31 agosto 2022

CONHECENDO O EVANGELHO DA BARGANHA


(Comentário do 1º tópico da Lição 10: A sutileza contra a prática da mordomia cristã)


Neste primeiro tópico falaremos sobre o falso ensino do "evangelho da barganha". Este ensino está contido na famigerada teologia da prosperidade, que atrela a fé cristã à prosperidade financeira, à saúde física e ao bem estar do cristão neste mundo. Segundo os adeptos da teologia da prosperidade, as riquezas são sinônimo da benção de Deus e a pobreza, por sua vez, é sinônimo de maldição, pecado ou falta de fé. Nessa perspectiva, os dízimos e ofertas são vistos como moeda de troca e uma obrigação legal a ser cumprida pelo cristão, como forma de obrigar Deus a prosperá-lo financeiramente. 


1- Dízimos e ofertas como moeda de troca. Na atualidade, muitas Igrejas Evangélicas, especialmente as neopentecostais e pentecostais, têm sido contaminadas pelo "triunfalismo" e pela chamada "teologia da prosperidade". Por causa dessa influência, muitos vão aos templos, não para adorar a Deus e fazer a sua obra, mas para "serem servidos por Deus". Partindo deste pressuposto, dizem que o crente deve simplesmente "determinar", "profetizar" ou "exigir" que as coisas aconteçam, pois, segundo os pregadores da prosperidade, "as nossas palavras têm poder". 


Estas e outras aberrações foram criadas pela chamada teologia da prosperidade, ou Movimento da fé. Este movimento teve origem nos Estados Unidos, através de um pastor americano chamado Essek William Kenyon. Kenyon se converteu aos 17 anos, em uma Igreja Metodista. Depois de alguns anos, afastou-se da Igreja, tornando-se agnóstico. Após casar-se, passou a congregar em uma Igreja Batista, sendo ordenado pastor em 1894. Teve programas de televisão e atuou como evangelista itinerante. Ao estudar na Faculdade Emerson de Oratória, deparou-se com o novo pensamento do hipnotizador e curandeiro, Finéias Park Hust Quimby (1806-1866), um conhecido guru da seita Ciência da Mente ou Ciência Cristã, que fora fundada por Mary Baker Eddy. Kenyon foi profundamente influenciado por esses ensinos, que negam a existência do pecado e das doenças. 


As idéias de Kenyon foram abraçadas e divulgadas pelo pastor americano Kenneth Hagin, o qual nasceu com problemas do coração, ficando inválido por quinze anos. Após ser curado pelo Senhor, passou a afirmar que o crente não pode ficar doente. Os ensinos de Hagin foram publicados em livros e chegaram ao Brasil, com as chamadas Igrejas Neopentecostais, no início da década de 70. Os principais expositores dessas doutrinas foram Edir Macedo, que depois fundou a Igreja Universal do Reino de Deus, e Romildo Ribeiro Soares, mais conhecido como Missionário R. R. Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. Entretanto, há muitas outras Igrejas neopentecostais e até pentecostais, que seguem essas doutrinas.


Apesar da teologia da prosperidade, como nós a conhecemos hoje, ser relativamente nova, a idéia de retribuição da fidelidade a Deus com prosperidade financeira e de barganhar com Deus, não é nova. Os "amigos de Jó", já defendiam estes pressupostos. Bildade, acreditava que se Jó estava sofrendo e havia perdido todos os seus bens, certamente havia pecado contra Deus (Jó 8.8,9). O salmista Asafe, no Salmo 73, conta que quase se desviou, ao ver a prosperidade dos ímpios (Sl 73.1-10). Provavelmente, ele também associava a prosperidade financeira à fidelidade a Deus e, por isso, sentiu-se frustrado ao ver os ímpios prosperando e ele não. 


Se observarmos honestamente, perceberemos que as pessoas mais ricas do Brasil e do mundo não servem a Deus. Por outro lado, há muitas pessoas fiéis a Deus, inclusive nas contribuições que vivem na pobreza. Isso nos mostra que ninguém deve ser julgado pelo que tem e sim pelo que é (Mt 5.16; 1 Tm 5.25; Tg 1.26,27). Os dízimos e ofertas ao Senhor devem ser fruto da nossa gratidão a Deus e reconhecimento da Sua Soberania. Jamais podem ser usados como moeda de troca, para exigir ou obrigar o Criador e Senhor de todas as coisas a nos dar alguma coisa. 


2- Dízimos e ofertas como práticas legalistas. Outro ponto de vista equivocado sobre dízimos e ofertas, que também é uma espécie de barganha com Deus, é praticá-los como legalismo, como faziam os fariseus. O legalismo consiste no cumprimento de regras como forma de ser aceito por Deus, ou de obter benefícios. Normalmente, o legalista não se contenta em cumprir as regras estabelecidas por Deus, mas, ele mesmo cria meios de se autojustificar. Os fariseus se vangloriavam de dar o dízimo das mínimas coisas, como o cominho e o endro, mas, ignoravam outros preceitos importantes em favor do próximo, como a justiça, a misericórdia e a fé (Mt 23.23). 


A prática dos dízimos e ofertas como legalismo anulam a Graça de Deus, pois pressupõe que as bençãos de Deus podem ser compradas, ou que o ser humano pode ser aceito por Deus por seus próprios méritos. O que nos justifica diante de Deus é única e exclusivamente a fé em Cristo (Rm 5.1,2). Na Idade Média, a Igreja Católica inventou as chamadas indulgências, que eram perdão de pecados concedidos pela Igreja. Com base nisso, empreendeu uma campanha para arrecadar fundos para construir a Basílica de São Pedro, vendendo indulgências, com a promessa de livrar as almas dos entes queridos falecidos do tormento do Purgatório. Estas e outras práticas deram origem à Reforma Protestante no Século XVI, liderada por Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino. 

Atualmente, em muitas Igrejas, que se dizem evangélicas, a história se repete. Prometem prosperidade aos que contribuem e compram objetos supostamente ungidos e maldição aos que não contribuem, ou não compram tais objetos. Ora, as contribuições do crente à obra de Deus devem ser feitas voluntariamente, com alegria e gratidão ao Senhor, por aquilo que Ele nos deu e pelo desejo de ver a sua obra crescer. Evidentemente, Deus não é injusto e promete recompensa àqueles que contribuem com a sua obra e ajudam os necessitados. Mas, isso nunca pode ser a nossa motivação para contribuir. Dizimar e ofertar, pensando em ser recompensado ou justificado por Deus é coisa de mercenário. 


REFERÊNCIAS: 

GONÇALVES, José. Os ataques contra a Igreja de Cristo. As sutilezas de Satanás neste dias que antecedem a volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

GONÇALVES, José. A prosperidade à luz da Bíblia. Editora CPAD. 1 Ed. 2011. pág. 151-154.

DANIEL, Silas. A Sedução das Novas Teologias. Editora: CPAD. pág. 189-190.

RENOVATO, Elinaldo. Tempo, bens e talentos: Sendo mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. 1 Ed 2019. Editora CPAD. pag. 13-15.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 4. pág. 359.

PIERATT. Alan B. O evangelho da PROSPERIDADE. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. 1 Ed 1993.


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Pb. Weliano Pires

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