(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 13: A assembleia de Jerusalém)
Ev. WELIANO PIRES
No terceiro tópico, falaremos da decisão da assembleia de Jerusalém. Inicialmente, falaremos do papel do Espírito Santo nesta assembleia, com base nas palavras da carta enviada pelos apóstolos e anciãos de Jerusalém, aos líderes das Igrejas gentílicas: “[...] pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”. Na sequência, falaremos da forma de orientação do Espírito Santo nesta assembleia. Por fim, trataremos do parecer final aprovado pela assembleia de Jerusalém sobre esta questão doutrinária, envolvendo o legalismo judaizante.
1. O Espírito na assembleia. No documento enviado pelos apóstolos e presbíteros da Igreja de Jerusalém à Igreja de Antioquia, eles deixaram claro que aquela decisão não era uma decisão apenas deles, mas era algo dirigido pelo Espírito Santo: “[...] pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (At 15.28). Isso nos mostra o protagonismo do Espírito Santo nesta assembleia. Aquela era uma Igreja cheia do Espírito Santo, conforme já vimos em lições anteriores, que vivia em constante oração e tomava decisões sob a orientação do Espírito Santo.
O comentarista traça um paralelo entre este texto de Atos 15.28, com Atos 5.32, onde o Espírito Santo é invocado como testemunha na resposta de Pedro às autoridades religiosas: “E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem”. O Espírito Santo é uma Pessoa divina e foi dado à Igreja para permanecer com ela, dando continuidade ao ministério de Jesus. Como Deus, o Espírito Santo conhece todos os mistérios, tem todo poder e está presente em todos os lugares ao mesmo tempo. A sua liderança, portanto, é indispensável.
Lamentavelmente, em muitas convenções e reuniões de obreiros, não se dá espaço para a liderança do Espírito Santo. Em muitas delas, o estatuto e os interesses humanos falam mais alto. Estão mais preocupados com as benesses do poder terreno, mesmo que seja na esfera religiosa. O resultado disso é trágico: obreiros discutindo entre si de forma desrespeitosa, trocas de acusações, comportamentos inescrupulosos semelhantes aos de políticos corruptos, disputas judiciais, etc. Que Deus nos guarde destas coisas e nos dê discernimento espiritual.
2. A orientação do Espírito na assembleia. Como o Espírito Santo fez esta orientação à Igreja? Não temos informações no texto de Atos 15, sobre a forma usada pelo Espírito Santo para falar com a Igreja e dar o seu parecer. Pode ter sido através de revelação aos apóstolos, ou através de profecias, como aconteceu na Igreja de Antioquia, quando Espírito Santo ordenou que a Igreja separasse Barnabé e Saulo para a obra missionária. O comentarista chama a atenção aqui, para o fato de que Judas e Silas, enviados da Igreja de Jerusalém a Antioquia, eram profetas. Isso nos dá um indício de que o Espírito Santo pode ter usado estes profetas para falar com a Igreja.
Em todo o Livro de Atos dos Apóstolos, após a ascensão de Jesus aos céus, podemos ver a direção do Espírito Santo nas atividades da Igreja. Acertadamente, alguns sugerem que o Livro de Atos dos Apóstolos deveria se chamar "Atos do Espírito Santo", pois, os atos que vemos neste livro são, na verdade, do Espírito Santo e não dos Apóstolos. Após o revestimento de poder, os discípulos que outrora eram tímidos e cheios de dúvidas, agora pregavam ousadamente a Palavra de Deus e realizavam milagres, sem nada temer.
No Livro de Atos dos Apóstolos, o Espírito Santo aparece sempre como protagonista, ou seja, Ele conduzia a missão da Igreja. Os discípulos eram apenas os coadjuvantes, que buscavam a Deus em oração e se submetiam à orientação do Espírito Santo, em tudo o que faziam. Vemos o Espírito Santo chamando pessoas para a obra missionária (At 13.1-3), guiando missionário para falar com uma pessoa (At 8.29), proibindo missionário de ir a uma cidade (At 16.7), etc. Como bem colocou o comentarista, a direção do Espírito Santo era o padrão na Igreja de Jerusalém e deve ser o nosso também. Sem a atuação do Espírito Santo uma igreja se torna uma mera organização religiosa humana, incapaz de transformar vidas e resolver o problema do pecado.
3. O parecer final da assembleia. A decisão final da assembleia de Jerusalém foi a seguinte: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes”. (Atos 15:28,29). Esta decisão rejeitou a tese dos judaizantes, de que seria necessário a circuncisão dos crentes gentios e a obrigatoriedade da guarda dos preceitos da lei, como condição para a Salvação. Por outro lado, foram feitas algumas concessões aos cristãos judeus, para não escandalizar os crentes de origem judaica.
Três questões se referem à alimentação e apenas uma está relacionada às questões morais. A abstinência de alimentos sacrificados aos ídolos era uma prática comum entre os gentios, que consagravam os seus alimentos aos deuses. Em outros textos o apóstolo Paulo falou sobre isso em suas epístolas aos Romanos e aos Coríntios (Rm 14 e 1Co 8). Entretanto, o apóstolo deixou claro que “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. (Rm 14.17). Segundo a orientação paulina, se alguém nos informar que o alimento foi consagrado aos ídolos, não devemos comer. Mas devemos “comer de tudo o que vende no açougue, sem nada perguntar”. (1Co 10.25).
Na parte de comer sangue e comer carne sufocada (sem retirar o sangue), esta proibição vinha desde o tempo de Noé, antes da Lei mosaica. Após o Dilúvio, Deus permitiu o consumo de carne, mas proibiu comê-la com o sangue (Gn 9.3,4). Esta proibição foi absorvida pela lei (Lv 17.10,11). Comer sangue e carne sufocada era uma prática punida com a morte. Segundo a orientação de Deus aos israelitas, o sangue representava a vida do animal e, portanto, não deveria ser consumido. As Testemunhas de Jeová se baseiam neste texto de Atos 15.29, para proibir a transfusão de sangue. Mas isso é uma interpretação forçada, pois quem recebe sangue não está comendo sangue e naquela época não existia isso.
A última proibição, traduzida na versão Almeida Revista e Corrigida por “fornicação” (Gr. porneia), refere-se a qualquer prática sexual condenada pela Palavra de Deus. No contexto evangélico atual fornicação é apenas a prática sexual entre pessoas solteiras. Mas o termo grego porneia é uma palavra genérica que engloba todos os pecados sexuais: adultério, homossexualidade, incesto, zoofilia, etc. Entre os judeus não havia dúvidas quanto a isso, mas, entre os gentios, algumas destas práticas eram culturais, como ver na primeira Epístola aos Coríntios. Os cristãos gentios não poderiam continuar nestas práticas.
O que fica evidente nesta decisão final é a sabedoria concedida aos líderes da Igreja pelo Espírito Santo, para preservar a unidade da fé, sem comprometer a doutrina bíblica. Ao longo da história da Igreja sempre houve conflitos entre os conservadores e os liberais nas questões de usos e costumes. Eu fui criado em um contexto absolutamente radical, onde tudo era pecado. Deu trabalho para eu me livrar dessas amarras. Em muitos estados brasileiros, a Assembléia de Deus ainda adota muitas proibições sem nenhum fundamento bíblico. Precisamos ter equilíbrio nesse sentido.
Agostinho, bispo de Hipona, um dos maiores teólogos da igreja antiga, disse certa vez: ‘Ame a Deus e faça o que quiser’. Parece uma afirmação libertina, como se a pessoa pudesse continuar pecando. Entretanto, quem ama a Deus de verdade, não vai desagradá-lo, desobedecendo à sua Palavra. Antes de qualquer proibição, precisamos nos perguntar: A Bíblia realmente proíbe esta prática, ou é apenas um preceito humano? Por outro lado, antes de dizer que algo é permitido ao cristão, devemos também nos perguntar se isto não fere os princípios bíblicos. Não podemos também abusar da liberdade cristã e escandalizar outros irmãos que são fracos na fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário