10 dezembro 2022

SANTIDADE E GLÓRIA

(Comentário do 3º tópico da Lição 11: A visão do Templo e o Milênio)

Neste terceiro e último tópico falaremos sobre santidade e glória. Diferente da outra visão que Ezequiel teve, quando se praticavam abominações no templo e a glória de Deus se foi, agora o profeta viu o retorno da glória de Deus, que encheu o templo, como aconteceu nos dias de Moisés e Salomão. Ezequiel viu também um guia celestial, cujas características são iguais às manifestações teofânicas do Cristo pré-encarnado. Nesta nova dispensação haverá santidade plena e não entrará nada imundo no templo.


1- A glória de Deus volta ao Templo (v.5). Na lição 03 deste trimestre estudamos sobre a visão que Ezequiel teve das abominações que eram praticadas no templo em Jerusalém. O profeta foi arrebatado em espírito e viu dentro do templo, a imagem dos ciúmes, que muitos estudiosos a identificam como a deusa Aserá. Viu também as imagens de vários répteis, de outros animais impuros e ídolos, gravados nas paredes. Nesta visão, Deus mostrou ainda ao profeta, os anciãos de Judá em pé, com os seus incensários diante destas abominações. Para piorar, praticavam um ritual a Tamuz, uma divindade babilônica, que era considerado o deus da vegetação e dos rebanhos. Depois, Ezequiel viu 25 homens de costas para o templo, virados para o Oriente, adorando o sol. 


Estas e outras afrontas ao Deus de Israel resultaram, naturalmente, na saída da glória de Deus do templo, como estudamos na lição 04. A Glória de Deus foi saindo do templo, de forma progressiva. Primeiro, a glória se levantou do querubim sobre a arca da aliança, passando para a entrada do templo. Depois, pairou sobre os querubins e, aos poucos, afastou-se completamente do templo e parou no monte das Oliveiras. Depois desta visão que Ezequiel teve da saída da Glória de Deus do templo, os babilônios vieram, saquearam o templo e o destruíram. a beleza e esplendor físico do templo eram os mesmos dos dias de Salomão. Quando a presença de Deus se foi, os inimigos conseguiram destruir tudo. Isto nos traz um alerta de que a presença de Deus é fundamental em nossas vidas. Somos o templo do Espírito Santo (1 Co 6.19), mas, se nos entregarmos a práticas abomináveis, Ele se  entristece (Ef 4.30) e nos deixará.


Agora nesta visão, Ezequiel descreve no capítulo 43 e versículo 5, o retorno da glória de Deus ao templo: “E levantou-me o Espírito, e me levou ao átrio interior; e eis que a glória do SENHOR encheu a casa.” (Ez 43.5). Ezequiel havia contemplado a visão do vale de ossos secos, que falavam da restauração nacional de Israel. Contemplou também o interior deste novo templo. Entretanto, faltava o mais importante, que era a glória ou a presença do Deus de Israel. Tudo o que fizermos na obra de Deus pode ser belo, bem feito, esplendoroso e até aplaudido. Mas, se a presença de Deus não for conosco, nada valerá. Moisés entendeu muito isso, quando estava com o povo de Israel no deserto. Após o lamentável episódio do bezerro de ouro, Deus se irou contra Israel e falou que a sua presença não iria com o povo, mas enviaria um anjo. Moisés intercedeu diante de Deus pelo povo e disse: “Se a tua presença não for conosco, não nos faças subir daqui.” (Êx 33.15). 


Davi também, depois de ter cometido adultério e homicídio foi repreendido pelo profeta Natã. Tomado pelo sentimento de culpa, ele se arrependeu e escreveu a sua confissão no Salmo 51, pedindo perdão e restauração a Deus. Um dos seus pedidos foi para que Deus não o lançasse fora da Sua presença: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo.” (Sl 51.11). A presença de Deus é indispensável em nossas vidas. Mas Deus é absolutamente santo e a sua presença não pode conviver com abominações. Quando o ser humano opta por viver no pecado, a glória de Deus se vai. Se, porém, se arrepender, o Senhor está pronto a perdoar e a sua presença retorna. 


2- A identidade do guia celestial (vv. 6,7). Nos versículos 6 e 7 do capítulo 43, Ezequiel relata que ouviu uma voz de dentro do templo falando com ele e um homem se pôs junto dele. As palavras que Ezequiel ouviu, aparecem na primeira pessoa do singular: “...Este é o lugar do meu trono e o lugar das plantas dos meus pés, onde habitarei no meio dos filhos de Israel para sempre; e os da casa de Israel não contaminarão mais o meu nome santo”. Estas declarações, evidentemente, são do próprio Deus e não de um anjo. 


Em outros textos do Antigo Testamento aparece também este personagem falando como Deus, em primeira pessoa, e é identificado como “O Anjo do SENHOR” (com A maiúsculo). A palavra anjo em hebraico é “Malak” que significa “mensageiro”. Então, a expressão “Anjo do Senhor” significa literalmente “Mensageiro do Senhor”. Este mensageiro pode ser um ser espiritual, ou ser humano enviado por Deus. Malaquias, por exemplo, anunciou a vinda de João Batista dizendo: Eis que eu envio o meu anjo, [Malak] que preparará o caminho diante de mim; e, de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a quem vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos Exércitos.” (Ml 3.1). 


Nas passagens do Antigo Testamento, onde aparece a expressão “O Anjo do SENHOR” (com A maiúsculo), os teólogos dizem que é o próprio Deus quem está falando. Por exemplo, quando o Anjo do Senhor falou com Agar no deserto, falou como Deus, na primeira pessoa do singular: “... Multiplicarei sobremaneira a tua semente, que não será contada, por numerosa que será.” (Gn 16.10). A própria Agar entendeu que havia contemplado no deserto o “Deus que vê” (heb. El Roí): Tu és Deus da vista, porque disse: Não olhei eu também para aquele que me vê? (Gn 16.13). 


Em Gênesis 22, no episódio em que Deus provou a Abraão, mandando que ele sacrificasse o seu filho Isaque, quando Abraão ia matá-lo, o “Anjo do Senhor” o impediu, dizendo: “Por mim mesmo, jurei, diz o Senhor, porquanto fizeste esta ação e não me negaste o teu filho, o teu único, que deveras te abençoarei e grandissimamente multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus e como a areia que está na praia do mar; e a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos. E em tua semente serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz.” (Gn 22.15-18). 


Este mesmo personagem apareceu a Jacó, identificando-se como Deus: “Eu sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna, onde me tens feito o voto; levanta-te agora, sai-te desta terra e torna-te à terra da tua parentela.” (Gn 31.13). Falou também com Moisés, Josué, com Manoá pai de Sansão, com Gideão e muitos outros, da mesma forma. 


Estas manifestações pessoais de Deus são chamadas na teologia de “teofania”. Esta palavra deriva de dois termos gregos: “Theós” (Deus) e “phainein” (manifestar, mostrar). Em muitos casos, o Anjo do SENHOR fala na primeira pessoa do singular como sendo o próprio Deus e, ao mesmo tempo, como um ser distinto de Deus o Pai. Os teólogos vêem nisso uma manifestação de Cristo, que é Deus, antes da Sua encarnação. Estas manifestações são chamadas de “Cristofania”


Um exemplo desta manifestação cristofânica está em Juízes 13.18: “E o Anjo do Senhor lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso?”. (Jz 13.18). Os pais de Sansão entenderam que se tratava do próprio Deus e temeram morrer: “Certamente morreremos, porquanto temos visto a Deus” (Jz 13.22). Posteriormente, o profeta Isaías falando sobre o Messias disse: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” (Is 9.6). Concluímos, portanto, que este Ser visto por Ezequiel era o Filho de Deus, em uma manifestação pré-encarnação. 


3- Santidade para sempre (vv. 8,9). Nos versículos 7, 8 e 9, o Senhor relembra a Ezequiel das abominações praticadas pelo povo de Israel, que formaram uma parede entre eles e Deus, por isso, foram consumidos pela ira de Deus. Entretanto, Deus promete que isso não acontecerá mais. A idolatria foi abolida completamente de Israel com o cativeiro babilônico e todas as demais abominações praticadas desaparecerão com a restauração espiritual de Israel. 


A santidade é um dos atributos comunicáveis de Deus. Deus é absolutamente santo em sua essência e caráter. Evidentemente, nenhum ser humano jamais atingiria o nível de santidade de Deus. Mas Deus compartilha até certo ponto, a sua santidade com o seu povo. Em toda a Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento, é exigido santidade do povo de Deus: “Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus.” (Lv 20.7). O apóstolo Pedro faz a mesma advertência no Novo Testamento dizendo: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.” (1 Pe 1:15,16). O escritor da Epístola aos Hebreus coloca a santificação como condição indispensável para alguém ver a Deus: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” (Hb 12.14).


Mas, o que significa ser santo? Quando falamos que é preciso ser santo, ou que somos santos, muitas pessoas acham que isso é arrogância ou presunção da nossa parte. Isto acontece porque estas pessoas não sabem o que significa ser santo. Para os católicos, santo é uma pessoa que não tem pecado, ou que foi canonizada após a sua morte, por ter supostamente realizado milagres. Entretanto, o conceito de santidade na Bíblia não é este. 


O verbo hebraico “kadash” (santificar) ou o substantivo “kadosh” (santo) significam “ser santo, ser santificado, santificar, ser posto à parte”. Esta palavra e os seus derivados são usados 830 vezes no Antigo Testamento. O conceito de “kadosh” no Antigo Testamento é separar algo ou alguém do uso comum para o serviço de Deus. (1 Sm 7.1). O correspondente grego de Kadosh é “hagios”, que também significa separado do que é impuro, para pertencer exclusivamente a Deus. 


No Novo Testamento inexiste o conceito de consagração e pureza rituais, ou lugares e objetos sagrados. Entretanto, há também a exigência da santificação. A santificação não é uma obra humana. O Espírito Santo é quem produz santidade no crente. O nosso padrão de santidade é o Senhor Jesus. O Espírito Santo nos molda, tornando-nos parecidos com Cristo. O crente é santificado de três formas: Pela Palavra de Deus (Jo 17.17); pelo sangue de Cristo (Hb 9.12); e pelo Espírito Santo (1 Pe 1.2). Através da leitura e meditação na Palavra de Deus somos confrontados na nossa velha natureza e somos orientados a buscar o caráter de Cristo. O Espírito Santo, por sua vez, opera em nós a transformação da nossa natureza e nos aproxima de Deus. O sangue [ou a morte] de Cristo pagou o preço da nossa e aplaca a ira de Deus, colocando-nos em paz com Deus. 


REFERÊNCIAS: 


SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pag. 130-132.

SOARES, Esequias. O verdadeiro Pentecostalismo: A atualidade da Doutrina Bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

CHAMPLIN, Russell Norman. O. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 3339.

BLOCK, LOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol.. 2. Editora Cultura Cristã. pag. 522.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3339; 3342.

BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pág. 522-525.

BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pag. 525-528.


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Ev. Weliano Pires




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