25 abril 2023

A INFLUÊNCIA NEGATIVA DA MURMURAÇÃO

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 05: Motim em família).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos sobre a influência negativa da murmuração. Falaremos sobre as murmurações do povo, que antecederam este motim de Miriã e Arão. Depois falaremos das três queixas levantadas contra Moisés pelo povo e por seus próprios irmãos: a queixa de que Moisés os trouxe para morrer de fome no deserto; a queixa contra o Maná, o alimento que Deus mandava diariamente; e a queixa dos irmãos de Moisés contra a sua liderança. 

1. Assim nasce um motim. A palavra motim traz a ideia de um grupo de pessoas reunidas, em atitudes de desobediência ou reação negativa contra regras e ordens estabelecidas num grupo social. Motim, portanto, é um ato de rebeldia contra um poder ou autoridade estabelecida. Para esta lição, usaremos como exemplo, o caso de Miriã e Arão, irmãos de Moisés, que se levantaram contra a liderança dele sobre o povo de Israel. 

Este motim foi o clímax de um problema antigo, que acompanhava Israel desde o Egito, que era a murmuração. Segundo o Dicionário bíblico Wycliffe, o verbo “murmurar” traduz as palavras hebraicas e gregas: gogguzo, diagogguzo, embrimaomai e um substantivo grego, goggusmos. Estas palavras têm o sentido de resmungar ou murmurar um discurso subalterno ou semi-articulado. Envolve também o descontentamento, queixa, insatisfação, desacordo, ira, oposição e rebelião. 

Quando ainda estavam no Egito, Deus mandou Moisés e Arão falarem a Faraó, para que deixasse o povo sair do Egito (Ex 5.1-5). Faraó se irritou com aquilo, entendeu que o povo estava ocioso demais e mandou aumentar as exigências do serviço. Aqueles que não cumprissem a produção exigida seriam açoitados (Ex 5.6-19). O povo, então, murmurou e culpou Moisés e Arão pelo castigo. 

Após a saída do Egito, quando chegaram diante do Mar Vermelho, percebendo que o Exército de Faraó vinha atrás deles e não teriam como fugir, novamente os israelitas murmuraram contra Moisés e Arão: “E disseram a Moisés: Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, fazendo-nos sair do Egito? Não é esta a palavra que te falamos no Egito, dizendo: Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios? Pois que melhor nos fora servir aos egípcios, do que morrermos no deserto.” (Ex 14.11,12). Mesmo vendo todos os milagres que Deus fizera no Egito para livrá-los, eles não confiaram em Deus e culparam Moisés e Arão, como se eles fossem os responsáveis por tirar o povo do Egito. Ora, eles apenas cumpriram o que Deus ordenou. Portanto, esta murmuração era uma ofensa ao próprio Deus. 

Deus abriu o Mar Vermelho, o povo passou a pés enxutos e os egípcios pereceram. O povo viu este grande milagre e Miriã e Moisés cantaram louvores a Deus. Três dias depois, não acharam água potável no deserto. Acharam apenas as águas amargas de Mara. Novamente, o povo levantou a voz contra Moisés e murmurou (Ex 15.23). Deus fez o milagre e transformou aquelas águas amargas em águas doces. 

Chegando ao deserto de Sim, toda a congregação de Israel novamente murmurou contra Moisés e Arão, reclamando que no Egito tinham panelas de carne e comiam até se fartar. Agora, segundo eles, Moisés e Arão os trouxeram para morrer de fome no deserto (Ex 16.3). O Senhor ouviu aquela reclamação e mandou codornizes e uma comida do Céu chamada Maná (Ex 16.11-15). 

Depois, em Refidim, novamente o povo sentiu falta de água e murmurou contra Moisés, exigindo água para beber. Estavam a ponto de apedrejá-lo e Moisés clamou ao Senhor (Ex 17.1-4). Deus mandou Moisés bater na rocha com o seu cajado e dela saiu água para o povo beber. 

No capítulo 11 de Números, que está na nossa Leitura Bíblica em Classe, temos mais dois episódios de murmuração. No primeiro, o povo reclamou da falta de carne, chorando com saudade dos cardápios de carnes e legumes do Egito, e mostrando desprezo pelo Maná que Deus lhes mandava todos os dias (Nm 11.1-6). A ira de Deus se acendeu contra os murmuradores e o fogo de Deus consumiu os que estavam na primeira fileira. No segundo episódio temos Miriã e Arão murmurando contra a liderança de Moisés, reclamando do casamento com a mulher cuxita e exigindo equiparação na liderança pois, segundo eles, Deus havia falado com eles também e não apenas com Moisés (Ex 12.1,2). No próximo subtópico, falaremos detalhadamente, sobre cada uma destas queixas. 

Temos ainda no Livro de Números o registro de mais dois casos de murmuração. No capítulo 14, Moisés enviou doze líderes de tribos para espiar a terra prometida. Na volta, dez deles trouxeram um relatório negativo, dizendo que o povo lá era muito forte. Somente dois deles, Josué e Calebe, discordaram do relatório e encorajaram o povo a prosseguir. O povo murmurou contra Moisés e Arão, decidiram constituir um líder para voltar ao Egito e quiseram apedrejar Josué e Calebe. Deus se manifestou e quis destruir o povo. Mas Moisés intercedeu por eles. Deus não os destruiu, mas determinou que eles não entrariam na terra prometida, exceto, Josué, Calebe e os filhos daquela geração (Nm 14. 1-38). 

Por último, no capítulo 16 de Números temos a rebelião de três levitas: Coré, Datã e Abirão, que juntaram duzentos e cinquenta homens de posição e se rebelaram contra a liderança de Moisés e Arão dizendo: “Basta-vos, pois que toda a congregação é santa, todos são santos, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?” (Nm 16.3). Moisés tentou fazer uma reunião com eles e mandou chamá-los. Mas eles se recusaram a comparecer (Nm 16.12). Deus mandou que Moisés e toda a congregação se afastassem dos rebeldes. Quando se afastaram, a terra se abriu e os tragou vivos, com tudo o que possuíam (Nm 16.32,33). 

2. A primeira queixa. Conforme vimos acima, as queixas e reclamações dos israelitas não eram mais novidade para Moisés. Desde que Deus o chamou para libertar o povo da escravidão do Egito, ele passou a conviver com a ingratidão, incompreensão, murmuração e rebeldia deste povo. Entretanto, Moisés como um tipo de Cristo, colocava-se como mediador entre Deus e o povo e intercedia constantemente por eles a  Deus, para que não fossem destruídos. 

O comentarista coloca aqui três queixas do povo de Israel contra Moisés, com base nos capítulos 11 e 12 de Números. Claro que aconteceram muitas outras, conforme relatamos no subtópico anterior. Mas, por causa da limitação do espaço, ele se deteve nestas três. A primeira queixa dos israelitas no capítulo 11, diz respeito à acusação deles de que Moisés os havia tirado do Egito para que eles morressem de fome no deserto, e que deveria tê-los deixado lá. 

Ora, esta queixa demonstra toda a covardia e ingratidão deles para com Deus e Moisés. Eles não foram tirados do Egito à força, nem por vontade de Moisés. O povo de Israel vivia na escravidão no Egito, em trabalhos forçados, sendo açoitados e ameaçados de extinção. Além da escravidão e dos açoites, Faraó temendo o crescimento de Israel, mandou matar todas as crianças do sexo masculino (Ex 1.1-22). Neste contexto de escravidão e sofrimento, o povo gemeu por causa da escravidão e clamou a Deus. Deus ouviu o seu clamor e lembrou-se da aliança que fizera com Abraão, Isaque e Jacó (Ex 2. 23-25). Diante disso, Deus chamou Moisés para libertar Israel da escravidão e ele relutou o quanto pôde. Portanto, esta queixa de que Moisés os tirara do Egito para morrer no deserto era injusta e descabida. 

3. A segunda queixa (Nm 11.4-7). Por causa da primeira queixa, o fogo de Deus consumiu os murmuradores que estavam na linha de frente. Mesmo assim, o povo não se humilhou, nem se arrependeu. Continuaram com as reclamações agressivas contra Moisés. Desta vez reclamaram da comida que Deus mandava diariamente para eles e faziam menção às comidas que comiam no Egito. Quem lê este relato e não conhece a história da escravidão, tem a impressão de que esse povo vivia na riqueza ou em palácios no Egito. Ora, eles eram escravos e viviam sob intensa opressão. Tanto que que gemeram e pediram socorro a Deus! 

Além disso, eles esqueceram dos inúmeros benefícios que Deus lhes fez, desde o dia em que enviou Moisés e Arão para libertá-los. A partir dali, mesmo ainda sendo escravos, a vida deles não era a mesma. Deus mandou dez pragas contra o Egito e nenhuma delas atingiu Israel. Deus abriu o Mar Vermelho para eles passarem e matou os inimigos deles afogados. No deserto, Deus providenciou água, codornizes e o Maná, uma comida que caía do Céu diariamente. Deus cuidou deles para que as roupas e calçados não se acabassem e os protegia do calor e frio no deserto. 

Toda murmuração contra Deus representa ingratidão, pois Deus é bom e tudo quanto somos e temos, devemos a Ele. Deus nos deu a vida, o meio ambiente para vivermos, os recursos naturais para deles obtermos o nosso sustento, a saúde e a salvação das nossas almas. Mesmo os que não servem a Deus não tem motivos para reclamar dele, pois Ele é bom e oferece os benefícios naturais aos justos e injustos: “Para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” (Mt 5.46). 

4. A terceira queixa (Nm 12.1-3). Após a murmuração do povo no capítulo 11 de Números, temos agora a terceira queixa, registrada no capítulo 12. Trata-se de uma rebelião dentro da família de Moisés, movida pela inveja dos seus irmãos, contra a sua liderança. O argumento inicial deles foi contra o casamento de Moisés com uma mulher cuxita. Não temos informações bíblicas sobre este casamento. Mas, certamente não se trata de Zipora, a esposa de Moisés, que era de Midiã, descendente de Abraão com Quetura, a sua segunda esposa. Os cuxitas não pertenciam aos povos semitas e eram descendentes de Cam, o filho de Noé que foi amaldiçoado. Era um povo considerado vil e desprezível aos olhos dos hebreus. 

A sequência da murmuração, no entanto, demonstra que a reclamação de Miriã e Arão não era apenas por causa do casamento. Eles reclamaram da liderança de Moisés, pois queriam liderar também. Por serem mais velhos que Moisés, eles achavam que tinham direito a participar das decisões. Entretanto, a liderança de Moisés não era democrática, aristocrática ou monárquica. Moisés não herdou a liderança, não foi escolhido por homens, nem tampouco quis ser líder do povo de Israel. O próprio Deus o chamou pessoalmente e ele foi contra a sua vontade. 

Podemos pontuar algum erro de um líder da Igreja, ou mesmo criticá-lo quando for repreensível. Entretanto, precisamos tomar cuidado para não ir contra a liderança da Igreja que foi estabelecida por Deus, pois, neste caso, constitui-se em rebelião contra o próprio Deus. Todos aqueles que se levantam contra a liderança que foi estabelecida por Deus, sofrem terríveis consequências. 


REFERÊNCIAS: 

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 84-89.

PFEIFFER, Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pág. 1316.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 641, 642. 

DU BOIS, Lauriston J. Comentário Bíblico Beacon: Números. Editora CPAD. pág. 343-344.

CLARKE, Adam. Comentário Bíblico de Adam Clarke.

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