02 junho 2022

A IDOLATRIA AO DINHEIRO

(Comentário do 2º tópico da Lição 10)

Etimologicamente, a palavra idolatria é a transliteração do termo grego eidololatria, que é formado por duas palavras: eidolon e latreia. A primeira, eidolon, significa imagem ou corpo. Deriva da palavra eido, que significa “ver”. Sendo assim, eidolon significa algo visível ou representado por uma imagem. A segunda, latreia, significa “serviço sagrado”, ou prestação de culto. Em resumo, idolatria é o culto ou adoração a alguém, seja real ou imaginário, através de uma representação visível. 

Entretanto, um ídolo do ponto de vista bíblico, não se limita a imagens. ídolo é qualquer pessoa ou objeto, real ou imaginário, que alcança a lealdade absoluta, honra e glórias, que são exclusivas de Deus. Mesmo uma representação do próprio Deus não pode ser cultuada (Êx 20.4). Deus é Espírito e não pode ser representado por objetos ou figuras feitas pelo homem (Jo 4:24). Deus é Único e exige exclusividade, pois, não há ninguém igual a Ele. Por isso, o primeiro dos mandamentos é: “Não terás outros deuses diante de mim". (Êx. 20.2). 


1- O coração no lugar certo. O Senhor Jesus disse: “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Mt 6.21). Em outra ocasião, o Senhor também disse: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim.” (Mt 10.37). Na mesma direção, Lutero afirmou: “O deus de um homem é aquilo que Ele ama”. Na Lei mosaica, no chamado “Shemá Israel” (Ouve, ó Israel), o Senhor diz que Ele é o Único Senhor e que eles devem amá-lo de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. (Dt 6.4,5). Isto significa que nada e ninguém pode ter a mesma importância e atenção de Deus em nosso coração. Quando isso acontece, cometemos o pecado de idolatria e Deus não tolera isso. 

O verdadeiro cristão vive neste mundo e usufrui das coisas daqui, para a sua sobrevivência e conforto. Mas, estas coisas não dominam o seu coração, pois nele está o Espírito Santo de Deus, que tem toda a primazia. Nem a nossa esposa, filhos, pais, irmãos, carreira, ou a própria vida podem estar no mesmo patamar do nosso relacionamento com Deus. 


2- Idolatrando a Mamom. Conforme mostramos no início deste tópico, idolatria é o serviço sagrado ou adoração a ídolos. Em sentido estrito, ídolos seriam imagens ou objetos que representam uma divindade. Nesse sentido, alguém poderia argumentar que as pessoas não adoram ou prestam culto ao dinheiro. Entretanto, o sentido de ídolo na Bíblia é bem mais amplo e vai muito além das imagens e objetos. A idolatria, portanto, é tudo aquilo que ocupa o lugar de Deus em nossos corações. 

Conforme já mencionamos, Mamom é uma palavra aramaica que significa riquezas. Alguns dizem que se tratava de uma divindade pagã dos tempos bíblicos, mas não há fontes históricas que comprovem esta afirmação. Nos ensinos de Jesus a palavra Mamom esteve presente também em outras ocasiões, como em Lucas 16.9,11,13, onde Ele fala sobre o mordomo infiel. 

Uma pessoa pode trabalhar para dois patrões, desde que dívida o tempo com ambos. Mas na escravidão, não é possível ter dois senhores, pois o senhor de escravos era dono dele. Podia vender, trocar, libertar e, caso descumprisse as suas ordens podia castigar e até matá-lo.  Então, foi nesse sentido que Jesus falou que ninguém pode servir a dois senhores. Quem se torna escravo de Mamom, não pode servir a Deus e vice versa. 

3- A riqueza condenada por Cristo. É sempre bom esclarecer que Jesus, em momento algum condenou as riquezas ou exaltou a pobreza como uma virtude, como alguns ensinam. As riquezas em si mesmas não trazem nenhum mal. Os bens materiais, assim como todos os recursos naturais, foram criados por Deus. Se forem bem utilizados, podem ser bênção para a nossa vida, para o nosso próximo e para a obra do Senhor. Conforme já falamos no primeiro tópico, há vários homens de Deus que foram ricos e as suas riquezas foram concedidas por Deus. 

O que Jesus sempre condenou foi a avareza, ou seja, ter o coração nas riquezas, pois como Ele disse, ninguém pode servir a dois senhores. O apóstolo Paulo chama o avarento de idólatra (Ef 5.5). De fato, o apego demasiado aos bens materiais constitui-se em idolatria, pois o dinheiro passa a ocupar o lugar de Deus no coração do homem. Paulo escrevendo a Timóteo disse: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (1 Tm 6.10). 

Neste contexto, o apóstolo falava sobre pessoas corruptas de entendimento, que achavam que a piedade é fonte de lucro. Ele então explica a Timóteo que nada trouxemos para este mundo e nada levaremos dele. Portanto, tendo o sustento e as vestes, devemos nos contentar. Na sequência, ele diz que os que querem ficar ricos caem em muitas ciladas e desejos que os levam à destruição, pois  amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. 

O Pr. Osiel Gomes, comentarista desta lição, explica que no texto grego, a expressão traduzida por “... O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” seria melhor traduzida assim: “... uma raiz de todos os males é o dinheiro”. Se dissermos que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males que existem no mundo, teremos sérios problemas com a Doutrina do pecado, pois, o pecado entrou no mundo não pelo amor a dinheiro, mas pela desobediência do primeiro casal à ordem de Deus no Jardim do Éden. Talvez o apóstolo estivesse se referindo à raiz desses males que ele citou, como a soberba e as ciladas que levam as pessoas à destruição, pois, evidentemente, o amor ao dinheiro não é a raiz de todos os males que há no mundo, uma vez que já havia males no mundo muito antes do surgimento do dinheiro. 


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 188-191.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 225-227.

LOPES, Hernandes Dias. Lucas Jesus o Homem Perfeito. Editora Hagnos. 1 Ed 2017.

STOTT, John. Contracultura cristã: A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pág. 72-74.


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Pb. Weliano Pires


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