25 setembro 2025

O DEBATE DOUTRINÁRIO

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 13: A assembleia de Jerusalém)

Ev. WELIANO PIRES 

No segundo tópico, falaremos dos detalhes deste primeiro debate doutrinário da Igreja de Jerusalém. Veremos a questão crucial a ser tratada neste debate, que era o relacionamento dos cristãos gentios com a Lei mosaica. Na sequência, abordaremos o argumento inicial de Pedro que foi a experiência do Pentecostes na fé dos gentios na casa de Cornélio. Por último, falaremos da argumentação de Tiago, o irmão de Jesus, sobre a aceitação dos gentios, que teve como base a profecia de Amós 9.11 e 12, que faz menção à restauração do tabernáculo de Davi e menciona a inclusão dos gentios. 

1. Uma questão crucial. A pauta desta assembleia de Jerusalém era: o papel da Lei Mosaica para os cristãos gentios, ou não judeus. Os judaizantes, como vimos no tópico anterior, saíram de Jerusalém, sem autorização dos apóstolos e foram a Antioquia ensinar que a Igreja deveria circuncidar os gentios e ordená-los a guardar a Lei de Moisés, como condição para a salvação. Em Antioquia, eles encontraram dois grandes apologistas de peso, que eram Paulo e Barnabé. Houve ali uma grande discussão e contenda por causa deste assunto (At 15.2). 

Ficou decidido, então, que o assunto deveria ser discutido na Igreja de Jerusalém com os apóstolos e os anciãos da Igreja. Paulo e Barnabé levaram consigo alguns cristãos gentios e subiram a Jerusalém, passando pela Fenícia e por Samaria, falando nas Igrejas das muitas conversões entre os gentios. Chegando a Jerusalém, foi-lhes dada a oportunidade para trazer o relatório das suas atividades na obra missionária, conforme vimos no tópico anterior. 

Novamente, os judaizantes se levantaram na assembleia e apresentaram a mesma questão que já havia gerado contenda deste grupo contra Paulo e Barnabé em Antioquia. Naturalmente, veio a réplica de Paulo e Barnabé contra essas imposições legalistas. De novo, a discussão foi acalorada e gerou grande contenda na assembleia. O clima ficou tenso para Paulo e Barnabé, mas eles não cederam, pois sabiam que o futuro da fé cristã estava em jogo. Se eles cedessem, o Cristianismo seria reduzido a mais uma seita judaica.

2. A experiência do Pentecostes na fé dos gentios. Em meio àquela discussão acalorada, Pedro se levantou para dar o seu parecer. Em sua argumentação, Pedro lembrou que Deus o havia escolhido anteriormente para que os gentios ouvissem o Evangelho através dele, referindo-se ao ocorrido na casa do centurião Cornélio. Em seguida, Pedro lembrou-lhes de que Deus conhece os corações e deu testemunho aos gentios, concedendo-lhes o Espírito Santo, da mesma forma que havia feito em Jerusalém no dia de Pentecostes.

Pedro já havia sido exposto a este mesmo questionamento, depois que pregou aos gentios na casa de Cornélio. Os cristãos de Jerusalém, que em sua grande maioria eram judeus, não perguntaram a Pedro naquela ocasião se houve conversões de almas e batismo no Espírito Santo. A preocupação deles foi o fato de Pedro se misturar aos gentios: “Entraste em casa de homens incircuncisos, e comeste com eles”. (At 11.3). 

Em sua defesa, Pedro contou tudo o que acontecera, desde a visão que ele teve em Jope, onde ele viu algo semelhante a grande um lençol, descendo do céu com várias espécies de animais considerados imundos pela Lei. Uma voz vinda do Céu ordenou-lhe por três vezes que ele os matasse e comesse. Pedro relutou, dizendo que nunca havia comido nada comum ou imundo. A voz insistiu para que ele não considerasse comum ou imundo àquilo que Deus purificou. 

Na sequência, Pedro contou que no mesmo instante chegaram os emissários de Cornélio e o Espírito Santo ordenou que fosse com eles, sem duvidar. Finalmente, Pedro contou aos irmãos que foi à casa de Cornélio e, quando ele começou a pregar, o Espírito Santo desceu sobre os seus ouvintes e eles falaram em línguas e exaltaram a Deus, exatamente como acontecera no Pentecostes. 

Depois de expor tudo o que aconteceu, Pedro lançou sobre eles a indagação: “se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era, então, eu, para que pudesse resistir a Deus?” (At 11.17). Naquele momento, os cristãos de origem judaica se conformaram e glorificaram a Deus por ter concedido também aos gentios o arrependimento para a vida eterna. 

Apesar de terem apaziguado os corações naquele momento, muitos judeus permaneciam presos aos ditames da lei e não se conformavam com a salvação pela graça, mediante a fé e exigiam a prática da lei como complemento. Agora, na assembleia da Igreja de Jerusalém, repreendeu aos judaizantes, apresentando uma declaração de fé: “...Por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também". (At 15.9-11).

3. A fundamentação profética da fé gentílica. Depois da argumentação de Pedro, que foi baseada na experiência pentecostal dos gentios, a palavra final sobre este assunto coube a Tiago, que presidiu esta assembleia. Este Tiago não era o apóstolo, filho de Zebedeu e irmão de João, pois este já havia sido morto por ordem de Herodes Agripa I. Também não era o outro apóstolo Tiago, filho de Alfeu, chamado também de Tiago, o menor. 

Este Tiago que aparece aqui era filho de Maria e José e meio irmão de Jesus. Tiago e Judas, irmãos de Jesus, se converteram após a ressurreição de Jesus e se tornaram importantes líderes da Igreja Primitiva, escrevendo inclusive, as Epístolas que levam os seus nomes. Tiago tornou-se líder da Igreja de Jerusalém e foi mencionado por Paulo como sendo uma das colunas da Igreja, ao lado de Pedro e João (Gl 2.9). 

Tiago apresentou o seu veredicto, fundamentado nas Escrituras judaicas e disse que a salvação dos gentios tem amparo nas palavras dos profetas do Antigo Testamento. Como fundamento escriturístico, Tiago citou a profecia de Amós 9.11 e 12, que diz: “Naquele dia tornarei a levantar o tabernáculo caído de Davi, e repararei as suas brechas, e tornarei a levantar as suas ruínas, e o edificarei como nos dias da antiguidade; Para que possuam o restante de Edom, e todos os gentios que são chamados pelo meu nome, diz o SENHOR, que faz essas coisas”.

Pedro apelou para a experiência pentecostal dos gentios. Tiago, por sua vez, usou as Escrituras como fundamento para dar o seu parecer. Evidentemente, não podemos estabelecer doutrinas na Igreja com base na experiência e esta não pode ser equiparada às Escrituras como fazem algumas seitas. Entretanto, naqueles dias, o Novo Testamento ainda não havia sido escrito e os apóstolos tinham a autoridade outorgada por Jesus para lançar os fundamentos doutrinários da Igreja. Nesse caso, a experiência confirmava aquilo que as profecias já diziam. 

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