11 junho 2022

Reflexão: O cansaço, enfado, desmotivação e estresse de pastores


O que leva os pastores a esta situação caótica? O que fazer para não  chegar a esse nível de cansaço, decepção e estresse com o ministério pastoral? 

Por WELIANO PIRES


Eu nunca fui pastor de uma Igreja, mas, por graça de Deus, sou presbítero da Assembléia de Deus, Ministério do Belém no estado de São Paulo, há catorze anos e, como tal, fui pastor auxiliar de três pastores em Osasco-SP, convivendo lado a lado com os problemas que eles enfrentavam e dividindo a carga. Atualmente, atuo como pastor auxiliar em São Carlos-SP e vejo de perto, as situações de cansaço de alguns pastores com o próprio ministério.


O cansaço, enfado, desmotivação e estresse [até depressão, infarto e suicídio] de pastores é um fato, que não acontece apenas no Brasil, mas em vários locais do mundo. Diante desta triste realidade, nos vem à mente os seguintes questionamentos: O que leva os pastores a esta situação caótica? O que fazer para não  chegar a esse nível de cansaço, decepção e estresse com o ministério pastoral? 


A meu ver, a principal causa deste cansaço generalizado foi a transformação das Igrejas em empresas. Evidentemente, eu sei que a Igreja apesar de ser um organismo espiritual, ela é também uma instituição, que precisa ser administrada. Mas, a administração eclesiástica não precisa, necessariamente, ser feita pelos pastores, que muitas vezes não tem a menor vocação e conhecimento de administração de empresas. A administração da Igreja também não pode adotar os parâmetros comerciais, onde o objetivo é o retorno financeiro. Os objetivos da Igreja são outros. Quando olhamos para o Novo Testamento, percebemos que as questões administrativas, financeiras e sociais da Igreja ficavam a cargo dos diáconos e não dos pastores. Aos pastores competia dedicar-se à oração e à pregação da Palavra de Deus. (Atos 6.1-7).


Por ter adotado os parâmetros comerciais, as Igrejas passaram a exigir de seus pastores retornos financeiros e crescimentos numéricos a qualquer custo. Agora, para piorar, estão exigindo engajamento político, tanto para a eleição de lideranças das convenções, quanto para as eleições de "candidatos da Igreja" nas eleições político partidárias. De novo, quando olhamos para a Bíblia, não vemos isso. Não é papel do pastor aumentar arrecadação, fazer a Igreja crescer e muito menos fazer política. O pastor deve ser avaliado quanto à sua fidelidade a Deus e à sua Palavra e o seu empenho na Obra do Senhor. Se fizer isso, e a Igreja não crescer, ele não deve mudar os fundamentos para alcançar crescimento, ou ser cobrado porque a Igreja não cresceu. “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.” (1 Coríntios 3.6,7).


Outro fator que leva pastores ao estresse e cansaço com o ministério, é a falta de vocação para o ministério. Em muitas Igrejas hoje em dia, ordena-se pastores sem a menor vocação, por causa de amizade, condições financeiras, boa oratória, submissão e obediência cega à liderança da Igreja, etc. O ministério pastoral é tarefa árdua e é dado por Deus (Efésios 4.11,12). A Igreja não tem ministério para oferecer a ninguém. Ela deve apenas reconhecer a chamada de Deus na vida do obreiro. Um obreiro que não foi chamado por Deus para ser pastor, não vai aguentar o ministério por muito tempo.


Por último, o que leva muitos pastores ao cansaço é a sede de poder. Na visão de muitos obreiros da atualidade, ser pastor é ter poder e mandar em tudo. Mas, na vida real não é assim. Um verdadeiro pastor é um líder servidor. É alguém chamado por Deus para cuidar da sua Igreja, sofrer por ela, renunciar a muitas coisas e dar a vida pelas ovelhas, se for preciso.


Concluindo, é preciso que as Igrejas e os pastores façam uma reflexão, sobre o papel dos pastores, começando pela escolha. O obreiro tem chamada de Deus para ser pastor? Depois, reavaliando as atribuições do ministério pastoral, de acordo com o modelo bíblico. Pastor não foi chamado para ser tesoureiro, secretário, construtor de templos, mestre de obras, advogado, assistente social, etc. O ministério pastoral consiste em orar, visitar, evangelizar, ensinar a Palavra de Deus e aperfeiçoar os santos.


Weliano Pires é professor da Escola Dominical e presbítero da Assembléia de Deus, Ministério do Belém, em São Carlos-SP.


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