28 abril 2023

MOISÉS: UM HOMEM MANSO E HUMILDE

(Comentário do 3º tópico da Lição 05: Motim em família). 

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, falaremos da mansidão e humildade de Moisés. O texto de Números 12.3 afirma que "Moisés era o homem mais manso que havia sobre a terra", por isso não revidou aos ataques injustos dos seus irmãos contra ele. Falaremos também do fardo que é uma liderança do povo de Deus. Moisés sofreu muitas murmurações e rebeldia do povo de Israel. Ele chegou a desabafar com Deus, achando pesado o seu cargo (Nm 11.11-15). Por último, falaremos da punição de Deus contra Miriã e Arão. Deus se manifestou do meio da nuvem e deixou claro que Ele escolhera Moisés e que falava com ele de forma diferenciada. Imediatamente, Miriã ficou leprosa e teve que ser retirada do meio da congregação. Não sabemos porque Deus não puniu Arão da mesma forma. Segundo o comentário de John Wesley, “Miriã foi punida e Arão não, porque ela foi a chefe da transgressão ou porque Deus não teria sua adoração interrompida ou desonrada, o que deveria ter acontecido se Arão tivesse sido leproso.”


1. O mais manso que havia na Terra. Vimos no tópico anterior, os ataques dos irmãos de Moisés contra ele, movidos pela inveja, que é uma obra da natureza carnal. Neste tópico temos a reação de Moisés, que é totalmente o oposto. No texto de Números 12.3 lemos: “E era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia na terra”. A palavra chave neste versículo é “manso”, que é a característica daquele que é brando, pacífico e possui moderação nas ações. É o oposto de ser rude, agressivo e descontrolado. Diferente do que acusavam os seus irmãos, Moisés era um líder manso e humilde. Conforme vimos no primeiro tópico, ele foi alvo de murmurações agressivas e injustas, muitas vezes vindas do povo de Israel. Entretanto, além de não reagir da mesma forma, ele intercedia pelos agressores. Agora, os seus próprios irmãos se levantaram contra ele, por causa do seu casamento e o acusaram de ser um líder autoritário. De novo, Moisés não retrucou e deixou que Deus respondesse por ele. 


Há algumas controvérsias em relação ao texto bíblico de Números 12.3. Alguns intérpretes dizem que ele foi inserido posteriormente por Josué, pois, não faria sentido, o próprio Moisés que escreveu o Livro de Números, fazer um elogio desse tipo a si mesmo. Se o fizesse, estaria contrariando a própria humildade. Outros intérpretes dizem que a palavra hebraica ‘anaw’, traduzida por manso, tem a sua raiz no termo hebraico ‘ana’, que significa “forçar à submissão”,  ou “diminuir”. Segundo estes intérpretes, a  melhor tradução seria “humilde”. A Nova Versão Transformadora (NVT) traduz esta palavra por “humilde”. A Nova Versão Internacional (NVI), por sua vez, traduz por “muito paciente”. Há ainda os que pensam que a palavra ‘anaw’, neste texto teria o sentido de “diminuído” ou “deprimido”. Sendo assim, dizem que a tradução correta seria: “Agora este homem Moisés estava deprimido ou aflito mais do que qualquer homem da terra.” 


Independente da tradução e interpretação utilizada neste texto, a história de Moisés como líder do povo de Israel comprova que ele era, realmente, um líder manso e humilde. Nem sempre foi assim, é claro. Quando ele estava no Egito, antes de fugir para Midiã, viu um egípcio agredindo a um dos seus irmãos e a sua reação foi matá-lo. Mas, ao longo dos anos, Deus foi trabalhando em seu temperamento e ele se tornou manso e humilde. Moisés nunca se vangloriou de ser o principal líder de Israel, nem tampouco de falar com Deus cara a cara , de ver a Sua Glória, ou dos muitos milagres que Deus realizou através dele. Isso demonstra a sua humildade. Por outro lado, podemos ver a sua mansidão, nas suas reações brandas, diante das murmurações e agressões, colocando tudo diante de Deus. 


2. O fardo de uma liderança. Depois de ver as murmurações do povo e choro deles pedindo carne, Moisés agiu com mansidão e não lhes retrucou. Entretanto, ele sentiu cansaço pelo peso de liderar aquela multidão, foi reclamar com o Senhor, com as seguintes perguntas: "Por que fizeste mal a teu servo, [...]  que puseste sobre mim o cargo de todo este povo? Concebi eu porventura todo este povo? [...] De onde teria eu carne para dar a todo este povo?". (Nm 11.11-15). Não era fácil para Moisés, liderar todo aquele povo murmurador e rebelde. A soma dos que saíram do Egito, contando só os homens em condições de ir para a guerra, era de 600 mil. Se contarmos as mulheres, idosos e crianças, passaria facilmente dos três milhões. 


Moisés estava esgotado física e emocionalmente e não era para menos. Lá atrás, no início da jornada, Moisés iniciava o dia, com uma fila enorme de pessoas para ele atender sozinho e julgar as demandas, desde a manhã até à tarde. Jetro, sogro de Moisés, viu aquilo e disse a Moisés: "Não é bom o que tu fazes; totalmente desfalecerás, tu e este povo." Em seguida, sugeriu a Moisés que escolhesse homens capazes e tementes a Deus, para o auxiliarem na liderança e Moisés resolveria somente as causas mais difíceis. Moisés seguiu a recomendação do sogro. (Ex 18..13-24). 


O problema foi solucionado naquele momento. Mas, com o aumento das murmurações, inclusive de alguns desses auxiliares de Moisés e dos seus próprios irmãos, novamente aumentou o fardo de Moisés e eles estava esgotado. Agora, o próprio Deus, depois de punir o povo, ordenou a Moisés que escolhesse 70 anciãos de Israel para dividir com eles a carga e compartilhar a liderança. Entretanto, esta escolha foi unilateral. O próprio Deus desceu na nuvem e falou com estes anciãos, confirmando a chamada. Em seguida, foram cheios do Espirito Santo e profetizaram (Nm 11.25). 


Uma das características de uma boa liderança é saber delegar tarefas e dividir responsabilidades. Ditadores tem aversão a isso, pois são absolutistas, querem fazer tudo sozinhos e impor a sua vontade. Porém, esse tipo de liderança, além de não funcionar, causa esgotamento. Ninguém consegue fazer tudo sozinho. 


Na obra de Deus, não podemos ser autoritários e dominadores, pois não somos donos da obra e estamos liderando o que é do Senhor. Iremos prestar contas a Ele do nosso trabalho. Com este esgotamento de Moisés, aprendemos que devemos respeitar os nossos limites físicos e emocionais. Não podemos abraçar tudo sozinhos, pois não iremos suportar a carga. Jesus disse que devemos rogar ao Senhor da seara que mandeais ceifeiros. Mas, quando Ele mandar os ceifeiros, não podemos deixá-los apenas observando, enquanto fazemos tudo sozinhos. 


3. A punição de Miriã e Arão (Nm 12.4-7). Conforme falamos acima, Moisés reagiu às murmurações, agressões verbais e acusações levianas contra ele, com mansidão e humildade. Ele deixou que o Senhor resolvesse a questão. O desfecho deste motim foi a manifestação de Deus através de uma nuvem, para julgar pessoalmente os rebeldes.


Deus ordenou aos três que saíssem fora da tenda da congregação. Quando saíram os três, Deus repreendeu diretamente Miriã e Arão, explicitando a superioridade de Moisés em relação aos demais profetas, pois Deus falava com ele diretamente e não por visões ou sonhos. Deus deu testemunho também da fidelidade de Moisés. Por fim, perguntou-lhes: Por que não tiveram temor de falar contra o meu servo Moisés? (Nm 12.4-8). Imediatamente, Miriã, que havia liderado esta rebelião, ficou leprosa. Arão intercedeu a Moisés por ela e Moisés intercedeu a Deus. O Senhor disse que ela ficaria leprosa por sete dias e assim aconteceu. 


Este episódio mostra que Deus trata com severidade a rebelião contra a liderança do seu povo. O profeta Samuel disse a Saul que a rebelião é como o pecado de feitiçaria (1 Sm 15.22). Quando se levanta contra uma liderança que Deus constituiu, está se rebelando contra o próprio Deus e dizendo que Ele não sabe escolher ou escolheu errado. Deus não tolera isso. Não se trata de fazer uma crítica respeitosa, no intuito de melhorar a liderança, ou apontar algo que precisa ser ajustado. Muitos profetas foram usados por Deus para fazer isso. A questão é quando um líder está fazendo a vontade de Deus e alguém se levanta para derrubá-lo. Tem muita gente leprosa espiritualmente por causa disso. Tomemos cuidado para provocar motins em nossa família ou na Igreja do Senhor.


REFERÊNCIAS: 

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 92-95.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. págs. 642-4743; 647.

CLARKE, Adam. Comentário Bíblico de Adam Clarke.


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