03 dezembro 2025

O SOPRO DIVINO: A CONCESSÃO DO ESPÍRITO

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana)

No primeiro tópico, temos três subtópicos que nos mostram que Deus concedeu o espírito ao primeiro homem, após soprar em suas narinas, e ele se tornou um ser espiritual, com plena condição de ter comunhão com o seu Criador. Trataremos ainda da tênue divisão entre alma e espírito. 

1. O fôlego da vida. 

Como é padrão nas lições deste trimestre, o comentarista retorna ao período da criação do ser humano para explicar o surgimento do espírito humano. Em Gênesis 2.7 lemos:

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”

A primeira parte do versículo trata da formação do corpo humano, que se deu a partir de uma matéria criada anteriormente — o pó da terra. A palavra hebraica traduzida por “formou” é yâtsar, que significa formar, dar forma ou moldar um objeto com as mãos, como faz um oleiro com o barro. É diferente da palavra bârâ, que significa criar no sentido de chamar à existência algo que não existia, tendo sempre Deus como agente exclusivo.

Todas as demais criaturas de Deus foram criadas (bârâ) desse modo, por meio de Sua ordem. O corpo humano, porém, não surgiu a partir de uma ordem criadora dada à matéria. Ele foi formado pessoalmente por Deus, tendo a terra como matéria-prima. Após essa formação, o corpo permaneceu inerte e sem vida, e não recebeu a vida por simples comando divino, como ocorreu com os animais.

O próprio Deus comunicou ao homem o fôlego de vida (heb. neshamá chay) mediante um sopro em suas narinas. Esse fôlego não se reduz ao ato biológico da respiração, mas se refere à vida que procede diretamente de Deus. Já o verbo “soprar”, no texto hebraico (nâphach), pode significar respirar, soprar, cheirar, inflamar, entregar ou perder (a vida). Aqui, indica que Deus entregou vida ao ser humano.

Após esse sopro divino, a parte imaterial do ser humano — composta por alma e espírito — foi inserida no corpo, e ele se tornou um ser vivente (nephesh chayyah). Essa parte imaterial distingue o ser humano de todas as outras criaturas, pois o torna imagem e semelhança de Deus, capaz de pensar, sentir, exercer vontade, desenvolver consciência e relacionar-se com o Criador.

2. A singularidade do espírito. 

Quando o comentarista fala de singularidade do espírito é uma referência ao fato de que, apesar de o termo hebraico “ruach” - traduzido por espírito, e o termo nepesh - traduzido por alma, serem usados de forma intercambiável, para se referir à parte imaterial do ser humano, não são a mesma coisa. 

Tanto no Antigo como no Novo Testamento há referências à alma e ao espírito como componentes distintos, embora sejam inseparáveis. O comentarista usou como exemplo da distinção dos três componentes da tricotomia humana no Antigo Testamento, o texto de Jó 7.11, que diz:

“Por isso não reprimirei a minha boca [corpo]; falarei na angústia do meu espírito [espírito]; queixar-me-ei na amargura da minha alma [alma]”. 

Nas demais referências, ele chama a nossa atenção para o uso de alma e espírito, de forma alternada, para se referir aos dois componentes, que formam a parte imaterial do ser humano (Gn 35.18; 45.27; 1Sm 30.12; 1Rs 17.21; Sl 146.4; Ec.12.7).

No Novo Testamento também em vários textos, usa-se o termo alma para se referir aos dois componentes, como em Apocalipse 2.4: 

“... e vi as almas [Gr psychḗ] daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos…”. 

Almas neste texto, evidentemente se refere a alma e espírito, pois ambos não se separam, nem mesmo na morte. Da mesma forma, quando Jesus falou “perder a sua alma”, é uma referência a alma e espírito: 

“Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 8.36).

3. A tênue divisão. 

Na primeira lição deste trimestre, falamos sobre a tricotomia humana e explicamos que há outra corrente teológica no meio evangélico que crê na dicotomia. Ou seja, os dicotomistas afirmam que o ser humano é formado apenas por duas partes: uma material — o corpo — e outra imaterial — a alma ou o espírito, que consideram ser a mesma realidade. Entretanto, como vimos anteriormente, a Bíblia apresenta em vários textos que alma e espírito são distintos, embora inseparáveis.

Sobre a distinção entre alma e espírito a Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil afirma: 

“A alma e o espírito são substâncias espirituais incorpóreas e invisíveis. Apesar dessas características comuns, são entidades distintas, porém inseparáveis; são os dois lados da substância não física do ser humano, o “homem interior” (Ef 3.16). […] Ensinamos que o espírito é uma entidade distinta da alma, que, às vezes, é confundida com ela porque os dois elementos são inseparáveis e de substância imaterial”. 

Do ponto de vista humano, não é simples explicar ou determinar exatamente onde está a divisão entre alma e espírito. Por isso o comentarista usa a expressão “tênue divisão”, indicando tratar-se de algo sutil e difícil de perceber. Ainda assim, a Bíblia mostra claramente que essa divisão existe:

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12)

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Ts 5.23).

Concluímos, portanto, que apesar das discussões teológicas — com argumentos e fragilidades de ambos os lados — e da dificuldade humana de compreender exatamente onde ocorre a separação entre alma e espírito, a Palavra de Deus demonstra claramente que ambos são distintos, ainda que a divisão entre eles seja tênue.

Ev. WELIANO PIRES 

Referência: 

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2017, p.42

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