21 junho 2022

A CONDENAÇÃO DOS FALSOS SEGUIDORES DE JESUS


(Comentário do 1º tópico da Lição 13)

A nossa salvação é fruto da Graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo. Sendo assim, ninguém será salvo por obedecer a regras. Entretanto, nenhum desobediente entrará no Céu, pois, a verdadeira fé em Jesus não consiste em palavras fingidas e é comprovada pelas obras. Jesus disse que naquele dia, isto é, no julgamento final, muitos comparecerão diante dele, alegando que fizeram muitos milagres em Seu nome, profetizando, curando e expulsando demônios. Mas Jesus lhes dirá abertamente: “Nunca vos conheci! Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade!” (Mt 7.23). Isso demonstra que milagres não autenticam a fé de ninguém. A nossa fé só será autêntica, se fizermos a vontade do pai, que é boa, agradável e perfeita. 

1- Uma fé só de palavras? Conforme está escrito em nosso texto áureo, Jesus disse: "Nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus…". (Mt 7.21a). A palavra "senhor" atualmente é um problema de tratamento que pode ser usado, que usamos para nos referimos a um homem, de forma respeitosa, independente da idade e da posição social. Entretanto, no hebraico e no grego não era assim. 

A palavra "Senhor", em hebraico é "Adon" e se refere a um dominador, ou alguém que possui controle absoluto, como um dono de escravos (Gn 24 14,27); um governador (Gênesis 45.8); ou o marido que era o senhor de sua esposa e líder absoluto da sua casa, na sociedade patriarcal (Gn 18.12). A forma plural desta palavra hebraica é "adonai". Para evitar pronunciar o nome de Deus em vão, os judeus passaram a usar "Adonai", em substituição ao tetragrama (YHWH). 

No grego, que foi o idioma usado por Mateus, a palavra "Senhor" é "Kyrios". Significa um mestre supremo, ou dominador. A Septuaginta (LXX), traduziu o tetragrama por "Kyrios" e usou sempre esta palavra para se referir a Yahweh, o Deus de Israel. Portanto, era um título divino. No império romano, o imperador exigia ser chamado de "Kyrios" (Senhor), uma reivindicação de divindade. Os cristãos, evidentemente, se recusaram e foram cruelmente perseguidos. 

O que Jesus disse aqui é que não adianta alguém confessar a sua divindade, ou ter uma confissão de fé ortodoxa e não fazer a vontade de Deus. Claro que Ele não estava dizendo que a doutrina verdadeira é desnecessária. A fé cristã também consiste em confissão verbal e sincera em Jesus, como o Unigênito Filho de Deus (Rm 10.9,10). Entretanto, esta confissão não se resume às palavras e tem que estar embasada na prática da Palavra de Deus. A ortodoxia tem que andar junto com a ortopraxia. 

2- Os milagres não transformam o caráter. Após falar que não adianta ter uma confissão de fé ortodoxa e não praticá-la, Jesus cita os argumentos que os falsos seguidores dele usarão no dia do Juízo final, para questionar o fato de terem ficado fora do Reino dos Céus: “Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” (Mt 7.22). A resposta de Jesus será: “...Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mt 7.23). 

Jesus nos ensina aqui que é possível alguém realizar sinais sobrenaturais e não ser salvo. Milagres, profecias, batismo no Espírito Santo, dons espirituais e ministeriais não autenticam a fé de ninguém. Precisamos nos conscientizar de que há três fontes de fenômenos sobrenaturais ou inexplicáveis: Deus, o diabo e o homem. O apóstolo João nos alertou que não devemos dar crédito a qualquer espírito, mas devemos antes provar se procedem de Deus ((1 Jo 4.1). 

Neste texto, Jesus mencionou três ações que as pessoas podem fazer usando o seu Nome, sem que sejam necessariamente salvas: profecia, expulsão de demônios e milagres. A profecia aqui não se refere ao dom de profecia e sim ao ensino da Palavra, pois o dom de profecia como nós conhecemos, ainda não havia sido revelado. É perfeitamente possível que alguém que conhece a Palavra de Deus fale algo verdadeiro em nome de Deus, sem ser convertido, como Balaão, por exemplo  (Jd 1.11; Ap 2.14). Aliás, esta é uma estratégia do diabo para enganar. 

Da mesma forma é possível alguém expulsar demônios sem ser salvo, seja pela autoridade do Nome de Jesus ou por enganação. Por exemplo, Jesus concedeu poder aos doze apóstolos para curar e expulsar demônios (Lc 9.1). Eles foram e fizeram isso. Entre eles estava Judas Iscariotes que não era convertido. Hoje, no meio da Igreja também pode acontecer de alguém expulsar demônios em nome de Jesus e não ser convertido de verdade. Há também os casos de manipulações, onde pessoas inescrupulosas combinam e fingem manifestações demoníacas, para impressionar e ganhar dinheiro. É preciso buscar o dom de discernimento de espíritos, para saber a origem das manifestações espirituais. 

No caso de operação de milagres, Mateus usou a palavra grega dunamis, que significa poder, força ou habilidade sobrenatural, para realizar milagres. Esta palavra deu origem à palavra portuguesa dinamite. Um dos dons espirituais mencionados por Paulo aos Coríntios é operação de maravilhas (1 Co 12.10). Deus, de fato realiza milagres extraordinários e inexplicáveis através dos seus servos. Isto não ficou restrito à era apostólica, como dizem os cessacionistas. Deus é o mesmo e continua operando maravilhas. Entretanto, precisamos ter cuidado, pois milagres também não salvam ninguém e não servem para provar que uma religião ou ensino são verdadeiros. Existem também os falsos milagres, sejam eles operados pelo inimigo ou enganação através de mágicas e truques. 

Os Magos de faraó, por exemplo, realizaram sinais na presença de Faraó, para que ele não cresse na palavra de Moisés (Êx 7.11-22). Jesus também alertou os seus discípulos sobre os falsos profetas que surgiriam nos dias que antecedem a sua vinda (Mt 24.24) e Paulo alertou sobre os milagres que seriam realizados segundo a eficácia de Satanás pelo Falso Profeta na Grande tribulação (2 Ts 2.8.9). No Apocalipse, João também falou que a besta que sobe da terra (o falso profeta) fará grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu à terra. (Ap 13.13). 

3 - Fazendo a vontade do Pai. Jesus deixou claro que a condição para alguém entrar no Reino dos Céus não é apenas a sua confissão de fé ortodoxa ou os sinais sobrenaturais e os serviços prestados na Obra de Deus. O que define alguém como um verdadeiro discípulo de Jesus é o fato dele “fazer a vontade do meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21). Tiago disse que até os demônios crêem na existência de Deus e estremecem, mas não obedecem (Tg 2.19). O que seria fazer a vontade de Deus? 

A palavra vontade no grego é “thelêma” e significa uma determinação, escolha ativa ou passiva e inclinação (desejo, prazer, vontade). Escrevendo aos Romanos, o apóstolo Paulo disse: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12.2). Aos Tessalonicenses, Paulo escreveu: Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: Que vos abstenhais das prostituição”. 

Em resumo, a vontade de Deus é aquilo que está revelado em Sua Palavra. Deus deseja que o homem creia em Jesus Cristo, arrependa-se dos seus pecados e viva uma vida santa. Evidentemente, nenhum ser humano conseguirá fazer isso, por si mesmo. A parte que cabe ao ser humano é decidir seguir a Jesus. A partir desse momento, o homem é justificado pela fé em Cristo. O Espírito Santo passa a morar em seu interior e realiza o milagre do novo nascimento e a santificação. Se ele não entristecer o Espírito Santo e mantiver a comunhão com Deus, afastando-se do pecado, estará fazendo a vontade de Deus. 


REFERÊNCIAS:
GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 238-44.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO. Edição completa. Editora CPAD. 1 Ed 2008. pág. 87.
LOPES, Hernandes Dias. Mateus: Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 243.
BARCLAY, William. Comentário Bíblico: Mateus. pág. 311-313.
STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.62).

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Pb. Weliano Pires

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