Comentário do 3º tópico da Lição 2: A sutileza da banalização da Graça.
No contexto em que se deu a Reforma Protestante, a doutrina da Graça havia sido deturpada e a Igreja ensinava que para alcançar a salvação a pessoa precisava fazer sacrifícios, comprar indulgências e relíquias e necessitava da mediação do papa. Os reformadores Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio, João Calvino e outros, resgataram a doutrina bíblica da salvação pela graça de Deus, mediante a fé e somente através de Jesus Cristo.
1- A corrupção da doutrina da graça. Desde os primórdios da Igreja Cristã, os apóstolos já enfrentavam problemas com a doutrina da salvação pela Graça de Deus. Os judaizantes insistiam que para ser salvo, o cristão precisava também praticar as obras da Lei. Insistiam que era preciso a circuncisão, a guarda do sábado, a restrição a alguns alimentos e outros preceitos da Lei mosaica. Nas Epístolas aos Romanos e aos Gálatas, o apóstolo Paulo combateu estes ensinos, deixando claro que ao homem é justificado pela fé em Cristo e não por seus próprios méritos.
No quarto século da era cristã, o Cristianismo se misturou com o estado e se tornou a religião oficial do Império Romano. Por um lado, cessou a perseguição, mas foram concedidos benefícios para os cristãos e isso atraiu pessoas para a Igreja, que não eram convertidas, apenas por interesse. Essa mistura trouxe muitas crenças e práticas do paganismo. Com o tempo foram acrescentando outros ensinos que não tinham fundamento bíblico, como o papado, o purgatório, as orações pelos mortos, o uso de velas nos cultos, as imagens e relíquias, etc. Aqueles que contestassem estes dogmas da Igreja eram tidos como hereges e condenados à morte.
Além dos falsos ensinos, cresceu também a corrupção e a imoralidade do clero, as intromissões das autoridades da Igreja nos governos e o monopólio da educação ficava a cargo da Igreja. Estes fatores geraram muita insatisfação não apenas dos remanescentes fiéis da própria Igreja, mas também dos governantes de vários países. Uma das práticas que mais contrastava a doutrina da Graça de Deus era a venda de indulgências, que era uma carta assinada pelo Papa, que supostamente livrava do purgatório, um ente querido que havia morrido. A Igreja medieval arrecadou muito dinheiro com esta prática abominável.
Martinho Lutero era um monge agostiniano da Alemanha, que foi ordenado ao Sacerdócio em 1507. Em 1512 recebeu seu grau de doutorado em teologia na Universidade de Wittenberg, onde foi nomeado professor da Bíblia e manteve esta atividade por mais de 33 anos, até a sua morte. Quanto mais ele se dedicava aos estudos da Bíblia, uma dúvida interior o incomodava: Como pode um homem pecador tornar-se justo diante de um Deus absolutamente santo? Lutero enfrentava esta luta interior, com muitas orações, jejuns e vigílias, buscando ser aceito por Deus. Em um dos seus escritos ele disse:
“Quando eu era monge, esbaldei grandemente por quase quinze anos com sacrifício diário, torturei-me com jejuns, vigílias, orações e outras obras mui rigorosas. Sinceramente, eu cria que assim adquiriria justiça por meus próprios esforços.”
Lutero persistiu nesta luta interior até entender que a justificação não é o que o pecador alcança, mas o que ele recebe; não é o pecador que muda, mas sua situação diante de Deus. Lendo Romanos 1.17: “Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’", Lutero entendeu que o justo viverá da fé. Isto significa que Deus considera justo o pecador, não pelos próprios méritos e esforços mas, pela fé em Cristo.
Após compreender as doutrinas da graça de Deus e da justificação pela fé, Lutero sentiu-se profundamente incomodado com as práticas da Igreja naquela época. Tentou questionar internamente os seus superiores e escreveu livros contestando os ensinos da salvação pelas obras, a mediação dos santos, a venda de indulgências, a autoridade da tradição e do magistério da Igreja ser equiparada às Escrituras, etc. Em 31 de outubro de 1517, Lutero fixou 95 teses na Igreja de Wittenberg na Alemanha, protestando contra as heresias de Roma. Esta era uma forma de chamar uma universidade para debater um determinado tema naquela época.
2- A Restauração da doutrina graça. Lutero foi convocado a dar explicações em Roma e renegar o que escrevera. Temendo ser morto, Lutero recusou-se a ir e foi entrevistado pelo cardeal Cajetano e manteve as suas posições. Lutero foi indagado e instado a renegar os seus escritos e se retratar. Mas ele reafirmou tudo o que havia escrito dizendo:
“A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.”
Em 1520 saiu uma bula papal dando sessenta dias para Lutero se retratar ou seria excomungado. Os estudantes e professores da universidade onde Lutero lecionava, queimaram esta bula papal e um exemplar da lei canônica, em praça pública. Neste mesmo ano, Lutero escreveu várias obras e tornou-se o principal porta-voz dos reformadores, com notoriedade em toda a Europa. No ano seguinte, em 1521, Lutero foi excomungado. O apoio e proteção do governo alemão foram fundamentais para ele não ser morto.
A Reforma se espalhou também por outros países da Europa. Os principais ensinos da Reforma Protestante foram resumidos em cinco pontos: Somente a Graça, Somente as Escrituras, Somente a Fé, Somente Cristo e Somente a Deus a glória. Em latim, Sola gratia, Sola Scriptura, Solus Christus e Soli Deo Gloria. O primeiro passo para resgatar a doutrina da Graça, foi o retorno às Escrituras Sagradas (Sola Scriptura) e o reconhecimento dela como a única autoridade nas questões de fé e prática para o cristão. Sempre que alguém busca o perdão de Deus através de méritos e obras humanas, está afastado das Escrituras, bebendo em cisternas e poços imundos.
REFERÊNCIAS:
Lindberg, Carter. História da Reforma. 1. ed. 2017. Editora: Thomas Nelson Brasil.
Lawson, Steven J. Pilares da graça. Editora Fiel, 2016.
SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Editora CPAD. pág. 113.
LAWSON, Steven J. Pilares da graça. Editora Fiel, 2016.
CARTER, Lindberg. História da Reforma. 1. ed. 2017. Editora: Thomas Nelson Brasil.
REEVES, Michael; e CHESTER, Tim. Por que a Reforma ainda é importante. Editora Fiel. 1. Ed em Português. 2017.
https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/reforma-protestante/a-reforma-protestante-do-seculo-xvi/.
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