30 janeiro 2024

PREGAÇÃO E INSTRUÇÃO

(Comentário do primeiro tópico da Lição 05: A Missão da Igreja de Cristo)

Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico, falaremos da missão da Igreja, através da pregação e instrução. Depois de ressuscitar, Jesus reuniu os seus discípulos e ordenou-lhes que saíssem pelo mundo e pregassem as boas novas de salvação a toda criatura (Mc 16.15). Ordenou também que fizessem discípulos de todas as nações e os ensinassem a guardar tudo o que Ele havia mandado (Mt 28.19,20). A pregação do Evangelho, portanto, envolve a proclamação das boas novas aos de fora (evangelização) e a instrução aos de dentro (discipulado). 


1. Proclamando as Boas-Novas. A principal missão da Igreja de Cristo neste mundo é proclamar o Evangelho a toda criatura. O Evangelista Marcos registrou esta ordem de Jesus aos seus discípulos, após a sua ressurreição: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, será salvo, mas quem não crer, será condenado”. (Mc 16.15). 


A palavra grega traduzida por pregar é keryssó e foi usada para se referir tanto à pregação de João Batista, quanto a de Jesus, durante os seus ministérios (Mt 3.1; Mt 4.17). O sentido original desta palavra é uma referência a um arauto que fazia os anúncios oficiais à população. Naqueles tempos não existia rádios, TV ou jornais e as notícias e os comunicados do governo eram feitos oralmente. 


João Batista foi o precursor do Messias. Ele recebeu de Deus a incumbência de vir primeiro para preparar o caminho, convocando o povo ao arrependimento, pois o Reino de Deus havia chegado. João recebeu também a missão de anunciar que depois dele viria um, cujas sandálias ele não era digno de desatar. Este batizaria com o Espírito Santo e com fogo. 


Depois da prisão de João Batista, Jesus iniciou o seu ministério e começou a pregar dizendo: “o tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1.15). Em muitos outros textos, os evangelistas registraram que Jesus pregava o Evangelho, curava os enfermos e ensinava: “E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino, e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.” (Mt 4,23). Durante cerca de três anos, Ele andou com os seus discípulos, preparando-os na teoria e na prática, para também pregarem o Evangelho. O Mestre reuniu os doze apóstolos e os enviou para pregar o Evangelho somente aos judeus e disse-lhes: “E indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus.” Depois, em outra ocasião, Ele enviou outros setenta discípulos dizendo: “Curai os enfermos que nela houver, e dizer-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.” (Lc 10.9).


Depois que ressuscitou, Jesus entrou esta missão de proclamar o Evangelho aos perdidos, aos seus discípulos. Entretanto, Ele recomendou que não saíssem de Jerusalém, antes de serem revestidos de poder (Lc 24.49). Após receberem a virtude o Espírito Santo, os discípulos, então deveriam testemunhar de Jesus em Jerusalém, em toda a Judéia, Samaria e em todo o mundo (At 1.8). 


É importante esclarecer que Jesus não falou para os seus discípulos optarem por pregar o Evangelho ou não. Ele lhes ordenou que fossem por todo o mundo e pregassem o Evangelho a toda criatura. Falando sobre isso, o missionário  inglês James Hudson Taylor, que foi missionário na China por 51 anos, esta tarefa “não é uma opção para a Igreja e sim, um mandamento a ser obedecido.” O apóstolo Paulo também via a pregação do Evangelho como uma obrigação e sentia-se devedor de pregar o Evangelho tanto aos judeus quanto aos gentios (1 Co 9.16).


2. O objeto da pregação.  O comentarista explica que há outro verbo grego que é usado frequentemente para se referir à ordem de pregar o Evangelho. Trata-se do verbo grego euangelizo, que tem o sentido de anunciar boas notícias. Neste caso, no entanto, não significa anunciar qualquer notícia ou acontecimento bom. Refere-se a falar de uma pessoa, que no caso da pregação do Evangelho, é Jesus Cristo, o único Salvador. 


Nós fomos comissionados pelo Senhor Jesus para pregar a Sua Palavra ao mundo. Jesus não enviou os seus discípulos para pregar filosofia, ideologia política, psicologia, auto ajuda ou oferecer melhoria de vida às pessoas neste mundo. Ele nos mandou pregar “O Evangelho” a toda criatura e ensinar a guardar tudo o que ele mandou (Mc 16.15; Mt 28.19). 


A pregação do Evangelho consiste em duas notícias, uma má e outra boa. A má notícia é que todos os seres humanos estão corrompidos pelo pecado e não podem, por si mesmos, fazer nada para mudar este quadro. A boa notícia, é que Deus, sendo riquíssimo em misericórdia, enviou o Seu Filho Jesus, como Cordeiro imaculado, para sacrificar-se pelos nossos pecados e, somente através dele podemos ser salvos (Lc 19.10; Jo 1.29; 1 Tm 1.15). Aqueles que não crerem, serão condenados (Mc 16.16). 


A Igreja tem a obrigação de pregar esta mensagem ao mundo, quer aceitem, quer rejeitem. Não é papel da Igreja convencer as pessoas a receberem a Cristo. Este papel é do Espírito Santo. A nossa obrigação é pregar o Evangelho no poder do Espírito, com confiança no Senhor e fidelidade naquilo que pregamos. 


Não podemos modificar o conteúdo do Evangelho para atrair as pessoas. A fidelidade na pregação consiste em pregar a Palavra de Deus, exatamente como ela é, sem diminuir, acrescentar ou falsificar. Infelizmente, na atualidade, muitos pregam "outro evangelho" e não o Evangelho de Cristo. Escrevendo aos Gálatas, o apóstolo Paulo disse que ainda que um anjo, ou um dos apóstolos anunciassem "outro evangelho", diferente do que ele havia anunciado, deveria ser considerado anátema ou maldito (Gl 1.9). 


3. Discipulando os convertidos. Desde o início da sua conversão, o novo crente deve ser ensinado, com muito amor e cuidado, para desenvolver a sua nova identidade. As pessoas que aceitam a Cristo vem de uma vida de pecado com idéias e costumes mundanos. São pessoas que vieram de outras religiões, ou que não tinham religião e viviam segundo o curso deste mundo. Os crentes só alcançarão a maturidade, a fé genuína e só produzirão frutos se a Igreja local tiver um discipulado eficiente.  


Depois de ter ressuscitado, Jesus reuniu os seus discípulos e deu-lhes a seguinte missão, que ficou conhecida como a Grande Comissão: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.19,20). Esta grande comissão de Jesus à Sua Igreja contém os seguintes objetivos: 


a) Fazer discípulos. O verbo grego aqui é "mathēteuō". A versão Almeida Revista e Corrigida traduziu este verbo por "ensinai" e a versão Revista e Atualizada traduziu por "fazei discípulos". Isso significa discipular, ou ensinar as pessoas a serem discípulos de Jesus. A palavra discípulo não é muito comum atualmente, fora do meio religioso. Atualmente, utiliza-se muito a palavra seguidor, aluno ou aprendiz. Mas, nos tempos do Novo Testamento era comum um mestre ou líder religioso ter discípulos. Tanto os rabinos judaicos, quanto os filósofos gregos tinham seus discípulos. João Batista e Jesus também tinham os seus discípulos. (Mt 5.1; João 1.35; Lc 7.18;18). Discipulado é a arte de fazer discípulos, ou convencer alguém a seguir os nossos ensinos e a nos imitar. É importante destacar, no entanto, que Jesus nos comissionou a fazer discípulos para Ele e não para nós mesmos. 


b) Batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O batismo e a Ceia do Senhor são duas ordenanças de Cristo à Igreja. Muitas pessoas tentam minimizar a importância do batismo. Mas, quando Jesus mandou os discípulos pregarem o Evangelho, mandou também batizar. O batismo não salva, mas, ele é uma demonstração pública de que a pessoa morreu para o pecado e nasceu de novo. Na ordem de Jesus, fazer discípulo vem antes de batizar. Isso significa que não se deve batizar quem ainda não se converteu. Jesus também nos ensina a fórmula batismal: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os unicistas tentam mudar isso, usando como pretexto as palavras do apóstolo Pedro em Atos dos apóstolos. Mas, o que Pedro quis dizer é que o batismo deve ser feito na autoridade do nome de Jesus. Não se trata de uma fórmula batismal. 


c) Ensinar a guardar tudo o que Ele mandou. Refere-se aos pontos doutrinários que Jesus ensinou. O livro de Atos mostra os apóstolos no cumprimento dessa palavra (At 2.42; 4.1,2; 5.21,28). A Igreja tem a obrigação de ensinar sistematicamente as doutrinas bíblicas aos novos crentes, para que eles estejam firmados na Palavra de Deus e não bem doutrinas humanas. 


d) Jesus garantiu a sua presença nessa comissão até o fim. Jesus é o fundamento da Igreja. Ele disse que "sem Ele, nada poderíamos fazer" (Jo 15.4). Jesus subiu ao Céu, mas, não nos deixou órfãos. Ele continua conosco, na Pessoa do Espírito Santo, nos guiando, protegendo e fazendo a obra de salvação. Nós somos apenas instrumentos dele, mas, é Ele que opera tudo em todos. 


REFERÊNCIAS:


GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.

ENSINADOR CRISTÃO, CPAD, Nº 96, pág. 29, 1º Trimestre de 2024.

PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p.260

STOTT. John R. W. Cristianismo Equilibrado. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD. 1995, pp.60,61

GABY, Wagner. Até os confins da terra: pregando o Evangelho a todos os povos até à volta de Cristo. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2023,  págs. 6-10.

SILVA, Rayíran Batista da. O Discipulado Eficaz e o Crescimento da Igreja. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, pp.35,39.


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