(Comentário do 1º tópico da Lição 12: Imersos no Espírito nos últimos dias).
Neste primeiro tópico falaremos sobre o aspecto escatológico da visão de Ezequiel, descrita no capítulo 47. Ezequiel viu um grande volume de águas fluindo dos umbrais do templo. Esta visão não era para os dias de Ezequiel e se refere ao futuro. A menção ao templo deve ser entendida literalmente.
Escatologia é a matéria da teologia que estuda os últimos acontecimentos da humanidade. Esta palavra é formada de dois vocábulos gregos: “eschatos” (último) e “logos” (estudo, doutrina). Na escatologia estudamos as profecias relacionadas aos últimos dias: o arrebatamento da Igreja, a grande tribulação, o governo do Anticristo, as bodas do Cordeiro, a vinda de Jesus em glória, o Reino Milenial de Cristo, a condenação eterna dos ímpios e a vida eterna. Esta profecia de Ezequiel se encaixa no Reino Milenial de Cristo.
É importante esclarecer que na Escatologia há pelo menos quatro linhas de interpretação: preterista, idealista, histórica e futurista. Dentro destas quatro linhas ainda há várias subdivisões:
A linha preterista vê todas as profecias apocalípticas, como é o caso desta de Ezequiel, como profecias relacionadas aos dias do profeta, no contexto do cativeiro babilônico. Os hiper-preteristas chegam ao cúmulo de dizer que a Grande Tribulação foi a destruição de Jerusalém e que Jesus já voltou.
A linha idealista diz que estas visões de Ezequiel, assim como as do Apocalipse são meros símbolos e figuras, com o objetivos de trazer idéias e ensinos práticos.
A linha histórica diz que todas estas profecias de Ezequiel se cumpriram ao longo da história, desde o cativeiro até o fim dos tempos. Fazem o mesmo com as profecias do Apocalipse e dizem que as visões que João teve se referem aos acontecimentos ao longo da história.
O futurismo interpreta estas profecias de Ezequiel 40 a 48, assim como as de Daniel e Apocalipse de modo literal, mas, o seu cumprimento será no futuro, após o arrebatamento da Igreja, com exceção de alguns acontecimentos que estão relacionados ao princípio de dores. A Assembléia de Deus adota a linha futurista.
1- A nascente do rio (v.1). Ezequiel relata que o ser que o guiava fez ele voltar à porta da casa, ou seja à porta do templo, que estudamos na lição passada. Da entrada do templo, o profeta viu que jorrava água por baixo do "umbral da porta" para o lado do Oriente. A versão Nova Almeida Atualizada (NAA) traz a palavra limiar no lugar de umbral. A Nova Versão Internacional (NVI) usa a palavra soleira. Isto significa que as águas saíam por baixo da porta do templo em direção ao leste. O comentarista diz que o uso da expressão "umbral da casa" é uma referência ao templo mencionado no capítulo 40, que estudamos na lição passada.
Conforme vimos acima há quatro linhas de interpretações na Escatologia. A linha idealista insiste em dizer que tanto o templo como as águas são apenas simbologias. Entretanto, os detalhes da casa, como as medidas e dependências do templo, demonstram que a profecia deve ser interpretada literalmente e que é uma profecia para o tempo do milênio, como vimos na lição passada.
Os dois primeiros templos, o de Salomão e o de Zorobabel eram literais e nenhum dos dois se encaixa nas referências feitas por Ezequiel a este templo. O primeiro, porque já havia sido totalmente destruído e também era diferente. O segundo, foi construído depois, mas as medidas, os itens, os rituais e até a localização geográfica são diferentes. Além disso, o segundo templo também foi destruído sem que a glória de Deus tenha se manifestado nele. Logo, este templo visto por Ezequiel, onde estará a nascente deste rio, será construído no milênio.
2- O guia celestial (vv.2,3a). Desde o início desta profecia, no capítulo 40, versículo 3, Ezequiel menciona a presença de um homem que tinha uma aparência como de cobre, com um cordel de linho e uma cana de medir. Este homem continua como um "cicerone" ou um guia, que vem guiando guiando o profeta pelo templo, em direção à porta oriental. Ezequiel diz no versículo 2, do capítulo 47, que o guia celestial o fez dar a volta no templo, porque esta porta do lado oriental estava fechada. O comentarista explica que esta porta nunca esteve fechada nos outros templos. Depois que a glória de Deus retornar ao templo e Deus passar por esta porta, ela ficará fechada e a glória de Deus não mais sairá (Ez 4.2). Isso é mais um indício de que a visão é para o futuro.
Este personagem que guia Ezequiel não é Jesus. Na lição passada, vimos que Ezequiel ouviu uma voz de dentro do templo como o som de muitas águas e ali era uma manifestação de Jesus. Mas Ezequiel já estava na companhia deste príncipe desde o capítulo 40. Somente no capítulo 43, ele ouviu uma voz falando com ele, como sendo o próprio Deus, pois diz: "Filho do homem, este é lugar do meu trono…" (Ez 43.7a). Fato semelhante aconteceu com João no Apocalipse. O Senhor Jesus falou pessoalmente com ele, mas em várias ocasiões era um anjo que lhe mostrava as visões. Quando João prostrou-se para adorar aquele que lhe mostrava as visões, foi repreendido pelo anjo: Olha, não faças tal, porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus" (Ap 22.9).
3- Os novos frutos (v.12). No versículo 12, do capítulo 47, Ezequiel diz o seguinte: “E junto ao rio, à sua margem, de um e de outro lado, nascerá toda a sorte de árvore que dá fruto para se comer; não cairá a sua folha, nem acabará o seu fruto; nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; e o seu fruto servirá de comida e a sua folha de remédio”. No versículo 7, o profeta já havia falado de uma abundância de árvores frutíferas, cujas folhas não caem, em ambas as margens do rio que se formou com as águas vindas do templo. No versículo 12, ele reafirma o que viu, com mais detalhes. De novo, os idealistas dizem que estas árvores frutíferas são símbolos da justiça de Deus que anulará o pecado. Mas, a interpretação mais coerente é que isso acontecerá literalmente. Estas águas sararão as águas do Mar Morto e haverá restauração das águas e da terra, como veremos no terceiro tópico desta lição.
O comentarista mostra o paralelo que há entre esta visão de Ezequiel e a visão que João teve do Rio da Vida. Trata-se de dois eventos que se cumprirão literalmente e tem algumas semelhanças entre si: “E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações.” (Ap 22.1,2). São dois eventos distintos, na época e no lugar. O rio e as árvores vistas por Ezequiel existirão no milênio aqui nesta terra, que será restaurada. Entretanto, os céus e terra que hoje existem serão destruídos, como disse o apóstolo Pedro: “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão.” (2 Pe 3.10). Deus criará novos céus e nova terra: “E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.” (Ap 21.1). É neste mundo vindouro que haverá o Rio da Vida, a Árvore da Vida e o mar não existirá. Ali será a eternidade e não o milênio. As Testemunhas de Jeová fazem confusão entre estes acontecimentos e dizem que a terra não será destruída, será apenas restaurada.
REFERÊNCIAS:
SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pág. 136-139; 142,143
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 3354.
BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pág. 620, 623.
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Ev. Weliano Pires
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