03 janeiro 2023

PANORAMA DOS AVIVAMENTOS NO ANTIGO TESTAMENTO

(Comentário do 1º tópico da Lição 2: Avivamento no Antigo Testamento)


No Antigo Testamento há inúmeros casos de avivamentos, no âmbito pessoal e também coletivo. No livro de apoio, o comentarista cita vários deles: Durante o reinado de Davi (2 Sm 6–7); Rei Asa (2 Cr 14.1-16); Rei Josafá (2 Cr 17–20); Sumo sacerdote Joiada (2 Cr 23–24); no reinado de Ezequias (2 Cr 29–32); Governador Zorobabel (Ed 1–6); Rei Josias (2 Cr 34–35); no Esdras (Ed 1.7-10); Neemias (Ne 1–13) e o profeta Joel (1–2). No espaço da lição, que é mais reduzido, faremos um panorama de alguns exemplos de avivamentos ocorridos no Antigo Testamento e estudaremos apenas três casos. 


Quando falamos de panorama, nos referimos a uma análise não minuciosa, mas apenas uma visão genérica dos fatos. Primeiro falaremos do avivamento nos dias de Moisés. Após a morte de José, o povo de Israel foi escravizado por Faraó. Deus levantou Moisés para reanimar a fé do povo e libertá-los da escravidão. Depois, falaremos do avivamento não dias de Samuel, que nasceu e cresceu em um período de apostasia dos sacerdotes, os filhos de Eli. Deus levantou Samuel para exortar o povo ao arrependimento e julgá-los por toda a sua vida, como profeta, sacerdote e juiz. Por último, nos dias do rei de Josias, que assumiu o trono após os reinados ímpios de Manassés e Amon. No início do seu governo foi encontrado o Livro da Lei no templo e, após a leitura, o rei Josias temeu a Deus e promoveu uma ampla reforma espiritual em Judá, abolindo completamente a idolatria. 


Em todos estes casos de avivamento no Antigo Testamento, podemos perceber que há um padrão, com uma sequência de acontecimentos que precederam o avivamento: Uma crise espiritual e moral; confissão dos pecados cometidos contra Deus; humilhação, quebrantamento com oração e busca da presença do Senhor. O avivamento vem como resultado disso e é uma ação de Deus. 


1- O avivamento no tempo de Moisés. O povo de Israel teve muitos heróis ao longo da sua história. Os três maiores, que são reverenciados por todos os israelitas são: Abraão, o pai da nação de Israel; Moisés, o grande libertador e legislador do povo judeu; e Davi, o grande rei guerreiro, de cuja descendência viria o Messias. Moisés, de quem iremos tratar neste subtópico é conhecido mundialmente como o fundador do Judaísmo, que libertou o povo de Israel da escravidão no Egito. 


Analisando o avivamento nos dias de Moisés, podemos constatar o padrão citado anteriormente, com a sequência de fatos que antecederam os avivamentos no Antigo Testamento: 

a. A crise moral ou decadência espiritual. No Livro do Êxodo lemos apenas que, “após a morte de José e dos seus irmãos, levantou-se no Egito um rei que não conhecera José” e, devido ao crescimento extraordinário do povo hebreu, decidiu oprimi-los, escravizá-los e tentar impedir o crescimento da população de forma cruel (Êx 1.6-14). Diante deste relato podemos nos perguntar, onde estaria a crise moral e decadência espiritual. Entretanto, quando lemos os relatos das murmurações e rebeldia do povo deserto, inclusive com o episódio do bezerro de ouro e a idolatria e prostituição de Baal Peor, podemos concluir que este povo era idólatra e não servia a Deus no Egito. Não há nenhum relato antes de Moisés, dando conta de que o povo servia a Deus. Temos ainda a declaração de Josué no final da sua vida, que diz: "Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR."  (Js 24.15). Esta declaração demonstra que os Israelitas antes de Moisés serviam a outros deuses no Egito. 


b. Confissão dos pecados. Também não há registros de confissão de pecados por parte dos filhos de Israel nesse período. Entretanto, o texto diz que eles clamaram a Deus e o seu clamor subiu a Deus: "E aconteceu, depois de muitos dias, que morrendo o rei do Egito, os filhos de Israel suspiraram por causa da servidão, e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus por causa de sua servidão." (Êx 2.23). Uma oração em forma de clamor, envolve arrependimento e confissão de pecados, senão Deus não atende. O profeta Isaías disse que os nossos pecados fazem divisão entre nós e Deus (Is 59.2). 


c. Humilhação, quebrantamento com oração e busca da presença do Senhor. Não temos também relatos de que houve humilhação e quebrantamento, mas o texto que citamos acima, quando eles clamaram ao Senhor deixa isso implícito. O povo suspirava e gemia por causa da escravidão. Então, lembraram-se do Deus dos seus pais Abraão, Isaque e Jacó e resolveram clamar a Ele por socorro. O clamor é uma oração não formulada ou ensaiada  É uma expressão fervorosa de fé em Deus, que demonstra confiança em Sua bondade e poder para agir em seu favor. O clamor vem de um coração contrito e totalmente aplicado na presença de Deus. Vemos muitos exemplos disso nos Salmos. 


Foi num contexto de escravidão, opressão e ameaça e genocídio que Moisés nasceu. Os seus pais eram da tribo de Levi e sabiam que haviam uma ordem de Faraó para que todos os bebês hebreus do sexo masculino fossem mortos. Quando Moisés nasceu, sua mãe o escondeu por três meses tentando, desesperadamente, evitar que ele fosse morto. Quando não conseguia mais escondê-lo, colocou numa arca, vedou-a para que não entrasse água, colocou na margem do rio e deixou a sua irmã Mirian vigiando-o de longe. A filha de Faraó o encontrou e criou-o como seu filho, tendo a própria mãe do menino como babá e amamentadora. 


Moisés foi escolhido por Deus, desde o seu nascimento para ser o libertador de Israel, embora ele não soubesse disso. O seu nascimento e a sobrevivência na infância foram milagres de Deus. O nome Moisés significa "tirado das águas" e foi dado devido às circunstâncias em que ele foi encontrado. 


A vida de Moisés pode ser dividida em três períodos de quarenta anos: 

a. Nos primeiros quarenta anos, Moisés formou-se em toda a ciência do Egito e tornou-se poderoso em palavras e obras. Tentou libertar o seu povo com as suas próprias forças, mas o próprio povo o rejeitou  (Até 7.23-28). 

b. No segundo período da vida de Moisés, dos 40 aos 80 anos, ele fugiu para Mídia, para escapar da morte. Ali casou-se, teve dois filhos e tornou-se pastor de ovelhas. Passou 40 anos aprendendo a não ser nada. Só então, foi chamado por Deus para libertar o povo de Israel da escravidão. 

c. Por último, Moisés voltou ao Egito, libertou o povo e passou 40 anos no deserto, dos 80 aos 120, liderando o povo de Deus. Tornou-se o homem mais manso entre eles e aprendeu a depender totalmente de Deus. 


2- O avivamento no tempo de Samuel. Samuel era da tribo de Levi, natural de Ramá, filho do casal Ana e Elcana. Assim como no caso de Moisés, o seu nascimento também foi um milagre. Ana, sua mãe, era estéril e, orando no tabernáculo em Siló, fez um voto ao Senhor, dizendo que se Deus lhe desse um filho ela o entregaria ao Senhor, por todos os dias da sua vida (1 Sm 1.11). Assim aconteceu e Samuel foi criado na casa do Senhor, pelo Sumo Sacerdote Eli. 


Os filhos de Eli, porém eram ímpios e profanaram as coisas de Deus, a ponto de se prostituir nas dependências do santuário (1 Sm 2.22) e comer a carne do sacrifício com a gordura, contrariando a Lei Mosaica (1 Sm 2.12-17). Os ofertantes pediam que eles esperassem queimar a gordura, mas eles diziam que se não dessem a eles, tomariam à força. Um desrespeito total para com Deus. 


Ainda adolescente, Samuel ouviu a voz do Senhor chamá-lo pelo nome e pensou que fosse Eli. Isso aconteceu por três vezes, até Eli entender que era Deus falando com o jovem Samuel. Deus entregou a Samuel profecias com dura sentença contra Eli e os seus filhos, pois, ele sabia das abominações praticadas pelos filhos e não tomou providências, sendo sumo sacerdote e juiz (1 Sm 3.1-18). 


A profecia de Samuel se cumpriu nos mínimos detalhes. Os Filisteus pelejaram contra Israel e, nessa guerra, mataram os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias. Os filhos de Eli, de forma irresponsável, levaram a Arca da Aliança para o campo de batalha, tentando fazer dela um amuleto a fim de se proteger dos inimigos. Os filisteus derrotaram os Israelitas e levaram a Arca para a terra deles. Quando soube desta notícia, Eli caiu para trás, quebrou o pescoço e morreu. A sua nora, que estava grávida, quando soube da notícia das mortes do marido, do cunhado e do sogro, teve a criança às pressas e morreu no parto (1 Sm 4.11-22).


Samuel tornou-se adulto e foi confirmado como profeta do Senhor. Foi o último dos juízes e exerceu o tríplice ministério de sacerdote, profeta e juiz. Julgou Israel por todos os dias da sua vida na transição do período dos juízes para a monarquia e ungiu os dois primeiros reis de Israel, Saul e Davi. 


Nos dias de Samuel, também vemos o padrão, com a sequência de acontecimentos que precederam os avivamentos no Antigo Testamento. Primeiro a crise moral e espiritual com os filhos de Eli, como vimos acima. Depois que Samuel assumiu, de fato, a liderança de Israel, veio a confissão dos pecados. O povo pediu que Samuel orasse por eles, para que Deus os livrasse dos filisteus. Samuel recomendou que eles se convertessem dos seus pecados: “Se com todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirai dentre vós os deuses estranhos e os astarotes, e preparai o vosso coração ao Senhor, e servi a ele só, e vos livrará da mão dos filisteus.” (1 Sm 7.3). O povo atendeu a orientação do profeta, se converteu ao Senhor, confessando os seus pecados: “Então, os filhos de Israel tiraram dentre si os baalins e os astarotes e serviram só ao Senhor. E congregaram-se em Mizpá, e tiraram água, e a derramaram perante o Senhor, e jejuaram aquele dia, e disseram ali: Pecamos contra o Senhor. E julgava Samuel os filhos de Israel em Mizpá.” (1 Sm 7.4,6). Por último, teve a oração e busca pela presença do Senhor: “Então tomou Samuel um cordeiro de mama, e sacrificou-o inteiro em holocausto ao Senhor; e clamou Samuel ao Senhor por Israel, e o Senhor lhe deu ouvidos.” (1 Sm 7.9). O Senhor ouviu a oração de Samuel e deu vitória ao seu povo. 


3- O avivamento no tempo de Josias. Após a morte do rei Ezequias, que foi um bom rei, o seu filho Manassés assumiu o trono e foi extremamente ímpio. Além de corrupto, era terrivelmente idólatra, a ponto de construir ídolos e altares aos Baalins dentro do templo, prostrar-se diante dos astros e sacrificar os seus filhos a Moloque (2 Cr 33.1-9).. Por causa disso, Deus o entregou nas mãos do rei da Assíria e ele foi levado ao cativeiro. Entretanto, no cativeiro, angustiado, Manassés se humilhou e orou a Deus, arrependido. Deus o perdoou e o restituiu ao trono (2 Cr 33.12-16). 


Após a morte de Manassés, o seu filho Amom assumiu o trono. Mesmo sabendo de tudo o que acontecera no reinado do seu pai, voltou às mesmas práticas idólatras e não se arrependeu como fizera o seu pai. Por causa disso, o seu reinado durou pouco e ele reinou apenas por dois anos. Deus permitiu que os seus próprios servos conspirassem contra ele e o matassem. (2 Cr 33.21-24). O povo, no entanto, se revoltou, matou os conspiradores e colocou o seu filho Josias como rei, com apenas oito anos de idade (2 Cr 33.25). 


Aos 16 anos Josias assumiu, de fato, o trono. Começou a buscar a Deus e andou nos caminhos de Davi. Josias destruiu completamente todos os ídolos e altares construídos pelos seus antecessores. Reduziu-os a pó e jogou o pó sobre as sepulturas dos sacerdotes que ofereciam sacrifícios aos falsos deuses. Queimou também os ossos destes sacerdotes nos próprios altares em que eles sacrificavam aos ídolos, cumprindo a profecia de um homem de Deus, nos dias de Jeroboão I (2 Cr 33.1-7; 1 Rs 13.2). 


Após destruir completamente os ídolos em todo o território de Judá, Josias voltou para Jerusalém e ordenou que fizessem uma reforma geral no templo, que havia sido profanado e estava completamente abandonado, e mandou reformar também os instrumentos musicais (2 Cr 34.8-13). Durante a reforma, o sacerdote Hilquias encontrou o livro da Lei que estava perdido no templo. Safã, o escrivão pegou o livro e o leu perante o rei Josias (2 Cr 34.14-16). 


Ouvindo as palavras da Lei do Senhor, o rei Josias rasgou as suas vestes, em sinal de humilhação, e mandou consultar ao Senhor, através da profetisa Hulda. O Senhor respondeu e disse que traria todas as maldições que estavam escritas na lei por causa da impiedade dos antecessores de Josias, porém, como ele havia buscado ao Senhor, seria poupado e a destruição não viria em seus dias (2 Cr 34.19-28). 


Ouvindo estas palavras do Senhor, Josias entrou no templo, leu o Livro da Lei perante todo o povo e fez uma aliança com Deus, comprometendo-se a guardar todos os seus mandamentos, conforme estava escrito no Livro encontrado (2 Cr 34.29-34). Vimos novamente a sequência de acontecimentos que antecederam o avivamento: a crise moral e espiritual nos reinados de Manassés e Amom; a conversão sincera e abandono do pecado no reinado de Josias; e a busca ao Senhor, através da profetisa Hulda. 


REFERÊNCIAS:


RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

LOPES, Hernandes Dias. Atos: A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 159-160.

ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Fundamentos bíblicos de um autêntico avivamento. Editora CPAD. 1ª edição: 2014. pág. 72.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 1147.

SAWYER, Robert L. Comentário Bíblico Beacon I e II Cronicas. Editora CPAD. Vol. 2. pág. 473.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 768-769.


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Ev. Weliano Pires

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