12 março 2025

A SALVAÇÃO SOB A GRAÇA DE DEUS

(Comentário do 1º tópico da Lição 11: A Salvação não é obra humana). 

Ev. WELIANO PIRES 

No primeiro tópico, falaremos da Salvação como um ato da Graça de Deus. Falaremos da descrição do estado espiritual humano, com base nas expressões usadas pelo apóstolo Paulo em Efésios 2.1-3, para se referir à dura realidade do pecado. Na sequência, falaremos da expressão “mortos em ofensas e pecados”, usada por Paulo em Efésios 2.1,5, para se referir ao estado de queda espiritual do ser humano. Por último, faremos uma exegese do texto de Efésios 2.8-10, que fala da Salvação como um dom de Deus, obtida pela Graça e mediante a fé.

1. A descrição do estado espiritual humano (vv.1-3). Na lição passada vimos que o pecado de Adão e Eva trouxe consequências não apenas para eles, mas para a sua posteridade. Sendo assim, a natureza humana por completo foi corrompida pelo pecado. Sobre isso, assim está escrito na Declaração de Fé das Assembléias de Deus: 

"A Queda no Éden arruinou toda a humanidade tão profundamente que transmitiu a todos os seres humanos a tendência ou inclinação para o pecado. Não somente isso, contaminou toda a humanidade [...]. A natureza moral foi corrompida, e o coração humano tornou-se enganoso e perverso. Todas as pessoas estão mortas em ofensas e pecados; são inimigas de Deus e escravas do pecado. A corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição — corpo, alma e espírito [....] Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto, emoção, vontade, consciência, razão e liberdade. Portanto, o homem por si mesmo não consegue voltar-se para Deus sem o auxílio da graça divina.”

Para se referir a esta deplorável situação espiritual em que o ser humano se encontra, o apóstolo Paulo usou algumas expressões, no capítulo 2 da Epístola aos Efésios, que retratam muito bem a condição do ser humano sem Deus: “mortos em ofensas e pecados” (v.1); andar “segundo o curso deste mundo” (v.2); “segundo o príncipe das potestades do ar” (v.2b); “do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência” (v.2c); “andávamos nos desejos da nossa carne” (v.3); e “éramos por natureza filhos da ira” (v.3b). 

Todas estas expressões paulinas mostram que o homem sem Deus está preso ao pecado de tal forma que jamais poderia se libertar com as suas próprias forças. Jesus disse certa vez aos judeus que “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). O estado espiritual do ser humano sem Deus é desolador. É como alguém que está em uma balsa, com as mãos e pés amarrados,  no meio de um correnteza,  em direção a um precipício. Ou ainda, como alguém que está em um poço há vários metros de profundidade. Por mais que ele pule ou se esforce, não conseguirá sair dali sozinho. Se não vier alguém de fora socorrê-lo, o seu fim será trágico e não há nada que a própria pessoa possa fazer. 

2. Mortos em ofensas e pecados (vv.1,5). Antes de usar essas expressões que descrevem a situação espiritual caótica do homem sem Deus, Paulo usou outras expressões, referindo-se aos crentes de Éfeso: “E vos vivificou” (v.1) e “nos vivificou juntamente com Cristo” (v.5). Estas expressões nos mostram que a situação desesperadora deles havia ficado no passado, porém, a ação de vivificar ou dar vida aos que estavam mortos em suas ofensas e pecados é uma ação de Deus.

No versículo 3, do primeiro capítulo da Epístola aos Efésios, Paulo diz: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo…” A partir deste louvor a Deus, o apóstolo cita uma série de ações de Deus: Nos abençoou, nos elegeu, nos predestinou, etc. O capítulo 2 é uma continuação deste texto. Então, quem nos vivificou, quando estávamos irremediavelmente mortos em ofensas e pecados foi Deus, na Pessoa do Espírito Santo, que é o agente da Salvação. 

O comentarista fez questão de trazer um esclarecimento sobre as expressões paulinas “mortos em pecados e ofensas” (v.1) e “mortos em nossas ofensas” (v.5). Ele explicou que isso não deve ser entendido literalmente, como se o ser humano estivesse inerte como um corpo sem vida. Mortos aqui, significa separados de Deus. Aliás, este é o sentido de morte na Bíblia. Não significa o fim da existência, como pregam os aniquilacionistas. A morte física é a separação da parte material (corpo) e a parte imaterial (alma e espírito). Da mesma forma, a morte espiritual significa a separação entre o homem e Deus e não o seu aniquilamento. 

Esta explicação se fez necessária, porque os Calvinistas usam este texto para dizer que todo o processo da Salvação é realizado apenas por Deus, sem nenhuma participação humana, nem mesmo para aceitar a salvação. Este pensamento teológico é chamado de Monergismo, palavra derivada de dois termos gregos: “monos” (um ou único) e “ergon” (esforço, trabalho). Segundo esta visão, Deus fez tudo na mecânica da Salvação, elegendo de antemão, quem seria salvo e quem não seria (Dupla predestinação). Segundo este pensamento os que foram eleitos são salvos e não podem resistir a Deus. 

Evidentemente, o homem estando separado de Deus, não tinha condições de voltar-se para Deus. Todas as iniciativas para salvá-lo, vieram de Deus. Foi Ele quem nos amou, deu o Seu Filho para morrer por nós e o Espírito Santo nos capacita a crer em Cristo para sermos salvos. De forma preveniente, a Graça de Deus nos foi dada e nos tornou capazes de entendermos o Evangelho. Mas, Deus não decide por nós, pois Ele nos deu o livre arbítrio. 

Em vários textos bíblicos, podemos ver Deus colocando diante do ser humano, o direito de escolher, como em Lucas 9.23: “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. Vemos também situações em que as pessoas resistiram a Deus, como em Atos 7.51: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais”. 

3. A exegese dos versículos 8-10. No conhecido texto de Efésios 2.8-10, o apóstolo Paulo falou: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”. Este é um dos mais contundentes textos bíblicos, a respeito da Salvação como uma obra divina. O texto é autoexplicativo e elimina qualquer possibilidade de mérito ou esforço humano, para alcançar a Salvação. 

Aqui, o comentarista faz uma exegese do texto bíblico e explica o significado do termo grego “Charis”, traduzido por Graça. Graça é um favor concedido a quem não merece, sem nenhuma obrigação de se fazê-lo. Portanto, quando Paulo disse: “pela graça sois salvos”, significa que fomos salvos unicamente pelo favor de Deus e não temos mérito algum nisso, como ele mesmo completa: “Isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie”. Como diz o clássico hino Amazing Grace, de John Newton:

Graça maravilhosa, doce som!
Salvou a um miserável como eu
Eu fui agraciado com este dom
Era cego e vistas Deus me deu. 

Quanto à graça ser a origem da salvação, não há divergência entre os evangélicos. Qualquer Igreja considerada evangélica concorda com isso. Entretanto, em relação à segunda parte: “Por meio da fé”, os calvinistas, ensinam que a fé também vem de Deus e que o homem não decide crer. De fato, é o Espírito que nos convence do nosso estado de miséria espiritual e nos faz entender o Evangelho e nos capacita a crer em Cristo. Mas, Ele não nos obriga a crer. Jesus usou diversas vezes a conjunção condição “se”, antes do verbo crer. Isso significa que a pessoa pode escolher crer ou não: “Não te disse, que se creres, verás a glória de Deus?”. (Jo 11.40). 

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