01 junho 2022

RIQUEZA DO CÉU E RIQUEZA DA TERRA


(Comentário do 1º tópico da Lição 10)

Há dois pensamentos teológicos opostos, que são equivocados, do ponto de vista bíblico, sobre o uso dos bens materiais. Há a teologia da libertação católica, que é totalmente contrária às riquezas e prega que Jesus veio libertar as pessoas não dos seus pecados, mas da opressão dos ricos. Estes teólogos apoiam invasões de terra e até a luta armada, para tomar os bens dos ricos e distribuí-los aos pobres. No meio evangélico há uma versão desta teologia chamada de teologia da missão integral. Não são radicais como os teólogos da libertação, a ponto de apoiar a luta armada, mas também criticam as riquezas e reduzem o evangelho à distribuição de renda. 


No outro extremo, está a teologia da prosperidade, que prega que as riquezas materiais são sinais da bênção de Deus e que a pobreza é sinal de maldição. Pregam que Deus é o dono de tudo e, portanto, os seus filhos também têm que ser ricos. Se os teólogos da libertação condenam as riquezas, os da prosperidade condenam a pobreza. Entretanto, nenhum dos dois tem apoio nas Escrituras. 


Nos versículos 19 e 20 do capítulo 6 de Mateus, Jesus recomendou os seus discípulos a não ajuntarem tesouros na terra, mas ajuntarem tesouros no Céu. Na sequência, Ele afirmou que onde estiver o nosso tesouro, estará também o nosso coração. Jesus esclareceu que os tesouros deste mundo são perecíveis, pois a traça e a ferrugem podem destruí-los e são temporários, pois os ladrões podem roubá-los. Entretanto, os tesouros do Céu são infinitamente mais valiosos, não perecíveis.   


Neste tópico veremos que não é possível conciliar a busca incontrolável por bens terrenos com o serviço e a adoração a Deus. O problema, evidentemente, não está na posse de riquezas, mas no amor ao dinheiro, que é idolatria. Faremos também um contraste entre as riquezas terrenas e as celestiais. Por último abordaremos algumas informações importantes para o cristão sobre o uso racional dos bens materiais. 


1- Uma conciliação impossível.  Jesus foi categórico ao afirmar: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." (Mt 6.24). A relação entre o crente e Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento é comparada ao relacionamento conjugal. O profeta Oséias e outros chamaram a infidelidade a Deus de "adultério" (Os 2.5,7). No Novo Testamento, Tiago faz a mesma coisa, em relação à amizade do crente com o mundo (Tg 4.4).

 

No Sermão do Monte, o Senhor Jesus mostra que há incompatibilidade entre servir a Deus e a Mamom, pois não há a possibilidade de agradar aos dois. Mamom é uma palavra aramaica que significa "riqueza"  e envolve possessões, propriedades, alimentos, dinheiro, roupas, etc. Nas versões mais atualizadas, temos a palavra "riqueza", no lugar de "Mamom". 


O que Jesus contrapôs ao relacionamento com Deus não foi o simples fato de alguém possuir riquezas e sim, colocar nelas a sua confiança e viver a vida com o objetivo de alcançar riquezas e poder. Aliás, como bem colocou o comentarista, esta foi a proposta do diabo a Jesus: ofereceu riquezas e poder terreno, em troca de adoração. 


2- Tesouros da terra e tesouros do céu. A palavra traduzida por tesouro neste texto, no grego é thesaurós, que tem dois significados: Refere-se a um lugar  onde se guardava coisas boas e preciosas, como num cofre. Significava também um depósito ou armazém, onde coisas valiosas eram armazenadas. Portanto, Jesus não estava se referindo apenas aos que já são ricos, mas aos que queriam a todo custo ficar ricos. É importante destacar que nem todos os ricos são soberbos e avarentos e nem todos os pobres são humildes e desprendidos. 


Os escribas e fariseus valorizam muito os bens materiais, pois acreditavam que a prosperidade material era sinal da bênção de Deus, assim como fazem os adeptos da teologia da prosperidade atual. Não é à toa que em suas pregações, os propagadores dessa teologia recorrem sempre ao Antigo Testamento, com exceção dos livros de Jó e Jeremias, é claro.


Pobreza não significa maldição ou que a pessoa não é fiel a Deus. Riquezas e poder também não são sinônimos da aprovação de Deus. Ao contrário, Jesus disse que dificilmente os ricos entrarão no Reino dos Céus, não por causa da riqueza em si, mas, por colocarem nas riquezas o seu coração. O jovem rico, por exemplo, ao ser recomendado a vender tudo e entregar aos pobres e ter um tesouro no céu, retirou-se triste (Mt 19.21,22). 


O apóstolo Paulo, escrevendo aos Coríntios disse: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Co 15.19). A esperança e o conceito de próspero e bem sucedido para o cristão não obedece aos critérios e padrões deste mundo. Para o mundo, bem sucedido são os que estão na lista de milionários da Revista Forbes, os que estão nas capas da Revista Caras, os que têm corpos esculturais, etc.


Para o cristão, o que importa é agradar a Deus, em qualquer circunstância. Ajuntar tesouros no Céu, no entanto, não significa salvação pelas obras ou ter algum mérito diante de Deus, como muitos imaginam. O maior tesouro para o cristão é o próprio Deus: “Ao Senhor declaro: Tu és o meu Senhor, não tenho bem nenhum além de ti” (Sl 16.2). Para um crente verdadeiro, a presença de Deus lhe é suficiente. Quem serve a Deus pelo que Ele oferece, servirá a outro deus se a proposta for mais interessante. Isso é prostituição espiritual. 


3- O que o cristão precisa saber sobre os bens materiais? Conforme já falamos Jesus não condenou a aquisição de bens materiais ou as riquezas, nem tampouco proibiu a previdência e precaução para o futuro. Há inúmeros casos de homens de Deus na Bíblia que eram ricos: Abraão (Gn 14.18-20; 24.1), Isaque (Gn 26.12,13), Jacó (Gn 30.43), Jó (Jó 1.1-3), Salomão (2Cr 1.12), etc. Na ocasião da multiplicação dos pães, o Senhor ordenou que recolhessem os pedaços que caíram, para que nada fosse desperdiçado (Mt 6.12). 


Sobre os bens materiais, a primeira coisa que devemos ter em mente é que tudo pertence a Deus (Sl 24.1; Ag 2.8). Nós não somos proprietários de nada neste mundo. Somos apenas mordomos ou administradores dos bens que Deus nos confiou e iremos prestar contas do uso que fizemos deles a Deus. Precisamos sempre lembrar que somos apenas peregrinos neste mundo e estamos a caminho do nosso eterno lar. Por isso, os bens terrenos devem ser vistos como temporários, necessários para a nossa sobrevivência, para ajudar ao próximo e servir a Deus. O cristão deve usar os bens que Deus lhe confiou e nunca ser dominado por eles ou idolatrá-los. Deus requer fidelidade dos seus mordomos neste mundo, no usos dos bens que ele entregou: “Ora, além disso o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1 Co 4.2).


Deus nos concede bens materiais, através do nosso trabalho. Ele não joga dinheiro do Céu na conta de preguiçosos como muitos imaginam. Em vários textos, a Bíblia condena a preguiça e enaltece o trabalho (Pv 6.6; Pv 15.19; Pv 21.25; Jo 5.17; At 20.34; Ef 4.28; 1 Ts 4.11,12; 2 Ts 3.10;  O apóstolo Paulo disse que “aquele que não quiser trabalhar, também não coma.” (2 Ts 3.10). O trabalho dignifica o homem e deve ser praticado para a sobrevivência dele e da família. Entretanto, é preciso tomar cuidado para ser escravo do trabalho, tentando enriquecer, pois quem faz isso, incorre no mesmo erro de servir a Mamom.  


Deus nos dá a vida, a saúde, a disposição e as oportunidades para conquistarmos bens materiais. A uns Ele permite ser ricos e a outros não. O dinheiro na vida do cristão deve atender a pelo menos quatro finalidades: Suprir as próprias necessidades vitais (At 20.34); investir sabiamente em nossos propósitos de vida (Mt 25.15-30); Suprir as necessidades da Igreja, mantendo as atividades do Reino de Deus ( II Co 9.7-13; Ml 3.10; I Tm 5.17-18; Ajudar aos necessitados (Jo 4.11; 12.21; 2 Co 9.12; Pv 19.17; At 20.35). 


Denis Frota, em seu livro “O código bíblico do Dinheiro”, apresenta-nos pelo menos 10 atitudes e decisões que sintetizam o planejamento bíblico para as finanças: 

1. Reconhecer que tudo é de Deus, e devolver pelo menos o dízimo: Ml 3.10-11;

2. Trabalhar e ganhar dinheiro honestamente: Pv 6.6-11; 2 Ts 3.10-1;

3. Não entrar em dívidas e procurar sair delas: Pv 22.7; Rm 13.8; 1 Co 7.21-23;

4. Não colocar o coração no dinheiro ou em coisas materiais: Pv 23.4-5, 28.22; Mt 5.19-21;

5. Não viver ansioso ou preocupado: Fl 4.6-7; 1 Pe 5.7;

6. Não ser avarento: Ec 5.10; Lc 12.15; Cl 3.5;

7. Planejar os gastos: Pv 16.9. Faça um orçamento e pare com os gastos desnecessários! Coloque seus propósitos diante do Senhor: Sl 37.4;

8. Economizar: Pv 18.9 e 21.20. Guardar para quando precisar (emergências): Pv 27.18;

9. Generosidade: Pv 11:24-25. Ser sensível em relação às necessidades dos outros: Lc 3.11; Rm 12.13;

10. Contribuir regularmente para o sustento da causa de Cristo: 2 Co 8.3-5; Fp 4.18.


Muitas vezes nas nossas Igrejas somos ensinados apenas a entregar os nossos dízimos a Deus. Mas, pouco se ensina sobre o que fazer com os outros 90%. Muitos dizimistas vão à falência e culpam a Deus, pois segundo dizem entregaram o dízimo e não prosperaram. Entretanto, não basta ser dizimista. É preciso ser diligente no trabalho e administrar a sua renda. 


Depois de contribuir com dízimos e ofertas na obra do Senhor, há pelo menos três regras básicas para administrar o dinheiro: 

1. Ganhe o máximo que puder, sem sacrificar a própria saúde, descanso e lazer;

2. Nunca gaste tudo o que ganha, pois imprevistos acontecem;

3. Nunca entre em dívidas e, se for inevitável, procure sair o mais depressa possível. 


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 182-187.

LOPES, Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pág. 86-88.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. 1 Ed 2008. pág. 842.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 224-225.

ASTOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 71-72.

HOWARD, Dayton. O Seu Dinheiro. Bless Gráfica e Editora LTDA. 1 Ed. 2002.


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Pb. Weliano Pires


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