01 abril 2022

AS BEM-AVENTURANÇAS E O CARÁTER DOS FILHOS DE DEUS


(Comentário do 2⁰ tópico da  LIÇÃO 01: O Sermão do Monte: o caráter do Reino de Deus).

Neste segundo tópico, falaremos sobre as bem-aventuranças e o caráter cristão. Discorreremos sobre as definições grega e hebraica da palavra traduzida por "bem-aventurado". Falaremos também sobre a definição e o caráter do Reino de Deus. Por último veremos quem são os súditos do Reino de Deus, com base nas qualidades descritas por Jesus no Sermão do Monte. 


1 – O que são as Bem-Aventuranças? A palavra “bem-aventurado” aparece diversas vezes na Bíblia, principalmente nos livros de Jó, Salmos, Provérbios e Cantares. Os textos mais conhecidos no Antigo Testamento, onde este adjetivo aparece são os Salmos 1.1: “Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores", e o Salmo 128.1: “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos!” 


Em hebraico, a palavra traduzida por bem-aventurado é “Ashar”. Segundo o dicionário bíblico de James Strong, significa “equilibrado, correto, feliz, honesto, próspero, abençoado, feliz, que anda direito''. Quando Zilpa, concubina de Jacó, teve o seu filho Aser, que deriva de “Ashar”, a sua senhora, Lia, disse: Para minha ventura, porque as filhas me terão por bem-aventurada; e chamou o seu nome Aser”. (Gn 30.13). (Aser significa aquele que é feliz)


A versão grega Septuaginta, traduziu “Ashar” pelo termo grego “Makarios”, que é um prolongamento de “Makar”, cujo significado é “feliz, alegre, abençoado”. Portanto “Makarios” significa todos estes adjetivos de forma prolongada. Para os gregos, “Makarios” (Bem-aventurado) significava “viver livre de sofrimentos e preocupações”. Os judeus, no entanto, consideravam a “Ashar” (bem-aventurados) aquele que tinham bem estar material e eram recompensados por obedecer à Lei do Senhor. Para Jesus, bem aventurados são aqueles que são fiéis a Deus em quaisquer circunstâncias e recebem as bênçãos da salvação. As bem-aventuranças não são algo que o homem conquista, com os seus próprios esforços e méritos. Refere-se ao estado do homem que anda em retidão com Deus. 


Segundo William Hendriksen, em seu comentário do Novo Testamento, cada uma das bem-aventuranças proferidas por Jesus, é formada de três partes:  a. Uma atribuição da bem-aventurança (“Bem-aventurados”);

b. Uma descrição da pessoa a quem se aplica a atribuição, isto é, de seu caráter ou condição (“os pobres de espírito”, “os que choram”, etc.);

c. Uma declaração da razão desta bem-aventurança (“porque deles é o reino dos céus”, “porque eles receberão consolação”.


Assim como o Fruto do Espírito, descrito pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5.22, as bem-aventuranças não são oito qualidades separadas, que alguns discípulos de Cristo são mansos, outros misericordiosos, outros pacificadores, etc. São oito qualidades, de todos os verdadeiros discípulos do Senhor, que nasceram de novo e são ao mesmo tempo mansos e misericordiosos, humildes de espírito e limpos de coração, choram, têm fome e de sede justiça, são pacificadores e perseguidos por causa da justiça. São características inerentes aos súditos do Reino de Deus. 


2 - O Reino de Deus e seu caráter. Tanto Jesus, como João Batista fizeram menção à chegada do Reino de Deus em suas pregações. No Novo Testamento temos 137 referências ao Reino de Deus, mais de 100 delas durante o ministério de Jesus. Mateus usa a expressão “Reino dos Céus”, para se referir ao Reino de Deus, seguindo a tradição judaica de não usar o nome de Deus, temendo usá-lo em vão. Jesus proferiu várias parábolas, para explicar o Reino de Deus aos seus discípulos: Uma semente de mostarda, um tesouro escondido, o joio e o trigo, uma negociante de pérolas, o fermento que usado em uma vasilha de farinha, uma rede lançada ao mar, o credor incompassivo, os trabalhadores de uma vinha, o rei que celebrou as bodas do seu filho e as dez virgens. 


A expressão Reino dos Céus ou Reino de Deus é uma referência ao domínio soberano de Deus sobre todas as coisas. Entretanto, o Reino de Deus, mencionado por Jesus não se refere a um governo político teocrático, como aconteceu com Israel no período anterior à monarquia. Também não se refere à restauração da monarquia judaica, tendo um descendente de Davi como rei, como os judeus, inclusive os discípulos de Jesus, imaginavam. Nem tampouco significa a transformação da sociedade, mediante novas leis, educação e justiça social, como pregam os adeptos da teologia da libertação dos católicos latinos e a teologia da missão integral de alguns evangélicos. Jesus foi bem claro a Pilatos, dizendo que o Seu Reino não é deste mundo (Jo 18.36).


O Reino de Deus tem pelo menos quatro dimensões:

a. Pessoal. Acontece quando o indivíduo em particular se rende ao domínio de Deus. “...O Reino de Deus está dentro de vós.” (Lc 17.21b).

b. A salvação. No Evangelho segundo João, a expressão “Reino de Deus” aparece como sinônimo da salvação. Em Marcos 10.25,26 também aparece como sinônimo da salvação.  

c. A Igreja invisível. A Igreja de Deus, formada por todos os salvos, independente da denominação e do lugar, representa a expressão do Reino de Deus na terra (Mt 16.17,18). Deus iniciou o seu reino na terra através da sua Igreja. 

d. O governo universal de Cristo. No final da Grande Tribulação, haverá a manifestação de Jesus em glória. Ele descerá do Céu em glória, com a Igreja. Derrotará os exércitos do Anticristo e estabelecerá um governo de paz, por mil anos. Será a expressão visível do Reino de Deus na terra. “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele mil anos”. (Ap 20.6).


3 - Os súditos do Reino de Deus. Na primeira parte do Sermão do Monte, Jesus citou uma lista de oito bem-aventuranças em Mateus 5.1-12 e as respectivas razões de cada uma delas: 

a. Os pobres de espírito (v.3). Os pobres de espírito são os humildes, que reconhecem a sua pobreza espiritual e total dependência de Deus. Jesus disse que, deles é o Reino dos Céus. 

b. Os que choram (v.4). Os que choram aqui, não são as pessoas consternadas, que choram por qualquer motivo. Jesus se refere ao choro de arrependimento, pela nossa condição de pecadores. A razão desta bem aventurança é que eles serão consolados. Aqueles que se arrependem são perdoados por Deus e Ele limpará dos nossos olhos toda lágrima (Ap 21.4).

c. Os mansos (v.5). Os mansos não são fracos ou covardes. A mansidão refere-se a uma serenidade, ou força sob controle. É uma das virtudes do Fruto do Espírito e uma das características de Jesus (Mt 11.29), que deve ser aprendida por seus discípulos. A razão da bem-aventurança dos mansos é que eles herdarão a terra. Não se refere a uma herança desta terra como dizem as Testemunhas de Jeová. Na verdade é uma citação do Salmo 37.11, que diz a mesma coisa e refere-se a viver na terra prometida, dada por Deus ao seu povo. Os mansos são os verdadeiros herdeiros de Deus, vivem nesta terra que é do Senhor, como peregrinos (Hb 11.37), e são cidadãos do Céu (2 Co 5.1). 

d. Os que têm fome e sede de justiça (v.6). A fome e a sede são dois desejos vitais do ser humano. Alguém que não os tem, certamente não está bem. Da mesma forma é o desejo de justiça, para um verdadeiro discípulo de Cristo. Justiça neste texto não significa punição a criminosos ou vingança, como muitos imaginam. A palavra grega traduzida por justiça é "dikaiosyne" que significa agir corretamente. Então, Jesus está dizendo que são bem aventurados os que têm fome e sede de agir corretamente, segundo os padrões de Deus. 

e. Os misericordiosos (v.7). A palavra misericórdia em grego é “eleos”. Significa compaixão, beneficência, preocupação com a dor e a necessidade do próximo. Temos também o grego “eusphlanchnos”, que significa literalmente “vísceras gentis”, que é traduzido por “misericordiosos” (Ef 4.32). Isto porque, os gregos consideravam o intestino (sphlanchna) como o local onde se originavam as emoções mais fortes. Os judeus também acreditavam que os sentimentos de compaixão, afeição e solidariedade tinha origem nas vísceras. Por isso, encontramos em vários textos a expressão “moveu-se de íntima compaixão” (Gr. sphlanchnizomai).

A palavra portuguesa misericórdia vem da junção de duas palavras latinas: miseratio, derivada de miserere que significa “compaixão“, e “cordis” que significa “coração”. Sendo assim, a idéia de misericórdia em latim é “coração compassivo”. A misericórdia é um dos atributos comunicáveis de Deus. Em vários textos do Antigo Testamento é dito que Deus é misericordioso e que as suas misericórdias não têm fim. (Ex.34.6; Sl 100.5; Sl 103.4,8; Lm 3.22). Portanto, um verdadeiro discípulo de Cristo, que nasceu de novo, é misericordioso.

f. Os limpos de coração (V.8). A palavra grega traduzida por “limpos” é “katharos”, que significa sem mancha, limpo, imaculado, puro. Esta palavra era usada para descrever limpeza física, pureza cerimonial ou limpeza ética. Jesus a usou neste último sentido, referindo-se à pureza do coração pelo pecado. O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado (1 Jo 1.7). A Palavra de Deus de Deus também limpa-nos do pecado, pois nos conduz ao arrependimento (Jo 15.3). 

g. Os pacificadores (v.9). Pacificadores são aqueles que vivem em paz e a promovem. Tanto a palavra hebraica “Shalom”, quanto o grego “eirene” traduzidos por paz, significam não apenas ausência de conflitos, mas completo bem estar. Os judeus cumprimentam-se com “shalom”, desejando perfeita saúde, segurança, tranquilidade, prosperidade e ausência de discórdia ao seu próximo. Deus, o Pai, é chamado o Deus da paz (Hb 13:20); Jesus é chamado de Príncipe da paz (Is 9.6); A paz também é uma das virtudes do Fruto do Espírito Santo. A paz na Bíblia é um estado de perfeita harmonia com Deus e, consequentemente, consigo mesmo e com o próximo. Paulo diz que após termos sido justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio de Jesus Cristo (Rm 5.1). Por isso, os pacificadores são chamados filhos de Deus. 

h. Os perseguidos por causa da justiça (vs. 10-12). A última bem-aventurança destina-se aos perseguidos e caluniados por causa da Justiça. Ser cristão de verdade é andar na contramão do sistema maligno que impera no mundo. Inevitavelmente isso nos coloca em confronto com o mundo e gera terríveis perseguições por parte de governos, religiões e, principalmente, pelo inimigo. Tanto Jesus como os seus discípulos foram terrivelmente perseguidos. Jesus foi perseguido pelas autoridades judaicas. A Igreja Primitiva também foi perseguida, inicialmente, pelos judeus. Depois foi brutalmente perseguida pelo império romano, que tentou exterminá-la, praticando as mais terríveis atrocidades. Depois, com a mistura entre a Igreja e o Império romano  advento dos papas, logo veio a perseguição religiosa da Igreja Católica contra os verdadeiros cristãos. Posteriormente veio o comunismo, o islamismo e outros, que empreenderam grandes perseguições à Igreja de Cristo. Mas, os perseguidos por causa da justiça seguem triunfantes e bem-aventurados. Grande será a sua recompensa nos céus. 


Para entrar no Reino de Deus, primeiro é preciso nascer de novo, "da água e Espírito", como disse Jesus a Nicodemos (Jo 3.3-5). Somente os que nasceram de novo e foram transformados terão em seu caráter estas qualidades. 


REFERÊNCIAS:

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 488.

GOMES. Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 27-28.

RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança. 1° Ed. 1998.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pág. 14-15.

TASKER, R. V. G. Mateus: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2006, pág. 47-48.


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Pb. Weliano Pires

31 março 2022

A ESTRUTURA DO SERMÃO DO MONTE

Comentário do 1⁰ tópico da  LIÇÃO 01: O Sermão do Monte: o caráter do Reino de Deus

Neste primeiro tópico, veremos por que este discurso de Jesus é chamado de Sermão do Monte e trataremos dos aspectos geográficos deste monte. Falaremos resumidamente sobre os tópicos deste sermão, pois o estudaremos mais detalhadamente, nas lições seguintes. Falaremos também a respeito dos destinatários do Sermão do Monte. 


1- Por que Sermão do Monte? A designação "Sermão do Monte" foi aplicada primeiro por Agostinho de Hipona, por volta de 400 d.C., em seu comentário em latim, sobre os capítulos 5 a 7 de Mateus. Mateus declara que "Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos". (Mt 5.1).


Não se sabe ao certo, onde está situado este monte, se seria o mesmo monte que se visita atualmente e é chamado de "o Monte das Bem aventuranças", que é a escarpa do Mar da Galiléia, a sudoeste de Cafarnaum, onde há uma igreja católica atualmente. Deduz-se, no entanto, que este monte fica na Galiléia, nas proximidades de Nazaré, Cafarnaum e Caná da Galiléia, pois foi ali que o Senhor Jesus iniciou o seu ministério. 


Enquanto Mateus diz que Jesus "subiu a um monte", Lucas diz: "E, descendo com eles, parou num lugar plano, e também um grande número de seus discípulos…" (Lc 6.17a). Os céticos apontam contradição no texto bíblico. Segundo o comentário bíblico de William Hendriksen, Jesus teria proferido o seu discurso em um planalto, numa superfície plana e, posteriormente, desceu e curou vários enfermos na parte de baixo.


Outros teólogos, no entanto, dizem que trata-se de dois discursos, sendo um no monte, relatado por Mateus e outro na planície, relatado por Lucas, onde Jesus repetiu algumas partes do primeiro. O Pr. Osiel Gomes, no Livro de apoio ao trimestre, argumenta que "boa parte do que consta em Mateus não aparece em Lucas. Enquanto em Mateus encontram-se 107 versículos, Lucas menciona somente 30 destes, além do fato de que há 47 versos de Mateus que não tem qualquer ligação com Lucas."


2- A estrutura do Sermão do Monte. Alguns estudiosos entendem que a designação "sermão" é descabida para estes discursos de Jesus. Estes discursos de Jesus no monte, cobrem um grande número de temas e num único sermão, proferido de uma só vez, dificilmente aconteceria isto. Por esta razão, alguns sugerem que Jesus fez vários discursos sobre vários temas e não um único sermão. 


A estrutura destes discursos de Jesus se divide em cinco temas principais:


a) As Bem-Aventuranças (5.3-12). São oito qualidades do mesmo grupo de pessoas que são mansas, misericordiosas, humildes de espírito, limpas de coração, choram, têm fome e sede de justiça, são pacificadoras e perseguidas. Observando estas virtudes podemos notar que elas são idênticas ao Futuro do Espírito Santo. Logo, só podem esboçá-las, aqueles que nasceram de novo. Falaremos mais sobre as bem-aventuranças no próximo tópico.


b) Sal e luz (5.13-16). As figuras do sal e da luz, usadas por Jesus neste texto, mostram que o cristão é diferente do mundo, assim como a luz é oposta às trevas. Entretanto, está intimamente relacionado com as pessoas, assim como o sal se mistura aos alimentos, dando-lhes sabor e preservando-os. Este será o assunto da nossa próxima lição. 


c) Jesus é o cumprimento da Lei (5.17-48). Nesta seção do Sermão do Monte, o Senhor Jesus explica que Ele não veio abolir a Lei, mas sim cumpri-la. A palavra grega "plerosai", traduzida por "cumprir" neste texto, significa "encher" ou completar. Isso indica que Jesus veio completar a lei, não abolir. O Mestre aponta para as interpretações equivocadas da lei, por parte dos escribas e fariseus, que valorizavam apenas o legalismo e o exterior. Os temas abordados são: homicídio, adultério, divórcio, juramentos, retaliação e amor ao próximo. Estudaremos este assunto em detalhes na lição 3. 


d) Os atos de justiça (6.1-18). Nesta seção o Senhor fala sobre as esmolas, a oração e o jejum. O Mestre contrasta a prática judaica destes atos, que faziam isso publicamente, com o objetivo de serem vistos e se auto justificarem. Jesus explica que a esmolas devem ser feitas discretamente; a oração deve ser também deve ser um diálogo entre o crente e Deus, sem a necessidade de se mostrar e tendo o perdão aos ofensores como condição para se obter o perdão de Deus; o jejum, por sua vez, deve feito secretamente, sem mostrar-se contristado para as pessoas não perceberem. 


e) Declarações de sabedoria (6.19-7.27). Nesta seção final do Sermão do Monte, o Senhor apresenta temas variados, mostrando um modo de vida sábio: a prioridade do ajuntamento de tesouros no Céu, em contraste aos tesouros passageiros deste mundo; a candeia do corpo que são os olhos; ninguém pode servir a dois senhores; a inútil ansiedade sobre o que comer, beber e vestir; o pré julgamento sobre os pecados alheios; a recomendação para não entregar as coisas de Deus aos zombadores e profanos; a recomendação para insistir na oração, pois Deus é bom e sabe dar coisas boas aos seus filhos; a regra áurea: trate os outros da forma que gostaria de ser tratado; as figuras que ilustram o bem e o mal: os dois caminhos, duas portas, os dois frutos e os dois fundamentos. 


3- A quem se destina o Sermão do Monte? Há muitas discussões e controvérsias sobre a destinação e aplicação dos princípios ensinados por Jesus nestes discursos. Muitos dizem que este padrão é muito elevado e serviria apenas para mostrar a insuficiência humana em cumpri-los. Outros dizem que estes ensinos, por sua elevação, estão restritos a pessoas especiais que vivem isoladas e buscam a perfeição. Há ainda os que dizem que estes ensinos estão relacionados ao futuro e são destinados aos súditos do Reino milenial de Cristo. Uma das piores distorções deste sermão é aplicação dele ao chamado "evangelho social". Segundo os adeptos desta teoria, o Sermão do Monte não se refere a um padrão de santidade, mas apenas a uma questão humanitária de assistencialismo aos necessitados. 

Inicialmente, o sermão foi direcionado aos discípulos de Jesus que estavam com Ele naquele momento (Lc 6.20). Depois, Jesus o direcionou à multidão (Mt 7.27). Entretanto, o sermão é um padrão de santidade que se destina a todos os que nasceram de novo. Pelos esforços humanos, ele é inatingível. Somente mediante a ação do Espírito Santo é que o ser humano se torna nova criatura e produz estes frutos (Gl 5.16,22).


REFERÊNCIAS:


GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 15-21.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. Editora Cultura Cristã. pág. 342.

ROBERT H. MOUNCE. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. Baseado na Edição Contemporânea de Almeida. Editora Vida Nova. pág. 48-49.

SPROUL, RC. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora Cultura Cristã. pág. 57-58.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 9-10.

TENNEY, Merril C. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pág. 368-369.


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Pb. Weliano Pires

29 março 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 01: O Sermão do Monte: o caráter do Reino de Deus


Graças a Deus, após estudar o primeiro trimestre falando sobre a Supremacia das Escrituras, nos aprofundando mais sobre a Doutrina das Escrituras Sagradas, iniciamos agora um novo trimestre de estudos bíblicos. Desta feita, estudaremos o famoso Sermão de Jesus, conhecido como Sermão do Monte, ou Sermão da Montanha. Este sermão representa a essência dos ensinos de Jesus.


No ano de 2001, portanto, há 21 anos, estudamos este sermão em nossa Escola Bíblica Dominical, comentado pelo renomado pastor e escritor, Geremias do Couto, com o tema: Sermão do Monte: A transparência da vida cristã. Na ocasião, o pastor Geremias do Couto apresentou este sermão como "as vigas mestras dos ensinos de Jesus", e "um ideal de vida de todos quantos desejam sinceramente praticar o cristianismo bíblico."


Agora, a CPAD retorna a este importantíssimo tema, com  comentários  do renomado pastor Osiel Gomes, que é escritor, comentarista de Lições Bíblicas em outros trimestres, conferencista e líder da Assembleia de Deus, em Tirirical (São Luís/MA).


Nesta lição, como de costume, estudaremos três tópicos:


No primeiro tópico falaremos sobre a estrutura do Sermão do Monte. Veremos por que este discurso de Jesus é chamado de Sermão do Monte e os aspectos geográficos deste monte. Faremos também um pequeno resumo sobre os tópicos deste sermão, pois o estudaremos mais detalhadamente, nas lições seguintes. Por último, falaremos a respeito dos destinatários do Sermão do Monte. 


No segundo tópico, veremos as bem-aventuranças e o caráter cristão. Discorreremos sobre as definições grega e hebraica da palavra traduzida por "bem-aventurado". Falaremos também sobre a definição e o caráter do Reino de Deus. Por último veremos quem são os súditos do Reino de Deus, com base nas qualidades descritas por Jesus no Sermão do Monte. 


No terceiro tópico veremos que somos bem-aventurados. Veremos neste tópico que o salvo em Cristo vive um estado de plena satisfação e felicidade, não por seus próprios méritos e esforços, mas porque nasceu de novo e o seu caráter foi transformado pelo Espírito Santo.


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Pb. Weliano Pires


25 março 2022

É PRECISO LER A BÍBLIA DIARIAMENTE


(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 13:  A LEITURA DA BÍBLIA E A EDUCAÇÃO CRISTÃ)

O mundo hoje está cada vez mais digital e as pessoas querem respostas rápidas para tudo. Quando querem saber de alguma coisa, recorrem ao Google e perguntam o que querem, sem se dar sequer ao trabalho de digitar. Apertam o microfone, falam o que querem saber e o site de pesquisas fornece várias opções, sejam endereços, definições, reportagens, etc. 


Antigamente, as pessoas iam às bibliotecas municipais e abriam os livros para fazerem as suas pesquisas. Outros tinham em casa uma Enciclopédia Britânica, para pesquisar sobre vários assuntos. As notícias, os classificados e as publicações em geral, eram feitos em jornais e revistas impressas. Então, naturalmente, as pessoas eram forçadas a ler. Quem não lia, ficava desatualizado e desinformado.


Com o advento da internet, muitas destas publicações foram para a web e, portanto, é possível ler muito mais. Entretanto, com a facilidade dos vídeos, podcasts e fotos, muitos perderam o interesse pela leitura e querem tudo pronto. Infelizmente, muitas pessoas na atualidade não gostam ou tem preguiça de ler. Quando publicamos um texto com mais de cinco linhas, a maioria das pessoas não lêem. Até um certo ex-presidente da República e ex-presidiário, em entrevista no passado, confessou que não gosta de ler, “porque é muito preguiçoso”


Esta preguiça de ler e a busca por respostas prontas e curtas, também chegaram ao meio evangélico. Muitos evangélicos atualmente usam a Bíblia apenas nos templos. Mesmo assim, é possível perceber que alguns nem abrem a Bíblia durante as leituras e pregações. Um número muito grande de evangélicos, inclusive pastores, nunca leram a Bíblia inteira. O resultado disso é trágico. Há um analfabetismo bíblico enorme em nosso meio. A prática da leitura bíblica deve ser um exercício diário para o cristão. Isso, claro, deve ser feito com disciplina, devoção e estudo. 


1 - A leitura e a disciplina cristã. Quando se fala em disciplina no meio evangélico, muitos imaginam que seja castigo ou punição, pois há a disciplina no sentido de suspensão da comunhão da Igreja. Mas, não é neste sentido que estamos falando aqui. 


A palavra disciplina vem do latim "disciplina'' que significa instrução, ensino e educação que uma criança recebia de um mestre. Mas, tem vários significados. Segundo o dicionário Michaellis, disciplina significa também: um regime de submissão às normas ditadas pelos superiores; observância estrita das regras e regulamentos de uma organização civil ou estatal; comportamento exemplar; área de conhecimento ensinada ou estudada em uma faculdade  ou colégio; obediência às normas convenientes para o bom andamento dos trabalhos; mortificação imposta por má conduta.


Em provérbios, por exemplo, a palavra disciplina é usada com o sentido de correção e repreensão, principalmente, em relação aos filhos: “Quem se nega a castigar seu filho não o ama; quem o ama não hesita em discipliná-lo”. (Pv 13.24). Entretanto, a palavra disciplina no contexto que estamos estudando aqui, está relacionada a ordem, obediência a regras e abnegação. Neste sentido, a disciplina se refere a alguns princípios que pautam a atividade diária e as metas de uma pessoa.


O apóstolo Paulo usa três exemplos para ensinar sobre disciplina: 

a. Um soldado, que sofre aflições em seu treinamento rigoroso (2 Tm 2.3); 

b) O lavrador, que espera pacientemente pelos frutos da lavoura  (1 Co 9.10); 

c) O atleta, que treina com abnegação e regras 1 Co 9.24).


Nas disciplinas espirituais temos a oração incessante (1 Ts 5.17); O exame das Escrituras (Jo 5.39); e a prática do jejum (1 Co 7.5). Estas disciplinas servem para nos fortalecer espiritualmente e enfraquecer a nossa natureza humana. Entretanto, não podemos usá-las de forma legalista para obter o favor de Deus ou de forma ascética. Também não podem ser usadas como forma de exaltação e promoção pessoal, pois isso é farisaísmo. 


2- A leitura e o aprendizado. A leitura diária da Bíblia é fundamental para a vida cristã. Esta leitura tem objetivos diferentes. Devemos ler a Bíblia para aprender o seu conteúdo, de forma devocional na medicação e como pesquisa em temas específicos. Somos discípulos de Cristo e o aprendizado é a base de todo discípulo, pois a própria palavra discípulo significa "aprendiz". A Bíblia tem todas as informações que Deus quis revelar ao ser humano. Paulo escrevendo a Timóteo, disse que "...as Escrituras o tornariam sábio para a salvação que há em Cristo Jesus". (2 Tm  3. 14,15). Jesus também falou para os saduceus: "Errais não conhecendo as Escrituras e o poder de Deus". (Mt 22.29). 


Não resta dúvidas de que ler a Bíblia é importante, pois, como já vimos durante este trimestre, a Bíblia é a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus. É o único manual de fé e prática do cristão. Sendo assim, é indispensável a leitura constante das Escrituras. Entretanto, não basta ler. Na lição 5, estudamos o tema "Como ler as Escrituras". Vimos que é muito importante entender aquilo que lemos, pois, muitas heresias nascem da má interpretação ou distorções dos textos bíblicos.


A Bíblia foi escrita em um contexto muito distante e diferente da época em que vivemos. Por isso, é preciso interpretá-la corretamente, para a entendermos. Esta interpretação envolve a exegese e a hermenêutica, que são ferramentas muito importantes na interpretação de textos. A hermenêutica é a ciência da interpretação de textos e a exegese é uma das ferramentas desta ciência.


3- A leitura e o devocional. No Salmo 1 lemos que é "bem aventurado o homem que medita na Lei do Senhor de dia e de noite." A leitura devocional da Bíblia é diferente da leitura para o aprendizado e da leitura para pesquisa. O devocional é a adoração individual do crente que inclui oração, leitura e meditação na Palavra de Deus. Não se trata do culto doméstico, ou culto de ações de graças em um lar. É um momento pessoal do crente com Deus, onde falamos com Deus, através da oração e ouvimos Deus falar através da Sua Palavra. 


O ideal é que este momento devocional seja feito no primeiro horário da manhã, quando ainda não falamos com ninguém e não fizemos outra coisa, para não correr o risco de esquecer. "De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã te apresento a minha oração e fico esperando”. (Sl 5.3). Jesus disse que a boca fala daquilo que o coração está cheio. Portanto, se enchermos o nosso coração diariamente com a Palavra de Deus será dela que falaremos mais no nosso dia a dia. 


REFERÊNCIAS:


BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

GANGEL, Kennneth O. & HENDRICKS, Howard G. Kenm. Manual De Ensino Para O Educador Cristão. Editora CPAD. 1 ed. 1999. págs. 307-310.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. pág. 1500.

GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. 3. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.22).

LOPES, Hernandes Dias. 2 Timóteo. O testamento de Paulo à igreja. Editora Hagnos. pág. 97-98.


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Pb. Weliano Pires