15 outubro 2022

SOBRE AS ABOMINAÇÕES DO TEMPLO (PARTE 1)


(Comentário do 2º tópico da Liçao 3: As abominações do templo)

O comentarista da lição, Pr. Esequias Soares, dividiu a visão que Ezequiel teve das abominações do templo, em duas partes, para efeitos didáticos. Neste segundo tópico veremos os detalhes da primeira parte destas abominações. Ezequiel viu a imagem dos ciúmes, que muitos estudiosos a identificam como a deusa Aserá. Viu também vários répteis e outros animais impuros e ídolos pintados nas paredes. Por último viu os anciãos de Judá, em pé com os seus incensários diante destas abominações. 


1- A imagem de ciúmes (v.5). Quando falamos em ciúmes, logo nos vem à mente alguém que tem um sentimento possessivo em relação a outra pessoa, a qual quer a todo custo manter junto de si e desconfia loucamente de infidelidade dessa pessoa. A palavra portuguesa ciúmes tem origem na palavra latina zelumen, derivada de outra palavra latina zelus, que significa fervor, calor, ardor ou intenso desejo. O vocábulo grego ‘zelos’ tem o mesmo sentido. 


No hebraico, a palavra traduzida neste texto de Ezequiel por ciúme, é qi’nah’ que significa “zelo, ciúme ardente, ou ira”. Por amar, zelar e cuidar da pessoa amada, o cônjuge fica extremamente irado ao descobrir que a pessoa amada está oferecendo o seu amor a outra pessoa. O termo hebraico não tinha o sentido de ciúme doentio de alguém que, sem nenhum fundamento, desconfia até da sombra. 


No Antigo Testamento, Deus sempre comparou o seu relacionamento com Israel ao relacionamento conjugal. Por isso, a idolatria é chamada de adultério e prostituição no Antigo Testamento. No Livro do profeta Oséias, Deus usou a vida conjugal do profeta, ordenando que ele se casasse com uma prostituta e tivesse filhos com ela. (Os 1.2,3). Gômer, a prostituta, mesmo estando casada com o profeta, tinha os seus amantes. Nesta metáfora, Israel, representado pela protituta, deixa seu marido, que é Deus, para ficar com os seus amantes e ainda pagava para estar com eles. Imagine como o profeta se sentia diante desta situação! É assim que Deus se sente, quando alguém pratica a idolatria. 


O termo traduzido por imagem dos ciúmes em Ezequiel é semel. Significa uma “imagem ou ídolo”, também citada em outros textos como bosque ou poste-ídolo. O ímpio rei Manassés, construiu uma imagem dessa e colocou-a dentro do templo de Jerusalém. Posteriormente, o seu neto Josias, quando assumiu o trono a destruiu (2 Rs 21.3,7; 2 Rs 23.3). Muitos reis ímpios de Judá se entregaram à idolatria. Depois os seus sucessores que eram tementes a Deus, como Asa, Ezequias e Josias, fizeram reformas e derrubaram os ídolos e altares pagãos. 


Este ídolo, que havia sido colocado no templo por Manassés, foi destruído por Josias, mas tudo indica que um dos seus sucessores tenha feito outra, colocando-a ao lado da porta ao norte do templo. Muitos intérpretes da Bíblia identificam este ídolo, chamado de imagem dos ciúmes, como sendo Aserá, deusa dos cananeus, que segundo eles era a esposa de Baal. Nos dias de Acabe, a rainha Jezabel trouxe este ídolo e os seus sacerdotes e profetas para Samaria. 


2- O culto aos animais e aos répteis (v.10). Na segunda cena vista por Ezequiel nesta visão tinha as imagens de vários animais considerados imundos, ‘pintados’ na parede do templo como ídolos. A palavra traduzida por ‘pintados’ nesse texto pela Almeida Revista e Corrigida, significa na verdade “entalhado” ou “esculpido em relevo”. A Nova Almeida Atualizada usa a palavra “gravados”. Isto significa que estas imagens foram esculpidas na parede e não pintadas. Estas imagens estavam escondidas e o profeta recebeu ordem de Deus para cavar um buraco. Só assim, ele conseguiu ver as abominações escondidas. Os anciãos de Judá estavam praticando um culto pagão, de forma secreta na casa do Senhor. 


Esta visão mostra o grau de depravação espiritual e afastamento da Lei de Deus, que esse povo estava vivendo. No Livro de Levítico no Capítulo 11, o povo de Israel foi proibido de comer e até tocar nos cadáveres desse tipo de animais, pois eram considerados imundos. 


Agora, o povo havia feito pintura destes animais para adoração. A adoração aos animais é chamada de zoolatria e era uma prática comum dos egípcios, que consideravam os animais como recipientes que abrigavam o poder dos deuses. Os deuses egípcios eram representados por crocodilos, cobras, escaravelhos, bois, ovelhas e gatos. Em muitas religiões ainda hoje existe a ideia de que os animais são reencarnações dos antepassados, ou manifestações de deuses. 


3- Os setenta anciãos (v.11). Na terceira cena, o profeta Ezequiel viu setenta homens dos anciãos da casa de Israel, entre eles Jazanias, filho de Safã. Cada um tinha na mão o seu incensário; e subia uma nuvem de incenso. Não se sabe ao certo quem era este Jazanias, pois há pelo menos quatro pessoas na Bíblia com este nome. Porém, Safã era um escrivão do rei Josias, que leu o Livro da Lei, diante do rei  (2 Rs 22.8-11). Os escrivães naquela época eram pessoas que tinham a função de escrever os textos oficiais e em alguns casos em copistas das Escrituras, chamados também de escribas. Parece que este era o caso de Safã. Sendo assim, Jazanias era filho de alguém dedicado à Lei de Deus, que serviu a um rei temente a Deus que foi Josias e agora estava liderando um grupo de anciãos para praticarem idolatria na Casa do Senhor.


A palavra hebraica ‘zaqen’ traduzida por ‘ancião’ e a sua correspondente em grego, ‘presbyteros’, tem mais de um significado. Literalmente é uma referência a um idoso ou o mais velho de uma tribo, que naquela época eram muito respeitados. Estas palavras também eram usadas para designar um príncipe, líder comunitário, líder de uma família ou conselheiro do rei (Ez 7.26; Êx 19.7; Is 24.23; Jr 19.1). No Novo Testamento, os anciãos (Gr. presbyteros) eram os membros do Sinédrio e os líderes das Igrejas Cristãs em uma localidade. Mas, no tempo de Ezequiel, o Sinédrio ainda não existia.


Aqui, estes homens importantes de Judá estavam em uma sala secreta, oferecendo incenso a divindades pagãs. O fato de estarem com incensários, indica que eles agiam como sacerdotes. O incenso fazia parte do culto judaicom, no chamado Dia da Expiação (Lv 16.1-3, 13). Porém aqui estava sendo usado em outros rituais, numa espécie de sincretismo religiosos, misturando o culto a Deus com outros rituais pagãos. Estes anciãos haviam se desviado completamente, pois a sua fala demonstra que eles não criam mais que Deus poderia proteger Israel: “O Senhor não nos vê, o Senhor abandonou a terra”. (Ez 8.12). Infelizmente, em nossos dias, muitos líderes religiosos vivem dessa forma, sem crer mais em Deus e praticando o que não devem. Ou seja, mantém as aparências de obreiros, pois precisam da função para sobreviver, mas agem como se Deus não existisse. 


REFERÊNCIAS: 


SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022.Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pág. 42-45.

CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 3219.

Taylor. John B. Ezequiel. Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pág. 90-91.

ZUCK, Roy. (Ed). Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.401.


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Ev. Weliano Pires.

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