31 janeiro 2024

ADORAÇÃO E EDIFICAÇÃO

(Comentário do 2° tópico da Lição 05: A Missão da Igreja de Cristo)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, falaremos da missão da Igreja através da adoração e edificação. A Igreja é a única instituição que tem a prerrogativa de adorar a Deus neste mundo, assim como os anjos o adoram no Céu. A Igreja também é uma comunidade edificadora e, como tal, tem a missão de promover o crescimento espiritual dos seus membros através dos dons espirituais e ministeriais. A fundação deste edifício de Deus é Cristo e já foi lançada pelos apóstolos e profetas. Ninguém pode lançar outro fundamento além deste. Mas, como sábios construtores, podemos prosseguir com a edificação sobre este fundamento. 

1. Uma comunidade adoradora. No Antigo Testamento, a palavra hebraica traduzida por adorar é “Shahah”, que significa “prostrar-se, inclinar-se, prestar reverência, suplicar humildemente, abater-se ou adorar”. O significado original dessa palavra era curvar-se diante de um rei ou um superior e prestar-lhe reverência, como fizeram os irmãos de José perante ele (Gn 43.28). Em outros contextos, porém, a palavra Shahah é usada exclusivamente para adoração a Yahweh, como em Gn 24.26: “Então inclinou-se aquele homem e adorou (Shahah) ao Senhor”.

Deus deixou muito claro que Ele é o Único Deus e que o seu povo não poderia adorar e servir a outros deuses (Êx 20.2-4; Dt 6.13). A adoração ou o culto a outros deuses era considerada um pecado gravíssimo e era punido com a morte (Êx 22.20). Em vários textos do Antigo Testamento, Deus alertou o povo contra a idolatria e ameaçou puni-los com o domínio dos inimigos sobre eles (Êx 23.13.24; 34.14-17; Dt 4.23,24; 6.14; 1s 23.7; Jz 6.10; 2 Rs 17.35.37.38).

No Novo Testamento, o verbo adorar, no grego, é proskyneo. Segundo a concordância bíblica de Strong, esta palavra é formada por dois termos gregos “pros”, que significa “em direção a” e kyneo que significa “beijar, como um cão que beija carinhosamente a mão do seu dono”. Proskyneo significa prostrar-se, curvar-se, vergar-se, obedecer, reverenciar, homenagear, louvar e adorar. 

Este último sentido deve ser aplicado única e exclusivamente a Deus. Na tentação de Jesus, o diabo ofereceu-lhe todos os reinos do mundo, exigindo em troca a adoração. Mas, Jesus o repreendeu, dizendo: “Vai-te Satanás, porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás” (Lc 4.8). Jesus citou aqui o texto de Deuteronômio 10.20. 

O Novo Testamento usa também a palavra grega latreia com o sentido de serviço a Deus e adoração no culto (Hb 8.5; 9.9; 13.10). É desta palavra que vem o termo idolatria, que significa adoração ou culto aos ídolos. Há vários textos no Novo Testamento que condenam a idolatria e afirmam que os idólatras não herdarão o Reino de Deus (1 Co 6.10; Gl 5.20; Ap 21.8; 22.15). 

É importante destacar que a idolatria não é apenas a adoração a imagens, como muitos imaginam. Qualquer pessoa, objeto, lugar ou instituição que ocupe o lugar de Deus, constitui-se em idolatria: um santo, água do Rio Jordão, um monte, Jerusalém, a nossa denominação, etc. Se colocarmos qualquer um deles como mediadores entre Deus e nós, ou como algo milagroso, estaremos cometendo o pecado de idolatria.

A adoração não se restringe ao culto. É ter Deus como Senhor absoluto da nossa vida e submeter-se totalmente ao Seu domínio. Uma pessoa que obedece a Deus somente em alguns aspectos, quando concorda, ou questiona a Deus e exige alguma coisa dele, não é um adorador. Um verdadeiro adorador é como o profeta Habacuque: “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação.” (Hc 3.17,18).

A Igreja só pode adorar e cultuar ao Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo. Os membros da Santíssima Trindade são iguais e habitam um no outro, em perfeita comunhão. Sendo assim, quando adoramos a qualquer um deles, estamos adorando a Deus. Os católicos, para tentar justificar o uso das imagens e dos inúmeros santos e padroeiros, dizem que há diferença entre adorar e venerar. Para explicar isso, usam três palavras: Latria, Dulia e Hiperdulia.

a - Latria. (Gr. latreia), que significa adoração). Este é o principal culto na Igreja Católica e seria a adoração a Deus.

b - Dulia (Gr. douleia), que significa veneração). É o culto prestado a Deus, por meio de alguma mediação de santos.

c - Hiperdulia (Gr. hyper, acima de, e douleia, honra ou veneração). É o culto de adoração a Deus por meio da Virgem Maria, a quem o catolicismo dá um lugar eminente.

Na Bíblia, não há esta distinção e não há nenhum mediador entre Deus e a humanidade, além de Jesus Cristo (1 Tm 2.15). A Bíblia proíbe o culto ou orações a qualquer pessoa, além de Deus (Ex 20.4; Mt 4.10). Um dos pilares da Reforma Protestante era a expressão latina Soli Deo Gloria, que “Glória somente a Deus”. Com esta expressão, os reformadores afirmavam que a glória pertence somente a Deus e, portanto, o ser humano não possui nenhum mérito na salvação e não pode vangloriar-se de coisa alguma.

2. Uma comunidade edificadora. Além das responsabilidades de ser uma comunidade que proclama o Evangelho aos perdidos e que adora a Deus, a Igreja é também uma comunidade edificadora. O verbo grego oikodomeo, traduzido por edificar, é usado em sentido figurado no Novo Testamento, para se referir ao crescimento espiritual do cristão. A Igreja é comparada a um edifício, cujo fundamento é Cristo. Os seus apóstolos e profetas lançaram o fundamento e Deus deu os ministros à Igreja, que são os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11) para a edificação deste edifício.

Na sequência desse texto, em Efésios 4.12, o apóstolo Paulo diz que o objetivo de Deus ao conceder os dons ministeriais à Igreja era: “Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”. A palavra grega traduzida por aperfeiçoamento neste texto é “katartismós” que significa adaptação, treinamento e aperfeiçoamento. Na linguagem clássica, esta palavra é usada para se referir ao trabalho de um médico ortopedista, que fixa um osso quebrado em uma cirurgia. É exatamente isso que os ministros do Evangelho devem fazer: consertar pessoas que estão quebradas espiritualmente, emocionalmente ou socialmente. Infelizmente, há obreiros que fazem o contrário e machucam mais ainda quem já está quebrado. 

Os dons espirituais também foram concedidos à Igreja com o objetivo de edificar, exortar e consolar os seus membros (1 Co 14.3,12, 26). Sendo assim, precisamos ter em mente que, tudo aquilo que fazemos na Igreja não é para a nossa exaltação e sim para o crescimento espiritual da Igreja. Devemos sempre nos perguntar se aquilo que falamos ou fazemos serve para a edificação da Igreja. Se não edifica, não deve ser feito. 

 

REFERÊNCIAS:

 

GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.

ENSINADOR CRISTÃO, CPAD, Nº 96, pág. 29, 1º Trimestre de 2024.

PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p.260

STOTT. John R. W. Cristianismo Equilibrado. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD. 1995, pp.60,61

BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS-CHAVE: Hebraico e grego. 4ª Ed. Rio de Janeiro, CPAD, 2015.

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