22 janeiro 2024

A NATUREZA DA IGREJA NAS SUAS DIMENSÕES LOCAL E UNIVERSAL

(Comentário do 2° tópico da lição 03: A NATUREZA DA IGREJA) 

Ev. WELIANO PIRES 

No segundo tópico, falaremos das dimensões local e universal. A Igreja é um organismo vivo, formado por todos os salvos. Neste aspecto, ela é universal e é dirigida unicamente pelo Espírito Santo. Mas ela também é uma organização que existe como pessoa jurídica, em um determinado local. Neste aspecto, ela é dirigida por homens e tem as suas particularidades, costumes e normas. 


1- Local e visível. Biblicamente, podemos falar da Igreja em relação à sua dimensão espacial, isto é, em relação ao local ou ao espaço geográfico. Ela pode ser vista e sentida. Nesse aspecto, a Igreja existe localmente. Assim, vemos os apóstolos escrevendo suas cartas a determinadas igrejas, situadas em diferentes locais: “à igreja de Deus que está em Corinto” (1 Co 1.2); “aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1 Pe 1.1). Nesses textos vemos as Escrituras se referindo à ekklesia, à comunidade de crentes, situada em diferentes locais.


Na atualidade, há um movimento nocivo que tem crescido assustadoramente, principalmente após a pandemia, que é o movimento dos desigrejados. Os adeptos deste movimento se dizem cristãos, mas não estão ligados a nenhuma Igreja. Procuram desqualificar a Igreja local e negam a sua necessidade. Os desigrejados são contrários à Igreja como organização, alegando que a Igreja Primitiva se reunia nas casas e não era institucionalizada. 


De fato, a Igreja nos primeiros séculos não possuía templos, porque vivia sob intensa perseguição tanto dos judeus quanto do Império romano. Também não era uma pessoa jurídica, porque naquela época não existiam instituições formais como hoje. Entretanto, isso não significa que não era uma organização. 


A Igreja tinha a sua liderança formada por apóstolos, profetas, evangelistas, presbíteros, diáconos, pastores e mestres (Ef 4.11; At 6.1-6; At 14.23; At 20.28; Hb 13.17). Tinha o seu código doutrinário (At 2.42-47) e disciplinar (1 Pe 3.5,6; 2 Ts 3.6). Atualmente, uma Igreja para funcionar precisa ter CNPJ e alvará de funcionamento. Para isso, precisa ter o seu estatuto e os responsáveis pela administração da Igreja.


A Igreja é a família de Deus (Ef 2.19). Em uma família, os seus membros se reúnem, se confraternizam e ajudam uns aos outros. Mas toda família precisa ter regras e liderança. A Igreja local também é responsável por cumprir as ordenanças do Senhor Jesus à sua Igreja, que são o batismo em águas e a Ceia do Senhor. Como alguém iria cumprir estas ordenanças bíblicas, se não houver uma organização local e uma liderança eclesiástica, como querem os desigrejados? 


A Igreja local também funciona como uma agência do Reino de Deus em um bairro ou cidade. Nela acontecem os cultos para pregação do Evangelho, ensino da Palavra de Deus, palestras, louvores, etc. Tudo isso é benéfico para a vida espiritual do crente e para a evangelização dos perdidos. Além disso, os templos proporcionam um local adequado e confortável para cultuar a Deus, sem perturbar a vizinhança. Infelizmente, ainda não temos condições de construir todos os nossos templos com todas as instalações necessárias, porque nem todos contribuem. 


2- As particularidades das igrejas locais. Pelo teor das cartas neotestamentárias, observamos que essas igrejas locais possuíam suas particularidades. Os problemas encontrados em uma não eram necessariamente os mesmos da outra (Fp 4.2,3 cf. 2 Ts 3.11,12). De igual modo, as virtudes. Por outro lado, embora estivessem todas sob a supervisão apostólica, observamos que eram autônomas uma em relação às outras. Assim possuíam sua dinâmica própria. Um método que funciona em determinada igreja pode ser inadequado em outra.


Muitos crentes, por desconhecerem as dimensões local e universal da Igreja de Cristo, querem que todas as Igrejas locais sejam iguais. Mas, como bem colocou o comentarista, cada Igreja tem as suas particularidades e o método que é eficaz em uma, pode não servir para outras. 


Quando olhamos para as Igrejas do Novo Testamento percebemos que, embora unidas doutrinariamente, eram diferentes umas das outras, no aspecto cultural e tinham problemas diferentes. O apóstolo Paulo escreveu Epístolas às Igrejas de Roma, Corinto, Galácia, Éfeso, Filipos, Colossos e Tessalônica. Lendo estas Epístolas, vemos que as exortações, repreensões e elogios do apóstolo variam de uma Igreja para outra. 


Nas Epístolas aos Romanos e aos Gálatas, Paulo enfatizou bastante a questão do legalismo judaico, deixando claro, a questão da justificação pela fé. A Epístola aos Romanos e a Epístola aos Efésios trazem grande conteúdo doutrinário sobre a Doutrina da Salvação. É possível que houvesse muitas dúvidas destas Igrejas nesta questão. 


Na primeira Epístola aos Coríntios, o apóstolo tratou de problemas gravíssimos de ordem moral, como o partidarismo na Igreja, alimentos consagrados aos ídolos, relação incestuosa entre enteado e madrasta, litígio entre irmãos, problemas no casamento, uso do véu, celebração inadequada da Ceia do Senhor e outras orientações de ordem doutrinária. 


Na segunda Epístola aos Coríntios, Paulo ameniza o tom, em relação às questões morais, indicando que provavelmente a primeira Epístola tenha surtido o efeito esperado. Esta segunda Epístola tem um caráter apologético, pois Paulo combate os falsos apóstolos e alerta a Igreja contra as heresias. 


Lendo a Epístola aos Filipenses, é possível perceber que o apóstolo Paulo tinha um carinho enorme por esta Igreja. Não vemos nenhuma repreensão ou crítica aos filipenses, como vemos nas Epístolas aos Coríntios e aos Gálatas. O apóstolo inicia a Epístola elogiando a cooperação deles no Evangelho e na defesa dele nas prisões. Paulo também demonstra saudades deles e usa palavras carinhosas como “amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa” (Fp 4.1). 


A Epístola aos Colossenses traz um importante conteúdo apologético contra o gnosticismo e os judaizantes. Paulo faz uma profunda apresentação da supremacia de Cristo (Cl 1.15-2.7), apresentando Cristo como criador e sustentador de todas as coisas visíveis e invisíveis (Cl 1.15-17). O apóstolo traz também várias recomendações sobre os relacionamentos entre os cônjuges; entre pais e filhos; entre servos e senhores; e entre os irmãos em Cristo. Na conclusão, o apóstolo envia as saudações dos seus companheiros de ministério.


As duas Epístolas aos Tessalonicenses são chamadas Epístolas escatológicas, pois alertam a Igreja a respeito da necessidade de estar preparada para a vinda do Senhor.  O apóstolo exortou a Igreja a permanecer no Evangelho, da forma em que devem andar, como receberam dele, para agradar a Deus, pois a Vontade do Senhor é que sejam santos e abstenham-se da prostiuição. No final, o apóstolo traz esclarecimentos sobre a ressurreição dos que morreram em Cristo e sobre o arrebatamento da Igreja. 


Na segunda Epístola aos Tessalonicenses, devido ao ensino de Paulo na primeira epístola sobre a Vinda do Senhor, muitos entenderam errado e achavam que Cristo já havia voltado (2 Ts 2.1,2). Outros achavam que Jesus poderia voltar a qualquer momento e não queriam sequer trabalhar para o próprio sustento (1 Ts 3.11). O apóstolo, então, retomou o assunto, explicando que o Dia de Cristo não virá antes da manifestação do Anticristo e que há um que detém esta manifestação, que é o Espírito Santo através da Igreja. É importante saber que , o Dia do Senhor não é o arrebatamento da Igreja e sim, a Grande Tribulação que terá início após a saída da Igreja da terra (Is 13.6-9; 1 Ts 5.2,3). 


3- Universal e invisível. Assim como a Igreja existe em sua dimensão local, existe também na sua dimensão universal. Somos conscientes da existência da igreja local, pois dela fazemos parte. Contudo, nem sempre é fácil se dar conta do aspecto universal da Igreja porque nesse sentido, a Igreja não está limitada ao espaço geográfico ou físico. Assim a Igreja universal e invisível é formada por todos os cristãos regenerados que estão em todos os lugares e por aqueles que já estão também na glória (Hb 12.23), não se limitando somente à dimensão terrena. Aqui, é importante se diferenciar “Igreja” de “denominação”. Numa cidade, por exemplo, pode haver várias denominações; contudo, somente há uma Igreja.


A igreja é divina, as denominações são humanas. As denominações podem ser temporárias, a Igreja não. As denominações podem desparecer, mas a Igreja é indestrutível (Mt 16.18). Convém dizer que nem todo grupo que se diz cristão pode ser visto como fazendo parte da Igreja Cristã. Há grupos que se autodenominam “igrejas”, contudo, são sinagoga de Satanás (Ap 3.9). Entretanto, o que fará com que uma igreja ou denominação seja cristã, é a sua fidelidade a Cristo e às Escrituras Sagradas.


A Igreja foi fundada por Jesus, como um organismo vivo e, nesse sentido, ela é formada por todos os salvos que nasceram de novo e liderada por Ele e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18). Como um organismo, a Igreja de Jesus é única. 


A Igreja como um organismo não possui CNPJ, endereço, estatuto, líderes humanos, ou espaço físico. Ela é formada por todos os salvos de qualquer denominação, lugar ou época. Como organismo, a Igreja é representada como o corpo de Cristo, sendo Ele próprio a cabeça (I Co 12.27; Ef 4.12). 


REFERÊNCIAS:


GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.

ENSINADOR CRISTÃO, CPAD, Nº 96, pág. 29, 1º Trimestre de 2024.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª. Ed.Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.536).

Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD, p.1650.

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.787.

TETZNER, Gerson Welmer; NERBAS, Paulo Moisés. Os desigrejados: Um estudo do fenômeno e da influência da Igreja no aumento do número de cristãos sem vínculo institucional. Editora Concórdia. pag. 22-24.

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