No primeiro tópico, abordaremos a revelação trinitária presente no batismo do Senhor Jesus. Inicialmente, trataremos do batismo do Filho de Deus como um ato de obediência ao plano redentor do Pai, no qual Ele se identifica com a humanidade pecadora que veio resgatar do pecado.
Na sequência, destacaremos a descida do Espírito Santo como um ato de unção pública e visível do ministério de Jesus, indicuando que Ele é o Messias prometido a Israel e o Salvador do mundo.
Por fim, consideraremos a voz do Pai, ouvida do céu, declarando: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Essa declaração pública de aprovação ao Filho remete às profecias do Antigo Testamento e confirma a identidade messiânica de Jesus, bem como a sua divindade.
1. O batismo do Filho: a obediência de Cristo. O batismo nas águas é uma ordenança de Cristo a todos aqueles que nele creem, constituindo-se em um testemunho público do sepultamento da velha natureza e do surgimento de uma nova criatura. O batismo não salva, não remove pecados e não representa o novo nascimento. Trata-se, antes, de um símbolo externo daquilo que já ocorreu interiormente na vida daquele que creu em Jesus.
João Batista iniciou o seu ministério pregando o arrependimento dos pecados no deserto da Judeia. Pessoas de Jerusalém, de toda a Judeia e das regiões circunvizinhas dirigiam-se até ele para serem batizadas, confessando os seus pecados. João condicionava o batismo a uma atitude genuína de arrependimento e repreendeu severamente os escribas e fariseus que se aproximaram para ser batizados sem demonstrarem tal arrependimento, dizendo:
“Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.7,8).
Nesse contexto, Jesus veio da Galileia ao rio Jordão e apresentou-se a João para ser batizado por ele. Naturalmente, João estranhou tal atitude e declarou:
“Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?” (Mt 3.14).
O questionamento de João Batista fazia sentido, pois ele pregava o batismo de arrependimento para os pecadores. Ele sabia que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). Se Jesus não tinha pecado (Hb 4.15) e é aquele que perdoa os pecados (Mt 9.6), por que, então, precisava ser batizado?
A explicação para o batismo de Jesus encontra-se em seu propósito redentor. Trata-se de um ato de obediência ao Pai, por meio do qual Jesus identificou-se com a humanidade pecadora que veio salvar. O seu batismo fazia parte do plano redentor do Pai, que incluía também a sua morte e ressurreição. Assim, Jesus, sendo Deus, humilhou-se a si mesmo, assumiu a condição humana e foi obediente ao Pai em todas as coisas (Fp 2.8).
2. A descida do Espírito: a unção para o Ministério. Convencido por Jesus, João Batista O batizou nas águas do rio Jordão. Logo após sair da água, ocorreram três fenômenos sobrenaturais: a) o céu se abriu; b) o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma corpórea, como pomba; c) uma voz foi ouvida dos céus (Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.22; Jo 1.32).
A descida do Espírito Santo sobre Jesus foi o sinal dado a João de que Aquele era o Messias prometido, conforme o próprio Batista testificou:
“E João testificou, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba e repousar sobre ele. E eu não o conhecia; mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.32,33).
As profecias acerca da vinda do Messias indicavam que sobre Ele repousaria a unção do Espírito Santo (Is 11.2; 42.1). No Antigo Testamento, o ungido era aquele que recebia óleo sobre a cabeça como sinal de que Deus o havia escolhido para uma missão específica. A palavra hebraica Mashiach, transliterada como “Messias”, e sua correspondente grega Christós, significam “Ungido”. Assim, o título “Jesus Cristo” significa literalmente “Jesus, o Ungido”.
Conforme corretamente esclarece o comentarista, é importante ressaltar que essa unção recebida por Jesus não indica que Ele tenha se tornado o Messias naquele momento. Trata-se, antes, de uma confirmação pública de que Ele já era o Messias prometido a Israel. Jesus também não Se tornou Filho de Deus no ato do batismo, como ensina a heresia do adocionismo, segundo a qual Jesus seria apenas um homem comum que, ao receber o Espírito Santo, teria sido “adotado” como Filho de Deus.
A Escritura afirma que Jesus é preexistente e eterno. Ele sempre existiu em perfeita comunhão com o Pai e com o Espírito Santo. Como declarou o apóstolo Paulo aos colossenses:
“Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1.17).
3. A voz do Pai: a aprovação celestial. Após a descida do Espírito Santo sobre Jesus, de forma corpórea, para que todos vissem, ouviu-se uma voz do Céu que dizia:
“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17; Lc 3.22; Mc 1.11).
Era a voz do próprio Pai, confirmando que aquele era o Messias prometido a Israel e que Ele era divino. A voz do Pai foi ouvida publicamente e, por meio dela, o Pai autenticou a missão redentora de Jesus e demonstrou a sua filiação divina. Essa declaração do Pai acerca de Jesus confirma o que as profecias anunciavam: que Ele era o Filho de Deus:
“Tu és meu Filho; eu hoje te gerei” (Sl 2.7).
É importante esclarecer que a voz do Pai não inaugurou a filiação divina de Jesus. Ele não se tornou Filho de Deus no batismo, como ensinavam os hereges adocionistas. Jesus sempre foi o Filho de Deus desde a eternidade, pois Ele nunca teve princípio. O que o Pai proclamou naquele momento foi a confirmação da encarnação de Jesus, o Verbo de Deus, que se fez carne e habitou entre os seres humanos.
O episódio do batismo de Jesus revela, de forma inequívoca, a atuação simultânea das três Pessoas da Santíssima Trindade. O Filho estava presente na terra, sendo batizado por João Batista; o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como pomba; e o Pai falou dos Céus, autenticando a missão do Filho e confirmando a sua filiação divina. Trata-se de uma manifestação trinitária clara, distinta e harmoniosa.
Esse evento refuta de maneira contundente a heresia unicista (ou modalista), segundo a qual Pai, Filho e Espírito Santo seriam apenas manifestações sucessivas de uma única Pessoa divina. De acordo com esse falso ensino, no Antigo Testamento Deus se manifestaria como Pai; no Novo Testamento, como Filho; e, na atualidade, como Espírito Santo. Todavia, à luz do testemunho bíblico, especialmente no batismo de Jesus, verifica-se que as três Pessoas divinas coexistem eternamente, são distintas entre si e atuam simultaneamente, sem confusão de Pessoas nem divisão da essência divina. Nos tópicos seguintes, demonstraremos biblicamente que tal doutrina não encontra respaldo nas Escrituras Sagradas.
Ev. WELIANO PIRES
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