(Comentário do 2º tópico da Lição 11: A visão do Templo e o Milênio)
Falaremos neste segundo tópico sobre o templo do Milênio. O milênio será uma nova dispensação onde Cristo será, de fato, o Rei de todas as nações e as governará com justiça e equidade.
Os detalhes deste templo visto por Ezequiel são totalmente diferentes do templo que ele tinha visto na primeira visão, quando a glória de Deus se foi. Os profetas Isaías e Joel também fizeram menção a este templo, porém Ezequiel foi o único a descrevê-lo.
Neste novo templo não há menção à Arca da Aliança, utensílios, rituais, pois, estes eram figuras que apontavam para Cristo e tudo se cumpriu nele. Entretanto, há referências aos sacerdotes e aos sacrifícios. Como explicar isso, se Cristo é o sacrifício perfeito e cumpriu todas as exigências da Lei mosaica? Falaremos disso, no quarto ponto deste tópico.
1- Um templo diferente. Logo depois da saída do povo de Israel do Egito, Deus ordenou que construíssem um tabernáculo, ou uma tenda móvel para que a presença de Deus se manifestasse nele. O próprio Deus forneceu o modelo, com os compartimentos, medidas e materiais da construção. “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles”. (Êx 25.8). Deus também concedeu sabedoria a Bezaleel e Aoliabe para trabalharem como ourives e artesãos do tabernáculo (Êx 31.2,6). O tabernáculo era formado por três compartimentos: O pátio, o Lugar santo e o Lugar santíssimo ou Santo dos santos. No pátio do Tabernáculo ficavam o altar do holocausto e a pia de bronze. No Lugar Santo ficavam o candelabro de ouro, a mesa dos pães da proposição e o altar do incenso. No Santo dos Santos ficava a Arca da Aliança e uma tampa que a cobria, chamada de propiciatório.
Durante o reinado de Davi, ele desejou construir um templo para Deus. Mas, Deus rejeitou a proposta, por ele ser um homem de guerra desde a sua mocidade. Porém, Deus lhe falou que o seu filho Salomão construiria o templo. Davi, então, adquiriu o terreno e arrecadou materiais de altíssima qualidade, em abundância, para a construção do templo. No reinado de Salomão, Deus concedeu paz para que ele construísse o templo.
O templo de Salomão foi planejado segundo o modelo do tabernáculo dado a Moisés, com exceção, é claro, das estacas e cortinas que não eram mais necessárias, pois não era móvel como o Tabernáculo. Este templo foi construído com muito esplendor e consagrado a Deus. Na inauguração, a glória de Deus encheu o local, de tal forma, que os sacerdotes e levitas não conseguiram ficar lá dentro. Por causa do pecado generalizado no Reino de Judá, Deus os entregou nas mãos da Babilônia e permitiu a destruição de Jerusalém e deste templo.
Na volta do cativeiro babilônico, o templo foi reconstruído por Zorobabel e inaugurado no sexto ano de Dario, ou seja, em 516 a.C. Entretanto, este segundo templo era muito inferior ao primeiro, porque além de não terem recursos para uma construção como aquela dos tempos áureos de Salomão, também não tinham conhecimento arquitetônico para isso. Entretanto, os compartimentos e utensílios do templo eram praticamente os mesmos, pois os rituais e sacrifícios continuavam. Durante o domínio romano, este templo foi completamente reformado e ampliado por Herodes Magno, conhecido como “Herodes, o Grande'', que governou a Judéia entre 37 e 4.a.C. O tempo total da reforma durou 46 anos. Este segundo templo foi totalmente destruído pelo exército romano, no ano 70 d.C.
Ezequiel teve a visão desse templo, catorze anos após a destruição de Jerusalém e do primeiro templo (Ez 40.1). Ezequiel viveu em Jerusalém até aos 25 anos de idade. Ele era de uma família sacerdotal e, portanto, conhecia bem o templo de Salomão. A descrição que ele faz do templo é semelhante à do templo que havia sido destruído pelos babilônios. Entretanto, as medidas não são as mesmas e não aparecem neste templo visto por Ezequiel, os utensílios que faziam parte do tabernáculo e do templo de Jerusalém. Aliás, justamente por causa destas diferenças deste templo da visão de Ezequiel, em relação ao templo de Salomão, houve relutância de alguns rabinos para aceitarem o livro como canônico.
Este templo também não é o templo que foi construído depois por Zorobabel, pois as medidas, as características e até a geografia do local do templo descritas por Ezequiel não são as mesmas do segundo templo. Também não é o terceiro templo que está sendo planejado por Israel e será construído. Este será profanado pelo Anticristo e destruído pouco antes da Batalha do Armagedom.
Então, que templo seria este que Ezequiel viu? Alguns sugerem que este templo não seria literal e que seria apenas simbólico para indicar a restauração espiritual de Israel. Entretanto, a interpretação mais coerente é que este templo será construído em Jerusalém e se refere ao período do governo milenial de Cristo, que virá após a Grande Tribulação.
2- Uma dispensação diferente. Para entendermos este ponto, se faz necessário explicar o que é dispensação, no sentido teológico. O Dispensacionalismo é um sistema de teologia que vê o mundo como se fosse um “lar” que é gerenciado por Deus. A palavra “dispensação” tem o sentido de “administração” ou “mordomia” e é usada por Paulo no Novo Testamento: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”. (Ef 1.10); “Se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada.” (Ef 3.2).
A interpretação dispensacionalista fundamenta-se com base na interpretação literal e consistente da Bíblia (desde Gênesis até o Apocalipse). Também faz distinção entre Israel e a Igreja e enfatiza a glorificação de Deus através da sua criação ao longo dos anos. Esta linha de interpretação bíblica divide a história humana em sete períodos chamados de dispensações:
a. Dispensação da inocência: Período que se estende desde a criação de Adão até a expulsão do Éden.
b. Dispensação da consciência: Desde a queda do primeiro casal até o dilúvio.
c. Dispensação do governo humano: Desde o dilúvio até a confusão das línguas na tentativa de construção da Torre de Babel.
d. Dispensação da promessa: Desde a chamada de Abrão em Ur dos Caldeus, até o fim do cativeiro de Israel no Egito.
e. Dispensação da Lei: Desde a saída de Israel do Egito até a crucificação de Jesus.
f. Dispensação da Graça: Desde a ressurreição de Jesus até o arrebatamento da Igreja.
g. Dispensação do Milênio: Desde a manifestação gloriosa de Cristo até o Juízo final.
Atualmente vivemos a sexta dispensação, chamada de dispensação da Graça, Era da Igreja, ou Dispensação do Espírito. Esta dispensação representa um intervalo entre a 69ª semana de Daniel e a 70ª. Neste período, devido à rejeição de Israel ao Messias, Deus abriu a oportunidade a todos os povos para serem salvos, formando um só povo: a Igreja. Após o arrebatamento da Igreja, Deus voltará a tratar com Israel. Iniciará a contagem da 70ª semana de Daniel que será a Grande Tribulação. No final dos sete anos, Jesus retornará novamente com a Igreja e estabelecerá o seu Reino de mil anos sobre a terra, que será a Dispensação do Milênio.
Nesta dispensação do Milênio haverá mudanças profundas na terra. Estudaremos este assunto com mais detalhes, na última lição deste trimestre. Neste período a terra será restaurada. Todos voltarão a ser vegetarianos e terão longevidade. Deus tirará também a ferocidade dos animais, que também serão vegetarianos como no princípio. “O lobo e o cordeiro comerão juntos, e o leão comerá feno, como o boi, mas o pó será a comida da serpente. Não farão nem mal nem destruição em todo o meu santo monte, diz o Senhor.” (Is 65.25). As Testemunhas de Jeová confundem isso com a eternidade e, por isso, dizem que a eternidade será um paraíso na terra.
3- Um ritual diferente. Assim como o templo visto por Ezequiel era diferente do templo de Salomão e do segundo templo feito por Zorobabel e ampliado por Herodes, o ritual feito neste templo também será diferente. O objeto mais importante do tabernáculo e do templo era, sem dúvida nenhuma, a Arca da Aliança, pois ela era representava a presença de Deus. A Arca era um baú retangular feito de madeira de cipreste e revestido de ouro por dentro e por fora. As suas medidas eram em medidas atuais: 1,20m x 90 cm x 90 cm. Em cada extremidade inferior da Arca, havia uma argola de ouro, onde eram colocadas duas varas que serviam para transportar a Arca. Em cima da Arca havia uma tampa feita de ouro puro, chamada de "propiciatório". Nesta tampa ficavam as figuras de dois querubins, feitos de ouro, colocados um de frente para o outro, com suas asas estendidas. Em cima do propiciatório o sacerdote derramava o sangue dos animais para aplacar (propiciar) a ira de Deus sobre o povo. Por isso era chamada de “propiciatório”.
A Arca ficava no lugar Santo dos Santos e não podia ser vista ou tocada pelo povo. Somente os sacerdotes tinham acesso a ela e poderiam transportá-la, nos tempos do tabernáculo. Nos tempos do Sumo sacerdote Eli, os seus filhos a levaram para a guerra, com um amuleto para vencer a guerra, mas foram derrotados. Os filisteus levaram a Arca para a sua terra e ela permaneceu lá por 20 anos. Durante o reinado de Davi, ele a trouxe de volta para Jerusalém com grande júbilo. Porém a Arca desapareceu completamente dos relatos bíblicos e não se sabe ao certo quando ela desapareceu. O profeta Jeremias faz menção a ela dizendo: “Naqueles dias, diz o SENHOR, nunca mais se dirá: A arca do concerto do Senhor Nem lhes virá ao coração, nem dela se lembrarão, nem a visitarão; isso não se fará mais”. (Jr 3.16). Alguns sugerem que ela foi capturada junto com os demais objetos do templo pelo exército de Nabucodonosor. Outros dizem que Jeremias a teria escondido para evitar que os babilônios a levassem, mas não há nenhuma evidência histórica disso.
Mesmo sendo tão importante para o Judaísmo, a Arca não aparece no templo visto por Ezequiel, nem no templo de Zorobabel. Isso mostra que no templo do milênio ela não existirá. A Arca se tornará desnecessária pois no milênio, a presença de Deus será Cristo que reinará pessoalmente com o seu povo. Por isso, não necessitará mais desta representação. A Arca era símbolo do Antigo Pacto de Deus com Israel. No Novo Pacto, no Milênio, a Arca será substituída pela presença do Filho de Deus, o Messias prometido a Israel.
4- Como explicar os sacrifícios no Milênio? Como vimos acima, o templo será diferente dos anteriores e os rituais também serão diferentes, pois será uma nova dispensação. Entretanto, Ezequiel menciona os sacrifícios e diz que os descendentes de Zadoque oferecerão um bezerro como sacrifício pela expiação do pecado. (Ez 43.18-27). Como isto se explica, visto que Cristo é o sacrifício perfeito, cumpriu toda a Lei e tornou obsoleto os sacrifícios de animais?
Há várias interpretações sobre este assunto, mas a que mais faz sentido é a que diz que os sacrifícios serão memoriais para relembrar o sacrifício de Cristo, assim como fazemos com a Ceia do Senhor atualmente, que também será celebrada no Reino de Deus, como disse Jesus (Mc 14.25). O saudoso pastor Antonio Gilberto, uma referência do ensino teológico da Assembléia de Deus, comentou na Bíblia de Estudo Pentecostal que estes sacrifícios não serão como os dos primeiros templos para cobrir o pecado, pois o sacrifício de Jesus é suficiente para tirar o pecado do mundo. Este memorial não será para a Igreja e sim para o povo judeu como nação sacerdotal, para relembrar o que Deus fez no passado.
REFERÊNCIAS:
LOPES, Hernandes Dias. HEBREUS: A Superioridade de Cristo. Editora Hagnos. 1 Ed. 2018.
TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pág. 791.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 6. 11 ed. 2013. pag. 341.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2993; 3355.
PFEIFFER, Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pág. 1897-1898.
HARRISON, K. Jeremias e Lamentações. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pág. 53.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento: Isaías a Malaquias. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 353; 806-807.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.1223
BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pag. 545-553.
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