05 março 2024

A NATUREZA DA CEIA DO SENHOR NA TRADIÇÃO CRISTÃ

(Comentário do 1º tópico da Lição 10: A Ceia do Senhor, a segunda ordenança da Igreja). 

Ev. WELIANO PIRES 


No primeiro tópico, falaremos da da Ceia do Senhor na tradição cristã. Inicialmente, falaremos da tradição da Igreja Católica que ensina a doutrina da transubstanciação. Depois falaremos da posição protestante ou luterana, que ensina a doutrina da consubstanciação. Por último veremos a posição dos pentecostais, que entendem que Jesus não está presente fisicamente nos elementos da Ceia

Ela é apenas um memorial e os elementos da Ceia são símbolos do Corpo e do Sangue de Cristo.


1. Na tradição romana. A Igreja Católica interpreta literalmente as palavras de Jesus, quando Ele disse aos seus discípulos: “Isto é o corpo”, referindo-se ao pão, e “este cálice é o meu sangue” referindo-se ao vinho (Mt 27.26-28). Com este entendimento, dizem que a hóstia se transforma literalmente no corpo de Cristo e o vinho se transforma no sangue de Cristo. Esta doutrina é chamada de Transubstanciação. 

Na tradição católica, a  Ceia do Senhor seria uma repetição do sacrifício de Cristo. Isso, no entanto, contraria a Bíblia que Cristo ofereceu-se uma única vez (Hb 9.24-26). Por outro lado, a doutrina da transubstanciação cria problemas de interpretação bíblica, pois Jesus também usou várias metáforas como a porta, a videira, a luz, o caminho e outros para se referir a Si mesmo. Não podemos interpretar isso literalmente e dizer que Jesus é estas coisas literalmente. Ele se comparou a estas coisas para explicar sobre a sua pessoa e missão, usando as características delas. 

A transubstanciação contraria também a lógica. Como bem explicou o comentarista, Jesus celebrou a primeira Ceia, estando presente fisicamente com os seus discípulos. Logo, os elementos da Ceia não poderiam se transformar em no Corpo e no Sangue do Senhor, pois Ele estava lá. Por outro lado, quando os católicos comem a hóstia e ela se dissolve na boca, eles sentem o gosto de farinha de trigo, não de carne humana. Da mesma forma, o padre ao ingerir o vinho, sente gosto de uva, não de sangue.

2. Na tradição protestante. Do lado protestante também, Martinho Lutero, o grande reformador, embora tenha rompido com a Igreja Romana, por causa de muitas doutrinas e práticas antibíblicas, ele não conseguiu abandonar completamente a tradição católica. Com relação à Ceia do Senhor, Lutero negava a transubstanciação, mas fez um remendo neste ensino. 

Lutero dizia que apesar dos elementos da Ceia não se transformarem no Corpo e no Sangue de Cristo, Ele estava presente no pão e no vinho, de forma sobrenatural e, ao ingeri-Los, o crente ingere também o Corpo e o Sangue do Senhor. Esta doutrina é chamada de consubstanciação. Os luteranos negam que defendem a consubstanciação, mas o fato de dizerem que ao ingerir o pão e o vinho, estão ingerindo também o corpo e o sangue de Cristo unido a eles, estão confirmando a consubstanciação. 

João Calvino discordou da consubstanciação luterana, mas defendeu que Cristo está presente espiritualmente nos elementos da Ceia e, portanto, ele considerava a  Ceia do Senhor como um sacramento, que transmite graça aos participantes. Os presbiterianos e outras igrejas reformadas seguem esta posição. 

3. A posição pentecostal. O reformador Ulrico Zwinglio discordava de Lutero e de Calvino, e cria que os elementos da Ceia do Senhor são apenas símbolos do Corpo e do Sangue de Jesus. Zwinglio cria também que a celebração da Ceia do Senhor é uma ordenança do Senhor Jesus, em memória dele e Cristo não está presente nos elementos da Ceia, física ou espiritualmente. Entretanto, como Jesus é onipresente e a Celebração da Ceia é feita em Seu Nome, Ele está presente na celebração, pois Ele disse que “Onde estiverem dois ou três reunidos em Seu Nome, Ele se faz presente”. (Mt 18.20).

Esta posição defendida por Zwinglio é seguida pelas Igrejas Batistas e pelos pentecostais clássicos como a Assembléia de Deus. Entretanto, por desconhecerem o assunto, na prática, muitos pastores pentecostais acabam se comportando como se a Ceia fosse um sacramento que transmite graça aos participantes. 

Começa por chamarem de “Santa Ceia”. A Bíblia não se refere à Ceia em lugar algum como “Santa Ceia”, mas como “Ceia do Senhor” e “Mesa do Senhor”. Esta tradição traz a ideia de que os elementos da Ceia são sagrados e até milagrosos. Na Nova Aliança não existem objetos ou lugares santos. Quem é santo são as pessoas que receberam a Cristo como Salvador e são santificadas pelo Espírito Santo. 

Há ainda a mistificação da Ceia do Senhor. Muitos pastores quando oram pedem a Deus que aquele que tocar no pão e no vinho seja curado de qualquer enfermidade. Ora, isso não tem nenhum fundamento bíblico. Quem faz isso está considerando os elementos da Ceia como milagrosos e se torna uma espécie de idolatria, semelhante ao que fazem os católicos com a hóstia, chegando a adorá-la. 

Muitos pentecostais também atribuem à Ceia um significado muito além de um memorial, embora na teoria digam que a consideram uma ordenança em memória de Cristo. Estas pessoas consideram o momento da Ceia e até a semana da Ceia como algo sobrenatural, diferente de outros cultos. É claro que devemos andar em santidade e ter reverência no momento da Ceia do Senhor, como devemos ter em outros cultos também. 

Eu conheço pessoas que na semana da Ceia são mais “santos” do que em outras semanas. Fazem jejuns todos os dias, se relacionam com a esposa e se abstém de muitas coisas. Quem faz isso não está considerando a Ceia do Senhor como um memorial e sim como um ato místico e poderoso, como se fosse encontrar-se com Deus face a face. 

REFERÊNCIAS:
GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.
ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, Nº 96, pág. 41, 1º Trimestre de 2024.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, pp.573, 574, 577).
SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

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