06 abril 2023

O PROBLEMA DA PREDILEÇÃO POR FILHOS NA FAMÍLIA

Foto: Bigstock

(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 02: A predileção por um dos filhos)

Ev. WELIANO PIRES


No terceiro tópico falaremos sobre o problema da predileção por filhos na família. O casal Isaque e Rebeca tinha preferências por um dos filhos. Isaque amava a Esaú, que era o primogênito e, como habilidoso caçador, lhe fazia pratos saborosos. Rebeca, por sua vez, preferia Jacó e arquitetou um plano maquiavélico, para que Isaque desse a Jacó a bênção da primogenitura. Quando o casal não respeita a personalidade dos filhos, tratando-os com predileção, infelizmente, o resultado é o conflito entre os membros da família.


1- Esaú, o filho predileto de Isaque. Conforme descrito no texto áureo desta lição, a preferência de filhos dentro do lar gera divisão e promove o egoísmo na formação deles. Foi exatamente isso que aconteceu no lar de Rebeca e Isaque. O casal demorou 20 anos para ter filhos e Rebeca engravidou de gêmeos. Por ter nascido primeiro, Esaú é considerado o primogênito. Ele nasceu ruivo e peludo, por isso, recebeu este nome, que significa “cabeludo”. 


O filho primogênito nos tempos do Antigo Testamento tinha direitos e obrigações diferenciados dos demais (Gn 43.33), como o direito de sucessão (2 Cr 21.3) e porção dobrada da herança paterna (Dt 21.17). A Lei mosaica, diz que todos os primogênitos dos homens e dos animais deveriam ser consagrados a Deus: “Porque todo o primogênito é meu; desde o dia em que tenho ferido a todo o primogênito na terra do Egito, santifiquei para mim todo o primogênito em Israel, desde o homem até ao animal: meus serão; Eu sou o Senhor.” (Nm 3.13). O primogênito também era sinônimo de honra, tanto que Deus chama o povo de Israel de o seu primogênito: “Então dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito.” (Êx 4.22). Esta primazia do filho primogênito já existia na Mesopotâmia, nos tempos de Isaque e Rebeca. Porém, lá havia também o “jeitinho”, para se transferir o direito da primogenitura para outro, através de negociação. 


Talvez por Esaú ser o seu filho primogênito, Isaque desenvolveu a sua admiração por ele. Para completar, Esaú se tornou um habilidoso caçador e trazia carnes das suas caças para o pai. Percebendo que estava velho e que não duraria muito, Isaque resolveu ministrar a bênção da primogenitura para o seu filho mais velho. Para isso, pediu que Esaú lhe providenciasse o prato preferido dele, para esta ocasião. Esaú saiu à procura da caça para trazê-la ao pai (Gn 27.1-4). Enquanto isso, Rebeca ouviu a conversa e tramou um plano maquiavélico para enganar Isaque e fazê-lo abençoar Jacó, em vez de Esaú (Gn 27.5-10). Rebeca mandou, então, que Jacó lhe trouxesse um cabrito, para que ela o preparasse para Isaque. Em seguida, vestiu Jacó com um couro peludo de animais para ficar parecido com Esaú. Assim, ambos enganaram Isaque. 


Por direito, a primogenitura pertencia a Esaú, porém, ele a havia desprezado e vendido ao seu irmão por um prato de lentilhas. Neste aspecto, Esaú errou por desprezar e vender a sua primogenitura, mas, Jacó também errou ao se aproveitar da fome do seu irmão para tirar proveito. Do ponto de vista cultural, Jacó estava certo. Mas, o que ele fez é moralmente reprovável diante de Deus. A questão da também primogenitura não deve ser confundida com a escolha de Jacó por Deus, para ser o pai da nação de Israel. 


Deus não prometeu a primogenitura a Jacó, mas revelou a Rebeca que, “o maior serviria ao menor” (Gn 25.23), ou seja, Jacó seria mais poderoso do que Esaú. Sabendo desta revelação, Rebeca tentou interferir nos planos de Deus e impedir que Isaque proferisse a bênção sobre Esaú. Isaque também, certamente, sabia desta revelação de Deus em relação ao futuro dos filhos. Mas, por conveniência pessoal, tinha predileção por Esaú. 


2- Jacó, o filho predileto de Rebeca. O segundo filho de Isaque e Rebeca nasceu na sequência do primeiro, agarrado ao calcanhar do seu irmão, por isso, recebeu o nome de Jacó, que significa literalmente “agarrou ao calcanhar”. Alguns dizem que o nome Jacó significa enganador, ou suplantador. Isto acontece porque as consoantes hebraicas das palavras “עקב” (calcanhar) (aqev) e “עקב” (enganar) “'aqav”, são as mesmas. Mas, pelo contexto em que se deu o nome Jacó, está claro que o nome significa “aquele que segura o calcanhar”.


Antes de Jacó nascer, Rebeca soube do futuro dele, pois eles lutavam em seu ventre e ela perguntou ao Senhor, o que isso significava. A resposta de Deus, como vimos acima, foi: “dois povos se dividiriam nas entranhas dela, e um povo seria mais forte do que o outro povo, e o maior seria servo do menor.” (Gn 25.13). Esta revelação deve ter deixado Rebeca confusa, pois, naquela cultura, o filho primogênito era o mais importante e assumia a liderança da família, após a morte do pai. 


Com a informação dada por Deus de que Jacó seria o escolhido para ser o pai da nação mais forte, Rebeca passou a ter preferência por ele. Além disso, Jacó cresceu sempre perto de casa, dando atenção às necessidades da mãe, ao contrário de Esaú, que se dedicava à caça e vivia ausente. Assim como Isaque, por conveniência pessoal preferia Esaú e demonstrava isso, Rebeca preferia Jacó e também não escondia. Evidentemente, há filhos que amam e ajudam mais aos pais do que outros e estão sempre mais perto deles. Isso cria vínculo e afinidades maiores. Entretanto, isso não deve ser motivo para tratamento diferenciado, ou demonstração de preferência dos pais por um dos filhos em detrimento de outros. 


3- O problema da predileção pelos filhos. Todos os nossos filhos são herança do Senhor (Sl 127.3) e devem ser amados por nós. Se por um lado, a Palavra de Deus ordena que os filhos honrem e obedeçam aos pais, por lado, há a recomendação para os pais criarem os seus filhos no temor do Senhor, instruí-los no caminho em que deve andar e não provocar-lhes a ira (Dt 6.7; Pv 22.5; Ef 6.4). Portanto, os pais têm a obrigação de amar aos seus filhos e o amor não busca os seus próprios interesses e não faz acepção de pessoas. Quem dá preferência a um filho em detrimento de outro, por razões pessoais, está sendo egoísta e interesseiro. Esse tipo de atitude é incompatível  com o amor.


A preferência por um dos filhos interfere também na formação da personalidade da criança e pode trazer-lhe sérios problemas. Os filhos preteridos se sentem desprezados e podem desenvolver sentimentos de inveja e ódio pelos que são preferidos pelos pais. Isso os torna rivais e inimigos irreconciliáveis. Jacó, na idade adulta continuou com o mesmo comportamento da sua mãe e demonstrava para os seus filhos que amava a José mais do que aos seus irmãos. Isto despertou a fúria deles contra José, a ponto de não poderem conviver com ele pacificamente (Gn 37.3,4). 


A predileção por um dos filhos traz problemas tanto para o filho preferido, quanto para os demais. O filho criado com superproteção e privilégio dos pais, torna-se medroso, inseguro, não aprende que precisa de limites e encontra dificuldade para criar a própria identidade. Por outro lado, os filhos preteridos pelos pais, podem podem ter problemas de autoestima, tornar-se amargurados, agressivos e desenvolver complexo de inferioridade e depressão. Portanto, os pais devem conhecer cada um dos seus filhos, identificar as suas diferenças de temperamento e comportamento, amá-los, respeitá-los e protegê-los indistintamente. Somente assim, proporcionarão um ambiente saudável para o crescimento e desenvolvimento deles. 


REFERÊNCIAS: 

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 39-40.

LOPES, Hernandes Dias. Gênesis, o Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 175.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry: Deuteronômio.  Editora CPAD. 4 Ed 2004. pág. 134. 


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