20 dezembro 2022

SOBRE A CIDADE

(Comentário do 1º tópico da Lição 13: O Senhor está ali)


No primeiro tópico traz falaremos sobre as saídas, o formato e as doze portas da cidade vista por Ezequiel. O capítulo 48 de Ezequiel, que é o último capítulo e a conclusão do livro, é uma continuidade do capítulo 47, que estudamos na lição passada. A partir do versículo 13, do capítulo 47, o Senhor fala a respeito da herança das tribos de Israel. O capítulo 48 continua este assunto e inicia falando da distribuição da terra de Israel entre as doze tribos. Este será o assunto do segundo tópico. 

Falaremos antes dos detalhes da cidade vista por Ezequiel, que estão registrados a partir do versículo 30 até o 34. É preciso destacar que, apesar das semelhanças, desta cidade que Ezequiel viu, com a Nova Jerusalém vista por João no Apocalipse, não se trata da mesma cidade. Esta Jerusalém do milênio será no mesmo local da atual Jerusalém, no território de Israel, com algumas alterações nas medidas, no formato e nas portas. A Nova Jerusalém, no entanto, descerá do Céu e é onde os salvos passarão a eternidade.

1– “E estas são as saídas da cidade” (v.30). No texto de Ezequiel não aparece o nome da cidade de Jerusalém, mas, como disse o comentarista, o contexto deixa claro que se refere à cidade de Jerusalém. Não é a Jerusalém atual, pois o formato, os limites, as medidas e as portas são completamente diferentes. Esta cidade será construída no milênio, após a Grande Tribulação, quando o Senhor Jesus estabelecer o seu Reino de mil anos aqui na terra. 

No versículo 30, o profeta faz referência às saídas da cidade. O comentarista esclarece que a palavra traduzida por “saídas” (heb. totsa’oth) não se refere a uma mera porta de saída e sim às extremidades ou limites da cidade. Esta palavra aparece somente uma vez em Ezequiel e em outras partes da Bíblia aparece com o sentido de limites ou extremidades. Embora a palavra “saída” não esteja errada e seja a mais familiar, não se aplica bem ao contexto que trata, na verdade, das extremidades da cidade. É apenas uma explicação técnica sobre o uso da palavra por saída neste texto. 

2- Formato da cidade (v. 31). Ezequiel viu uma cidade quadrada, cujas medidas de comprimento e largura são iguais: “Estas serão as suas dimensões: o lado norte, de dois mil duzentos e cinquenta metros, o lado sul, de dois mil duzentos e cinquenta metros, o lado leste, de dois mil duzentos e cinquenta metros, e o lado oeste, de dois mil duzentos e cinquenta metros”. (Ez 48.16). Este formato quadrado e com estas medidas não corresponde à cidade de Jerusalém em nenhum período da sua história, conforme podemos ver nos mapas abaixo:


Fonte: Bíblia de Estudo de Andrews / Casa Publicadora Brasileira. 

Fonte: Mapas Blog


A cidade de Jerusalém pertencia aos Jebuseus e foi conquistada por Davi, por volta de ano 1000 a.C., por isso, ficou conhecida como "Cidade de Davi". Depois, nos dias de Salomão, ela foi ampliada, com a construção de Palácios e do templo. Entretanto, nem nos dias de Davi, nem nos dias de Salomão, a cidade teve este formato descrito por Ezequiel. Com a divisão do Reino, nos dias de Roboão, Jerusalém ficou sendo a capital apenas do Reino do Sul e Samaria passou a ser a capital do Reino do Norte. Esta Jerusalém dos tempos de Salomão foi completamente destruída pelo exército da Babilônia, nos dias de Ezequiel. 

No governo do imperador Ciro da Pérsia, com o fim do cativeiro, a cidade de Jerusalém teve os seus muros reconstruídos por Neemias e o templo por Zorobabel. A cidade foi reconstruída aos poucos, devido às dificuldades financeiras e oposição dos inimigos de Israel. Nunca mais voltou a ter a imponência dos tempos de Salomão. Também não era quadrada e não incluía as doze tribos, pois as dez tribos do Reino do Norte não retornaram do cativeiro da Assíria. 

Depois do cativeiro babilônico, os judeus voltaram à sua pátria, mas não voltaram a ser independentes. Continuaram sob o domínio dos persas, depois dos gregos e, por último, dos romanos, até serem finalmente expulsos da sua pátria. Isso, evidentemente, repercutiu na cidade de Jerusalém. No tempo de Jesus, Jerusalém estava sob o domínio romano e também era muito diferente deste formato descrito por Ezequiel. A Jerusalém do tempo de Jesus foi completamente destruída pelos romanos no ano 70 d.C. Posteriormente, sobre as ruínas de Jerusalém, o imperador Adriano reconstruiu a cidade em 131 d.C. e deu-lhe o nome de Élia Capitolina. 

Atualmente Jerusalém é uma cidade que fica no território de Israel e é a sede do governo. Jerusalém foi proclamada como capital de Israel em 1949 e a cidade foi dividida entre Israel e Jordânia, ficando apenas uma parte como capital de Israel. Na guerra dos seis dias, em 1967, Israel assumiu o controle da cidade, porém, a comunidade internacional não reconhece este domínio. Há uma disputa histórica pelo domínio da cidade, entre palestinos e israelenses.

Todas estas invasões, destruições e reconstruções da cidade de Jerusalém provocaram, evidentemente, transformações em seu formato e em seus limites. Nenhum destes formatos históricos de Jerusalém corresponde ao descrito por Ezequiel. Portanto, esta cidade vista por Ezequiel é a Jerusalém que será construída no milênio, pois a atual Jerusalém também será destruída na Grande Tribulação. Entretanto, não deve ser confundida com a Nova Jerusalém da eternidade.

3- As doze portas (vv.31-34). Na visão de Ezequiel a cidade tinha um formato quadrado, com três portas em cada um dos pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste, perfazendo um total de doze portas. Cada uma destas portas correspondia a uma das tribos de Israel. A ordem dos nomes das tribos estava em sentido horário, com critérios específicos, como veremos no segundo tópico. 

A Jerusalém, no período de Jeremias e Ezequiel, tinha apenas seis portas: Porta do Povo (Jr 17.19); Porta do Sol (Jr 19.2); Porta de Benjamim (Jr 20.2; 37.13; 38.7); Porta da Esquina (Jr 31.38); Porta dos Cavalos (Jr 31.40); Porta do Meio (Jr 39.3); e Porta Entre os Muros (Jr 52.7). Por causa destas diferenças, alguns acham intrigante tanto o formato quadrado, como o templo no centro e as doze portas, pois não há nenhum paralelo disso no Antigo Testamento, antes de Ezequiel. Alguns chegam a sugerir que ele teria se inspirado na torre de Marduque, deus babilônico, que tinha era um quadrado com doze portas. Entretanto, as revelações que Ezequiel teve vieram de Deus e não da sua própria cabeça, ou de coisas que ele viu. 

4- Origem do formato e das portas. Se a cidade vista por Ezequiel era diferente da cidade de Jerusalém em todas as épocas, como já vimos, de onde Ezequiel tirou o formato da cidade e a quantidade de portas? Conforme vimos acima, o templo de Marduque, na Babilônia, tinha este formato quadrado e doze portas. Mas não faria nenhum sentido, um profeta do Senhor buscar inspiração em um templo pagão, dos algozes do seu povo. 

A Cidade vista por Ezequiel ainda será construída. Esta visão, conforme já falamos várias vezes nesta e em outras lições, é literal e futurista. Ou seja, irá se cumprir literalmente e refere-se ao período do milênio. Apesar das semelhanças com a Jerusalém Celestial, não se trata da mesma cidade. A Nova Jerusalém vista por João tinha quatro laterais e doze portas, porém tinha o formato de um cubo perfeito, ou seja, as suas medidas de comprimento, largura e altura eram iguais (Ap 21.16). Na Cidade que João viu, além dos nomes das doze tribos de Israel nas portas, a cidade tinha também doze fundamentos, com os doze nomes dos apóstolos de Jesus (Ap 21.14).

A Jerusalém do milênio, vista por Ezequiel, é apenas uma figura da Nova Jerusalém, que descerá do Céu, após o juízo final, e estará no Novo Céu e Nova Terra. (Ap 21.1,2). A Jerusalém Celestial é um projeto arquitetônico do próprio Deus. Abraão e outros heróis da fé, aguardavam esta cidade, sem a conhecer, pela fé: “Pela fé, habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa. Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus.” (Hb 11.9,10). Lá será o nosso eterno lá. Paulo disse que a nossa pátria está nos céus (Fp 3.20).


REFERÊNCIAS:

SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pág. 146-147.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 3359.

Bíblia de Estudo Shedd. Editora Shedd. pág. 1223.

TAYLOR, John B. Ezequiel: Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pág. 254-255.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento: Isaías a Malaquias. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 822.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Antigo Testamento. Vol. IV. Editora Central Gospel. pág. 304.


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Ev. Weliano Pires

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