(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 11: Uma Igreja hebréia na casa de um gentio).
Ev. WELIANO PIRES
No primeiro tópico, falaremos da revelação de Deus aos gentios. Inicialmente, falaremos da visão que Cornélio teve, na qual foi instruído por um anjo para que mandasse chamar a Pedro. Na sequência, falaremos da experiência espiritual que Pedro teve, onde Deus lhe mostrou vários animais considerados imundos pela lei e mandou que ele os comesse. Deus insistiu por três vezes e disse a Pedro para não considerar imundo àquilo que Deus purificou. Por último, falaremos da urgência da pregação do Evangelho. Não é porque Deus enviou um anjo para falar com Cornélio que a Igreja vai deixar de pregar e esperar que Deus envie anjos.
1. A visão de Cornélio. Cornélio era um centurião, ou um comandante de um pelotão de cem soldados romanos. Este centurião era um homem gentio, ou seja, não judeu, que vivia na cidade de Cesareia Marítima, localizada a cerca de 100 quilômetros de Jerusalém e a 48 quilômetros de Jope, onde Pedro estava hospedado naquela ocasião. Apesar de não ser judeu de nascimento, nem mesmo prosélito (convertido ao Judaísmo), Cornélio era um homem temente a Deus, justo, que dava esmolas aos pobres e orava continuamente a Deus.
Havia outra cidade chamada Cesaréia de Filipe, que ficava no Norte da Judéia, onde Jesus perguntou aos seus discípulos: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? (Mt 16.13). A Cesaréia onde Cornélio vivia era uma cidade costeira do Mar Mediterrâneo, era a capital da província romana da Judeia. A capital religiosa da Judéia era Jerusalém, mas a capital administrativa do governo romano era Cesaréia Marítima, onde ficavam as residências dos procuradores romanos Pôncio Pilatos e Herodes.
Não há nenhum registro ou mesmo indício de que Cornélio tenha ouvido falar de Cristo e do Evangelho antes disso. Mas como ele era temente a Deus e o buscava em oração, Deus se manifestou a ele através de um anjo. Cornélio estava orando em sua casa, às três da tarde, quando apareceu-lhe um anjo de Deus e o chamou pelo nome: Cornélio! Atemorizado e sem saber quem era, Cornélio respondeu: Que é, Senhor?
O anjo, então, disse a Cornélio que as suas orações e esmolas haviam subido para memória diante de Deus. Mas, ele deveria enviar emissários a Jope e procurar na casa de Simão, o curtidor, um homem chamado Simão, conhecido como Pedro, e este lhe diria o que ele deveria fazer. Imediatamente, Cornélio chamou dois criados da sua confiança e um soldado piedoso, contou-lhes a visão e os enviou a Jope, para que chamassem a Pedro.
Com esta visão de Cornélio podemos aprender pelo menos três lições importantes:
a) É do interesse de Deus se revelar àqueles que têm sede de Deus e não o conhecem, independente da etnia ou cultura;
b) Boas obras não salvam ninguém, pois a salvação é fruto da graça de Deus, obtida pela fé em Cristo (Ef 2.8-10). Cornélio era um homem temente a Deus e que praticava boas obras, mas precisava conhecer a Jesus para ser salvo;
c) Deus pode enviar enviar anjo para falar com alguém, mas os anjos não pregarão o Evangelho. Esta missão foi dada por Jesus à Igreja e não aos anjos.
2. A experiência espiritual de Pedro. Deus preparou tudo para a salvação do centurião Cornélio. Por um lado, conforme vimos acima, Deus trabalhou na casa de Cornélio, enviando-lhe um anjo para dar-lhe as instruções e mandar buscar Pedro. O anjo forneceu o nome, o sobrenome e o endereço de Pedro a Cornélio. Por outro lado, o mesmo Deus mostrou uma visão ao apóstolo Pedro, principal líder da Igreja de Jerusalém, a fim de prepará-lo para o encontro com um gentio.
No dia seguinte à visão que Cornélio teve, estando os seus emissários já perto da cidade de Jope, onde Pedro se encontrava, sem saber da visão e sem ao menos conhecer Cornélio, Pedro subiu ao terraço da casa para orar, por volta do meio-dia. Enquanto preparavam a comida, ele teve fome e quis comer (At 10.9). De repente, ele teve uma visão, na qual viu o céu aberto e lhe apareceu um vaso como se fosse um grande lençol amarrado nas quatro pontas e dentro deste, vários tipos de animais: quadrúpedes, répteis e aves (At 10.10-12).
Enquanto ele olhava para aqueles animais, ouviu uma voz do Céu que lhe ordenava que matasse e comesse aqueles animais. Sabendo que aquelas espécies de animais eram consideradas imundas na lei e que os judeus não poderiam comê-los, Pedro disse: “De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi nada comum e imundo”. A voz lhe retrucou dizendo: Não faças tu comum ao que Deus purificou. (At 10.13-15). Isto se repetiu por três vezes e, finalmente, o vaso foi recolhido ao céu (At 10.16).
Pedro ficou pensativo sobre o significado daquela visão, pois o Senhor não lhe explicou. Enquanto isso, ele ouviu os criados de Cornélio chamarem à porta, perguntando se ali morava um homem chamado Simão, conhecido como Pedro. No mesmo instante, o Espírito Santo falou ao seu coração para que fosse com eles, sem duvidar, pois Deus os havia enviado.
Deus sabia perfeitamente das convicções e do preconceito que estava entranhado em Pedro, em relação aos gentios. Por isso, deu-lhe esta visão, para que ele entendesse que esta barreira havia sido quebrada e que a porta da graça estava aberta também aos gentios e não apenas aos judeus.
Deu trabalho para Pedro se desvencilhar desse preconceito. Mesmo após ter esta visão, ao chegar na casa de Cornélio, Pedro começou o seu discurso dizendo: “Vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros…”. At 10.28). Anos mais tarde, ele foi repreendido por Paulo em Antioquia, porque ele se afastara dos gentios, para não constranger os judeus, em vez de repreender os judeus que faziam esta separação (Gl 2.11-15).
3. A urgência da pregação do Evangelho. Neste ponto, o comentarista chama a nossa atenção para a urgência da pregação do Evangelho. Deus pode revelar o seu plano de salvação a alguém de forma excepcional, seja através de um anjo ou de uma visão. Na atualidade, há testemunhos de ex-muçulmanos, que buscavam a Deus com sinceridade, mas em seus países não era permitido pregar o Evangelho e Deus se revelou a eles por meio de anjos. Entretanto, isso não exclui a responsabilidade da Igreja de pregar o Evangelho a toda criatura (Mc 16.15).
A pregação do Evangelho consiste em duas notícias, uma má e outra boa. A má notícia é que todos os seres humanos estão corrompidos pelo pecado e não podem, por si mesmos, fazer nada para mudar este quadro. A boa notícia, é que Deus, sendo riquíssimo em misericórdia, enviou o Seu Filho Jesus, como Cordeiro imaculado, para sacrificar-se pelos nossos pecados e, somente através dele podemos ser salvos (Lc 19.10; Jo 1.29; 1 Tm 1.15). Aqueles que não crerem em Jesus, inevitavelmente, serão condenados (Mc 16.16).
A Igreja tem a obrigação de pregar a mensagem de Cristo ao mundo, quer aceitem, quer rejeitem. Não é papel da Igreja convencer as pessoas a receberem a Cristo. Este papel é do Espírito Santo. A nossa obrigação é pregar o Evangelho no poder do Espírito, com confiança no Senhor e fidelidade naquilo que pregamos. Não podemos modificar o conteúdo do Evangelho para atrair as pessoas. A fidelidade na pregação consiste em pregar a Palavra de Deus, exatamente como ela é, sem diminuir, acrescentar ou falsificar.
Infelizmente, na atualidade, muitos pregadores pregam "outros evangelhos" e não o Evangelho de Cristo. Pregam-se atualmente o evangelho da prosperidade, o evangelho judaizante, o evangelho dos usos e costumes, o evangelho social, etc. Escrevendo aos Gálatas, o apóstolo Paulo disse que ainda que um anjo, ou um dos apóstolos anunciassem "outro evangelho", diferente do que ele havia anunciado, deveria ser considerado anátema ou maldito (Gl 1.9).
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