04 novembro 2025

ANTES E DEPOIS DA QUEDA

(Comentário do 1º tópico da Lição 6- A Consciência — O Tribunal Interior)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos da consciência antes e depois da Queda. Inicialmente, discorreremos sobre a primeira manifestação da consciência, que se deu logo após o primeiro casal desobedecer a ordem de Deus no Jardim do Éden. Na sequência, falaremos do direito natural, uma lei moral que há em cada ser humano, que lhe permite discernir o certo e o errado. Por fim, falaremos da lei escrita nos corações mencionada pelo apóstolo Paulo em Romanos 2.12-16. 

1. A primeira manifestação. O comentarista traz aqui uma definição da palavra consciência, considerando o termo grego syneidesis, usado pelo apóstolo Paulo no texto de Atos 24.16, que é o texto áureo desta lição:

“E, por isso, procuro sempre ter uma consciência [Gr. syneidesis] sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens.”


Esta palavra significa literalmente “saber com”. Refere-se a uma espécie de sensor que Deus inseriu na parte imaterial do ser humano, que o torna capaz de diferenciar o que é moralmente bom e mau, instigando-o a fazer o que é bom e acusando-o quando fizer o que é mau. 


O comentarista diz que a consciência é uma faculdade da alma, mas admite que não há consenso entre os teólogos sobre isso. De fato, teólogos assembleianos de grande envergadura, defendiam que a consciência é uma faculdade do espírito humano. O saudoso missionário Eurico Bergstén, um dos grandes nomes da teologia assembleiana, assim escreveu:


“…Uma das faculdades mais importantes do espírito do homem é a sua CONSCIÊNCIA, Rm.2:15,16, que é uma janela no homem, pela qual Deus olha para o interior dele. A consciência é um ‘espião’ de Deus que persegue o homem, quando ele peca, mas que lhe fala com uma voz elogiosa quando faz o bem…”


O saudoso pastor Antonio Gilberto também defendia esta posição: 


“…O espírito identifica o homem, a criação espiritual e dá-lhe a consciência de Deus. (…) Por meio dele o homem tem consciência de Deus.…”


Sobre a primeira manifestação da consciência na experiência humana, é importante esclarecer que o primeiro casal, Adão e Eva, viveram dois períodos completamente diferentes: antes e depois da Queda. Conforme já vimos em lições anteriores, eles foram criados perfeitos e puros. Mas, após pecarem contra Deus, a natureza deles foi corrompida. Isso inclui, evidentemente, a consciência. 


No Éden, o ser humano era inocente e puro. Deus deu-lhe a capacidade de discernir o que é certo e errado, quando os proibiu de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Após a Queda, porém, eles tiveram o sentimento de culpa, vergonha e medo. A partir daquele momento, passaram a ter também a inclinação para o mal e a consciência passou a funcionar como um tribunal dentro deles.


2. O direito natural.

Todo ser humano, mesmo aqueles que não conhecem a Deus, carrega dentro de si uma lei moral que lhe permite discernir o que é certo e o que é errado, mesmo sem conhecer os preceitos de Deus. O comentarista chamou essa lei de "direito natural", mas alguns teólogos preferem o termo "lei natural". Em sua "Suma Teológica", escrita entre 1265 e 1274, Tomás de Aquino afirmou que "a lei natural é a base racional da moralidade e da justiça, servindo como uma ponte entre a ordem divina do universo e as ações e normas humanas".

A primeira manifestação desse direito ou lei natural pode ser observada no caso de Caim, que assassinou seu irmão Abel. Não havia ainda um código penal que proibisse o assassinato ou outros crimes, mas a sua consciência o acusou quando foi indagado por Deus:
"Então disse Caim ao Senhor: 'É maior a minha maldade do que a que possa ser perdoada. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; serei fugitivo e vagabundo na terra, e será que todo aquele que me achar me matará.'" (Gn 4.13-14). Essa referência bíblica pode ser vista como uma manifestação inicial da consciência moral humana, antes mesmo da criação de um sistema jurídico formal.

Da mesma forma, todo ser humano, ao errar, é confrontado pela sua própria consciência. Muitos tentam se esconder ou transferir a culpa, mas o seu tribunal interior continuará a atormentá-lo. Diante das acusações da consciência, alguns criminosos acabam confessando os seus crimes, enquanto outros chegam até a cometer suicídio. Evidentemente, nem todas as consciências funcionam adequadamente, pois podem estar defeituosas. De acordo com Tomaz de Aquino, o funcionamento da consciência pode ser afetado pela ignorância, vícios ou até pela corrupção da razão, dificultando o discernimento moral.

3. Escrita no coração.

No texto de Romanos 2.12-16, o apóstolo Paulo menciona dois tipos de lei: a Lei Mosaica, dada a Israel, e a Lei Moral, escrita nos corações de todos os seres humanos. O apóstolo abordou a distinção entre os que têm a Lei Mosaica e os que não a têm, destacando a responsabilidade moral universal de todos os seres humanos diante de Deus. É com base nesta lei moral que a consciência humana age tanto para acusar quanto para defender.

Mesmo nas civilizações que não conhecem a Deus e a Sua Palavra, existe um senso de justiça que leva à criação de leis para punir aqueles que praticam o mal contra o próximo. Nas civilizações antigas, haviam leis criadas para estabelecer os direitos e deveres dos cidadãos e para punir as violações dessas leis. O mais conhecido desses códigos é o Código de Hamurabi (1792-1750 a.C.), que possui várias semelhanças com a Lei Mosaica.

Naturalmente, essas leis eram criadas com base no senso de moralidade presente nos corações dos seres humanos, embora houvesse muita maldade devido à corrupção da natureza humana. Apesar de imperfeitas e até injustas, as leis humanas são inspiradas no código moral que Deus colocou no interior do ser humano.

REFERÊNCIAS:
Teologia sistemática: Doutrina do Espírito Santo, do homem, do pecado e da salvação. 4. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1986, p.78.

Bíblia de Estudo com comentários de Antônio Gilberto. A triunidade do homem. RIO DE JANEIRO, CPAD,202, p.1922.

 AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de José F. de Almeida. São Paulo: Editora Loyola, 2002.

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