19 novembro 2025

O HOMEM, UM SER AFETIVO

(Comentário do 1º tópico da Lição 8: Emoções e sentimentos — A batalha do equilíbrio interior)

Ev. WELIANO PIRES

Neste primeiro tópico, veremos que o ser humano é essencialmente um ser afetivo. Inicialmente, abordaremos a importância do estudo da afetividade humana, considerando o crescente agravamento da saúde mental em todo o mundo, inclusive no Brasil. 


Apresentaremos, em seguida, as definições de afetividade, emoções e sentimentos. Embora estejam intimamente relacionados, emoções e sentimentos não são sinônimos. 


Também analisaremos os principais afetos da alma humana: alegria, medo, raiva, surpresa, nojo e tristeza, reconhecidos universalmente na literatura psicológica. 


Por fim, refletiremos sobre sentimentos negativos como inveja, ira e ódio, observados em Caim, o primeiro homicida (Gn 4).


1. Propósitos do estudo. Conforme exposto na introdução desta lição, o mundo contemporâneo encontra-se imerso em uma crise sem precedentes no âmbito da saúde mental. Clínicas de psicologia e psiquiatria têm recebido um número crescente de pessoas que enfrentam sérios distúrbios emocionais e afetivos. Os índices de surtos psicóticos e de suicídio são alarmantes em escala global, alcançando diferentes faixas etárias e distintos estratos sociais.

Tal realidade também se faz presente entre membros e até mesmo entre obreiros de nossas igrejas. Desse modo, torna-se inadequado adotar uma postura de “super crentes” que ignoram a existência do problema. Ao contrário, devemos reconhecer que, ao nosso redor — e até mesmo em nossos lares — convivemos com pessoas que sofrem de depressão, transtornos de ansiedade, diversas fobias, síndrome do pânico, entre outras condições. Não podemos repetir discursos equivocados que reduzem a depressão a uma influência demoníaca, a um ato de fraqueza ou preguiça, nem atribuir a ansiedade à falta de fé ou exigir que o indivíduo simplesmente “engula o choro”.

O objetivo deste estudo sobre a afetividade humana é proporcionar uma compreensão mais profunda não apenas acerca das emoções e sentimentos, mas também de seus propósitos e modos de manifestação. É imprescindível reconhecer que todos nós possuímos emoções e sentimentos, e que estes fazem parte do plano de Deus para a existência humana. Ter emoções e sentimentos não constitui pecado; contudo, é necessário saber administrá-los de maneira sábia e equilibrada, como será discutido ao longo desta lição.

2. Afetividade: emoções e sentimentos. Neste subtópico, o comentarista nos apresentou, de forma resumida, as definições de afetividade, emoções e sentimentos, bem como as diferenças entre emoções e sentimentos. Aqui, a definição apresentada para afetividade é: a capacidade humana de expressar as emoções e sentimentos. 


No livro de apoio, o autor esclarece que não há uma única definição para afetividade e o entendimento pode variar de acordo com a ciência que a aborda: Psicologia, Neurociência, Sociologia, Antropologia Científica, Filosofia, Pedagogia e Teologia. Cada uma destas ciências apresenta conceitos diferentes para a afetividade, embora com algumas semelhanças. 


No caso desta lição nos limitarmos ao conceito teológico de afetividade, que é a capacidade dada por Deus ao ser humano de ter emoções, reagir às situações e relacionar-se com Deus e com o próximo. A afetividade está relacionada à tricotomia humana e envolve o nosso espírito, alma e corpo. 


No Salmo 31.9, o salmista diz que a tristeza atingiu os seus olhos, a sua alma e o seu ventre: “...Consumidos estão de tristeza os meus olhos, a minha alma e o meu ventre”. Em João 13.21, o texto diz que Jesus “turbou-se em espírito e afirmou: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair”. Já em Lucas 1.47, Maria, disse em seu cântico: “o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Em outros textos bíblicos também é possível vermos os sentimentos e emoções se manifestarem no corpo das pessoas, mudando-lhe o semblante, tirando o sono ou levando-os à euforia.


a) Emoções. São reações imediatas do nosso organismo, desencadeadas por circunstâncias internas ou externas, que preparam o corpo para ações necessárias à sua proteção e sobrevivência. 


b) Sentimentos. São estados emocionais mais duradouros, que surgem a partir das emoções imediatas. Os sentimentos são as interpretações e avaliações que a nossa mente dá às nossas emoções.  


d) Diferença entre emoções e sentimentos. Apesar de estarem interligados e serem semelhantes, emoções e sentimentos são diferentes. A diferença está na duração, impacto e intensidade. As emoções são rápidas, automáticas, comum a todos os seres humanos e o seu impacto é maior no corpo. Os sentimentos, por sua vez, são duradouros, conscientes e variam de um indivíduo para outro.


3. Principais afetos. Os afetos são experiências emocionais que surgem a partir dos impactos que nos atingem e modificam nossa forma de agir. Segundo a classificação de Paul Ekman, no livro Linguagem das Emoções, os seis afetos básicos do ser humano são: alegria, tristeza, raiva, medo, nojo e surpresa. Esses afetos são considerados básicos por serem comuns a todas as culturas e por apresentarem expressões fisiológicas semelhantes.


No contexto bíblico, podemos perceber a manifestação desses afetos em várias ocasiões. Mesmo antes da Queda, vemos Adão expressar o afeto da alegria ao contemplar sua esposa pela primeira vez, chegando inclusive a declamar uma poesia:


“Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto, deixará o homem seu pai e sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne.”


Da mesma forma, ao contemplarem mutuamente sua nudez, manifestaram felicidade e cumplicidade, de modo prazeroso e puro:


“E ambos estavam nus, o homem e sua mulher; e não se envergonhavam.” (Gn 2.25)


Até então, não havia manifestações dos demais afetos, como tristeza, raiva, medo e nojo, pois, em seu estado de perfeição, o ser humano estava livre dessas coisas.


Com o advento do pecado, no entanto, o ser humano foi corrompido em todos os aspectos, tornando-se malicioso, frágil e mortal. Com isso, passou a experimentar afetos negativos, como vergonha, medo, tristeza, nojo e raiva. Diante de um perigo iminente, por exemplo, o cérebro humano libera um hormônio chamado adrenalina, que impulsiona o corpo a lutar ou fugir com força e rapidez incomuns.


4. Inveja, ira e ódio. Após a Queda, os sentimentos humanos passaram a manifestar-se de forma distorcida e pecaminosa. Um dos exemplos mais marcantes é o de Caim, filho de Adão e Eva, que permitiu que a inveja, a ira e o ódio dominassem seu coração contra o seu irmão Abel. Esses sentimentos sombrios cresceram dentro dele até levá-lo ao terrível ato de tirar a vida de seu próprio irmão — o primeiro assassinato da história humana. Depois disso, Caim ainda experimentou outros tormentos interiores, como a culpa e o medo, frutos amargos de um coração afastado de Deus.


É importante notar que esses afetos não foram reações instintivas ou mecanismos de defesa. Abel não havia ferido Caim, nem representava qualquer ameaça. A raiz do problema estava dentro do próprio Caim. O Novo Testamento revela que suas obras eram más e que ele se deixou influenciar pelo maligno, enquanto Abel era justo diante do Senhor (1 Jo 3.12).


O relato bíblico mostra que ambos apresentaram suas ofertas ao Senhor. Caim, como agricultor, trouxe das primícias da terra; Abel, como pastor, ofereceu um cordeiro. Deus atentou para Abel e para a sua oferta, mas rejeitou Caim e sua oferta. Ao invés de examinar seu coração e buscar arrependimento, Caim deixou que a inveja se transformasse em ódio mortal.


Esse episódio, tão conhecido, suscita muitas perguntas. Alguns especulam sobre com quem Caim teria se casado; outros imaginam que Deus rejeitou sua oferta por ser de vegetais. Contudo, a melhor regra para interpretar as Escrituras é lembrar que a própria Bíblia interpreta a Bíblia. Gênesis registra que Adão teve “filhos e filhas”, demonstrando que a humanidade se multiplicava e que os casamentos daquele período eram, naturalmente, consanguíneos. As Escrituras não narram todos os detalhes familiares porque seu objetivo é revelar o plano redentor de Deus, destacando apenas personagens essenciais, como Caim, Abel e Sete.


Também não há base bíblica para afirmar que Deus rejeitou Caim por causa do tipo de oferta. O Antigo Testamento apresenta várias ofertas de cereais que eram aceitáveis ao Senhor. A verdadeira questão não estava no sacrifício, mas no coração do ofertante. Deus rejeitou Caim porque suas obras eram más; e recebeu a oferta de Abel porque ele era justo diante de Deus.


A história de Caim e Abel é um poderoso lembrete para nós. Ela nos mostra que os sentimentos, quando não submetidos ao Senhor, podem se tornar instrumentos de destruição. Mas também nos ensina que Deus olha primeiro para o coração antes de olhar para qualquer oferta. Que possamos, à luz dessa lição, entregar ao Senhor não apenas nossos dons, mas nossa vida interior — pensamentos, emoções e atitudes — permitindo que Ele purifique nossos afetos e nos conduza no caminho da justiça.


REFERÊNCIAS:

EKMAN, Paul. A Linguagem das Emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011. Trad. Carlos szlak. 

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito: A restauração integral do ser humano para chegar à estatura completa de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

OLIVEIRA, Marcelo. Alcance um Futuro Feliz e Seguro. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2024, p.41


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