:
“E disse Deus: Produzam
as águas abundantemente répteis de alma vivente [heb. nephesh chayyah];
e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.”
Com base no uso da mesma
expressão para seres humanos e animais, alguns grupos heterodoxos ensinam que
ambos são iguais, sendo a única diferença o fato de o ser humano ser racional.
Segundo afirmam, a alma morre junto com o corpo e deixa de existir, e somente
os justos ressuscitariam. Entretanto, não é isso que a Bíblia ensina. O ser
humano é diferente do restante da criação, pois reflete a imagem do seu
Criador.
Os demais seres vivos
também foram criados por Deus, mas nenhum deles foi criado à imagem e
semelhança de Deus. O Senhor ordenou que a terra e os mares produzissem
seres vivos conforme as suas respectivas espécies (Gn 1.20–24). A partir dessa
ordem divina, tudo no universo passou a existir. Entretanto, na criação do ser
humano, houve uma deliberação divina: Deus o criou conforme a Sua imagem e
semelhança.
A palavra imagem,
em hebraico, é tselem, e significa imagem mental, moral e espiritual de
Deus. Já o termo traduzido por semelhança é demuth, que significa
semelhança ou similaridade. Não se refere, evidentemente, à imagem de Deus em
sentido físico, pois Deus é Espírito e não possui corpo físico. O homem foi
criado à imagem e semelhança de Deus porque o Criador compartilhou com ele
alguns dos Seus atributos comunicáveis, que são as Suas características
morais.
Na criação do homem, fica
evidente a sua parte imaterial, que o diferencia de todos os animais. Deus
concedeu ao ser humano capacidades específicas para discernir entre o certo e o
errado, tomar decisões, lavrar o Jardim do Éden, dar nomes aos animais, administrar
as coisas criadas por Deus e demonstrar afetividade para com sua companheira.
Os animais não possuem essas características. Eles têm instintos — um conjunto
de comportamentos inatos, voltados à sobrevivência da espécie.
2. Entre o espírito e o
corpo
A alma humana é imaterial
e faz do ser humano uma pessoa. As faculdades ou atributos da alma são: emoção
(ou sentimento), razão (ou intelecto) e volição (ou vontade). É por meio da
alma que amamos e odiamos, sentimos tristeza e alegria, remorso, empatia e
antipatia, entre outros sentimentos. Da mesma forma, é através dela que
pensamos, planejamos e calculamos nossos atos.
A alma também tem vontade
— o poder de fazer ou deixar de fazer as coisas. Deus nos concedeu o livre-arbítrio
para tomarmos decisões boas ou más. Entretanto, seremos responsabilizados por
essas escolhas.
Conforme dito pelo
comentarista, a alma está entre o espírito — que se conecta com Deus — e o
corpo — que se conecta com o mundo material por meio dos cinco sentidos. Isso
significa que, se o nosso espírito estiver ligado ao Espírito Santo, a nossa
alma se alegrará nEle e refletirá o Seu fruto: amor, alegria, longanimidade,
benignidade, bondade, paz, fidelidade, mansidão e domínio próprio.
Quando essas virtudes do
Espírito estão presentes em nossa alma, o nosso corpo também se torna puro e
não se entrega às obras da carne.
3. A alma abatida
Neste subtópico, o
comentarista mencionou que os afetos da alma em relação a Deus se manifestam
nas poesias dos salmistas — nos Salmos 42, 43, 51 e 84. Neles, os
salmistas expressam seu profundo anseio pela presença de Deus.
Digo os salmistas
porque, diferente do que muitos imaginam, nem todos os Salmos foram escritos
por Davi, embora a maioria seja de sua autoria. Um total de 73 salmos é
atribuído a Davi pela tradição judaica.
O Salmo 42 foi
escrito por uma família de levitas responsáveis pela música no templo, chamados
de filhos de Coré (ou Corá, em versões mais recentes). Nesse
salmo, o autor usa a figura de um cervo que brama por água no deserto, buscando
desesperadamente uma fonte para sobreviver, a fim de ilustrar o anseio que
sentia em sua alma pela presença de Deus. Não sabemos em que circunstância ele
escreveu essas palavras, mas o contexto indica que estava longe do templo e
sentia falta da adoração, assim como o cervo sentia falta da água.
O Salmo 43 é de
autoria desconhecida, mas é possível que também seja dos filhos de Coré, pois
repete o mesmo refrão do Salmo 42, onde o salmista questiona a própria alma a
respeito do seu abatimento:
“Por que estás abatida, ó
minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o
louvarei, o qual é a salvação da minha face e Deus meu.” (Sl 43.5)
Este salmo é uma oração
em que o salmista clama a Deus para que pleiteie sua causa e faça justiça
contra uma nação ímpia.
O conhecidíssimo Salmo
51 é uma oração de Davi, confessando o seu pecado e implorando pelo perdão
e restauração de Deus. No versículo 10, Davi usa, de forma intercalada, as
palavras coração (heb. leb) e espírito (heb. ruach),
para se referir ao ser interior (alma e espírito), que necessitava de perdão e
renovação.
A alma de Davi também
sentia falta da presença de Deus, a ponto de dizer:
“Não me lances fora da
tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a
alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário.” (Sl 51.11–12)
O Salmo 84, também
escrito pelos filhos de Coré, retrata a situação de alguém que não estava mais
em Jerusalém e sentia saudades do templo e da adoração a Deus. No versículo 2,
o salmista diz:
“A minha alma está
desejosa e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne
clamam pelo Deus vivo.”
Novamente, vemos aqui a
alma anelando pela presença de Deus.
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