10 abril 2023

A FALHA NO TRATAMENTO DOS FILHOS

(Comentário do 1º tópico da Lição 03: Ciúme, o mal que prejudica a família).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos sobre as consequências do favoritismo no tratamento com um dos filhos, que provoca ciúmes nos filhos preteridos e até tragédias. Tomaremos como base o caso de José, o filho preferido de Jacó. O tratamento diferenciado que ele recebia por parte do seu pai provocou a ira dos seus irmãos contra ele, a ponto de não poderem falar com ele pacificamente, chegando ao cúmulo de venderem-no como escravo. Veremos também que a inveja impede que as pessoas percebam os desígnios de Deus. Os irmãos de José não perceberam, que os sonhos que José teve eram revelações de Deus, porque estavam tomados de inveja e ódio por ele. 


1- A preferência de Jacó. Vimos na lição passada que Jacó foi criado em um lar onde havia preferência dos pais por um dos filhos. Jacó era o filho preferido da sua mãe, Rebeca. O seu irmão, Esaú, era o preferido de Isaque. Estas preferências, como vimos, trouxe o conflito entre os irmãos, a ponto de Esaú decidir matar Jacó, que foi obrigado a fugir de casa para não ser morto. 


Orientado por seu pai, Isaque, Jacó foi para Harã, terra da sua mãe, morar com o seu tio Labão. Chegando lá, à primeira vista, ele se apaixonou por Raquel, a filha mais nova do seu tio, e propôs um acordo de trabalhar sete anos para se casar com ela. Entretanto, passando-se os sete anos, o seu tio lhe enganou e lhe entregou Lia, a filha mais velha, para ser a sua esposa. O tipo de relacionamento conjugal naquela época era tão esquisito, que Jacó só percebeu no outro dia, que não era Raquel. 


Sentindo-se ludibriado, Jacó foi tirar satisfação com o dito e perguntou: 

– Por que me enganaste? Eu não trabalhei por Raquel? Por que me deste Lia como esposa? 

Labão arrumou uma desculpa esfarrapada, para justificar a esperteza e disse: 

– Aqui em nossa terra não se faz assim. A mais nova não pode casar antes da mais velha. Se você quiser casar com ela, terá que trabalhar mais sete anos. 

Jacó amava muito a Raquel e, por isso, aceitou a proposta e trabalhou outros sete anos, para finalmente casar-se com a sua amada. 


Vendo o Senhor que Lia era desprezada, abriu-lhe e ela teve os primeiros quatro filhos de Jacó: Rúben, Simeão, Levi e Judá. Raquel, no entanto, era estéril e isso a deixava angustiada. Os anos foram passando e Raquel, vendo que não gerava filhos, teve a mesma ideia infeliz de Sarai e deu a sua serva Bila a Jacó como concubina e ela teve dois filhos: Dã e Naftali. Lia seguiu a mesma linha e deu a sua serva Zilpa a Jacó, que também teve dois filhos: Gade e Aser. 


Neste contexto, Rúben, o filho mais velho de Lia e Jacó encontrou uma planta chamada Mandrágora, que era considerada afrodisíaca. Raquel pediu à sua irmã que lhe desse um pouco da planta. Lia perguntou se ela achava pouco ter tomado o marido e ainda queria a planta do seu filho. Diante disso, Raquel negociou com a sua irmã para Jacó passar uma noite com ela em troca da planta. Lia acabou engravidando de novo e teve o quinto filho, a quem deu o nome de Issacar. Depois teve mais um filho, cujo era Zebulom e, por último teve a filha Diná. 


Quando Jacó já estava com noventa e um anos de idade, finalmente, Deus abriu a madre de Raquel e ela teve o seu primeiro filho e disse: 

– Deus tirou a minha vergonha.

Nasceu o primeiro filho da esposa amada de Jacó. Raquel deu-lhe o nome de José (heb. Yehosef, que significa Yahweh acrescenta) e disse:

– O Senhor me acrescente outro.


José, portanto, além de ser o filho da esposa amada, foi muito esperado e nasceu na velhice do pai, como um milagre de Deus, semelhante a Isaque. Depois de alguns anos, Raquel engravidou novamente e teve o segundo filho, chamado Benjamin e morreu no parto. Este foi mais um motivo para Jacó se apegar a José, pois ele ficou sem a mãe. 


Além dos fatores citados acima, José era um filho obediente ao pai e temente a Deus, diferente dos seus irmãos que eram homens de má índole. Rubens, o filho mais velho, teve um caso com a concubina do pai. Simeão e Levi, quando descobriram que a irmã foi abusada por Siquém, fizeram uma chacina e mataram todos os homens da cidade. Judá, embriagou-se e teve filho com a nora, achando que era uma prostituta. José era diferente e o seu comportamento correto, contribuiu para que o seu pai o amasse mais do que aos seus irmãos: “E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos”. (Gn 37.3). 


2- O ciúme em meio à preferência. Como vimos acima, Jacó apegou-se mais a José do que aos demais filhos, por várias razões. Entretanto, além de amar a José mais do que aos outros filhos, Jacó não disfarçava isso e José tornou-se o filho favorito. José não era apenas o mais protegido dos filhos, era também o mais favorecido. O seu pai mandou confeccionar uma túnica de várias cores e deu-lhe de presente. Os seus irmãos usavam túnicas comuns de tecido áspero e viram o pai dar um presente especial a José. Segundo o Dicionário bíblico Wycliffe, publicado pela CPAD,  “este presente indicava que Jacó pretendia fazer de José o seu principal herdeiro, e com isso, acirrou a ira de seus irmãos contra ele”. 


Esta preferência escancarada do seu pai por José, demonstrada na atitude de dar-lhe este presente especial, provou o ciúme dos seus irmãos, que passaram a odiá-lo. Para piorar a situação e acirrar ainda mais o ódio deles, Jacó mandava que José fiscalizasse o trabalho deles no campo. José os observava, trazia o relatório completo das más ações deles ao pai e eles ficavam sabendo. O bom comportamento de José, já irritava os seus irmãos, pois isso denunciava a má conduta deles. Com as delações que ele fazia ao pai, tornava-se insuportável perante eles, a ponto de conseguirem conversar com ele pacificamente. 


Não queremos aqui justificar o ciúme e o ódio dos irmãos de José por ele, até porque José não era culpado de ser o preferido do seu pai. Entretanto, as atitudes de Jacó para com José causaram o ciúme e o ódio dos seus irmãos. Como pais, precisamos saber que os nossos filhos são diferentes uns dos outros. Uns são mais calmos, outros mais nervosos; uns são mais inteligentes, outros têm mais dificuldades de aprender as coisas; uns são mais obedientes, outros mais rebeldes; etc. Entretanto, não podemos agir com favoritismo para com aqueles que têm mais afinidade conosco. Isso provoca nos demais filhos, a sensação de rejeição, interfere na formação da personalidade da criança e pode trazer sérios problemas na idade adulta, como vimos na lição passada. 


3- A inveja não permite compreender os desígnios de Deus. Nesse clima de favoritismo, que causou o ódio mortal dos irmãos de José por ele, teve mais um fator que agravou ainda mais a situação. José teve dois sonhos e contou-os ao seu pai, na presença dos seus irmãos. No primeiro sonho, José sonhou que ele e os seus irmãos estavam no campo atando molhos de trigo. De repente, o molho dele ficava em pé e os molhos dos seus irmãos se curvaram perante o dele. No segundo sonho, José o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam diante dele (Gn 37.9). 


Imediatamente, os irmãos de José interpretaram os sonhos e entenderam que aquilo significava que José dominaria sobre eles. Entretanto, eles pensaram que fosse presunção de José e não uma revelação de Deus. Jacó também entendeu o significado do sonho e perguntou: Que sonho é este que tiveste? Porventura viremos, eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra? (Gn 37.10). Jacó, ouvindo estes sonhos, guardava estas coisas em seu coração. Certamente, ele percebia que Deus tinha algo especial com ele. 


Os irmãos de José, no entanto, passaram a odiá-lo ainda mais e, dominados pela inveja e pelo ódio, não enxergavam o plano de Deus. Eles não imaginaram que anos depois aqueles sonhos se cumpririam em detalhes no Egito. Quando José se tornou governador e eles foram lá comprar comida, se prostraram diante dele, sem o reconhecer. Mas, José os reconheceu e lembrou-se dos sonhos (Gn 42.7,8). Depois da morte de Jacó, os irmãos de José, com receio de que ele quisesse se vingar deles, foram a José e disseram que o pai deles havia dito para eles pedirem perdão. José os perdoou, dizendo: Não temais; porventura estou eu em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida. Agora, pois, não temais; eu vos sustentarei a vós e a vossos filhos. Assim os consolou, e falou segundo o coração deles. (Gn 50.19-21). José entendeu perfeitamente, que todo o sofrimento que ele passou fazia parte do plano de Deus e não guardou ressentimentos. 


REFERÊNCIAS: 

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 50-53.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 235, 236.

LOPES, Hernandes Dias. Gênesis: O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1ª Ed. 2021.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pág. 182.


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