(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 04: Os ídolos na família).
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico daremos um salto histórico, do período dos patriarcas para o período dos juízes. Falaremos sobre um santuário de deuses na casa de um homem das montanhas de Efraim, chamado Mica. Nesse período, o povo de Israel vivia uma anarquia e se entregou ao sincretismo religioso. Neste contexto surge a figura de Mica, um homem idólatra, antiético e de comportamento abominável, que roubou a própria mãe, sem que ela soubesse quem era o ladrão. A mãe lançou maldição e ele, com medo da maldição, devolveu o dinheiro. Com o dinheiro, a mãe dele mandou construir um ídolo e Mica nomeou o seu filho como sacerdote deste ídolo. Era uma família de Israelitas, que dizia servir a Deus, mas tinha em sua própria residência uma "casa de deuses", representados por pequenos ídolos, chamados de "terafins".
1- A idolatria e o caráter antiético de Mica (Jz 17.1-4). O povo de Israel serviu ao Senhor durante todos os dias de Josué. Entretanto, Josué não preparou um sucessor e após a sua morte, o povo ficou sem liderança espiritual e virou uma anarquia. Cada um fazia aquilo que achava correto. O povo não expulsou completamente os povos que viviam na terra de Canaã, conforme o Senhor havia ordenado. A convivência com alguns destes estrangeiros e a falta de liderança espiritual acabou fazendo com eles se entregassem à idolatria e ao sincretismo religioso, que é a mistura de elementos de várias crenças em um culto.
O povo de Israel entregou num ciclo vicioso: pecavam contra Deus e Deus levantava inimigos para os libertar; o povo clamava a Deus e Deus levantava um juiz que os libertava; depois da morte do libertador, o povo se entregava de novo à idolatria. Este período durou aproximadamente 300 anos, desde a morte Josué até os dias de Samuel.
Foi neste contexto de anarquia e falta de liderança espiritual, que viveu Mica, um homem da Montanha de Efraim, cujo nome significa "Quem é como Yahweh?". A sua história está registrada nos capítulos 17 e 18 de Juízes. Não temos informações sobre a família de Mica. Sabemos apenas que ele vivia com a mãe e tinha um filho. Apesar do nome dele ter uma referência positiva ao Deus de Israel, Mica tinha sérios desvios de caráter e teológicos. Primeiro, ele furtou mil e cem siclos de prata da da própria mãe. Considerando que um siclo de prata era o equivalente ao salário de um mês de trabalho, era um valor bastante alto.
A mãe de Mica, sem saber que o ladrão era o próprio filho, começou a amaldiçoá-lo. Naquele tempo o povo acreditava que o poder divino estava por trás da benção e da maldição. Por isso, Mica teve medo e acabou devolvendo o dinheiro furtado à sua mãe. A mãe de Mica, ao invés de repreender o filho, mandou o ourives construir um ídolo, com parte do dinheiro devolvido. Isso nos mostra que este era o propósito inicial dela, ao guardar esta quantidade de dinheiro. Provavelmente ela era uma comerciante rica, pois não era normal uma mulher ter tanto dinheiro naquele tempo.
2- A abominação de Mica (Jz 17.5). A família de Mica, embora aparentemente servirem a Deus, como mostram as declarações e o próprio nome de Mica, eles violavam a Lei Mosaica em vários mandamentos. Mica construiu em sua própria casa um santuário para estes pequenos deuses, chamados de "terafins". Ele foi mais além e mandou fazer um éfode, que era um manto litúrgico, usado apenas pelos sacerdotes de Israel. Depois consagrou um dos seus filhos para exercer o sacerdócio em sua casa. “E tinha este homem, Mica, uma casa de deuses, e fez um éfode e terafins, e consagrou a um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote.”
Deus abomina todas as formas de idolatria, mas ela não se limita à adoração de outros deuses. A idolatria começa quando o ser humano introduz formas de culto diferentes dos parâmetros que Deus estabeleceu em sua Palavra. Sobre isso, assim diz Champlin: "O culto estranho começou na casa de Mica, mas não demorou a desenvolver-se sob forma mais elaborada. E foi assim que a idolatria cresceu e floresceu, e tudo feito no nome de Yahweh! E isso tem prosseguimento até os nossos próprios dias, dentro das igrejas cristãs."
3- Mica tinha uma casa de deuses (Jz 17.5,6). A religião de Mica se afastara completamente do monoteísmo judaico e da Lei que o Senhor entregou a Moisés. Os cultos na casa de Mica eram semelhantes ao que aconteceu com o Catolicismo Romano, onde se acrescentou por conta própria, vários elementos e práticas que contrariam a Palavra de Deus. O Catolicismo se apresenta com Igreja Cristã, mas incorporou vários elementos, crenças e rituais do paganismo, como o uso de velas nos cultos, oração pelos mortos, intercessão dos santos, uso de água benta, uso de imagens nos cultos, etc. Assim também aconteceu na casa de Mica.
Mica abandonou completamente os princípios estabelecidos na Lei, se é que os conhecia, e criou a sua própria religião, achando que estava servindo ao Deus de Israel. O primeiro mandamento da Lei reafirmou o monoteísmo e proibiu Israel de ter outros deuses. Mica, no entanto, transformou a sua casa numa casa de deuses. A Lei Mosaica estabelecia um único local para adoração que era o tabernáculo e, posteriormente, o templo. Deus não autorizou ninguém a construir o seu próprio santuário, como Mica fez. O segundo mandamento da Lei proibia terminantemente o uso de imagens de escultura nos cultos (Ex 20.4,5). Contrariando também este mandamento, Mica construiu um ídolo em sua casa e vários ídolos pequenos, chamados de "terafins". Deus estabeleceu que os sacerdotes seriam os filhos de Aarão. Havia uma linhagem sacerdotal estabelecida. Mica, por sua própria conta, consagrou o seu filho como sacerdote. Ora, o filho de Mica era da tribo de Efraim e não da linhagem sacerdotal.
Assim, a casa de Mica se transformou numa casa de deuses e era abominável, em todos os sentidos, aos olhos do Senhor. Quando o crente ignora a Palavra de Deus e cria uma Igreja de acordo com os seus próprios pensamentos, consagrando obreiros e fazendo cultos do seu jeito, o resultado é desastroso. A Palavra de Deus é o nosso manual de doutrina e prática. Os parâmetros para o funcionamento da Igreja, doutrina e liturgia tem que estar, obrigatoriamente, embasados nas Escrituras.
REFERÊNCIAS:
CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 70-73
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 1068-1069.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pág. 156-157.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pág. 156-157.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry: Deuteronômio. Editora CPAD. 4 Ed 2004. pág. 174.
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