(Comentário do 2º tópico da Lição 07: Os pensamentos - a arena de batalha na vida cristã).
No segundo tópico, abordaremos a gestão dos pensamentos. Com base em Filipenses 4.8, veremos que pensar em coisas boas e virtuosas é um imperativo ético e espiritual: “...nisso pensai.”
Aprenderemos também que “pensar nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Cl 3.2) está muito além das técnicas humanas de gestão mental — trata-se de uma prática espiritual profunda.
Falaremos ainda sobre a leitura e meditação nas Escrituras como recursos espirituais eficazes para gerar bons pensamentos e fortalecer a mente.
Por fim, destacaremos a influência de fatores físicos, orgânicos e ambientais em nossa maneira de pensar, tomando como exemplo Jesus, que, embora estivesse frequentemente em meio às multidões e agitações de Jerusalém, também buscava momentos de retiro em Betânia, um lugar de descanso e comunhão.
1. Imperativo ético e espiritual. Neste subtópico, o comentarista faz uma exegese do texto de Filipenses 4.8, onde o apóstolo Paulo faz um apelo aos crentes de Filipos em relação à gestão de seus pensamentos:
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”.
A expressão grega to loipón, traduzida na versão Almeida Revista e Corrigida como “Quanto ao mais”, significa “portanto”, “finalmente” ou “por fim”, indicando uma conclusão sobre o que foi dito anteriormente. Paulo estava encerrando sua epístola e trazendo as últimas recomendações aos Filipenses. Antes disso, ele havia abordado as desavenças entre duas irmãs da igreja em Filipos, Síntique e Evódia, e pediu que elas resolvessem suas diferenças e trabalhassem juntas na obra do Senhor, até mesmo pedindo ajuda de seu cooperador.
Na sequência, o apóstolo aconselhou os irmãos a se alegrarem no Senhor, a serem amáveis uns com os outros, a não andarem ansiosos por coisa alguma, mas a apresentarem suas demandas ao Senhor em oração. E, se fizessem isso, disse Paulo, a paz de Cristo, que excede todo entendimento, guardaria os seus corações e mentes.
Dentro deste contexto, o apóstolo conclui suas recomendações apresentando uma lista de nove qualidades de pensamentos que devem ocupar a nossa mente. Cada uma dessas qualidades é precedida pelo pronome indefinido “tudo” (em grego, hōsos), que abrange a totalidade dessas virtudes.
a) Tudo o que é verdadeiro (alēthē): Deriva de Aletheia (verdade). Jesus disse que Ele é a Verdade (Jo 14.6) e que a Palavra de Deus também é a Verdade (Jo 17.17). Assim, o cristão deve ocupar sua mente apenas com o que é verdadeiro. A mentira é filha do diabo (Jo 8.44).
b) Tudo o que é honesto (semná): Refere-se ao que é respeitável e de caráter honroso.
c) Tudo o que é justo (dikaios): Refere-se ao que está conforme os padrões de justiça de Deus.
d) Tudo o que é puro (hagnos): Refere-se ao que é santo, imaculado e livre de corrupção moral.
e) Tudo o que é amável (prosphiles): Refere-se ao que é agradável, amável e gera afeição.
f) Tudo o que é de boa fama (euphemos): Refere-se ao que gera uma boa reputação e não é vergonhoso de se falar.
g) Tudo o que possui virtude (aretē): Refere-se ao que tem excelência moral, nobreza e virtudes.
h) Tudo o que é louvável (epainos): Refere-se ao que é digno de aprovação e louvor pela comunidade cristã. Não se refere à aprovação do mundo, pois este tem um padrão de moralidade corrompido pelo pecado.
O apóstolo Paulo fez um apelo aos Filipenses para que avaliassem seus pensamentos à luz dessa lista de qualificações morais. O verbo usado por ele – pensai (logizomai) – está no modo imperativo, o que indica uma ordem, pedido ou apelo. Quando algum pensamento surgir em nossa mente, devemos passá-lo por essa “peneira” de Filipenses 4.8. Se não se enquadrar em qualquer um desses requisitos, deve ser imediatamente rejeitado, pois é nocivo à nossa alma.
2. Acima da técnica.Atualmente, há uma infinidade de técnicas e estratégias para observar, influenciar, controlar e direcionar os pensamentos, de forma que estes se tornem mais saudáveis e produtivos. Essas técnicas, desenvolvidas pela mente humana, visam treinar o cérebro para gerir os pensamentos de maneira eficaz.
Embora possuam certa importância do ponto de vista psicológico, elas são limitadas quando se trata da gestão dos pensamentos do ponto de vista espiritual e emocional. A prova disso é o aumento do número de pessoas que buscam ajuda nas clínicas psicológicas, enquanto os problemas emocionais parecem se intensificar.
Em sua carta aos Colossenses, o apóstolo Paulo fez a seguinte recomendação aos crentes da Igreja de Colossos:
“Pensai nas coisas lá do alto, e não nas que são aqui da terra.” (Cl 3.2)
No versículo anterior, ele escreveu:
“Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.” (Cl 3.1)
Isso significa que, para ter uma mentalidade sadia, o cristão deve direcionar seus pensamentos para as coisas eternas, lembrando-se sempre de que somos peregrinos e forasteiros neste mundo. Esse foco nas coisas celestiais ajuda a evitar frustrações e a ansiedade em relação às coisas efêmeras. Já estamos mortos para este mundo, e nossa verdadeira vida está escondida em Deus.
3. Recursos espirituais.A forma mais eficiente de gerir nossos pensamentos é utilizar os recursos espirituais que a Palavra de Deus nos oferece, praticando as disciplinas da vida cristã. O primeiro e mais importante recurso espiritual para termos pensamentos saudáveis, sem dúvida, é a leitura e meditação na Palavra de Deus. O Salmo 1 nos mostra esta verdade:
“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” (Sl 1.1-2)
O Salmo 119, conhecido como o "Salmo da Palavra de Deus", é uma belíssima poesia acróstica que contém 22 estrofes. Cada estrofe possui 8 versos, e cada um começa com uma letra do alfabeto hebraico, seguindo uma ordem sequencial. Em cada verso, há uma referência à Palavra de Deus, usando palavras sinônimas como: Lei do Senhor, Testemunhos, Mandamentos, Estatutos, etc. No texto em português, essa beleza estrutural se perde, pois as sequências das letras acontecem apenas no texto hebraico.
Em todos os 176 versos deste Salmo, encontramos uma referência positiva à Palavra de Deus. Ela purifica os nossos caminhos (Sl 119.9), nos dá condições de não pecar contra Deus (Sl 119.11), alegra o coração de quem se lembra dela (Sl 119.16), vivifica os corações (Sl 119.25), fortalece a alma (Sl 119.28), traz salvação (Sl 119.41), produz piedade (Sl 119.58), consola o aflito (Sl 119.76), permanece para sempre no céu (Sl 119.89), é lâmpada e luz para o nosso caminho (Sl 119.105), nos sustenta (Sl 119.116), ordena os nossos passos (Sl 119.133), é muito pura (Sl 119.140), é a verdade desde o princípio (Sl 119.160) e nos dá entendimento (Sl 119.169), entre outras bênçãos.
Quem lê e medita constantemente na Palavra de Deus, naturalmente terá pensamentos verdadeiros, honestos, justos, santos, amáveis e louváveis, conforme vimos em Filipenses 4.8. Porém, não basta apenas ler a Palavra de Deus; é preciso entender o seu conteúdo e meditar nela, para que ela produza em nós a mente de Cristo. A única maneira de conhecermos a mente de Cristo é através da Bíblia (Jo 5.39). Quando estudamos a Palavra de Deus com oração e temor, somos transformados pela renovação da nossa mente (Rm 12.2).
Além da leitura e meditação na Palavra, existem outros recursos espirituais que nos ajudam a alinhar nossos pensamentos ao caráter de Deus, como a prática da oração e do jejum. Esses dois recursos nos aproximam de Deus e nos ajudam a ter pensamentos que refletem a Sua vontade.
Na oração, o crente abre seu coração diante de Deus, lançando sobre Ele suas petições, intercessões e agradecimentos, aguardando a resposta divina em tempo oportuno, conforme a soberana vontade de Deus. A oração é um meio poderoso de renovar nossa mente e nos alinharmos com a vontade de Deus.
O jejum, juntamente com a oração, é um ato de disciplina, autonegação e humilhação, demonstrando total dependência de Deus. Na Bíblia, o jejum é frequentemente associado à oração e está relacionado à confissão de pecados (Dt 9.18; Jn 3.5), bem como à lamentação por calamidades ou derrotas (Jz 20.26; Ne 1.4; Et 4.3). O jejum cristão é uma abstinência voluntária de alimentos por um período determinado, com o objetivo de aumentar o autocontrole, sujeitar o corpo ao espírito e dedicar-se às coisas espirituais.
4. Jerusalém e Betânia.Neste trecho, o comentarista nos chama a atenção para a influência dos fatores físicos, orgânicos e ambientais em nossa maneira de pensar. Ele usa o exemplo de Jesus, que, durante seu ministério terreno, viveu uma vida agitada, percorrendo cidades e aldeias, pregando o Evangelho, ensinando e curando os enfermos.
Além dessa rotina atribulada, Jesus ainda precisava fugir das multidões que queriam fazê-lo rei para libertar Israel do domínio romano, e, por outro lado, dos líderes religiosos que procuravam matá-lo. Onde as multidões sabiam que Ele estava, iam atrás com motivações diversas.
Alguns o procuravam em busca de milagres. Outros, queriam apenas ouvir os seus ensinamentos, que eram bem diferentes dos ensinamentos dos escribas e fariseus. Havia também os revolucionários, que viam em Jesus um líder para uma possível revolução contra Roma. Já os líderes religiosos, que eram hipócritas e avarentos, temiam perder suas posições no templo e tentavam apanhá-lo em alguma falha, a fim de condená-lo à morte.
No meio dessas agitações, o Senhor Jesus se retirava com seus discípulos para a aldeia de Betânia, onde era acolhido pela família de seus amigos queridos: Lázaro e suas irmãs Marta e Maria. Após o episódio da purificação do templo, quando Jesus expulsou os vendedores e cambistas, o texto de Mateus nos relata que Ele se retirou para Betânia: “E, deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ali passou a noite.” (Mt 21.17).
A aldeia de Betânia ficava a leste de Jerusalém, perto do Monte das Oliveiras. A distância entre Jerusalém e Betânia era de oito estádios (Jo. 11.18), o que equivale a aproximadamente três quilômetros. Em Betânia, Jesus encontrou, além de um lugar aconchegante e um pouco afastado das multidões, uma família de amigos que eram tementes a Deus e o amavam. Marta, Maria e Lázaro hospedaram Jesus em sua casa e desfrutavam de sua agradável companhia.
Com Jesus, aprendemos que devemos dedicar tempo para fazer a obra de Deus, mas também é necessário reservar momentos para descansar, incluindo o descanso da mente. Infelizmente, muitos cristãos se entregam ao ativismo religioso e buscam dedicar dia e noite aos trabalhos da Igreja. Como resultado, acabam não tendo tempo para trabalhar, para cuidar da família, para descansar ou para zelar pela saúde. O reflexo disso é o estresse, a destruição da família ou o viver de aparências, o adoecimento e, em casos mais graves, até a morte prematura.
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