26 abril 2023

O MOTIVO DA REBELIÃO DE MIRIÃ E ARÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 05: Motim em família). 

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, falaremos do motivo da rebelião de Miriã e Arão contra Moisés. Veremos que esta rebelião foi motivada pela inveja dos dois irmãos que, inconformados com o papel que Deus lhes deu, respectivamente, de profetisa e sumo sacerdote, sentiam-se no direito de liderar o povo também. Depois veremos que o motim no seio da família promove dissabores e ofensas entre os seus membros. A falta de respeito entre os membros de uma família causa  desequilíbrio e desunião no ambiente familiar. 


1. A inveja. Miriã e Arão eram os irmãos mais velhos de Moisés. Miriã, desde pequena era habilidosa na arte de liderar e influenciar pessoas. Quando a sua mãe escondeu o menino Moisés em um cesto, ela ficou olhando de longe, para ver o que aconteceria. Assim que a princesa, filha do Faraó, ouviu o choro do menino e pediu para a sua serva buscá-lo, imediatamente, Miriã apareceu, ofereceu-se para buscar uma mulher hebréia para amamentar o menino e chamou a própria mãe para fazer isso. Era também profetisa e cantou um hino de vitória, logo após a passagem pelo Mar Vermelho. 


Arão, por sua vez, era habilidoso nas palavras e foi indicado pelo próprio Deus para ser o porta-voz de Moisés, quando este reclamou com Deus que era ‘pesado de língua’ e, por isso, não poderia falar com Faraó (Ex 4.14-16). Depois, Deus mandou Moisés ordenar Arão e os seus filhos como os primeiros sacerdotes do povo de Israel (Ex 27.21; 28.1; 29.9-44). Era uma posição privilegiada e muito respeitada em Israel. Além de ser o líder dos sacerdotes, o sumo sacerdote era o único que podia entrar no Santo dos santos, uma vez por ano, no Dia da Expiação. 


Durante quarenta anos, Moisés liderou o povo de Israel, levando uma carga pesadíssima, tendo Miriã e Arão ao seu lado. Em momento algum, Moisés quis ser mais do que eles. Moisés também não escolheu ser o líder do povo de Israel. Ele estava há quarenta anos na terra de Midiã, depois que fugiu do Egito para não ser morto. Estava apascentando as ovelhas do seu sogro Jetro, nas montanhas. Deus se manifestou a ele, do meio de uma sarça que pegou fogo e não se consumia. Moisés levantou-se para ver aquele fenômeno, mas Deus falou para ele não se aproximar e tirar as sandálias dos pés, pois o lugar em que ele estava era uma terra santa. Na sequência, Deus o enviou ao Egito para libertar o povo da escravidão. Moisés relutou, com várias desculpas, mas Deus não aceitou e falou que era ele mesmo o escolhido (Ex 3.1-10). 


Moisés retornou ao Egito e contou aos seus irmãos tudo o que acontecera. Eles viram como Deus usou Moisés e Arão, com muitos prodígios para libertar o povo da escravidão de Faraó. Viram também as manifestações de Deus a Moisés no deserto e os milagres realizados. Não havia nenhuma dúvida de que Deus escolheu Moisés para liderar o seu povo e conduzi-lo à terra prometida. Entretanto, Miriã deixou a inveja entrar em seu coração e influenciou o seu irmão Arão, para contestarem a liderança de Moisés. Inicialmente alegaram a questão do casamento de Moisés com a mulher cuxita. Mas, depois revelaram que o problema era a liderança de Moisés, que eles se achavam no direito de também serem líderes, sem que Deus os tivesse chamado para tal função. 


Segundo o dicionário Michaelis, a inveja “é um sentimento de ódio, desgosto ou pesar que é provocado pelo bem-estar, pela prosperidade ou felicidade de outrem; desejo muito forte de possuir ou desfrutar de algum bem possuído ou desfrutado por outra pessoa; avidez, cobiça, cupidez.” A palavra portuguesa “inveja” deriva do latim “invidea”, que por sua vez, é formado por dois termos latinos: o prefixo “in” (em) e “videre” (olhar). Portanto, significa “olhar em direção a”, no sentido de olhar com intenção maliciosa para alguém, devido àquilo que a pessoa é ou possui.


Na Bíblia vemos que a inveja teve início com o querubim ungido, que invejou o trono de Deus e quis ser igual a Ele. Por isso, foi expulso do Céu, com uma terça parte dos anjos que o seguiram neste intento, e transformou-se em Satanás, o inimigo de Deus e do seu povo. Depois, vemos o caso de Caim, que teve inveja do seu irmão Caim e, por isso, o matou (Gn 4.1-8). Os irmãos de José também, movidos pela inveja, venderam o seu irmão como escravo, a fim de se livrar da sua presença (Gn 37.25-28). O rei Saul, movido pela inveja, tentou várias vezes matar Davi. 


O apóstolo Paulo classifica a inveja como uma das obras da carne, as quais ele diz que aqueles que as praticam não herdarão o Reino de Deus (Gl 5.19-21). Infelizmente, em nossos dias, muitos crentes, inclusive obreiros, se deixam contaminar pela inveja e, por isso, perseguem, caluniam e tentam destruir os próprios irmãos da fé, a fim de assumir o lugar deles. Deveriam ficar felizes por ver um irmão ser usado por Deus em um determinado ministério. Por outro lado, deveriam saber que os dons espirituais e ministeriais são dados por Deus, a quem Ele quer, para aquilo que for útil. De nada adianta estar em uma função na Igreja para a qual Deus não chamou. 


2. O motim familiar promove dissabores e ofensas. A inveja de Miriã e Arão contra Moisés gerou o motim, ou revolta dos dois irmãos  contra ele. Anrão e Joquebede, pais dos três irmãos, já haviam morrido e cada um tinha a sua liderança própria. As funções de Miriã e Arão, respectivamente, profetisa e sumo sacerdote, eram muito respeitadas no Judaísmo. Provavelmente, eles uniram os dois ministérios, no intuito de desafiar a liderança de Moisés como mediador entre Deus e Israel. Esta revolta dos irmãos contra Moisés acabou influenciando negativamente o povo contra Moisés e posteriormente, os levitas Coré, Datã e Abirão. 


Quando damos espaço para a inveja, murmurações e, consequentemente, os motins no seio da família ou da Igreja, o resultado são as ofensas, contendas e dissabores. O desrespeito, agressões verbais ou mesmo físicas, destroem a harmonia familiar e a unidade cristã. Por isso, o salmista diz no Salmo 133: “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!”. Jesus disse certa vez: Filhos questionam a autoridade dos pais e os desrespeitam; alunos questionam professores e os agridem em sala de aula; cidadãos afrontam policiais Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá.” (Lc 11.17). O apóstolo Paulo também escreveu aos Filipenses: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo.” (Fp 2.14,15).


Em uma família ou Igreja, o respeito entre os membros deve sempre prevalecer. Mesmo se houver a necessidade de criticar alguma atitude, ou repreender alguém, deve-se fazê-lo, no mais absoluto respeito, considerando que estamos lidando com os nossos irmãos. Infelizmente, nos dias atuais, há um clima generalizado de egoísmo e agressividade, principalmente no ambiente virtual. As pessoas trocam farpas e ofensas em público, por coisas pequenas, que poderiam ser resolvidas em particular com uma conversa respeitosa. 


O princípio da autoridade tem sido questionado em todos os setores da sociedade: cidadãos afrontam autoridades publicamente, filmam a ação e publicam nas redes sociais, como se fosse um troféu; até membros de Igrejas, afrontam uns aos outros e não querem se submeter à autoridade pastoral. Que Deus nos guarde e nos conceda discernimento e humildade. 


REFERÊNCIAS: 


CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 89-92.

ADAM CLARKE. Comentário Bíblico de Adam Clarke.

WENHAM, Gordon J. Números: Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pág. 117-118.


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