(Comentário do 2º tópico da Lição 08: O Bom Pastor e os pastores infiéis)
Falaremos neste tópico sobre os pastores infiéis de Israel, detalhando as suas ações e omissões como governantes de Israel. As más atitudes dos pastores infiéis foram responsáveis pela dispersão das ovelhas. Naquela época em Israel, mesmo na monarquia, não era possível separar o governo civil do religioso. Portanto, a profecia de Ezequiel é contra as lideranças civis e religiosas da nação.
1- O pastor de ovelhas. Em sentido literal, conforme já falamos no tópico anterior, o pastor de ovelhas difere do pastor de outros tipos de rebanhos de tem características especiais. As atividades principais inerentes à função do pastor de ovelhas são: prover o alimento, conduzir as ovelhas ao pasto e ao aprisco, tratar das ovelhas feridas, buscar as que se perderam pelo caminho e proteger o rebanho dos predadores.
A principal atividade econômica do povo de Israel, desde o tempo dos patriarcas, era a agricultura e a pecuária. Na agricultura, dedicavam-se ao cultivo de trigo, para a produção de pães; uvas, para a produção de vinho e olivas para a produção de azeite. Na pecuária, criavam bois e ovelhas, para o consumo de carnes e também para os sacrifícios religiosos.
Temos vários exemplos de pessoas importantes da história de Israel, que se dedicaram à atividade de pastorear rebanhos. Jacó foi pastor das ovelhas do seu tio e sogro, Labão; os filhos de Jacó, quando venderam José, estavam no campo cuidando dos rebanhos do seu pai. Depois, quando se mudaram para o Egito, foram morar na terra de Gósen, porque eram criadores de gado e ovelhas. (Gn 46.31-34); Moisés, pastoreou as ovelhas do seu sogro por 40 anos (Ex 3.1); Davi também, antes de ser ungido rei de Israel, era pastor das ovelhas do seu pai (1 Sm 16.11).
Tanto o povo de Israel quanto os seus governantes conheciam profundamente a atividade do pastor de ovelhas. Por isso esta metáfora usada por Deus, para se referir aos líderes de Israel, comparando-os a pastores de ovelhas era perfeitamente compreensível e adequada para aqueles dias. No sentido figurado, no Antigo Testamento, além de Ezequiel, temos também o texto de 2 Samuel 5.2, onde Deus disse que Davi apascentaria o seu povo. O texto de Isaías 44.28 apresenta o imperador persa, Ciro, como pastor. Em outros textos também, Deus se refere aos líderes religiosos e governantes como pastores e ao seu povo como ovelhas.
2- O que os governantes faziam (vv.2,3)? O crime é a violação da Lei. O direito penal diz que o indivíduo comete crimes por ação ou por omissão. Ou seja, é crime fazer o que a lei proíbe e é crime deixar de fazer o que é o nosso dever. Com o pecado, acontece a mesma coisa. Pecamos quando fazemos aquilo que a Bíblia proíbe e pecamos quando não fazemos o que ela nos ordena. No caso do pecado há ainda o pecado por pensamentos e intenções que só Deus conhece.
Neste ponto da lição abordaremos os pecados por ações destes pastores infiéis. O primeiro deles é que é que eles "cuidavam de si mesmos:" “Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos!” (v.2). Ou seja, eles militavam em causa própria. Tudo o que faziam era para se beneficiarem. Isso é o que chamamos de corporativismo, quando um grupo os governantes se unem e as suas ações convergem sempre para o benefício próprio. Ora, Deus não chamou pastores para cuidarem de si mesmos e sim do rebanho.
A segunda ação indevida do grupo era o abuso de autoridade e exploração das ovelhas. Isso é demonstrado em linguagem figurada no versículo 3: "Comeis a gordura, e vos vestis da lã, e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas”. Há divergência entre os estudiosos sobre o significado de "comer a gordura" neste texto. Alguns acham que seria uma referência a comer ovelhas do rebanho que pastoreavam, sem autorização do dono do rebanho, como se pode ver na defesa de Jacó diante do seu sogro Labão: "Estes vinte anos eu estive contigo; as tuas ovelhas e as tuas cabras nunca abortaram, e não comi os carneiros do teu rebanho." (Gn 31.38). Outros, no entanto, entendem que era uma referência ao fato de a gordura não ser para consumo humano e sim para queimar em sacrifício a Deus (Lv 3.17; 7.22-25). Qualquer que seja a interpretação, o problema é que estes pastores, além de não cuidarem das ovelhas, abusavam daquilo que elas tinham a oferecer.
Na atualidade não é diferente. Os nossos governantes gastam fortunas do dinheiro público em seu próprio benefício e dizem que não há dinheiro para os serviços básicos à população como saúde, educação, segurança pública, saneamento básico, etc. Além de gastarem indevidamente o dinheiro público, ainda falam em aumentar impostos para gastarem mais. Um fato comum onde ditadores no poder é a diferença abissal que há entre o padrão de vida da maioria da população e o dos governantes.
3- O que os governantes não faziam (vv.4,8)? Neste ponto, analisaremos os pecados de omissão dos governantes de Israel. Na profecia de Ezequiel há uma sequência de “nãos”, que descrevem a omissão desses governantes, que não cumpriam as suas responsabilidades para com o povo. O texto bíblico diz: “A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza” (v.4). Ezequiel descreve, em sentido metafórico, a situação de miséria em que Jerusalém se encontrava. As ovelhas estavam fracas, doentes, quebradas e perdidas. Estas condições em uma ovelha são consequências do abandono e irresponsabilidade do pastor, pois ele é o responsável direto por cuidar de todas estas áreas, como vimos anteriormente.
Da mesma forma, os governantes de Israel naquele contexto, concentravam neles os três poderes: Executivo, legislativo e judiciário. Não havia separação de poderes como na atualidade. Os reis faziam o que queriam. Os limites eram estabelecidos pela Lei de Deus: “não domine sobre eles com tirania, mas tema o seu Deus” (Lv 25.43). Havia uma série de normas legais para proteger os órfãos, as viúvas, os estrangeiros, etc. e evitar a tirania.
Nos dias de Jeremias e Ezequiel, a Lei era ignorada. No capítulo 7 do seu Livro, Jeremias foi enviado por Deus à porta do templo, para denunciar vários crimes destes governantes: não praticavam a justiça nos julgamentos; oprimiam os estrangeiros órfãos e viúvas; executavam inocentes; praticavam idolatria, furtos, adultérios e outros pecados (Jr 7.1-7). A falta de proteção aos menos favorecidos, a exploração, a corrupção e os gastos excessivos dos governantes, empobrecem a nação e a leva à miséria. Por isso, Deus determinou a sentença da nação, que seria o cativeiro e proibiu o profeta Jeremias de orar por eles. (Jr 7.16). O profeta Ezequiel também falou sobre as mesmas abominações praticadas por estes governantes, que levaram a nação ao cativeiro, em várias partes do seu livro: Ez 11.1-2, 9; 12.10; 17.11-21; 19; 21.25; 22.6, 13.
4- As ovelhas dispersas (vv. 5,6). Além de cuidar das ovelhas, guiar, alimentar e proteger, é papel do pastor evitar que as ovelhas se dispersem e, caso isso aconteça, ele deve sair pelos montes a procurá-la e trazê-la de volta ao rebanho. Conforme falamos no início, as ovelhas não enxergam bem e são medrosas. Se não houver um pastor por perto para guiá-las pelo caminho, elas se perdem e se tornam presas fáceis dos predadores.
Nos versículos 5 e 6, o Senhor fala sobre a dispersão do seu povo, por causa das ações ímpias e omissões dos pastores infiéis. Esta mensagem foi dirigida ao Reino do Sul, mas ela se refere a todo o povo de Israel, pois no Reino do Norte aconteceu a mesma coisa, em 722 a.C. quando o povo foi levado cativo para a Assíria. Por causa desses maus pastores, todo o Israel ficou disperso, em situação caótica. O Reino do Norte foi levado para a Assíria e não voltou mais. O rei da Assíria trouxe outros povos para habitar a região.
No Reino do Sul, por causa da aliança de Deus com Davi e a promessa da vinda do Messias da sua descendência, a situação foi diferente. Deus permitiu que eles fossem levados para o cativeiro, mas, prometeu que depois de 70 anos, eles voltariam para a sua terra. A situação deles durante a deportação, no entanto, foi deplorável. O exército da Babilônia invadiu Jerusalém, saqueou os tesouros do templo e do palácio, queimou a cidade, destruiu o templo e levou o povo produtivo para a Babilônia. Só ficaram os velhos, deficientes e os miseráveis. Milhares de judeus foram mortos impiedosamente nas três incursões babilônicas.
REFERÊNCIAS:
SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pág. 95-96.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 2301; 3305-3306.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 493.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pág. 790.
BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pág. 267-269.
Comentário Bíblico Beacon: Isaías a Daniel. Vol. 4. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 476).
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