(Comentário do 2° tópico da Lição 11: Intercessão de Jesus pelos seus discípulos).
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico, falaremos da segunda parte da oração de Jesus, onde Ele ora pelos discípulos. Veremos que Jesus intercedeu ao Pai pela proteção dos seus discípulos. Em seguida, falaremos da afirmação de Jesus ao Pai, dizendo que os discípulos guardaram a Sua Palavra. Por fim, analisaremos a declaração de Jesus ao Pai, dizendo que o mundo odiou os seus discípulos por causa da Sua Palavra e porque eles não são do mundo.
1. Intercessão pela proteção dos discípulos. Depois de orar ao Pai por Si mesmo, nos versículos 4 a 8, Jesus apresentou ao Pai, um breve relatório de coisas importantes que Ele havia realizado em seu ministério terreno. A exceção foi o versículo 5, onde Jesus reivindicou ao Pai, a glória que Ele tinha antes da fundação do mundo. Neste relatório, Jesus afirmou ao Pai que o havia glorificado na terra, concluindo a Obra para a qual o Pai o havia enviado (v.4). Em seguida, falou que manifestou o Nome do Pai àqueles que o Pai tirou do mundo e lhe deu e que eles guardam a Palavra de Deus (v.6). Por fim, Jesus declarou que os seus discípulos entenderam que tudo provém do Pai, por causa da Palavra de Deus e, por isso, creram em Jesus (vv. 7 e 8).
Depois deste relatório, Jesus intercedeu ao Pai pelos seus discípulos e disse: “Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste” (v.9). Os calvinistas se apegam neste versículo de forma isolada, para fundamentar a sua tese de que Jesus não morreu por todos, mas apenas pelos eleitos. Alguns deles chegam a dizer que Deus não ama os que estão no pecado, mas apenas os eleitos. Entretanto, não é isso que o texto está falando. Nesta oração, Jesus não orou pelo mundo, pois a sua intercessão aqui, realmente era pelos discípulos que estavam com Ele naquele momento. Mas, logo a seguir, Ele orou pelos futuros discípulos que ainda estavam no mundo, como veremos no próximo tópico. Em outras ocasiões também Jesus orou pelos pecadores. Na cruz, Ele pediu ao Pai para perdoar os seus algozes, pois não sabiam o que estavam fazendo.
O comentarista mencionou aqui o pedido de Jesus pela proteção dos discípulos. Jesus pediu ao Pai para guardar os seus discípulos do mal ou do maligno. A nossa proteção vem de Deus, em todos os aspectos. No Salmo 127, o salmista afirmou: “...Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”. (Sl 127.1). Evidentemente, precisamos vigiar e cuidar da nossa segurança, mas a verdadeira proteção vem de Deus.
Jesus se referiu aqui, exclusivamente à proteção contra as ações do maligno, para que eles não se perdessem. O inimigo é astuto, enganador, mentiroso e mau. Somente com a proteção divina é possível vencer as suas investidas. Há dois extremos que devemos evitar em relação ao inimigo: a) Subestimar a sua força e capacidade de enganar; b) superestimar o seu potencial, atribuindo-lhe poderes que ele não tem.
2. Os discípulos receberam a Palavra. Observando este relato de Jesus ao Pai sobre os seus discípulos, podemos notar que Ele falou de coisas que ainda não haviam acontecido, como se já fosse algo concluído. Isto aconteceu, porque em Sua presciência, Jesus conhece o futuro antecipadamente e fala dele como algo já realizado. Outro detalhe importante, é que Jesus enfatizou as obras que Ele realizou nos discípulos e o fato deles crerem e guardarem a Palavra de Deus. Em momento algum, Jesus mencionou ao Pai os pecados deles, o fato de que todos iriam abandoná-lo, que Pedro o negaria, que eles disputavam para saber quem era o maior, etc.
Talvez, se fosse algum de nós diríamos: Pai, esses discípulos tem mania de grandeza; tiveram medo da tempestade, mesmo sabendo que Eu estava no barco; Tomé duvidou de algumas coisas sobre mim; Pedro tentou me desestimular de ir à Cruz, cortou a orelha de um soldado e por fim me negou; Tiago e João queriam que descesse fogo do Céu e consumisse os samaritanos; e assim sucessivamente. Infelizmente, temos esta tendência de dar maior ênfase aos erros das pessoas que aos acertos. Felizmente, Jesus não é assim, senão estaríamos perdidos.
Apesar de não terem ainda uma compreensão exata de quem Jesus era e a dimensão do seu Reino, os discípulos creram em Jesus e guardaram a sua Palavra. Aqui nós aprendemos com Jesus que é preciso ter paciência com as pessoas que são novas na fé e ainda não tem um conhecimento aprofundado das Escrituras. Aliás, cabe a nós, não apenas pregar o Evangelho aos que estão lá fora, mas também discipular os que vieram a Cristo, orando por eles, ensinando-lhes a Palavra de Deus e acompanhando de perto o seu crescimento espiritual.
3. Protegidos do mundo. Jesus declarou ao Pai que pelo fato dos discípulos terem recebido a sua Palavra, eles foram odiados pelo mundo, pois não são do mundo, assim como o próprio Jesus também não é deste mundo (Jo 17.14). Na sequência desta afirmação, o Senhor rogou ao Pai, não para tirá-los do mundo, mas que os livrasse do mal.
Para compreendermos esta parte da oração de Jesus, precisamos entender o significado da palavra mundo na Bíblia. Esta é uma palavra polissêmica, ou seja, possui vários significados. O contexto definirá a qual deles se refere. O mundo pode ser o planeta terra, o universo, a humanidade, os ímpios, ou sistema maligno que é inimigo de Deus.
Por não terem essa compreensão, muitos crentes no passado se isolavam das pessoas que não eram crentes e até dos prazeres lícitos desta vida, pois diziam que “não podiam amar o mundo ou as coisas do mundo”. Ora, quando a Bíblia diz para não amarmos o mundo, não está se referindo às pessoas, às coisas boas desta vida ou ao planeta terra. É uma referência ao sistema maligno e ao pecado. A própria Bíblia diz que Deus amou o mundo (a humanidade) (Jo 3.16) e que do Senhor é o mundo (Planeta terra) e os que nele habitam (Sl 24.1).
Portanto, Jesus não pediu ao Pai para retirar os discípulos do mundo (Planeta terra), mas que os livrasse do mal (maligno). Quando Ele diz que os discípulos não são do mundo, é uma referência ao sistema maligno dominado pelo Diabo, que é o príncipe (governante) deste mundo (sistema). O inimigo não governa o mundo (universo ou planeta terra). Estes são governados por Deus.
Outra coisa que Jesus pediu ao Pai é que os santificasse na Verdade, que é a Palavra de. O comentarista não mencionou este ponto na lição, mas é muito importante falar disso. A santificação é um dos aspectos da Salvação, junto da Justificação e da Regeneração. Tudo isso é realizado por Deus, mediante a fé em Cristo. Sem a Santificação, ninguém verá o Senhor (Hb 12.14), pois Ele é absolutamente Santo. Quando recebemos a Cristo como Salvador, somos santificados pelo Espírito Santo e separados do mundo (sistema), que jaz no maligno e é inimigo de Deus.