12 abril 2023

O CIÚME COMO CAUSA DE CONFLITOS


(Comentário do 2º tópico da Lição 03: Ciúme, o mal que prejudica a família)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, veremos que o ciúme é a causa de muitos conflitos nos relacionamentos. Falaremos sobre a túnica de várias cores, que José ganhou do seu pai, que o colocava em posição de destaque em relação aos demais filhos, gerando neles o sentimento de que eram desprezados pelo pai. Por último, falaremos do ciúme como o agente dos conflitos familiares e também em outros relacionamentos humanos, como as amizades, o trabalho e até na Igreja. 


1- A túnica: o símbolo do desprezo. Conforme vimos no tópico anterior, Jacó amava José, mais do que a todos os seus irmãos. Não era sem razão que ele fazia isso, pois José era filho da sua esposa amada e era muito diferente dos seus irmãos. José temia a Deus e Jacó percebia que Deus tinha planos especiais na vida dele, principalmente depois dos sonhos que ele teve. 


Não é difícil um pai amar mais um filho como José, tendo outros filhos como os seus irmãos. O problema é favorecer este filho publicamente, demonstrando desprezo pelos demais. Jacó teve uma atitude inconsequente, mandando confeccionar uma túnica especial, de várias cores, e deu-a de presente a José (Gn 37.3). 


O texto hebraico não é muito claro aqui. Jerônimo que traduziu a Versão Latina, chamada Vulgata, diz que esta túnica chegava aos tornozelos e outros comentaristas judeus dizem ela chegava à palma das mãos, dando a entender que era de mangas longas. Os trabalhadores comuns não usavam roupas assim, para não dificultar o uso dos braços no trabalho. A versão Nova Almeida Atualizada (NAA) diz que era uma "túnica talar de mangas compridas”. Naquela época, as roupas comuns eram feitas de linho grosso e tinham no máximo duas cores. 


Outros expositores bíblicos ainda sugerem que esta túnica não era uma peça comum do vestuário de José, mas uma veste sacerdotal, que José estaria assumindo, pois Rúben, o primogênito havia se deitado com uma concubina do seu pai. Isso é pouco provável, pois o próprio Jacó, quando abençoou os seus filhos na velhice, proferiu esta benção a Judá (Gn 49.8,9). Seja qual for o significado desta túnica, o fato é que esta atitude de Jacó acirrou ainda mais o ciúme e o ódio dos irmãos de José. 


Os pais que têm mais de um filho, por mais que um deles os agrade mais e tenham mais afinidade com ele, jamais devem favorecê-lo ou dar-lhe presentes diferenciados. Isso provoca o ciúme dos demais, que se sentem desprezados. Os meus pais tiveram quatro meninos e uma menina. Vivíamos tempos difíceis e eles não tinham dinheiro para comprar presentes, ou fazer festas de aniversário. Então, não faziam para nenhum. A minha mãe comprava um tecido e fazia as camisas dos três do mesmo tecido e do mesmo modelo. Conforme fomos crescendo, cada um trabalhava e comprava as roupas que queria, de acordo com o seu gosto e condições.


2- Ciúme: o agente do conflito familiar. A preferência de Jacó por José, o seu favoritismo dando-lhe uma túnica de presente e os sonhos de José, que davam a indicação de que ele dominaria sobre os seus irmãos geraram neles um ciúme doentio, que transformou em inveja e ódio, a ponto de não conseguirem conviver com ele pacificamente. Eles queriam se livrar de José a todo custo e decidiram matá-lo. 


A família de Jacó sempre foi desequilibrada, pois ela não foi construída segundo os padrões de Deus para o casamento: que é a monogamia, heterossexualidade e vitaliciedade. Jacó era heterossexual, mas teve duas mulheres e duas concubinas e os seus doze filhos e uma filha era de quatro mulheres diferentes. Um ambiente assim tem a tendência natural de ser desequilibrado, hostil, com ciúmes e desentendimentos. 


No caso de José, podemos notar que o ciúme dos seus irmãos foi o agente causador dos conflitos, que trouxeram consequências drásticas para Jacó e José. Os irmãos de José não o mataram, como pretendiam inicialmente. Mas venderam-no como escravo e contaram ao seu pai que havia sido devorado por algum animal feroz. Imagine a dor do pai, tendo que conviver com a ausência do filho amado, por muitos anos, sem saber ao certo o que teria acontecido com ele! Por outro lado, José, o filho favorito do seu pai, vivendo em terra estranha como escravo, sem ter notícias do seu pai. O ciúme leva as pessoas à crueldade e a maldade inimagináveis. 


É importante esclarecer o significado bíblico da palavra ciúme. O teólogo Russell Norman Champlin explica que a palavra hebraica “qinah”, traduzida por ‘ciúme’ ou ‘zelo’ aparece quarenta e um vezes no Antigo Testamento. O correspondente grego é “parazelóo”, traduzida por ‘ter muito ciúme’ e aparece quatro vezes no Novo Testamento. 


O ciúme na Bíblia aparece em sentido positivo, com o sentido de zelo ou cuidado, para que a pessoa amada não se perca. É nesse sentido que a Bíblia diz que o Espírito de Deus tem ciúmes (Tg 4.5). No sentido negativo, o ciúme aparece como egoísmo e obra da carne. Para saber a diferença, Champlin sugere que façamos a seguinte pergunta: “sinto ciúmes porque temo que algo venha a prejudicar alguém a quem estimo, ou sinto ciúmes simplesmente porque não quero perder aquela pessoa ou coisa, com base em minha possessividade e egoísmo?” A primeira opção é o ciúme positivo, que é sinônimo de zelo. A segunda é o ciúme negativo, que é egoísta e pensa apenas na satisfação pessoal.


3- A extensão do ciúme. Muitas pessoas pensam que o ciúme acontece apenas entre casais, mas ele está presente em todos os relacionamentos humanos: pais e filhos, amigos, membros de Igrejas e até entre obreiros. O ciúme gera conflitos e traz terríveis consequências, que muitas vezes, são trágicas. Por causa de ciúmes, pessoas são perseguidas, agredidas e até assassinadas. Charles Swindoll diz que “nenhuma reação é mais cruel do que o ciúme. Tal sentimento é duro como a sepultura (Ct 8.6) e revela três sintomas: uma pessoa ciumenta vê o que não existe, aumenta o que existe e procura o que não quer achar. Em vez de olharem para José como o instrumento que Deus estava levantando para salvar sua família, viram-no como uma ameaça, e em vez de cuidarem dele, nutriam desejo de destruí-lo.” 


Antigamente, aparecia nos para-choques de caminhões, a frase: “Quem tem amor tem ciúmes”. De certa forma, como diz o comentarista, todas as pessoas têm um certo grau de ciúmes, pois, trata-se de uma emoção inerente à natureza humana. O problema é quando este sentimento extrapola os limites da sensatez e evolui para obsessão, inveja, ódio e descontrole. Tem uma música antiga, onde o autor diz: “Tenho ciúmes do sol, do luar e do mar, tenho ciúmes de tudo. Tenho ciúme até da roupa que tu vestes.” Esse grau de ciúme, em um relacionamento é extremamente sufocante e destrutivo. Quem tem esse tipo de ciúme desconfia de tudo e de todos. Qualquer aproximação da pessoa que é alvo dos seus ciúmes com outras pessoas, a pessoa ciumenta fica transtornada, agride e pode até matar. 


Há vários tipos de ciúmes em outros tipos de relacionamentos. Nas amizades, há amigos que querem exclusividade nas suas amizades e se incomodam quando os seus amigos tem outros amigos. Há crentes que se sentem desprezados quando o pastor dá atenção a outros crentes. Esse tipo de ciúme é uma espécie de carência de afetividade e um pouco de infantilidade. Entretanto, há ciúmes muito mais perigosos, que se transformam em inveja e ódio. O primeiro caso desse na Bíblia foi o de Caim, que matou o seu irmão, sem que lhe fizesse nenhum mal, unicamente porque Deus recebeu a oferta do seu irmão e rejeitou a dele. Ora, o que Abel tinha a ver com isso?. O caso dos irmãos de José também se enquadra nesse tipo, pois o ciúme deles se transformou em inveja e eles passaram a odiar José, sem que ele lhes fizesse nenhum mal. Temos ainda na Bíblia o caso de Saul, que passou a odiar Davi e querer matá-lo por causa do cântico das mulheres que o enalteceu: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares”. (1Sm 18.6-9).


REFERÊNCIAS:

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 53-56.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 235,236.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 1. 11 ed. 2013. pag. 756.

LOPES, Hernandes Dias. Gênesis: O Livro das Origens.. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Tito. 1 Ed 2001. Editora Cultura Cristã. pág. 122.

TENNEY, MERRILL C. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 1071-1072.


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