05 dezembro 2025

REGENERAÇÃO E ADORAÇÃO

(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana)

No terceiro tópico, temos três tópicos a respeito da regeneração e adoração. Iniciaremos com a experiência espiritual do Novo Nascimento. Veremos também que é indispensável a compreensão da obra do novo nascimento para uma correta adoração. Por fim, veremos que a verdadeira e pura adoração nasce de um espírito quebrantado, ou seja, da simplicidade, que não busca a exaltação humana.

1. O Novo Nascimento. 

A vitória sobre o pecado encontra seu ponto de partida na experiência espiritual do Novo Nascimento, compreendido como um ato divino operado no interior do ser humano que resulta na concessão de um espírito regenerado (Jo 3.5–8; Ef 2.1–6). Na teologia cristã, os termos Novo Nascimento e Regeneração são tratados como sinônimos.

A Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil define a regeneração como “a transformação do pecador numa nova criatura pelo poder de Deus, como resultado do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário”. Tal definição enfatiza a dimensão soteriológica da regeneração, articulando sua origem na obra expiatória de Cristo e sua realização na ação do Espírito Santo.

No âmbito do Novo Testamento, a expressão grega gennethenai anóthen, traduzida por “nascer de novo” em João 3.3, pode igualmente ser interpretada como “nascer do alto” ou “nascer de cima”, sugerindo uma origem celestial e não humana para essa transformação espiritual. Além disso, outros termos correlatos aparecem Novo Testamento, como anagennaō, presente em 1 Pedro 1.3 e 1.23, que designa a ação regeneradora do Espírito Santo ao transformar o ser humano em uma nova criatura conforme a vontade divina.

Outro vocábulo empregado nas Escrituras para descrever esse processo é palingenesia, traduzido por “regeneração”, cujo sentido literal é “ser gerado novamente”. Essa palavra ocorre duas vezes no Novo Testamento: em Mateus 19.28, onde é utilizada por Jesus em referência à restauração cósmica no período do Milênio; e em Tito 3.5, onde o apóstolo Paulo a utiliza para descrever a renovação espiritual realizada pelo Espírito Santo no interior do indivíduo.

A necessidade universal do Novo Nascimento fundamenta-se na condição humana marcada pelo pecado. O apóstolo Paulo afirma, em Romanos 3.23, que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Dessa forma, se todo ser humano se encontra sob a realidade do pecado, torna-se igualmente imprescindível que todos experimentem o Novo Nascimento como meio de restauração espiritual.

2. Em espírito e em verdade. 

O comentarista destaca que compreender corretamente a imprescindível obra do Novo Nascimento, operada no nosso interior, é fundamental para uma vida de adoração genuína. Nicodemos, um respeitado doutor da Lei, possuía um conhecimento limitado, que se restringia ao que podia ser observado externamente. Por esse motivo, ele não compreendeu a explicação de Jesus sobre a necessidade do Novo Nascimento.

Por outro lado, a mulher samaritana, que era completamente leiga nas Escrituras Judaicas, conhecia ainda menos. Ela apenas sabia o que a tradição de seus antepassados lhe transmitira sobre a adoração no Monte Gerizim e a expectativa de que um Ungido [hebr. Mashiach] de Deus viria para libertar Israel.

Durante o diálogo, a mulher questionou Jesus a respeito do verdadeiro local de adoração, pois seus antepassados samaritanos afirmavam que este deveria ser o Monte Gerizim, o qual, segundo a tradição, era o lugar adequado para adorar a Deus. Este monte era considerado o lugar da bênção, uma vez que foi de lá que Moisés pronunciou as bênçãos para os israelitas que obedecessem a Deus (cf. Dt 28.1-14). O Monte Ebal, por sua vez, era associado à maldição.

Após o retorno dos judeus do cativeiro babilônico e a reconstrução do Templo de Jerusalém, os samaritanos construíram um santuário no topo do Monte Gerizim para competir com o templo judaico. Mesmo após a destruição desse santuário, os samaritanos continuaram a subir ao monte para realizar seus cultos.

Jesus, no entanto, veio estabelecer uma Nova Aliança, na qual a adoração não depende de peregrinações a lugares sagrados, sacrifícios ou tradições externas, mas consiste na entrega total do nosso ser “em espírito e em verdade”. No Cristianismo, não há espaço para misticismos nem para peregrinações a lugares considerados supostamente sagrados. A verdadeira comunhão com Deus deve ser fundamentada nas Escrituras, que são o nosso manual de fé e prática.

3. Um espírito quebrantado. 

O conhecidíssimo Salmo 51 é uma oração de Davi, na qual ele confessa seu pecado e implora pelo perdão e pela restauração de Deus. O salmo foi escrito após Davi ter sido repreendido pelo profeta Natã, por causa dos gravíssimos pecados de adultério com Bate-Seba e por ordenar a morte de Urias, seu marido.

No versículo 17 deste salmo, Davi declara:

“Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.”

Observe que as palavras “espírito” (ruach) e “coração” (lev) aparecem aqui como sinônimas, no chamado paralelismo sinonímico, característico da poesia hebraica. Esse recurso consiste em afirmar a mesma ideia em duas frases diferentes, usando termos equivalentes: “espírito quebrantado” e “coração contrito”. Assim, o salmista não está se referindo ao espírito humano no sentido técnico, mas a uma postura interior.

As palavras hebraicas shâbar e dâkâh, traduzidas respectivamente como “quebrantado” e “contrito”, transmitem a ideia de algo esmagado ou reduzido a pó. Em sentido figurado, descrevem uma atitude interior de profunda humildade, arrependimento e total rendição diante de Deus.

Ev. WELIANO PIRES 

Referências:

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, p. 64.

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