(Comentário do 1º tópico da Lição 13: Perseverando na Fé em Cristo)
Ev. WELIANO PIRESNo primeiro tópico, veremos que é preciso perseverar diante das heresias. Inicialmente, falaremos dos falsos mestres mencionados por Paulo nas duas Epístolas a Timóteo, que eram os gnósticos e os judaizantes. Na sequência, falaremos da experiência do apóstolo Paulo nas perseguições, vindas dos judeus e dos falsos irmãos. Falaremos também do significado do verbo “querer” usado por Paulo, quando disse: “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3.12). Por último, falaremos das características dos enganadores, mencionados por Paulo em 2 Timóteo 2.13.
1. Os falsos mestres. O jovem Timóteo aparece pela primeira vez na Bíblia na segunda viagem missionária de Paulo após a sua separação de Barnabé. Nesta viagem, Paulo seguiu na companhia de Silas. Ao chegar à cidade de Listra, encontrou ali Timóteo e resolveu levá-lo consigo para a missão: “E chegou a Derbe e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego; Do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio”. (At 16.1-3). A partir deste momento Timóteo tornou-se companheiro de Paulo em suas viagens e um dos obreiros mais próximos, junto com Silas.
O apóstolo enviou duas epístolas pastorais ao jovem Timóteo, dando-lhe as instruções necessárias para o desenvolvimento do seu ministério. Após ser libertado da sua primeira prisão em Roma, Paulo deixou Timóteo como pastor em Éfeso, por volta de 63 d.C. Pouco tempo depois, enviou-lhe a primeira epístola, com o objetivo de auxiliar o jovem pastor na difícil tarefa de lidar com as heresias dos falsos mestres, além de fornecer instruções sobre as qualificações e responsabilidades dos bispos, presbíteros e diáconos.
A segunda epístola foi escrita entre 66 e 67 d.C., quando Paulo se encontrava preso em Roma, na sua segunda prisão, chamada de “Prisão Mamertina”, que era uma masmorra úmida e fria, da qual o apóstolo tinha convicção de que não sairia mais. A segunda epístola a Timóteo é uma carta de despedida do apóstolo, onde ele prevê o seu martírio e faz vários alertas ao seu filho na fé, sobre a apostasia que viria nos últimos dias.
Os dois grupos heréticos que mais incomodavam a Igreja onde Timóteo pastoreava, eram os gnósticos e os judaizantes. Os gnósticos eram uma mistura de judaísmo com filosofia grega. Se achavam detentores de um suposto conhecimento superior e ensinavam um dualismo entre matéria e espírito. Consideravam que a matéria é essencialmente má e o espírito é bom. Paulo se referiu a estes hereges gnósticos como a “falsamente chamada ciência” (1Tm 6.20). O apóstolo João, conforme vimos em lições anteriores, combateu fortemente o gnosticismo.
Os judaizantes, eram judeus que aderiram à fé cristã, mas enxergavam o Cristianismo como se fosse mais um seita judaica. Por isso, insistiam na exigência de guardar a Lei para serem salvos. Paulo usou as seguintes expressões para se referir aos judaizantes: “falsos doutores da lei” (1Tm 1.7), da “circuncisão” (Tt 1.10) e as “fábulas judaicas” (Tt 1.14). Os judaizantes eram inimigos ferrenhos do apóstolo Paulo, pois ele pregava a Salvação pela Graça e a Justificação pela fé, independente das obras da lei.
Paulo não se refere aqui aos falsos mestres de outras religiões, assumidamente anticristãs. A referência aqui é aos falsos mestres que estão entre nós, disfarçados de cristãos. Estes são mais perigosos, pois, eles se disfarçam de verdadeiros ensinadores, e estão infiltrados entre os obreiros, como se fossem um de nós. Não podemos entregar o púlpito das nossas Igrejas para qualquer pessoa falar, sem saber a procedência. Mesmo os que são do nosso meio, precisam ter os seus ensinos avaliados cuidadosamente, à luz da Palavra de Deus. Quem poupa o lobo, sacrifica as ovelhas.
2. A experiência apostólica (vv.10,11). Nos versículos 10 e 11 de 2 Timóteo 3, Paulo elogia a perseverança de Timóteo na doutrina que ele lhe ensinou, no seu modo de viver e nas perseguições e aflições que ele sofreu em sua jornada ministerial. As perseguições mencionadas por Paulo, que aconteceram em Antioquia, em Icônio e em Listra, como explicou o comentarista, aconteceram durante a sua primeira viagem missionária com Barnabé (At 13.8-12,50; 14.5-7,19).
Nestas perseguições, Timóteo ainda não fazia parte da equipe missionária, pois ele foi chamado por Paulo em sua segunda viagem missionária, como vimos no subtópico anterior. Entretanto, ele era um crente da cidade de Listra e, certamente, ouviu falar e até presenciou algumas destas perseguições que Paulo sofreu. Além disso, depois que se tornou companheiro de missões do apóstolo Paulo, o próprio Timóteo sofreu também perseguições.
A experiência de obreiros maduros é muito importante para o desenvolvimento espiritual dos mais novos. O ministério não é desenvolvido apenas na teoria, através do estudo teológico. Ele precisa ser desenvolvido na prática, através da oração, provações e perseguições. Infelizmente, em nossos dias muitos obreiros novos, por terem um certo conhecimento, desprezam a experiência dos anciãos e querem pular etapas. Querem começar o ministério liderando, sem nunca terem sido liderados.
A experiência como auxiliar é fundamental para o momento em que assumirmos a direção de um trabalho. Josué serviu a Moisés até o fim da vida dele e aprendeu muito. Quando Deus o chamou, ele estava pronto para assumir o lugar de Moisés e colocar em prática tudo o que aprendeu com o seu líder. É muito importante também, ao assumirmos um trabalho, respeitar a história e o legado deixado pelo nosso antecessor. Um obreiro deve dar continuidade ao trabalho que recebeu e não destruir o que foi construído.
3. Entendendo o “querer” (v.12). Aqui, o comentarista que é um excelente exegeta, faz uma exegese do verbo grego traduzido querer no versículo 12. O texto diz o seguinte: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”. Ele explica que o verbo “querer” aqui é muito mais que apenas desejar. Significa uma resolução, ou um firme propósito de servir a Deus de todo o coração.
Viver em Cristo Jesus significa exatamente ter a vontade de Deus como único objetivo em sua vida. Falando sobre isso, Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará”. A vida cristã não é um mar de rosas, como os triunfalistas e teólogos da prosperidade apregoam. Jesus não nos chamou para crer nele e viver só de vitórias neste mundo. Fomos chamados para andar na contramão deste mundo e padecer pelo Evangelho.
O apóstolo Paulo, viveu isso após a sua conversão e declarou: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. (Gl 2.20). Quem se converte a Cristo de verdade não tem mais vontade própria, submete-se inteiramente à vontade de Deus para a sua vida. Quem decide viver a vontade de Deus em um mundo que jaz no maligno, certamente, será perseguido.
As perseguições por causa do Evangelho devem ser motivo de alegria e não de reclamação. Falando disso, no Sermão do Monte, Jesus disse: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”. (Mt 5.11,12).
Entretanto, é preciso separar perseguições por causa do Evangelho, de “mimimi” de crente mimado e de confusões que a própria pessoa procura. O apóstolo Pedro também falou sobre isso e disse que é coisa agradável sofrer perseguições injustamente, por causa da consciência para com Deus. Mas ele completou dizendo: “Que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus”. (1 Pe 2.20). Portanto, não vamos chamar de perseguição, as consequências dos nossos pecados.
4. Características dos enganadores (v.13). No versículo 13, Paulo se refere aos falsos mestres como “enganadores”: “Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados”. O verbo grego traduzido por “enganadores” é “goēs”, que provém da literatura grega e significa “embusteiro, impostor, feiticeiro, charlatão, encantador”. De fato, esta palavra se aplica perfeitamente aos falsos mestres, pois a sua principal característica é o engano, a falsificação e a mentira.
O apóstolo Pedro, em sua segunda epístola, também alertou contra os falsos mestres que iriam surgir e mostrou algumas características deles, que podem facilitar a sua identificação quando surgirem entre nós. Evidentemente, para ser um falso mestre não é preciso ter todas estas características. Uma ou duas delas são suficientes para serem considerados falsos mestres (2 Pe 2.1-3):
a. Surgirão “entre vós”. Os falsos mestres são inimigos internos. Não são necessariamente os que estão fora do Cristianismo. Estes nós já sabemos quem são. O perigo maior são os de dentro, que se apresentam um de nós.
b. Introduzirão encobertamente heresias de perdição. Ensinam doutrinas contrárias às Escrituras. O nosso padrão, parâmetro, régua (cânon) é a Palavra de Deus. Quem ensina doutrinas antibíblicas é lobo.
c. Negarão o Senhor que os resgatou. Os falsos mestres costumam negar a Cristo, seja com palavras ou com atitudes. A intenção deles é buscar glórias e benefícios para si mesmos e não glorificar a Deus.
d. Terão vida dissoluta. Normalmente, falsos mestres têm conduta pervertida, imoral e contrária aos padrões bíblicos. Se alguém adota práticas que a Bíblia condena, é lobo disfarçado de ovelha.
e. Serão avarentos. Tudo o que fazem é visando obter vantagens financeiras. Devemos ter muito cuidado com pessoas cujos objetivos são o enriquecimento e o poder.
f. Farão de vós na Igreja um negócio. Todo obreiro que faz da Igreja uma negócio, ou forma de enriquecer é lobo. Já existem até obreiros vendendo a Igreja para outros ministérios (de porteira fechada).
g. Usarão palavras fingidas. Os falsos mestres sempre fingem ser o que não são, com palavras bonitas e persuasivas.
REFERÊNCIAS:
SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 42.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2013, pp.1715.
Bíblia de Estudo Apologia Cristã. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, p.1930
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