(Comentário do 1º tópico da lição 4: Quando a glória de Deus se vai).
Neste primeiro tópico falaremos sobre a Glória de Deus, trazendo o significado etimológico da palavra glória em hebraico. Depois, falaremos sobre as manifestações da Glória de Deus. A glória de Deus se manifestou quando Moisés construiu o tabernáculo. Manifestou-se também durante as jornadas de Israel pelo deserto e nos dias de Salomão, na dedicação do templo.
1- O significado de “glória”. A palavra glória na Bíblia tem mais de um significado. O contexto é que determina qual é o significado de glória, no texto bíblico. Muitos crentes, principalmente pregadores, se referem à glória de Deus, como a “Shekinah”. O que talvez não saibam é que esta palavra não aparece nos textos bíblicos. É uma palavra muito usada no Judaísmo, para se referir à presença de Deus ou ao próprio Deus. Os rabinos também usam a palavra Shekinah para se referir ao Espírito de Deus. Esta palavra, no entanto, não vem dos textos bíblicos e sim do Talmude, uma antiga literatura judaica, na qual estão as discussões e comentários dos rabinos sobre a história, a lei, os costumes e a cultura judaica. Esta literatura judaica é chamada nos Evangelhos de “Tradição dos anciãos”. A palavra hebraica Talmud significa "aprendizado, instrução".
A palavra hebraica usada na Bíblia para glória é “kavod”, (Escreve-se kabod) que literalmente significa “peso”. No grego, a palavra correspondente a Kavod é “doxa”, que significa glória, resplendor, poder, honra e reputação. A Versão grega da Bíblia, Septuaginta, usa também a palavra grega “time”, que tem o sentido de valor ou honra. Glória pode ser uma referência à adoração, esplendor, magnificência e bem-aventurança, em sentido terrestre ou celestial. A presença de Deus também pode ser chamada de glória, por causa da sua exaltação.
No Novo Testamento a glória está relacionada a Jesus Cristo. Quando Jesus nasceu na manjedoura, os pastores estavam no campo vigiando as suas ovelhas. Lucas assim relata: “E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor.” (Lc 2.9). No episódio da transfiguração, os discípulos que estavam com Jesus viram a sua glória: “Pedro e os que estavam com ele estavam carregados de sono; e, quando despertaram, viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam com ele.” (Lc 9.32). O escritor da Epístola aos Hebreus também diz que Jesus é “o resplendor da sua glória, [de Deus] e a expressa imagem da sua pessoa”. (Hb 1.3).
O ser humano foi feito à imagem e semelhança de Deus. Após a entrada do pecado, esta imagem foi deturpada e o homem passou a ser inimigo de Deus. O apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos disse: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.” Portanto, após o pecado, o homem perdeu “a glória de Deus”, que pode ser a presença de Deus ou a imagem moral de Deus, que o homem perdeu com a corrupção da sua natureza pelo pecado. O retorno ao estado pré-encarnado de Jesus também é chamado “glorificação” (Jo 7.39). Os salvos por Jesus compartilham desta glorificação até certo ponto. Evidentemente, que não é na mesma proporção da glorificação de Jesus, pois Ele é Deus. Jesus predestinou os salvos, com base na sua presciência, chamou, justificou e glorificou (Rm 8.30). O nosso estado final após a ressurreição também é chamado de glorificação, quando o nosso corpo for transformado em um corpo imortal e incorruptível. (Rm 8.18; 1 Co 15.51-53; 2 Co 4.17).
2- A glória de Deus. Nenhum povo da terra experimentou a manifestação da glória de Deus, nos tempos do Antigo Testamento como o povo de Israel. A presença de Deus conduziu os filhos de Israel em suas jornadas pelo deserto durante 40 anos. Deus ordenou a Moisés que construísse um tabernáculo, para que Ele habitasse no meio deles: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles. Conforme tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis.” (Êx 25.8,9). Quando foi concluída a obra, uma nuvem cobriu a tenda e a glória de Deus se manifestou, de forma que Moisés não conseguia entrar no local: “Então, a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo, de maneira que Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porquanto a nuvem ficava sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo.” (Êx 40.34,35).
O Tabernáculo era móvel e antes da construção do templo, a Arca da Aliança, que representava a presença de Deus, permanecia em seu interior. Nos dias do Sumo Sacerdote Eli, os israelitas usaram a Arca como um amuleto, para se proteger dos filisteus (1 Sm 4.3). Em uma destas guerras, por causa do pecado, Israel foi derrotado e os filisteus levaram a Arca para a terra deles (1 Sm 4.10.11). Os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias foram mortos nessa batalha. Quando soube que a Arca havia sido levada, o Sumo Sacerdote Eli caiu para trás e morreu. A sua nora, esposa de Finéias, estava grávida e quando soube destas más notícias deu à luz e morreu no parto. A criança que nasceu foi chamada de Icabod, que significa “foi-se a glória” (1 Sm 4.21,22). Por onde os filisteus levavam a Arca, o Senhor feria o povo daquela localidade. Com este triste episódio da história de Israel, a Arca permaneceu fora da terra de Israel por cerca de 20 anos (1 Sm 7.2). Quando Davi assumiu o trono, trouxe a Arca de volta para Jerusalém (2 Sm 6.1-17), com grande júbilo.
Com a inauguração do templo, nos dias de Salomão, a Arca foi transferida para o templo (2 Cr 5.13,14). Depois da oração de Salomão, a glória de Deus encheu o templo (2 Cr 7.1), de forma que os sacerdotes não conseguiam permanecer no local. Deus falou com Salomão e prometeu que os olhos estariam sobre aquele lugar e os seus ouvidos atentos às orações que se fizessem ali. Entretanto, esta promessa não era incondicional. Na sequência da promessa de Deus, veio também o alerta de que se eles se desviassem e se entregassem à idolatria, Deus os arrancaria da sua terra e os entregaria nas mãos de inimigos estrangeiros (2 Cr 7.19-22). Infelizmente, o povo de Israel se esqueceu deste alerta e as consequências foram drásticas, como veremos no próximo tópico.
REFERÊNCIAS:
SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pág. 51.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 2. 11 ed. 2013. pág. 912-914.
PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pag. 870.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 1653.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.1183).
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