02 abril 2025

O EVANGELHO DE JOÃO

(Comentário do 1° tópico da lição 01: O Verbo que se tornou em carne)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, apresentaremos uma visão panorâmica do Evangelho de João. Inicialmente, veremos as informações sobre a autoria e data deste Evangelho. Na sequência, falaremos do propósito de João ao escrever o Evangelho, com base nos textos de João 1.1-14 e 21.31. Por fim, faremos uma abordagem da natureza de Jesus, com base nos textos joaninos. 


1. Autoria e data. Diferente das Epístolas e do Apocalipse, onde os autores se identificam logo prefácio e identificam também os destinatários (com exceção da Epístola aos Hebreus), nos quatro Evangelhos não temos esta informação, pois nenhum deles se identificou. Entretanto, temos evidências no próprio texto e contamos com as informações advindas dos escritos dos chamados pais apostólicos, que foram aqueles que tiveram contato direto com os apóstolos, ou foram citados por eles nas Epístolas. 


No caso do Evangelho segundo João, temos a informação no próprio texto de que o escritor foi “o discípulo a quem Jesus amava”: “E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.” (Jo 21.20,24). Este discípulo, conhecido como “o discípulo a quem Jesus amava” é identificado como sendo João, dada a proximidade dele com Jesus, inclusive nos momentos finais da crucificação, ele permaneceu ao pé da Cruz e Jesus o incumbiu da responsabilidade de cuidar da mãe dele (Jo 19.26,27). 


Além desta evidência interna, temos as evidências externas, que são os testemunhos dos pais da Igreja, como: Clemente de Alexandria, Tertuliano de Cartago, Policarpo de Esmirna, Irineu de Gália, entre outros, afirmaram que foi o apóstolo João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago, quem escreveu o quarto Evangelho. Não temos uma data precisa para a composição do livro, mas, segundo o testemunho de Irineu, que conviveu com Policarpo, bispo de Esmirna e discípulo do apóstolo João, o livro foi escrito no período em que João vivia em Éfeso, na Ásia Menor, já em idade avançada. Com base em dados históricos, a maioria dos estudiosos colocam como data provável, entre 80 e 90 d.C. 


2. O propósito do Evangelho. Sobre o propósito do livro, encontramos a descrição do propósito no próprio texto: “Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” (Jo 20.30,31). O propósito descrito aqui, portanto, é evangelistico, ou seja, levar as pessoas a crer em Cristo. De fato, o Evangelho segundo João tem sido uma excelente ferramenta de evangelização ao longo dos séculos, pois traz informações muito importantes sobre a pessoa de Jesus e sua missão. 


Outro propósito que podemos encontrar neste Evangelho, principalmente no prólogo, é apologético, pois conforme falamos na introdução, ele afirma claramente a preexistência de Jesus, a  sua divindade, a sua distinção do Pai e a sua humanidade. Conforme vimos nos trimestre passado, havia já naquele período, várias heresias referente à Pessoa de Cristo. Desse modo, tanto este Evangelho como as Epístolas de João, tinham o propósito de fornecer material de defesa da cristologia aos cristãos, contra os falsos ensinos, principalmente os do Gnosticismo. 


3. A Natureza de Jesus. Quando falamos de natureza, estamos nos referindo aos atributos, ou qualidades inerentes a um ser. No caso de Jesus, Ele possui duas naturezas: uma divina, pois Ele é plenamente Deus; e outra humana, pois Ele é plenamente humano. Jesus não é meio divino e meio humano. Estas duas naturezas convivem em uma única pessoa, mas não se confundem e não se transformam em uma única natureza.  A união destas duas naturezas é chamada na teologia de União Hipostática. A palavra Hipostática deriva do grego hypostasis, que significa substância. Portanto, a doutrina da União Hipostática de Jesus significa que Ele é uma única pessoa com duas naturezas distintas: a divina e a humana. 


Dos quatro evangelistas, João é o mais contundente sobre a divindade de Jesus. Logo no primeiro versículo, João afirma abertamente que Jesus é: Preexistente (No princípio era o Verbo), é distinto do Pai (O Verbo estava com Deus) e é Deus (O Verbo era Deus). Só neste versículo, João deixa claro a natureza divina de Jesus. Mas há outros textos também que mostram indiretamente que Jesus é Deus, inclusive os judeus procuravam matá-lo por causa disso. 


Entretanto, João nos mostra claramente a natureza humana de Jesus, quando disse que “o Verbo se fez carne habitou entre nós”. (Jo 1.14). Em outras partes do Evangelho, João descreve aspectos da humanidade de Jesus: participando de uma festa de casamento (Jo 2.1-11); cansado do caminho (Jo 4.6); chorando (Jo 11.35); participando de jantar (Jo 12.1-11); tendo sede (Jo 19.28). Estas e outras ações de Jesus comprovam a sua plena humanidade. 


REFERÊNCIAS:


CABRAL, Elienai. E o Verbo se fez carne: Jesus sob o olhar do apóstolo do amor. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2025, Ed. 101, p.36.

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1410. 

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1410. 

Bíblia de Estudo Plenitude. BARUERI-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1ª Ed. 2001, p. 1069, 1070.

31 março 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 1: O VERBO QUE SE TORNOU EM CARNE

INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE 

Depois de estudar um trimestre muito esclarecedor sobre apologética cristã, teremos neste 2° Trimestre de 2025, teremos um trimestre de exposição bíblica. Discorreremos sobre o Evangelho segundo João, com o título: E o Verbo se fez carne: Jesus sob o olhar do apóstolo do amor. A última vez que estudamos este livro foi no 1° trimestre de 1995, com o título: O Evangelho de João: o retrato do Verbo, com comentários do Pr. Antonio Mardônio Nogueira Vieira.


Evidentemente, não seria possível estudar todo o conteúdo do quarto Evangelho, que contém 21 capítulos, em apenas treze lições. Por isso, foram selecionados alguns temas importantes deste livro, como A encarnação do Verbo, O Novo Nascimento, A verdadeira adoração, O Pão da Vida, A Verdade que liberta, O Bom Pastor e as ovelhas, A Ressurreição e a Vida, Uma Lição de humildade, O Caminho, a verdade e a vida, A promessa do Espírito, Intercessão de Jesus pelos discípulos, A trajetória de Jesus do Julgamento à Ressurreição e Renovação da esperança. O Evangelho segundo João foi o último a ser escrito e contém detalhes exclusivos do ministério de Jesus na Judeia, que os Evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas, não trazem. 


COMENTARISTA: Pr. Elienai Cabral

Filho do pastor Osmar Cabral e de Jardelina Cabral; Conferencista internacional, teólogo, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil (AELB) e da Casa de Letras Emílio Conde (CPAD); Desde 1985 é comentarista de Lições Bíblicas da CPAD; Autor de vários livros, entre eles: Comentário Bíblico de Efésios, Mordomia Cristã, A Defesa do Apostolado de Paulo – Estudo na Segunda Carta aos Coríntios, Comentário Bíblico de Romanos, A Síndrome do Canto do Galo, Josué – Um líder que fez diferença, Parábolas de Jesus e O Pregador Eficaz, Relacionamentos em família, todos publicados pela CPAD. Pr Elienai foi membro do Conselho Administrativo da CPAD e por vários mandatos presidiu a Convenção Evangélica das Assembleias de Deus do Distrito Federal (CEADDIF). Atualmente, é o consultor doutrinário da CGADB e da CPAD. 


LIÇÃO 1: O VERBO QUE SE TORNOU EM CARNE



Nesta primeira lição, como de costume, teremos uma introdução ao tema do trimestre, fazendo uma exposição do prólogo do Evangelho segundo João, que está no capítulo 1, versículos 1 a 14. Neste texto do prólogo, João traz informações cristológicas fundamentais, como a preexistência de Jesus, a distinção entre Jesus e o Pai, a divindade de Jesus, Jesus como o Criador de todas as coisas e a humanidade de Jesus. 

No primeiro tópico, apresentaremos uma visão panorâmica do Evangelho de João. Inicialmente, veremos as informações sobre a autoria e data deste Evangelho. Na sequência, falaremos do propósito de João ao escrever o Evangelho, com base nos textos de João 1.1-14 e 21.31. Por fim, faremos uma abordagem da dupla natureza de Jesus, com base nos textos joaninos. 

No segundo tópico, falaremos de Jesus como o Verbo de Deus. Veremos que a expressão inicial do Evangelho segundo João, “No princípio”, ultrapassa o passado de Gênesis 1.1. Na sequência, falaremos da natureza fundamental do Verbo de Deus, com base no prólogo do Evangelho de João e no Apocalipse. Por fim, falaremos do significado da expressão Joanina “No princípio era o Verbo”, analisando o significado da palavra grega logos, traduzida por verbo.

No terceiro tópico, falaremos da encarnação do Verbo. Inicialmente falaremos da manifestação do Verbo e a Luz do mundo, trazendo também o significado de luz e trevas na Bíblia. Na sequência, falaremos do privilégio que temos de sermos chamados filhos de Deus, mediante a fé em Jesus. Por último, falaremos da manifestação e habitação do Verbo entre os seres humanos, com base na frase “e o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.


Ev. WELIANO PIRES


REFERÊNCIAS:


CABRAL, Elienai. E o Verbo se fez carne: Jesus sob o olhar do apóstolo do amor. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 101, p.36.

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1410. 

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1410. 

Bíblia de Estudo Plenitude. BARUERI-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1ª Ed. 2001, p. 1069, 1070.

29 março 2025

TENDO AS ESCRITURAS COMO O FUNDAMENTO

(Comentário do 3º tópico da Lição 13: Perseverando na fé em Cristo)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, falaremos da importância de termos a Bíblia como fundamento. Falaremos da autoridade dos apóstolos do Novo Testamento, considerando que os seus escritos são colocados no mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento. Na sequência, falaremos da abrangência do termo “Escrituras” na Bíblia, que não se limita ao Antigo Testamento. Por último, falaremos da Bíblia como o manual de Deus, a qual é “proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”, a qualquer pessoa, para toda boa obra. 

 

1. A autoridade apostólica. A Bíblia Sagrada foi escrita em um período de aproximadamente 1.600 anos, por cerca de quarenta escritores diferentes, que viveram em épocas e regiões diferentes e a maioria não se conheceu. Ela é composta de sessenta e seis livros e se divide em duas partes principais: o Antigo Testamento, com 39 livros e o Novo Testamento, com 27 livros. Entre estes dois volumes, há um espaço de quatrocentos anos, que é chamado de período interbíblico. 


O Antigo Testamento é uma espécie de introdução ao Plano de Salvação de Deus. Esta primeira parte da Bíblia nos fornece as bases para entendermos o Novo Testamento. Mostra também o governo de Deus, os seus princípios morais, a pecaminosidade humana e a incapacidade de salvação através da lei. As figuras, tipos e profecias do Antigo Testamento apontam para Cristo, o único Salvador e Mediador entre Deus e a humanidade. O conteúdo da Bíblia hebraica é o mesmo do nosso Antigo Testamento, porém a ordem, a quantidade e os nomes dos livros são diferentes, pois a nossa Bíblia segue a ordem da versão grega Septuaginta (LXX).


O Novo Testamento representa o cumprimento e a explicação do Antigo Testamento. Muitas coisas que eram incompreensíveis no antigo pacto se tornam claras no Novo Testamento. Os tipos, figuras alegorias e profecias se tornam claras com o registro do Novo Testamento. É no Novo Testamento que o cristão deve começar a sua jornada de fé. Se o cristão se prender no Antigo Testamento e não o interpretar em seu devido contexto, fatalmente se tornará um judaizante e anulará o sacrifício de Cristo. 


2. Abrangência. A Bíblia inteira é a Palavra de Deus, pois ela foi totalmente inspirada pelo Espírito Santo. Não há, portanto, nenhuma parte dela que não seja inspirada por Deus, ou uma parte mais inspirada do que outras. Quando Paulo diz a Timóteo que “toda a Escritura é divinamente inspirada”, não se refere apenas ao Antigo Testamento, mas à Bíblia inteira: Antigo e Novo Testamento.


Nos tempos do ministério terreno de Jesus e início da Igreja Primitiva, o Novo Testamento ainda não havia sido escrito. As Escrituras que eles usavam era o Antigo Testamento. Foi um processo gradual, que foi sendo escrito, conforme as revelações e a inspiração do Espírito Santo. O Novo Testamento contém 27 livros canônicos, que são chamados pelos próprios apóstolos de Escrituras e de Palavra do Espírito Santo, que foram divinamente inspiradas. (1 Co 2.13; 2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21).


3. O manual de Deus (vv.16b,17). O manual, no sentido em que estamos falando aqui, é um guia prático que explica o funcionamento de um produto, como um manual do usuário, produzido pelo próprio fabricante, que apresenta os detalhes do produto e o seu funcionamento. Sendo Deus o criador de todas as coisas, inclusive do ser humano, Ele nos deixou o seu “manual do fabricante”, que é a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. 


Nestas recomendações a Timóteo, o apóstolo Paulo declarou que a Palavra de Deus é “proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. A Nova Versão Transformadora (NVT), traz uma linguagem mais atualizada para esta frase, que facilita a nossa compreensão: “é útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber o que não está em ordem em nossa vida. Ela nos corrige quando erramos e nos ensina a fazer o que é certo. Muitas pessoas estão perdidas neste mundo, porque desprezam e não seguem as orientações da Palavra de Deus para a sua vida em todos os aspectos. 


O Salmo 119, o maior dos Salmos, é dedicado inteiramente à exaltação da Palavra de Deus. Trata-se de uma belíssima poesia em acróstico, contendo 22 estrofes e cada uma delas contém 8 versos, que começam com uma palavra, cuja inicial é uma letra sequencial do alfabeto hebraico. Em cada um dos versos há uma referência à Palavra de Deus, com palavras sinônimas: Lei do Senhor, Testemunhos, Mandamentos, Estatutos, etc. No texto em português esta beleza se perde, pois as sequências das letras acontecem apenas no texto hebraico. No verso 105, o salmista diz: “Lâmpada para os seus pés é a tua Palavra e luz para o seu caminho”. Quer andar na luz e não tropeçar? Siga as orientações da Palavra de Deus!


REFERÊNCIAS: 


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 42.

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2013, pp.1715.

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, p.1930

28 março 2025

APRENDENDO, SENDO INTEIRADO E SABENDO

(Comentário do segundo tópico da Lição 13: Perseverando na fé em Cristo)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, falaremos da recomendação de Paulo a Timóteo para permanecer naquilo que aprendeu: aprendendo, sendo inteirado e sabendo. Inicialmente, responderemos à pergunta: De quem Timóteo aprendeu as Sagradas Letras? O comentarista apresenta uma boa exegese do pronome relativo, “de quem”, usado pelo apóstolo Paulo. Na sequência, falaremos da recomendação para que Timóteo permaneça firme nas Sagradas Letras, lembrando-se de quem foram os seus instrutores. Por fim, veremos que a Bíblia é divinamente inspirada e apresentaremos o significado da inspiração divina das Escrituras.


1. De quem Timóteo aprendeu as Sagradas Letras? (v.14). Nos versículos 14 e 15, da Leitura Bíblica em Classe, o apóstolo Paulo fez a seguinte recomendação a Timóteo: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido. E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus”. O conteúdo que Timóteo aprendeu eram as Sagradas Letras, ou as Escrituras, inspiradas por Deus, como veremos abaixo. 


O comentarista faz menção aos instrutores de Timóteo, ou seja, quem lhe ensinou as Sagradas Letras. Timóteo era filho de uma mulher judia, chamada Eunice, e neto de outra judia chamada Loide. Embora o pai de Timóteo fosse gentio e não tenha permitido que ele fosse circuncidado, a sua mãe e avó lhe ensinaram as Escrituras judaicas, desde a sua infância. Além da sua mãe e avó que eram judias e lhe ensinaram as Escrituras hebraicas, Timóteo também teve como mentor o apóstolo Paulo que, além das Escrituras hebraica, lhe ensinou também as doutrinas cristãs, que ele recebeu do próprio Senhor Jesus. 


Todos nós, no início da nossa fé precisamos de mentores ou discipuladores, que nos ensinem a Palavra de Deus. O discipulado cristão é tão importante quanto a evangelização. De nada adianta fazermos congressos, trazer pregadores eloquentes e dezenas de pessoas se entregarem a Cristo, se não houver a continuidade deste trabalho através do discipulado. Os novos convertidos são como bebês recém nascidos, que necessitam de cuidados especiais e alimentação leve. São presas fáceis dos falsos mestres e, se não ficarmos atentos, eles serão levados por ventos de doutrinas. 


2. Permanecendo firme nas Sagradas Letras (v.15). Paulo recomendou a Timóteo que permanecesse naquilo que aprendeu, que eram as Sagradas Letras. A fonte das instruções que Timóteo recebeu eram as Escrituras e os seus instrutores eram pessoas tementes a Deus. O jovem Timóteo teve o privilégio de crescer em lar onde havia instruções da Palavra de Deus, apesar do seu pai não ser judeu. Tanto a sua mãe, como a sua avó, não descuidaram da educação religiosa da criança. Eu louvo a Deus, pois também tive este privilégio. Os meus pais se converteram quando eu tinha apenas cinco anos e, com eles, eu aprendi desde cedo as Sagradas Letras. O meu pai foi o meu primeiro professor da Escola Dominical. 


O lar cristão é o ambiente propício para se ensinar a Palavra de Deus aos nossos filhos. A Igreja local, principalmente o pastor e o professor da Escola Dominical, tem a responsabilidade de ensinar a Palavra de Deus aos crentes. Entretanto, o ensino da Palavra de Deus deve começar em casa. É de responsabilidade dos pais ensinar aos seus filhos a Palavra de Deus. Nos textos de Deuteronômio 6.4-8 e 11.18,19, o Senhor fala para os pais ensinarem a Lei do Senhor aos filhos, assentados com eles à mesa, andando com eles no caminho, ao deitar e ao levantar.


No Livro de Provérbios também há várias referências recomendando aos pais que instruam os seus filhos, mostrando-lhes o caminho em que devem andar. O texto mais conhecido é Provérbios 22.5 que diz: “Instrui à criança no caminho em que deve andar e quando envelhecer não se desviará dele”. Este texto nos mostra que os pais têm a responsabilidade de ensinar a Palavra de Deus aos filhos. Este ensino, no entanto, não deve ser apenas teórico. Os pais devem ensinar os filhos “no caminho” e não “sobre o caminho”. Isto significa que devem ensinar, andando também no caminho.


Os nossos filhos passam várias horas por dia expostos a vários tipos de ensinos perniciosos e a práticas que contrariam a Palavra de Deus. Por isso, precisamos gastar tempo com eles, para orar, ler a Bíblia e ensiná-los a ter um relacionamento com Deus. Não podemos negligenciar esta responsabilidade, ou deixá-los apenas a cargo da Igreja. Infelizmente, muitos pais crentes não se preocupam com a salvação dos seus filhos e não lhes ensinam a Palavra de Deus. Depois que os filhos crescem e dão trabalho ficam se perguntando onde erraram.


3. A Bíblia é divinamente inspirada. Depois de recomendar a Timóteo que permanecesse naquilo que aprendeu, que eram as Sagradas Letras, sabendo de quem as tinha aprendido: da sua mãe e avó, e do próprio Paulo, nos versículos 16 e 17, na versão Almeida Revista e Corrigida, o apóstolo fala da inspiração divina das Escrituras, dizendo: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra”. 


As versões Almeida Revista e Atualizada, Nova Almeida Atualizada, Almeida Revista e Corrigida Fiel, traduzem a primeira parte do versículo 16 assim: “Toda a Escritura é divinamente inspirada…”. A Nova Versão Internacional e Nova Versão Transformadora, dizem: “Toda a Escritura é inspirada por Deus…”. A palavra grega usada por Paulo, traduzida por “inspirada por Deus” é “theopneustos”. É a junção dos termos gregos: “Theos” (Deus) e “pneõ” (sopro), significando literalmente “soprada por Deus”. Toda a Bíblia foi inspirada por Deus e não apenas algumas partes, como prega a teologia liberal. Não há um livro ou texto mais inspirado do que outros. 


Há várias teorias erradas a respeito da inspiração divina da Bíblia. A teoria correta, que a Assembleia de Deus adota, é chamada de inspiração verbal plenária. Esta teoria afirma que o Espírito Santo, agiu sobre os escritores da Bíblia e os conduziu na transcrição daquilo que Deus queria que fosse escrito. Esta ação do Espírito Santo manteve a inerrância das Escrituras e deu-lhe a autoridade divina. A inspiração verbal significa que todas as palavras da Bíblia são inspiradas por Deus. Por outro lado, a inspiração bíblica também é plenária, pois, todo o texto bíblico foi inspirado por Deus e não apenas algumas palavras. Sendo assim, rejeitamos as ideias da teologia liberal que afirma que a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas, "contém a Palavra de Deus". 


REFERÊNCIAS:

 

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 42.

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2013, pp.1715.

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, p.1930.

27 março 2025

DIANTE DAS HERESIAS É PRECISO PERSEVERANÇA

(Comentário do 1º tópico da Lição 13: Perseverando na Fé em Cristo)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, veremos que é preciso perseverar diante das heresias. Inicialmente, falaremos dos falsos mestres mencionados por Paulo nas duas Epístolas a Timóteo, que eram os gnósticos e os judaizantes. Na sequência, falaremos da experiência do apóstolo Paulo nas perseguições, vindas dos judeus e dos falsos irmãos. Falaremos também do significado do verbo “querer” usado por Paulo, quando disse: “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3.12). Por último, falaremos das características dos enganadores, mencionados por Paulo em 2 Timóteo 2.13.


1. Os falsos mestres. O jovem Timóteo aparece pela primeira vez na Bíblia na segunda viagem missionária de Paulo após a sua separação de Barnabé. Nesta viagem, Paulo seguiu na companhia de Silas. Ao chegar à cidade de Listra, encontrou ali Timóteo e resolveu levá-lo consigo para a missão: “E chegou a Derbe e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego; Do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio”. (At 16.1-3).  A partir deste momento Timóteo tornou-se companheiro de Paulo em suas viagens e um dos obreiros mais próximos, junto com Silas. 


O apóstolo enviou duas epístolas pastorais ao jovem Timóteo, dando-lhe as instruções necessárias para o desenvolvimento do seu ministério. Após ser libertado da sua primeira prisão em Roma, Paulo deixou Timóteo como pastor em Éfeso, por volta de 63 d.C. Pouco tempo depois, enviou-lhe a primeira epístola, com o objetivo de auxiliar o jovem pastor na difícil tarefa de lidar com as heresias dos falsos mestres, além de fornecer instruções sobre as qualificações e responsabilidades dos bispos, presbíteros e diáconos. 


A segunda epístola foi escrita entre 66 e 67 d.C., quando Paulo se encontrava preso em Roma, na sua segunda prisão, chamada de “Prisão Mamertina”, que era uma masmorra úmida e fria, da qual o apóstolo tinha convicção de que não sairia mais. A segunda epístola a Timóteo é uma carta de despedida do apóstolo, onde ele prevê o seu martírio e faz vários alertas ao seu filho na fé, sobre a apostasia que viria nos últimos dias. 


Os dois grupos heréticos que mais incomodavam a Igreja onde Timóteo pastoreava, eram os gnósticos e os judaizantes. Os gnósticos eram uma mistura de judaísmo com filosofia grega. Se achavam detentores de um suposto conhecimento superior e ensinavam um dualismo entre matéria e espírito. Consideravam que a matéria é essencialmente má e o espírito é bom. Paulo se  referiu a estes hereges gnósticos como a “falsamente chamada ciência” (1Tm 6.20). O apóstolo João, conforme vimos em lições anteriores, combateu fortemente o gnosticismo. 


Os judaizantes, eram judeus que aderiram à fé cristã, mas enxergavam o Cristianismo como se fosse mais um seita judaica. Por isso, insistiam na exigência de guardar a Lei para serem salvos.  Paulo usou as seguintes expressões para se referir aos judaizantes: “falsos doutores da lei” (1Tm 1.7), da “circuncisão” (Tt 1.10) e as “fábulas judaicas” (Tt 1.14). Os judaizantes eram inimigos ferrenhos do apóstolo Paulo, pois ele pregava a Salvação pela Graça e a Justificação pela fé, independente das obras da lei.


Paulo não se refere aqui aos falsos mestres de outras religiões, assumidamente anticristãs. A referência aqui é aos falsos mestres que estão entre nós, disfarçados de cristãos. Estes são mais perigosos, pois, eles se disfarçam de verdadeiros ensinadores, e estão infiltrados entre os obreiros, como se fossem um de nós. Não podemos entregar o púlpito das nossas Igrejas para qualquer pessoa falar, sem saber a procedência. Mesmo os que são do nosso meio, precisam ter os seus ensinos avaliados cuidadosamente, à luz da Palavra de Deus. Quem poupa o lobo, sacrifica as ovelhas.


2. A experiência apostólica (vv.10,11). Nos versículos 10 e 11 de 2 Timóteo 3, Paulo elogia a perseverança de Timóteo na doutrina que ele lhe ensinou, no seu modo de viver e nas perseguições e aflições que ele sofreu em sua jornada ministerial. As perseguições mencionadas por Paulo, que aconteceram em Antioquia, em Icônio e em Listra, como explicou o comentarista, aconteceram durante a sua primeira viagem missionária com Barnabé (At 13.8-12,50; 14.5-7,19).


Nestas perseguições, Timóteo ainda não fazia parte da equipe missionária, pois ele foi chamado por Paulo em sua segunda viagem missionária, como vimos no subtópico anterior. Entretanto, ele era um crente da cidade de Listra e, certamente, ouviu falar e até presenciou algumas destas perseguições que Paulo sofreu. Além disso, depois que se tornou companheiro de missões do apóstolo Paulo, o próprio Timóteo sofreu também perseguições. 


A experiência de obreiros maduros é muito importante para o desenvolvimento espiritual dos mais novos. O ministério não é desenvolvido apenas na teoria, através do estudo teológico. Ele precisa ser desenvolvido na prática, através da oração, provações e perseguições. Infelizmente, em nossos dias muitos obreiros novos, por terem um certo conhecimento, desprezam a experiência dos anciãos e querem pular etapas. Querem começar o ministério liderando, sem nunca terem sido liderados. 


A experiência como auxiliar é fundamental para o momento em que assumirmos a direção de um trabalho. Josué serviu a Moisés até o fim da vida dele e aprendeu muito. Quando Deus o chamou, ele estava pronto para assumir o lugar de Moisés e colocar em prática tudo o que aprendeu com o seu líder. É muito importante também, ao assumirmos um trabalho, respeitar a história e o legado deixado pelo nosso antecessor. Um obreiro deve dar continuidade ao trabalho que recebeu e não destruir o que foi construído


3. Entendendo o “querer” (v.12). Aqui, o comentarista que é um excelente exegeta, faz uma exegese do verbo grego traduzido querer no versículo 12. O texto diz o seguinte: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”. Ele explica que o verbo “querer” aqui é muito mais que apenas desejar. Significa uma resolução, ou um firme propósito de servir a Deus de todo o coração. 


Viver em Cristo Jesus significa exatamente ter a vontade de Deus como único objetivo em sua vida. Falando sobre isso, Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará”. A vida cristã não é um mar de rosas, como os triunfalistas e teólogos da prosperidade apregoam. Jesus não nos chamou para crer nele e viver só de vitórias neste mundo. Fomos chamados para andar na contramão deste mundo e padecer pelo Evangelho. 


O apóstolo Paulo, viveu isso após a sua conversão e declarou: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. (Gl 2.20). Quem se converte a Cristo de verdade não tem mais vontade própria, submete-se inteiramente à vontade de Deus para a sua vida. Quem decide viver a vontade de Deus em um mundo que jaz no maligno, certamente, será perseguido. 


As perseguições por causa do Evangelho devem ser motivo de alegria e não de reclamação. Falando disso, no Sermão do Monte, Jesus disse: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”. (Mt 5.11,12). 


Entretanto, é preciso separar perseguições por causa do Evangelho, de “mimimi” de crente mimado e de confusões que a própria pessoa procura. O apóstolo Pedro também falou sobre isso e disse que é coisa agradável sofrer perseguições injustamente, por causa da consciência para com Deus. Mas ele completou dizendo: “Que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus”. (1 Pe 2.20). Portanto, não vamos chamar de perseguição, as consequências dos nossos pecados. 


4. Características dos enganadores (v.13). No versículo 13, Paulo se refere aos falsos mestres como “enganadores”: “Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados”. O verbo grego traduzido por “enganadores” é “goēs”, que provém da literatura grega e significa “embusteiro, impostor, feiticeiro, charlatão, encantador”. De fato, esta palavra se aplica perfeitamente aos falsos mestres, pois a sua principal característica é o engano, a falsificação e a mentira. 


O apóstolo Pedro, em sua segunda epístola, também alertou contra os falsos mestres que iriam surgir e mostrou algumas características deles, que podem facilitar a sua identificação quando surgirem entre nós. Evidentemente, para ser um falso mestre não é preciso ter todas estas características. Uma ou duas delas são suficientes para serem considerados falsos mestres (2 Pe 2.1-3): 


a. Surgirão “entre vós”. Os falsos mestres são inimigos internos. Não são necessariamente os que estão fora do Cristianismo. Estes nós já sabemos quem são. O perigo maior são os de dentro, que se apresentam um de nós. 

b. Introduzirão encobertamente heresias de perdição. Ensinam doutrinas contrárias às Escrituras. O nosso padrão, parâmetro, régua (cânon) é a Palavra de Deus. Quem ensina doutrinas antibíblicas é lobo. 

c. Negarão o Senhor que os resgatou. Os falsos mestres costumam negar a Cristo, seja com palavras ou com atitudes. A intenção deles é buscar glórias e benefícios para si mesmos e não glorificar a Deus.

d. Terão vida dissoluta. Normalmente, falsos mestres têm conduta pervertida, imoral e contrária aos padrões bíblicos. Se alguém adota práticas que a Bíblia condena, é lobo disfarçado de ovelha. 

e. Serão avarentos. Tudo o que fazem é visando obter vantagens financeiras. Devemos ter muito cuidado com pessoas cujos objetivos são o enriquecimento e o poder. 

f. Farão de vós na Igreja um negócio. Todo obreiro que faz da Igreja uma negócio, ou forma de enriquecer é lobo. Já existem até obreiros vendendo a Igreja para outros ministérios (de porteira fechada). 

g. Usarão palavras fingidas. Os falsos mestres sempre fingem ser o que não são, com palavras bonitas e persuasivas.


REFERÊNCIAS: 

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 42.

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2013, pp.1715.

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, p.1930


CONCLUSÃO DO 2º TRIMESTRE DE 2025

Graças a Deus chegamos ao final de mais um trimestre de estudos em nossa Escola Bíblica Dominical. A cada trimestre que estudamos, crescemos...