(Comentário do 2º tópico da Lição 2: Avivamento no Antigo Testamento).
Neste segundo tópico, falaremos sobre a confissão de pecados e o retorno à Palavra de Deus, que são características principais de um autêntico avivamento. Para isso, tomaremos como base, o chamado de Neemias, um judeu que estava no cativeiro e era copeiro do rei da Pérsia. No cativeiro, Neemias foi informado da situação dramática em que se encontrava a sua terra. Ele, então, orou ao Senhor e Deus o levantou para reconstruir os muros de Jerusalém. (Ne 1). Em sua oração, Neemias intercedeu pelo povo, colocando-se também entre os pecadores e confessando a própria culpa (Ne 1.6). Falaremos ainda neste tópico sobre o avivamento através do ensino da Palavra de Deus. Neemias mandou que, o habilidoso escriba e sacerdote Esdras, lesse a Palavra de Deus para o povo e lhe explicasse o significado dos textos sagrados. Após ouvir a leitura e explicação da Palavra de Deus, o povo entendeu, chorou e se arrependeu (Ne 8.1-9).
1- O chamado de Neemias. Temos poucas informações pessoais sobre Neemias cujo nome significa “Yahweh consola”. Sabemos apenas que ele era filho de Hacalias e tinha um irmão, por nome Hanani (Ne 1.1; 7.2). Nada sabemos a respeito da sua família e não há registros de que fosse uma família importante. Sabemos apenas que Neemias era copeiro do rei Artaxerxes da Pérsia. Artaxerxes era o nome grego do imperador da Pérsia. Nessa ocasião, o imperador era Artaxerxes Longímano, que governou a Pérsia de 465 a.C. a 424 a.C. O nome Longímano significa “de grande alcance” e se deu devido à sua mão direita ser mais longa que a esquerda.
O imperador Ciro havia emitido um decreto em 538 a.C., autorizando a reconstrução do templo em Jerusalém, como vimos na lição anterior. Dois anos depois, em 536 a.C., sob a liderança de Zorobabel, 42.360 judeus voltaram para a sua terra. A obra foi iniciada e, devido à forte oposição dos samaritanos inclusive com acusações falsas, ficou paralisada por 16 anos. Depois foi retomada e, em 516 a.C., foi concluído o templo. Porém, não havia muros e a cidade estava totalmente vulnerável. Por volta de 458 a.C., o sacerdote e escriba Esdras voltou a Jerusalém com a segunda leva de judeus, a fim de avaliar as condições civis e espirituais do povo que havia voltado do cativeiro. Esdras foi enviado para ensinar a Lei ao povo e organizar o funcionamento do templo.
Catorze anos após esta missão de Esdras, em 444 a.C, Neemias foi informado da miséria em que se encontrava a cidade de Jerusalém, mesmo após a conclusão do templo (Ne 1.1.2,3). Hanani, irmão de Neemias, veio de Jerusalém e trouxe a informação de que a cidade estava em grande miséria e desprezo, os muros de Jerusalém estavam abertos e as portas da cidade queimadas (Ne 1.3). Isso deixava a cidade completamente vulnerável aos ataques dos inimigos. No livro de apoio, o comentarista faz uma aplicação dessa situação, a uma Igreja que tem templo bonito, mas os crentes estão em total desobediência a Deus. As portas queimadas e os muros abertos podem ser comparados a uma Igreja que abre as portas para a teologia liberal e outros ensinos nocivos à vida espiritual da Igreja.
Neemias estava em uma situação confortável no Palácio do rei da Pérsia em Susã. Era copeiro do rei, um cargo de extrema confiança, pois tinha a missão de evitar que o rei fosse envenenado. Certamente, ele dava um bom testemunho, para ocupar uma função tão importante no palácio, sendo estrangeiro e de um povo dominado pelos persas. Se fosse egoísta ou acomodado, Neemias poderia ter ignorado este relatório e continuar a sua vida no conforto do palácio. Mas ele sentiu a dor dos seus irmãos e foi chorar, orar e jejuar: “E sucedeu que, ouvindo eu estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.” (Ne 1.4).
Após esta oração, Neemias se apresentou ao rei para o seu ofício de copeiro, com o seu semblante bastante triste. O rei percebeu e perguntou por que ele estava triste daquele jeito. Isso demonstra que ele era uma pessoa agradável anteriormente, a ponto do rei perceber a mudança. Neemias contou a situação e o rei perguntou o que ele queria. Mais uma vez. Neemias orou ao Senhor e pediu ao rei que autorizasse a sua ida a Jerusalém para reconstruir os muros da cidade. (Ne 2.1-5). Imediatamente foi autorizado pelo rei a ir a Jerusalém e reconstruir os muros.
Com Neemias aprendemos que não basta querer fazer alguma coisa para Deus. É preciso ser chamado por Ele para tal. Neste aspecto há três tipos de obreiros: o que foi chamado por Deus; o que foi colocado pelo homem; e o que se ofereceu e se autonomeou obreiro. Somente os que são verdadeiramente chamados por Deus suportarão a carga. Aprendemos também com Neemias que se Deus nos chamar para uma obra, devemos obedecer e renunciar as eventuais situações de conforto. Por último, aprendemos que mesmo sendo chamados por Deus, enfrentaremos grandes lutas e oposição.
2- A confissão de pecados. Conforme já vimos no tópico anterior o arrependimento e confissão de pecados é condição indispensável para que o avivamento aconteça. Por isso, em sua oração, Neemias se apresentou diante de Deus como um intercessor, orando pelo povo, mas pediu perdão não apenas pelos pecados do povo. Ele incluiu a si mesmo e a sua família entre os pecadores: “[…] E faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, que pecamos contra ti, também e a casa de meu pai pecamos” (Ne 1.6b). Neemias sabia perfeitamente que tudo o que o povo de Judá estava passando era por causa dos próprios pecados. Infelizmente, vivemos em uma época em que as pessoas querem culpar a Deus pelas coisas ruins que acontecem no mundo. Mas o profeta Jeremias disse: "De que se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos próprios pecados" (Lm 3.39).
Um grave problema do ser humano é não reconhecer os próprios pecados e tentar justificá-los, culpando outras pessoas ou até a Deus. Adão e Eva agiram assim. Quando questionados por Deus, Adão não reconheceu o próprio pecado. Ele culpou Eva diretamente pelo ocorrido e, indiretamente, culpou o próprio Deus: "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi." (Gn 3.12). Eva, por sua vez, também não reconheceu o seu erro e culpou a serpente: "A serpente me enganou e eu comi." (Gn 3.13). Caim, quando questionado por Deus sobre o assassinato do seu irmão Abel, fingiu que não sabia de nada: "E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?" (Gn 4.9). Davi cometeu dois pecados gravíssimos, que deveriam ser punidos com a morte: adultério e assassinato. Inicialmente, ele escondeu o pecado, mas quando Deus o confrontou, através do profeta Natã. Então, ele reconheceu o pecado e pediu perdão a Deus (2 Sm 12.1-13; Sl 51). Davi não culpou ninguém pelo seu pecado e não disse que a culpa era da bela mulher de Urias, que estava tomando banho ao lado do palácio. Disse apenas: “Pequei contra o Senhor…” (2 Sm 12.13). No livro de Provérbios assim está escrito: "O que encobre as suas transgressões nunca prosperar, mas o que as confessa e deixa, alcança misericórdia." (Pv 28.13).
É importante esclarecer que confessar pecados significa admitir a culpa e não contar os pecados a um sacerdote, ou torná-los públicos. No grego a palavra confessar é “omologomen”. Esta palavra deriva de “omos” (a mesma coisa) e “lego” (dizer). Portanto, significa “dizer a mesma coisa que outra pessoa”, ou “admitir que uma acusação é verdadeira”. A Igreja Católica ensina a prática da confissão dos pecados aos sacerdotes, como condição para obter o perdão. Seguindo esta tradição, muitas Igrejas evangélicas também ensinam que o crente deve confessar publicamente os seus pecados ao pastor e até à Igreja. Por exemplo, um homem ou mulher que, num momento de fraqueza, teve desejos impuros por alguém, contar isso publicamente em detalhes! Seria escandaloso! Mas era isso que acontecia antigamente.
Não há nenhum fundamento bíblico para isso. Na Nova Aliança não existem sacerdotes ou mediadores entre Deus e os homens, além de Jesus (1 Tm 2.5). Devemos confessar os nossos pecados a Deus, se pecarmos contra Ele e aos irmãos que ofendemos. Ou seja, se eu pecar somente contra Deus, devo pedir perdão somente a Ele. Se pecar contra a minha esposa, devo pedir perdão a ela. Caso ofenda a algum irmão, devo procurá-lo pessoalmente, reconhecer o meu pecado e pedir-lhe perdão. Antigamente, os crentes eram obrigados a irem à frente e tornar público o seu pecado, por mais vergonhoso que fosse.
3- Avivamento pelo ensino. Além de orar e confessar os seus pecados, Neemias mandou que a palavra de Deus fosse lida e explicada ao povo de Judá: “E leu nela, diante da praça, que está diante da Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens, e mulheres, e sábios; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei” (Ne 8.3). Durante sete dias, Esdras lia o Livro da Lei e explicava o significado todos os dias para o povo. (Ne 8.18). Depois que ouviram a exposição didática da Palavra de Deus, o povo entendeu e se alegrou. O resultado disso foi um poderoso avivamento. Houve grande alegria e festa, e o povo se dispôs a trabalhar na reconstrução dos muros. O avivamento nos dias de Esdras e Neemias foi marcado pelo ensino da Palavra de Deus. Aliás, em todos os avivamentos ao longo da história bíblica e da Igreja, percebemos que houve ensino bíblico. Avivamento sem ensino bíblico não passa de modismos, fanatismos e até heresias.
Infelizmente, em nossos dias há vários movimentos chamados de avivamentos, onde as pessoas são completamente ignorantes em relação à Palavra de Deus. Não frequentam cultos de ensino, Escola Dominical ou cursos teológicos, e são insubmissos à liderança da Igreja. Esse tipo de avivamento não provém do Espírito Santo, pois não produz mudança de vida e quer substituir a Palavra de Deus por supostas revelações e profecias. Não é este o propósito dos dons espirituais. A Palavra de Deus é o nosso único manual de fé e doutrina. A Bíblia é completa e suficiente e não podemos acrescentar nada a ela. Os dons espirituais foram dados para edificar, confortar e consolar a Igreja e para nos capacitar para a Obra do Senhor. Não podem ser usados para doutrinar ou liderar a Igreja. Esse papel é da Bíblia e dos pastores, respectivamente. No próximo tópico falaremos mais sobre o avivamento e a Palavra de Deus.
REFERÊNCIAS:
RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 1775.
PFEIFFER, Charles F. Comentário Bíblico Moody. Neemias. Editora Batista Regular. pág. 16-18.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 807.
Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 3016, p.50.
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Ev. Weliano Pires
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