08 novembro 2022

SOBRE A MÁXIMA USADA EM ISRAEL


(Comentário do 1º tópico da Lição 07: A responsabilidade é individual).

Havia um ditado popular em Israel que dizia: "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”. Este primeiro tópico nos mostra que este ditado é equivocado. O povo interpretava equivocadamente o texto de Êxodo 20.5, para defender a maldição hereditária. Mas, o texto do Decálogo não defende isso. O final do texto diz que Deus visitará a maldade dos pais nos filhos “...daqueles que me aborrecem”. Ou seja, os filhos só serão punidos se continuarem nas mesmas práticas dos pais. Jeremias e Ezequiel foram usados por Deus para explicar que a responsabilidade pelo pecado é individual (Jr 31.29,30; Ez 18.2,3). Na atualidade também há muitos crentes defendendo essa ideia de maldição hereditária, com o mesmo argumento. 


1- Uma máxima equivocada. No segundo mandamento do Decálogo (Dez mandamentos), quando Deus proibiu a confecção e a adoração às imagens de escultura, o Senhor disse: “...Porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.” (Ex 20.5b). Os israelitas interpretaram erroneamente este texto e entenderam que Deus havia estabelecido a maldição hereditária e, portanto, os filhos seriam punidos pelos pecados dos pais. Entretanto, não foi isso que o Senhor falou. Ele estava se referindo à geração daqueles que aborrecem a Deus. Se alguém é filho de pais ímpios, mas serve a Deus, deixou de ser alguém que aborrece a Deus e está livre de qualquer maldição. 


Para explicar esse entendimento que eles tinham da Lei, eles usavam um ditado popular metafórico que dizia: "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”. O sentido de "dentes embotados" é pouco conhecido atualmente, usa-se mais a expressão "dentes cariados" ou "dentes sensíveis". As bactérias fazem furos imperceptíveis a olho nu, que posteriormente crescem e se transformam em cáries visíveis. Estes furos minúsculos tornam os dentes sensíveis e o ácido das uvas verdes causam dores e irritações. O povo de Israel usava esta metáfora para dizer que eles estavam sendo injustiçados, sendo punidos pelos pecados dos seus pais. Mas, não era verdade. Embora os seus pais também tivessem pecado, eles pecaram também. 


O Código de Hamurabi, antigo código penal da região da Mesopotâmia, permitia a morte de um filho no lugar do pai, ou vice-versa, por crimes cometidos, mas não se tem notícia de que tenha sido aplicada alguma pena nesse sentido. Entretanto, isso era expressamente proibido na Lei de Israel. O próprio Deus já havia esclarecido isso na Lei mosaica: “Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos, pelos pais; cada qual morrerá pelo seu pecado.” (Dt 24.16). Em alguns casos, Deus puniu toda a família por causa de um pecado, mas, certamente é porque toda a família estava envolvida e concordava.


É verdade que o pecado de uma geração traz consequências para a nação e para as próximas gerações. Mas, isso não se confunde com punição divina a uma geração, por causa do pecado de outra. Se uma geração se afasta de Deus e se entrega completamente ao pecado, perde-se os valores de Deus que trazem benefícios e adotam-se os valores do maligno, que causam destruição. Da mesma forma, se uma geração busca a Deus e promove a honestidade, o amor ao próximo, os valores da família, o trabalho e a justiça, isso trará prosperidade e segurança à próxima geração. O mesmo acontece com uma família, que se afasta de Deus e não ensina os seus filhos a servirem a Deus. Isso produz neles ideologias, costumes e práticas que os levam à destruição.


Os exilados pareciam crer no fatalismo, que é a doutrina que afirma que tudo o que acontece, já está predeterminado por Deus ou por outras forças espirituais e nada pode ser feito para alterar isso. A crença no fatalismo acaba fazendo com que as pessoas não assumam as suas culpas e responsabilidades, colocando sempre a culpa nos outros ou até em Deus. É verdade que o ser humano colhe aquilo que planta, mas, se ele se chegar a Deus com arrependimento, a sua sentença poderá ser mudada. 


2- Jeremias e Ezequiel trataram do assunto. O profeta Jeremias também tratou do mesmo assunto, nos capítulos 30 a 33 do seu livro, quando falava da restauração de Judá e do retorno do cativeiro. No capítulo 31.29,30, Jeremias diz: “Naqueles dias, nunca mais dirão: Os pais comeram uvas verdes, mas foram os dentes dos filhos que se embotaram. Ao contrário, cada um morrerá pela sua iniquidade, e de todo homem que comer uvas verdes os dentes se embotarão”. Portanto, a mensagem de Jeremias era escatológica, ou seja, era para o futuro. Deus usou Jeremias para dizer ao povo de Judá, antes do cativeiro, que eles iriam para o cativeiro, mas, seriam restaurados. Quando voltassem para a sua terra, nunca mais este provérbio seria repetido. 


A referência a este provérbio feita por Ezequiel, no entanto, era para o tempo em que eles viviam no cativeiro. Embora haja também em Ezequiel a mesma referência escatológica que há em Jeremias, há uma repreensão de Deus ao povo do cativeiro, quanto a este provérbio, pois ele traz uma acusação injusta contra Deus (Ez 18.2,3). Deus não estava punindo uma geração pelos pecados dos seus pais. O Senhor deixa claro, através de Ezequiel, que todas as almas (pessoas) são dele e que cada um seria punido pelos próprios pecados “... a alma que pecar, esta morrerá”. (Ez 18.4c). Alma neste texto não tem o sentido da parte imaterial, como dizem os aniquilacionistas, que pregam que as almas dos ímpios deixarão de existir. Alma aqui é uma referência à própria pessoa. 


3- O problema em nosso tempo. Esta mesma interpretação equivocada que o povo de Israel fazia, também tem sido feita em nossos dias, pelos adeptos de um movimento chamado “Batalha Espiritual”. Este movimento supervaloriza as ações do inimigo e atribui tudo de errado que acontece a ações demoníacas. Os ensinos deste movimento reúnem práticas e ensinos oriundos do ocultismo e do misticismo. Um dos ensinos deste movimento é a doutrina da maldição hereditária. 


Este ensino herético afirma que a maldição adquirida pelos pais, seja por causa de pecado ou de pactos realizados, passa para os filhos e para as próximas gerações. Por causa disso, ensinam outra doutrina herética, que é a quebra de maldição. Segundo os adeptos desse movimento, há vários tipos de maldições que precisam ser quebradas: maldição oriunda dos pecados dos antepassados, maldição oriunda de uma palavra de maldição que fora lançada, maldição ocasionada por causa de algum pacto feito com entidades malignas, etc. Acreditam também que territórios são dominados por certos tipos de demônios e, por isso, fazem 'mapeamento espiritual' para subjugar tais demônios e quebrar as maldições.  


O mais grave é que estes hereges defendem que um crente verdadeiro pode estar debaixo de maldição, ou mesmo em possessões demoníacas. Para desfazer tais maldições, dizem que o sacrifício de Cristo na Cruz não seria suficiente. Seria necessário fazer trabalhos de libertação, com regressão psicológica, anular, repreender e desfazer os pactos feitos e as maldições. Ora, isso é muito parecido com o que fazem os adeptos das religiões afrodescendentes, que acreditam em fazer e desfazer trabalhos espirituais. 


A Bíblia ensina o contrário disso. Durante todo o seu ministério terreno, Jesus ensinou que é Ele que liberta o pecador: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mt 11.28); “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”. (Jo 5.24); “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”  (Jo 8.36). 

Os apóstolos deram sequência ao Ministério de Jesus e também ensinaram que é Cristo que nos liberta do pecado e de qualquer maldição: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.1). “Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo” (2 Co 5.17). “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gl 3.13). 


Concluímos, portanto, dizendo que toda e qualquer maldição ou pacto são desfeitos, a partir do momento que a pessoa vem a Cristo. A Cruz de Cristo é suficiente para pagar o preço da nossa redenção e qualquer acréscimo a ela para a salvação ou libertação é antibíblico e deve ser rejeitado. 


REFERÊNCIAS: 


SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pag. 87.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 391; 845; 3245.

BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol. 1. Editora Cultura Cristã. pág. 515.

LIMA, Paulo Cesar. O que está por trás do G-12. Editora CPAD: 1 Ed 2000. pág. 93-96.


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Ev. Weliano Pires


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